Aquela velha cena: “Vocês se deparam com um felino grande com dois tentáculos saindo das costas” e o jogador que usa o bárbaro inculto salta “É uma pantera deslocadora! Ela está, na realidade, a um metro de distância de onde vemos!”. Mas não falarei sobre as responsabilidades de interpretação dos jogadores. Hoje, a sugestão é quebrar paradigmas, balançar as estruturas e deixar o jogador inseguro com a pilha de livros que ele devorou para não ser pego de surpresa.
O que exatamente eu quero dizer com quebrar paradigmas? Sem tirar nem pôr: mudar o que todos já sabem. Esta é a lei nesta postagem. Isto pode ser feito de modo mais radical ou mais sutil, mesmo a mídia vem fazendo isso nas séries, filmes, literatura e quadrinhos que vemos todos os dias. O exemplo mais notável é o do vampiro:
O Vampiro clássico
Uma criatura sombria da noite, humanoide que se alimenta de sangue. Ele é afugentado por símbolos religiosos e é destruído com a luz do sol ou estacas cravadas em seu coração. Pelo menos é isso que seus jogadores vão esperar quando encontrarem um deles.
Neste seriado da HBO os vampiros não tem nenhuma fraqueza em relação às típicas armas religiosas. Assim como o clássico, não pode entrar na casa de um humano sem serem convidados. Mas eles são fracos contra prata, coisa nova, além de que são mais humanos que o normal. Eles parecem dependentes de orgias de sangue e sexo.
Se tem algo que estes não são é humanos. O vampirismo aqui é um vírus que passa quando alguém serve de alimento e não é morto em seguida. Eles são pálidos e têm todos os dentes afiados e se comunicam com uma espécie de silvo animalesco. Podem ser mortos com um belo tiro na cabeça ou com decapitação e, claro, com luz solar.
O Vampiro de Crepúsculo
Este vampiro não morre no sol, mas sim vira purpurina. Sua maior força é serem amados por uma legião de adolescentes puritanas ou ingênuas o suficiente para entender do que a série se trata.
O Vampiro de Drácula
Mesmo Bram Stoker não criou um vampiro como conhecemos. O Drácula era alguém extremamente frio e calculista, que tinha para com os humanos a única relação com algum sentido: humanos são alimento e ponto. Este, ao contrário do que se pensa, não morria à luz solar, mas sim entrava em uma espécie de catatonia, que o impedia de se mover livremente.
Nem humanos estes são. A coisa mais próxima da aparência deles é um dos alienígenas do desenho Bem 10. Matam humanos, pegam alguns como servos e são resistentes a todas as armas exceto o sol.
O que eu quero demonstrar com toda essa conversa de vampiros? Que podemos mudar as criaturas. Exemplifiquei desta forma, mas poderia ser diferente. Aquela criatura enorme com asas e escamas vermelhas cuspindo fogo pode perfeitamente ser uma wyvern e não um dragão, como seus jogadores provavelmente vão inferir. A ideia é fazer com que seus jogadores entendam que nem tudo é como parece e como está nos livros. Pegue aquele grupo de goblins, que normalmente seria insignificante, e transforme-os em peritos em artes marciais, surpreendendo a todos.
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