Dicas do Mestre – Inexperiência ou pedantismo
Fui assistir a um jogo de novatos nessa semana. Todos cheirando à leite ainda – do mestre aos jogadores. Foram duas horas interessantes. Tentei passar o máximo do tempo sem abrir a boca para não influenciar. Numa situação dessas a gente percebe uma série de erros e acertos involuntários, mas que servem para o desenvolvimento dos grupos e jogadores.
Dentre tantas peculiaridades que assisti ali uma me chamou a atenção, e me aproveitando do interessante artigo lançado no RPG do Mestre sobre mapas resolvi tocar no assunto.
Uma das primeiras coisas que percebi – e mesmo passamos por isso – é sermos detalhistas em demasia. Quando um mestre novato vai preparar suas primeiras aventuras ele quase entra em colapso. Isso acontece, pois ele tem a falsa noção de que tudo deve estar preparado para o transcorrer do jogo com seus aventureiros. Então ele gasta pelo menos duas folhas para cada cômodo de um mapa descrevendo cada gaveta, cada canto, cada fresta. Ou quando descreve uma cidade ele vai ás minúcias de cada casa e beco da cidade, cada pessoa em cada casa, cada soldado... e assim vai.
A primeira coisa que vem à mente dos jogadores é “como esse mestre é chato” ou “que jogo cansativo”. A própria inexperiência dos jogadores os levam a ter essa falsa impressão.
O RPG é um jogo simples em sua dinâmica geral passando pelas premissas básicas da ‘diversão’ e da ‘interpretação’. O mestre se firma nelas e imagina que tem de ter tudo planejado para possibilitar a interpretação de seus jogadores, pois imagina que interpretação é uma transposição da realidade. E para possibilitar essa interpretação da realidade ele se acha no dever que ‘recriar’ a realidade. Em última análise, o jogo se torna lento e ‘chato’ por causa da boa vontade do mestre.
Voltando ao início. Jogadores também caem no mesmo erro. Levante a mão o mestre que nunca pegou um jogador novato que na hora do jogo ele, por querer saber cada detalhe ou cada frestinha de um cômodo, não tornou o jogo lento e uma tortura para os outros. Aqui temos o mesmo tipo de erro. O jogador novato acha que para realmente interpretar tem de agir como um cão perdigueiro atrás de seu faro.
Em ambos os casos temos ações que tem por fim o interesse deles em serem bons jogadores (claro que existem aqueles poucos que são chatos mesmo). A inexperiência leva ao pedantismo, ao exagero, à lentidão do jogo.
Mas esse processo é natural, ainda mais em grupos que se formam com todos os seus membros novatos. Esse é um dos principais motivos para que os primeiros jogos nunca acabem ou que esses grupos iniciais acabem por se dispersar em outros grupos. Esse processo ‘natural’ vai avançando conforme os jogos transcorrem e conforme os jogadores tomam contato com outros grupos. As leituras também ajudam muito.
Então, se você é um mestre ou jogador novato, não esqueça:
- nada de exagero nas descrições;
- mais vale um bom enredo do que dez páginas de descrição sobre um cômodo;
- foque nas cenas e não nos detalhes;
- detalhes são importantes, mas quando esse detalhe tiver importância no jogo;
- pense que você, como mestre, não deve direcionar o jogo, e sim ajudá-lo a fluir.
Elas valem tanto para mestres quanto para jogadores. Aos poucos cada um encontrará seu ponto exato para atuar no jogo e sua forma de atuar. Mas a dica mais importante é... ninguém nasceu sabendo a ‘fórmula’ para jogar e uma boa conversa é fundamental para que o grupo evolua junto, se desejar continuar junto por um longo tempo.