segunda-feira, 26 de maio de 2014

Cinema na Confraria: resenha de "X-Men: dias de um futuro esquecido"


Cinema na Confraria
Resenha de "X-Men: dias de um futuro esquecido"

Eis que “X-Men: Dias de um futuro esquecido” estreou e posso afirmar já de início – você não pode deixar de vê-lo. Mas apenas afirmar isso seria simplismo em demasia e vou apresentar aqui uma singela análise com os pontos fortes e fracos da produção. E só pra lembrar, esta análise está repleta de spoilers.

Podemos fazer duas análises desta produção – uma baseada em sua adaptação e outra na produção cinematográfica mesmo.

Para um fã de quadrinhos
A história na qual foi baseada a produção do cinema foi um marco nos quadrinhos em sua época de lançamento. Com um argumento inovador de Chris Claremont e John Byrne a história jogava os leitores em uma impressionante aventura dentro do paradoxo das viagens no tempo onde ação e reação estavam completamente interligadas.

É justamente com relação à adaptação que poderemos ter as maiores críticas daqueles que foram assistir ao filme com os quadrinhos em baixo do braço. Como todos sabem, ou deveriam saber, adaptações não têm a necessidade de serem cópias fiéis de algo. Adaptar significa pegar uma idéia ou conceito e transpô-lo para a telona de uma forma nova.

A história original se passava em dois momentos, 2018 e 1986. Os Estados Unidos do futuro estavam dominados por Sentinelas. Quando eles foram postos em funcionamento sua inteligência artificial concluiu que a única forma de erradicar a ameaça mutante seria dominando o mundo. Eles começaram pelos Estados Unidos dividindo a população em três castas – os normais, os com genes mutantes, mas sem poderes e aqueles com poderes manifestados. Esses últimos eram caçados e presos em campos de concentração.

O mundo está em crise, pois os Sentinelas preparam uma investida contra os mutantes de outros países e a resposta imediata será uma retaliação nuclear. Neste cenário temos alguns mutantes que sobreviveram e estão em Nova Iorque – Lince Negra, Tempestade, Magneto, Colossus, Franklin Richards, Rachel Summers e Wolverine (que faz parte da resistência canadense). Eles preparam uma investida para tentar mudar o mundo, mudando acontecimentos que desencadearam toda essa realidade. Eles sabem que o projeto dos Sentinelas foi implementado como reação ao assassinato de Robert Kelly, candidato à presidência americana, Charles Xavier e a doutora Moira. O assassinato seria realizado pela irmandade dos Mutantes liderado por Mística. Com suas mortes um candidato anti-mutante venceu as eleições e tudo foi desencadeado.

O plano deles é enviar a consciência de Kitty Pride (a Lince Negra) para seu próprio corpo na véspera dos acontecimentos derradeiros. Ela foi a escolhida, pois em 1986 ela havia recém entrado para a escola de Xavier e ainda não havia desenvolvido defesas contra ataques psíquicos.

No decorrer da história ela se junta aos X-Men do passado e juntos eles conseguem, após um grande combate contra a Irmandade dos Mutantes, impedir o assassinato do senador Kelly. Logo após o salvarem a mente de Kitty volta ao normal não deixando claro o que teria acontecido no futuro.

No filme temos algo um pouco diferente. É bom esclarecermos que este não é um filme isolado. Ele tem uma ligação direta com o que vimos em “X-Me: First class” e por isso mesmo ele não poderia chegar às telas esquecendo tudo o que aconteceu lá. Então o enredo deste novo filme é diferente do que tínhamos no quadrinho.

A data exata do futuro não nos é apresentada, mas percebe-se que os Sentinelas dominam o mundo todo. Com isso, ao que parece, os mutantes sobreviventes – Apache, Home de Gelo, Blink, Ororo, Colossus, Lince Negra, Bishop, Mancha Negra, Magneto, Xavier e Wolverine - fazem uma frente de resistência. O mutante que será enviado ao passado para tentar mudar o passado será Wolverine, que por ter o poder de se regenerar, não morreria no processo.

Aos poucos nos é apresentado o enredo e, consequentemente, as ligações com o filme anterior. O enredo se constrói sobre o cientista Bolivar Trask (Peter Dinklage) que seria o criador dos Sentinelas. Para isso ele teria literalmente dissecado muitos mutantes, inclusive alguns que estiveram no filme anterior. A sua morte teria acontecido em Paris, durante a reunião que oficializava o final da Guerra do Vietnã, nos anos setenta, e isso culminaria com o desenvolvimento de seu projeto dos Sentinelas. A assassina seria Mística. Só isso já mostra uma pá de diferenças com os quadrinhos. Aliado à isso temos que Wolverine, ao ir para o passado, terá de contatar Xavier e Magneto para ambos tentarem deter Mística.

Além disso, todo um enredo foi criado para linkar os filmes. Magneto está preso desde o caso dos mísseis em Cuba (e é resgatado por Mercúrio). Mística está andando pelo mundo se vingando de crimes contra os mutantes. Mutantes seguidores de Magneto, como Emma, Fada e Azazel, foram mortos e dessecados. Xavier (andando) está em depressão após a ida de Mística de do caso de sua paralisia. Tudo isso coisas que não tem ligação alguma nem com o arco mostrado nos quadrinhos, quanto na cronologia oficial da Marvel. Tudo isso mostra uma coerência cronológico entre os filmes.

Na continuidade o filme se desenvolve com uma primeira tentativa de Mística matar Trask e sendo impedida por Xavier e Erik. Essa tentativa acaba por impulsionar o desenvolvimento do projeto dos Sentinelas, o que leva Mística a tentar um novo atentado. Neste meio tempo Xavier e Erik se separam deixando ainda mais claro sua diferença na forma de pensar. Por fim Magneto tenta matar Trask em frente das câmeras, mas é impedido por Mística após interferência de Xavier.

Em resumo, algo quase que totalmente diferente do original do quadrinho. Essa mudança deve ter sido, claro, um choque para os fãs mais xiitas.

Para um fã do cinema
Para um fã do cinema, ou aqueles que não andam com os quadrinhos em baixo do braço, a sensação deve ter sido muito diferente. Primeiramente, o filme, embora tenha alguns ótimos combates, me parece muito mais preocupado com as questões psicológicas dos quatro protagonistas – Wolverine, Mística, Xavier e Erik. E isso não tirou o ritmo ou emoção do filme. Pelo contrário, pareceu dar mais consistência para o que víamos na tela. Essa mesma preocupação psicológica faz a ligação com o primeiro filme de forma muito interessante e coesa. A principal preocupação foi mostrar a diferença existente entre Charles e Erik, e que nem o perigo que isso pode desencadear no futuro muda.

As cenas de combate foram na medida certa, sem exageros, ou tomadas longas demais. Cada uma delas, em três momentos distintos do filme, foram muito bem construídas e finalizadas dando ênfase especial para os mutantes no futuro, que aposto que estarão no próximo filme.

Em sentido de conjunto contando o filme anterior e este novo, temos uma ótima produção que deve empolgar muitos os fãs dos mutantes no cinema. Temos muitos ganchos para os próximos filmes e muitos personagens para serem aproveitados.

Mas o principal de tudo foi o que fizeram com a trilogia original. Como poderiam aproveitar personagens importantes como Cíclope e Jean grey com eles já tendo morrido na trilogia? Pois as mudanças que Wolverine fez no passado acabaram por ‘anular’ os filmes da trilogia trazendo ambos os atores originais para a tela depois das ações de Wolverine. Ou seja, podem apostar que eles, e muitos dos personagens da trilogia, estarão nos próximos filmes.

Cenas pós-crédito
Para completar com chave de ouro tivemos uma curta cenas pós-créditos. Nela aparece Apocalipse, ainda nos tempos do Egito antigo, construído uma pirâmide com seu poder e ao fundo a silueta de quatro cavaleiros, possivelmente seus cavaleiros do apocalipse. Só isso já nos trás muitas especulações e a quase certeza de que Cíclope estará no próximo filme, pois nos quadrinhos esses personagens têm uma grande ligação.


Eu, particularmente, gostei muito do filme e, se você conseguir diferenciar as histórias dos quadrinhos da história do cinema, a diversão será garantida. Ele não é daqueles filmes que podem ser vistos sozinhos e por isso o filme anterior mostra extremamente necessário. Mas isso não o desmerece me nada, fazendo as mais de duas horas, quase imperceptíveis.