Cinema na Confraria
Resenha de "X-Men: dias de um futuro esquecido"
Eis
que “X-Men: Dias de um futuro esquecido” estreou e posso afirmar já de início –
você não pode deixar de vê-lo. Mas apenas afirmar isso seria simplismo em
demasia e vou apresentar aqui uma singela análise com os pontos fortes e fracos
da produção. E só pra lembrar, esta análise está repleta de spoilers.
Podemos
fazer duas análises desta produção – uma baseada em sua adaptação e outra na
produção cinematográfica mesmo.
Para um fã de quadrinhos
A
história na qual foi baseada a produção do cinema foi um marco nos quadrinhos
em sua época de lançamento. Com um argumento inovador de Chris Claremont e John
Byrne a história jogava os leitores em uma impressionante aventura dentro do
paradoxo das viagens no tempo onde ação e reação estavam completamente
interligadas.
É
justamente com relação à adaptação que poderemos ter as maiores críticas daqueles
que foram assistir ao filme com os quadrinhos em baixo do braço. Como todos
sabem, ou deveriam saber, adaptações não têm a necessidade de serem cópias
fiéis de algo. Adaptar significa pegar uma idéia ou conceito e transpô-lo para
a telona de uma forma nova.
A
história original se passava em dois momentos, 2018 e 1986. Os Estados Unidos do
futuro estavam dominados por Sentinelas. Quando eles foram postos em
funcionamento sua inteligência artificial concluiu que a única forma de
erradicar a ameaça mutante seria dominando o mundo. Eles começaram pelos
Estados Unidos dividindo a população em três castas – os normais, os com genes
mutantes, mas sem poderes e aqueles com poderes manifestados. Esses últimos
eram caçados e presos em campos de concentração.
O
mundo está em crise, pois os Sentinelas preparam uma investida contra os
mutantes de outros países e a resposta imediata será uma retaliação nuclear.
Neste cenário temos alguns mutantes que sobreviveram e estão em Nova Iorque – Lince
Negra, Tempestade, Magneto, Colossus, Franklin Richards, Rachel Summers e Wolverine
(que faz parte da resistência canadense). Eles preparam uma investida para
tentar mudar o mundo, mudando acontecimentos que desencadearam toda essa
realidade. Eles sabem que o projeto dos Sentinelas foi implementado como reação
ao assassinato de Robert Kelly, candidato à presidência americana, Charles
Xavier e a doutora Moira. O assassinato seria realizado pela irmandade dos
Mutantes liderado por Mística. Com suas mortes um candidato anti-mutante venceu
as eleições e tudo foi desencadeado.
O
plano deles é enviar a consciência de Kitty Pride (a Lince Negra) para seu
próprio corpo na véspera dos acontecimentos derradeiros. Ela foi a escolhida,
pois em 1986 ela havia recém entrado para a escola de Xavier e ainda não havia
desenvolvido defesas contra ataques psíquicos.
No
decorrer da história ela se junta aos X-Men do passado e juntos eles conseguem,
após um grande combate contra a Irmandade dos Mutantes, impedir o assassinato
do senador Kelly. Logo após o salvarem a mente de Kitty volta ao normal não deixando
claro o que teria acontecido no futuro.
No
filme temos algo um pouco diferente. É bom esclarecermos que este não é um
filme isolado. Ele tem uma ligação direta com o que vimos em “X-Me: First class”
e por isso mesmo ele não poderia chegar às telas esquecendo tudo o que
aconteceu lá. Então o enredo deste novo filme é diferente do que tínhamos no
quadrinho.
A
data exata do futuro não nos é apresentada, mas percebe-se que os Sentinelas dominam
o mundo todo. Com isso, ao que parece, os mutantes sobreviventes – Apache, Home
de Gelo, Blink, Ororo, Colossus, Lince Negra, Bishop, Mancha Negra, Magneto,
Xavier e Wolverine - fazem uma frente de resistência. O mutante que será
enviado ao passado para tentar mudar o passado será Wolverine, que por ter o
poder de se regenerar, não morreria no processo.
Aos
poucos nos é apresentado o enredo e, consequentemente, as ligações com o filme
anterior. O enredo se constrói sobre o cientista Bolivar Trask (Peter Dinklage)
que seria o criador dos Sentinelas. Para isso ele teria literalmente dissecado
muitos mutantes, inclusive alguns que estiveram no filme anterior. A sua morte
teria acontecido em Paris, durante a reunião que oficializava o final da Guerra
do Vietnã, nos anos setenta, e isso culminaria com o desenvolvimento de seu
projeto dos Sentinelas. A assassina seria Mística. Só isso já mostra uma pá de
diferenças com os quadrinhos. Aliado à isso temos que Wolverine, ao ir para o
passado, terá de contatar Xavier e Magneto para ambos tentarem deter Mística.
Além
disso, todo um enredo foi criado para linkar os filmes. Magneto está preso
desde o caso dos mísseis em Cuba (e é resgatado por Mercúrio). Mística está
andando pelo mundo se vingando de crimes contra os mutantes. Mutantes
seguidores de Magneto, como Emma, Fada e Azazel, foram mortos e dessecados.
Xavier (andando) está em depressão após a ida de Mística de do caso de sua
paralisia. Tudo isso coisas que não tem ligação alguma nem com o arco mostrado
nos quadrinhos, quanto na cronologia oficial da Marvel. Tudo isso mostra uma
coerência cronológico entre os filmes.
Na
continuidade o filme se desenvolve com uma primeira tentativa de Mística matar
Trask e sendo impedida por Xavier e Erik. Essa tentativa acaba por impulsionar
o desenvolvimento do projeto dos Sentinelas, o que leva Mística a tentar um
novo atentado. Neste meio tempo Xavier e Erik se separam deixando ainda mais
claro sua diferença na forma de pensar. Por fim Magneto tenta matar Trask em
frente das câmeras, mas é impedido por Mística após interferência de Xavier.
Em
resumo, algo quase que totalmente diferente do original do quadrinho. Essa
mudança deve ter sido, claro, um choque para os fãs mais xiitas.
Para um fã do cinema
Para
um fã do cinema, ou aqueles que não andam com os quadrinhos em baixo do braço,
a sensação deve ter sido muito diferente. Primeiramente, o filme, embora tenha alguns
ótimos combates, me parece muito mais preocupado com as questões psicológicas
dos quatro protagonistas – Wolverine, Mística, Xavier e Erik. E isso não tirou
o ritmo ou emoção do filme. Pelo contrário, pareceu dar mais consistência para
o que víamos na tela. Essa mesma preocupação psicológica faz a ligação com o
primeiro filme de forma muito interessante e coesa. A principal preocupação foi
mostrar a diferença existente entre Charles e Erik, e que nem o perigo que isso
pode desencadear no futuro muda.
As
cenas de combate foram na medida certa, sem exageros, ou tomadas longas demais.
Cada uma delas, em três momentos distintos do filme, foram muito bem construídas
e finalizadas dando ênfase especial para os mutantes no futuro, que aposto que
estarão no próximo filme.
Em
sentido de conjunto contando o filme anterior e este novo, temos uma ótima
produção que deve empolgar muitos os fãs dos mutantes no cinema. Temos muitos
ganchos para os próximos filmes e muitos personagens para serem aproveitados.
Mas
o principal de tudo foi o que fizeram com a trilogia original. Como poderiam
aproveitar personagens importantes como Cíclope e Jean grey com eles já tendo
morrido na trilogia? Pois as mudanças que Wolverine fez no passado acabaram por
‘anular’ os filmes da trilogia trazendo ambos os atores originais para a tela
depois das ações de Wolverine. Ou seja, podem apostar que eles, e muitos dos
personagens da trilogia, estarão nos próximos filmes.
Cenas pós-crédito
Para
completar com chave de ouro tivemos uma curta cenas pós-créditos. Nela aparece
Apocalipse, ainda nos tempos do Egito antigo, construído uma pirâmide com seu
poder e ao fundo a silueta de quatro cavaleiros, possivelmente seus cavaleiros
do apocalipse. Só isso já nos trás muitas especulações e a quase certeza de que
Cíclope estará no próximo filme, pois nos quadrinhos esses personagens têm uma
grande ligação.
Eu,
particularmente, gostei muito do filme e, se você conseguir diferenciar as
histórias dos quadrinhos da história do cinema, a diversão será garantida. Ele
não é daqueles filmes que podem ser vistos sozinhos e por isso o filme anterior
mostra extremamente necessário. Mas isso não o desmerece me nada, fazendo as
mais de duas horas, quase imperceptíveis.