Eventos de RPG
- Precisamos de uma nova postura -
Muito
tenho visto rpgístas debaterem sobre eventos de RPG por todo o Brasil e sobre
sua relevância no cenário nacional. Depois do cancelamento o EIRPG alguns anos
atrás e de uma verdadeira 'comoção' tivemos uma enxurrada de pequenos eventos
por todo o lugar nos últimos anos.
Vamos
analisar esse tema por vários pontos e vamos começar sobre o por quê de ter,os
um evento como o EIRPG fracassando no ano passado. Não sei dizer se é cultural
ou qual a natureza dessa característica, mas eventos como o EIRPG são muito
limitados e pouco atrativos. Deixem-me explicar. A maioria dos nossos ‘grandes”
eventos de RPG, das mais variadas naturezas e temas, não passam de uma reunião
sem grandes ambições além de juntar fãs. Como assim? Nossos grandes eventos de
RPG, pelo menos até aquele momento, eram locais para reunir fãs e jogadores e colocá-los
todos juntos em um mesmo ambiente para jogar e gastar. Claro que tínhamos
enxurradas de mesas para jogos dos mais variados tipos e sistemas, mas no final
se resumia à mesas para propagandear sistemas e estandes de vendas.
Isso
pode funcionar por algum tempo, pois é claro que o público de RPG e cardgames
está sempre procurando uma mesa para aprender um sistema novo e novidades para
gastar. Mas achar que um evento de RPG se resume à isso é presumir que os
jogadores e suas expectativas são limitadas. Algumas vezes temos algum
diferencial como a presença de algum ícone do RPG ou da literatura de fantasia,
mas ainda assim a sua presença se limita à uma entrevista para o grande público
e autógrafos de suas obras.
Mas
o evento que desejamos (ou que eu desejo) seria apenas isso?
Depois
do cancelamento daquela edição do EIRPG tivemos uma comoção dos fãs por todo o
Brasil e a reação foi imediata com o anúncio de dezenas de pequenos e médios eventos
criando uma movimentação nunca vista na comunidade rpgística brasileira, com
efeitos perceptíveis até os dias de hoje. Mas qual a característica dessa onda.
Esses eventos podem ser categorizados como 'encontros'. Jogadores e mestres de
variados sistemas se juntam para realizar jogos e ensinar novos sistemas. Isso
é ruim? Claro que não. A disseminação de novos sistemas e a inclusão de novos
jogadores dão um fôlego importantíssimo para nosso amado hobby. Mas se
pensarmos bem esses 'encontros' acabam sendo reproduções menores do que já
acontecia nos grandes eventos. E digo que esse sistema, para esses 'encontros'
pequenos e médios, é perfeito. Eles justamente se prestam para isso, ampliando
o número de jogadores de um bairro, zona ou cidade e reforçando a integração da
comunidade rpgística local.
O
que esperamos, ou espero, de um evento nacional então? Um evento que se diga
nacional tem que principalmente sair da mesmice, não que a mesmice seja ruim já
que ela se presta para os eventos em forma de 'encontros', como já disse. Mas
principalmente ele deve valer à pena por proporcionar coisas novas para os
rpgístas. É claro que devem continuar com as mesas de jogos, os estandes de
vendas e as 'personalidades' sorrindo e tirando fotos, mas precisamos de um
diferencial que é extremamente necessário para os rpgístas – precisamos
amadurecer e especializar nossos membros.
Você
deve estar se perguntando, como assim? Darei um exemplo extremo, sei disso
(antes que me acusem), mas que pode servir de parâmetro como exemplo de postura
desses eventos. Em eventos como a GenCon, New York Comic Con ou mesmo o
encontro internacional de boardgames e miniaturas temos sim espaços para os fãs
confraternizarem, trocarem experiências, encontrarem seus ídolos e gastarem seu
dinheiro. Mas mais do que isso, temos muitos espaços para eles aprenderem e se
especializarem.
Em
uma edição da San Diego Comic Con, por exemplo, boa parte do cronograma é
composto por palestras e cursos com a mais variada natureza de temas, sempre
visando aperfeiçoar aqueles que praticam determinado hobby e que possam, quem
sabe o futuro, tornarem-se produtores. Nesta última edição da SDCC tivemos
cursos tais como formas de usar trilhas sonoras apropriadas para seriados de
terror e suspense, como trabalhar roteiros de quadrinhos ou mesmo como produzir
seu próprio livro de ficção. Minha visão de evento de RPG seria baseado em uma
estrutura como essa. Teríamos as mesas, a confraternização, os estandes, e os
famosos e pseudo-famosos circulando, mas teríamos também uma seleção de
painéis, debates, cursos e oficinas próprias para que não só especializássemos
nossos mestres e jogadores, mas também que possibilitássemos que novos
criadores de RPGs surgissem.
Não
é novidade para ninguém que felizmente o Brasil tem tido uma efervescência de
novidades de RPGs, boardgames, cardgames e literatura. Todos os dias temos tido
notícias de novos financiamentos coletivos começando e sendo bem sucedidos.
Imaginem se tivéssemos um melhor preparo de novos talentos, ou mesmo uma forma
de mostrar que uma boa idéia pode vir a se tornar uma realidade em uma
prateleira ou livraria?
Os
eventos de RPG centram um público muito variado e que daria vazão para uma
enorme programação. Nesses eventos temos tanto jogadores de RPG em si, quanto
adeptos dos cardgames e dos boardgames, da literatura de ficção à fantasia, de
games eletrônicos e muito mais, quando todos esses gostos não estão encerrados
na mesma pessoa. Seria extremamente proveitoso que se pudéssemos ter em eventos
oficinas de produção de jogos, designe de boardgames, mecânicas de sistemas,
produção literária etc.
Acredito
que se conseguíssemos implementar, mesmo que vagarosamente, essa nova concepção
para um verdadeiro grande evento de RPG (e afins) iríamos perceber as mudanças
tanto no amadurecimento crítico de nossos jogadores e mestre, numa evolução da
qualidade dos jogos das mais variadas naturezas e principalmente numa grande
variedade de novos títulos.
Iríamos
ter nossos eventos ainda com suas inúmeras mesas, muitos estandes e
barraquinhas vendendo de tudo, teríamos ainda nossos famosos e pseudo-famosos
circulando, mas principalmente, estaríamos fazendo a diferença. Melhor do que termos
ícones das mais variadas mídias e sistemas em um evento, seria ver esses ícones
trabalhando lado à lado e dividindo suas experiências de forma prática com
todos os fãs dispostos a prender. E à longo prazo esse sistema começaria a ser
reproduzido em nossos ‘encontros’ menores e locais, trabalhando e produzindo
com nossos membros.
É
impossível? Não. Mas como disse no início, parece ser uma forma cultural de
encarar como os eventos devem ser. Acredito que isso mudará? Com certeza, mas
depende da iniciativa de nossos jogadores, membros e gamers de todos os tipos. Novos
eventos de porte como Comic Con Experience e a Brasil Comic Con, a volta do
EIRPG, e a continuidade do World RPG Fest, são locais propícios e fundamentais
para essas mudanças. E não só ali. Eventos menores podem criar ou reproduzir
esse sistema com membros da própria comunidade.
Não
pretendo dar aqui fórmulas matemáticas de como financiar isso em grandes
eventos até por que não é essa a proposta, mas sabemos que temos sempre grandes
editoras e lojas envolvidas com esses grandes eventos e que subsídios, mesmo
que parciais, não são novidade pelo mundo à fora. Além disso, a cobrança de
algum tipo de taxa é corriqueiro e não pode ser mais considerado como um absurdo
(visto que em horas foram vendidos todos os ingressos apenas para a palestra na
CCEx de um determinado músico mundial que escreveu uma obra literária). Eventos
pequenos podem ainda mais facilmente propiciar esses ‘cursos’ já que membros da
comunidade local são ainda mais facilmente cooptados para esse tipo de
atividade.
Para
encerrar... sei que alguns eventos, aqui e ali, já possibilitam alguns cursos,
mas ainda não é com a visão empreendedora para que nosso hoby cresça e se
fortaleça ainda mais. Quero uma mudança de postura. Quero uma visão mais ampla
e de longo prazo. Quero que além de nos divertirmos, que possamos ver em
práticas de RPG, cardgame e boardgmaes, uma oportunidade para que possamos
colocar em prática nossos projetos e criatividade.