João "o escriba" Brasil
I. Alguns meses atrás...
- Senhor, senhor! Fumaça no horizonte – as palavras quase não saiam da boca do espavorido vigia – Com certeza vem de Ancaro, senhor.
Nada poderia ter-lhes preparado para o que encontrariam. A pilha de corpos demonstrava todo o tamanho da violência aplicada naquela batalha. Ou melhor, naquele massacre. Nenhum sobrevivente. E não seria necessário procurarem para saber disso.
- Senhor, senhor! Fumaça no horizonte – as palavras quase não saiam da boca do espavorido vigia – Com certeza vem de Ancaro, senhor.
Nada poderia ter-lhes preparado para o que encontrariam. A pilha de corpos demonstrava todo o tamanho da violência aplicada naquela batalha. Ou melhor, naquele massacre. Nenhum sobrevivente. E não seria necessário procurarem para saber disso.
Desde que desembarcaram na praia já haviam tido uma demonstração do que esperar desde o início. Os corpos estavam dispostos quase que como uma trilha de migalhas a serem seguidas por um pássaro.
Toda a tripulação tinha pelo menos um conhecido ou familiar naquela ilha. Por esse motivo todos os que puderam desembarcaram empunhando alguma espécie de arma. As imagens das atrocidades, a cada passo, minavam a imaginação com horrores impossíveis e a cada passo mais presentes.
O caminho até a entrada da caverna do Monte Ancaro, que também deu seu nome à ilha, foi longo. Longo demais para o número de corpos contados um a um. Chorados um a um.
Nem a pólvora nem o fio das espadas não foi poupado naquelas almas inofensivas e desarmadas. Era o que se esperava de uma chacina deste porte.
Dentro da grande caverna, onda a vila estava protegida e escondida, a visão ainda era mais impressionante. Não havia nenhuma casa inteira. Nenhum habitante vivo. Nos rostos, dos infelizes cadáveres, crianças e adultos, somente a expressão de pavor do inevitável momento.
Na praça central da vila, imóvel e de olhos no vazio, permanecia um homem-animal. O enorme porte de seu corpanzil atingia facilmente os dois metros. Mas naquele momento parecia ser minúsculo. Suas duas espadas dispostas em cada lado da cintura pareciam pesar mais do que poderia suportar. Suas costas curvadas deixavam sua cabeça pendendo sobre o peito, em reverência fúnebre a três corpos.
Os corpos eram de uma mulher e duas crianças. Seus estados eram inimagináveis e estavam longe da beleza que ele carregara pelos últimos meses na memória. Suas lágrimas não escorriam, mas a tristeza era presente. As orelhas estavam caídas
- Senhor. Ninguém vivo. Em lugar algum. Nem as crianças! – o imediato soltava as palavras como uma súplica.
As palavras perdiam-se no vazio da praça. O capitão continuava imóvel. No olhar a tentativa de entender uma realidade inimaginável.
Do fundo da caverna, de uma das inúmeras pequenas entradas nas paredes rochosas, surge correndo um rapaz – Senhor! Não levaram nenhuma das arcas, somente o grande livro que estava no pedestal e deixaram isso – nas mãos traziam uma bandeira negra com uma marca branca no centro.
- Tudo isto pelo livro! Malditos.... – o grito se perdeu nas profundezas da caverna enquanto escondia o rosto na bandeira arrancada das mãos do rapaz. Foram as únicas lágrimas que viram sair dos olhos do Capitão Boca Feroz.