quarta-feira, 24 de junho de 2009

Material de Apoio - Lâminas 5: Evolução da Fabricação de Espadas


Evolução da Fabricação de Espadas

Para todos aqueles que acham que ter uma espada, fosse em uma aventura de fantasia de rpg fosse na história real, era coisa corriqueira, pode esquecer. Produzir uma espada é uma das amostras do desenvolvimento do pensamento humano, e a evolução da metalurgia é um dos avanços mais importantes da humanidade, influenciando tanto a geopolítica quanto a produção e subsistência.

História
Como já vimos anteriormente a espada pode ser dividida, em última análise, em duas partes principais – lâmina e guarda. Quando falamos da história de sua produção vamos nos centralizar basicamente na evolução da fabricação das lâminas e principalmente no material usado para essa fabricação.

Historicamente a espada é vista como a evolução natural de uma adaga, mas ainda há muito controvérsia com relação à linha divisória que teria feito o homem criar uma ferramenta mais longa. Analiticamente há dois pontos centrais que as dividem. O primeiro deles é, claro, o comprimento com a lógica de que com um maior comprimento da lâmina, maior dano será causado pela lâmina. Arqueólogos e estudiosos de armas dizem que podemos considerar as adagas com no mínimo 45 cm (18 polegadas) de comprimento e as espadas com no mínimo 60 cm (24 polegadas) de comprimento. O segundo é a funcionalidade principal, visto que a lâmina tem a função perfurante, enquanto a espada tem a clara função de corte.

Por lógica as adagas aparecem primeiro, junto com a concepção tecnológica para produzi-las. Esse salto tecnológico foi um desenvolvimento das armas de pedra (lascada e polida) que tinham um limitante tanto possibilidades de trabalho, manuseio e resistência. Com o início do seu desenvolvimento temos adagas com lâminas menores. Conforme a técnica foi se aprimorando a lâmina das adagas foram sendo alongadas. Em algum ponto tivemos uma divisão onde lâminas foram alongadas a ponto de terem outra função principal e, a partir daí, coexistiram, mas com histórias próprias.

Esse ponto de ruptura ainda é um enigma, pois à cada descoberta, e a partir dos conceitos utilizados, vamos jogando a data mais e mais para trás. Atualmente o grande debate seria se a peças encontradas nas escavações Aslantepe (Turquia), e datadas entre 3000-3250 a.C., são ou não espadas. Caso sejam, serão as espadas mais antigas já encontradas. De qualquer forma já é uma interessante expectativa de tempo.

Nessa primeira e longínqua fase as espadas eram feita de cobre. Metal mais maleável e de certa forma abundante, ele já era usado em outros tipos de ferramentas, inclusive adagas. Podemos dizer que ele foi o ponto de partida natural, mas com um problema sério. O cobre é tão maleável que mesmo lâminas de adagas facilmente se deformavam, além de terem pouca resistência. Mesmo com esse problema não podemos desdenhar de sua importância pois as primeiras técnicas de alongamento das lâminas só foram possíveis por seu grau de maleabilidade, criando know-how para a metalurgia incipiente.


Muitos historiadores colocam justamente no tipo de metal um divisor para as primeiras espadas. Muitos reforçam que só podemos considerar espadas quando elas começam a ser produzidas em bronze, por volta de 1600-1700 a.C. nas regiões do Mar Negro e Mar Egeu.

O bronze é uma liga (materiais com propriedades metálicas composto por dois ou mais elementos) composta por cobre (maior parte) e estanho. Não podemos esquecer que é um momento histórico de efervescência tecnológica e a experimentação foi a base para muitos dos desenvolvimentos da metalurgia. Não sabemos ao certo qual o ponto em que foram levados à testar o bronze como metal para espadas, mas sabemos que essa liga já era muito utilizada em um sem número de outros utensílios e equipamentos. Conforme o local do mundo e o grau tecnológico da sociedade tínhamos ligas com mais estanho (cerca de 20% de estanho gerando cobre mais duro, como na região da hoje atual China) ou com menos estanho (cerca de 10% de estanho gerando cobre mais maleável, entre o Mar Negro e o Mediterrâneo).

Essas ‘primeiras’ espadas tinham comprimento entre 50 a 88 cm (20 a 35 polegadas) e com lâminas no formato de folhas. Podemos dizer que tamanho e formato estão intimamente ligados. Conforme a lâmina alongou, ela teve que adaptar um formato que lhe concedesse menor possibilidade de flexão. O resultado mostrou-se muito satisfatório não sendo alterado até os séculos 12 a 13 a.C., quando tivemos a ascensão do ferro.


A fundição do ferro requereu um novo salto tecnológico. Sendo encontrado com certa facilidade, ele exigia altíssimas temperaturas, temperaturas essas só possíveis com o desenvolvimento de proto-fornalhas e do uso do carvão. Por que o uso do carvão é tão importante? Não se poderia conseguir a temperatura com lenha apenas? Não. O minério de carvão é composto por ferro, oxigênio e impurezas. Quando o carvão é usado em altíssima temperatura, ele produz um agente redutor sob a forma de carbono e monóxido de carbono que se ligam ao oxigênio, deixando o ferro puro e produzindo, como efeito, dióxido de carbono, ao mesmo tempo que introduzia pequenos traços de carbono no ferro fundido. Aula de química à parte, este é um salto tecnológico que só é possível com um longo e lento desenvolvimento da metalurgia.

O ferro era fundido, formando uma massa porosa (chamada Bloom ou ferro-gusa). Ele era então martelado em ciclos de aquecimento e resfriamento até atingir a consistência desejada. Podemos dizer que o longo período de uso do bronze foi devido, principalmente ao aprimoramento dessa técnica ao longo de muita experimentação.

Com o aprimoramento da técnica de manuseio do ferro e a percepção de suas propriedades nos equipamentos criados, possibilitou espadas mais longas. Mas esse processo de alongamento das lâminas de ferro levou certo tempo. Por um longo período histórico as lâminas mantiveram o mesmo formato de folha e o mesmo comprimento. O alongamento começou como necessidades utilitárias já no meio do império romano, como forma de adaptação à introdução dos cavalos aos exércitos.

Justamente o próximo passo da evolução tecnológica da metalurgia de espadas veio com a compreensão de que adicionar carbono ao ferro produzia uma liga ainda mais resistente e leve – o aço. Mas a dificuldade de controle fino do quanto e como adicionar carbono gerou um período com enorme variação de qualidade das espadas, mas mesmo assim, todas elas muito superiores às suas antecessoras.

Novamente tivemos um longo período de experimentação devido à incapacidade de compreensão real do processo. A produção do aço, diferente do ferro por endurecimento pelo trabalho (ciclos repetitivos de uso do martelo com aquecimento e resfriamento), consistia no endurecimento por resfriamento rápido (técnica que reduz a formação de cristalização dentro da lâmina, enquanto aumenta a integridade estrutural do metal). Essa especificidade era ignorada, produzindo assim aços de diferentes qualidades e fazendo que o seu uso fosse melhor compreendido e utilizado apenas da Idade Média.
  

O Trabalhador
Algumas confusões, e até mesmo erros conceituais, acontecem quando nos referimos às pessoas que trabalham com metais num ambiente real ou de fantasia. Vamos fazer alguns esclarecimentos então.

O cuteleiro é a pessoa que trabalha com cutelaria (a arte de produzir ferramentas cortantes e armas brancas em geral). Já o ferreiro é o artesão que trabalha com forjaria (a arte de produzir utensílios de ferro). O ferrador é o artesão que trabalha com ferraria (arte de produzir e aplicar ferraduras). Então não espere encontrar um ferreiro produzindo espadas de ferro nem um cuteleiro que só produz cutelos. Nem tentem pedir a um ferreiro para colocar as sapatilhas metálicas em suas montarias. O cuteleiro era um profissional extremamente especializado e habilidoso. Seus trabalhos eram reconhecidos e lhe trazia sempre bons frutos e status. Sua figura, como a dos outros dois artesãos, estava associada à ferramentas tais como a forja, a bigorna, o martelo, a tenaz e o cinzel. Com elas ele poderia ingressar na vida da nobreza mesmo sem perder seu status de plebeu.