Crianças jogando RPG
- Jogos introdutórios -
O
futuro do RPG não está em ficarmos orbitando ao redor de nossos próprios
umbigos. O futuro está em conseguirmos novos jogadores à cada dia, e neste
grupo incluímos crianças. Sejam por curiosidade delas ou por serem descendentes
de algum jogador atual, esses novos jogadores é que garantirão a perpetuação do
estilo de jogo. Embora alguns jogadores mais radicais achem que elas podem (ou devem)
ingressar com os jogos que são normalmente usados, eu particularmente considero
que alguns são mais adequados levando em consideração complexidade, curva de
aprendizagem, dificuldade de adaptação e diversão em si.
Para
essas crianças temos algumas opções que surgiram ao longo dos anos e que foram adotadas
aqui no Brasil: livros de aventura solo como os clássicos da Fantasy Fighting,
o RPGQuest com o uso de miniaturas de papel e mesmo 3d&T (um pouco mais
complexo)... mas temos muitas ótimas outras opções espalhadas pelo mundo e que
muitos não conhecem, podendo ser facilmente traduzidas para serem usadas com
seus filhos - links nas imagens ou nos textos.
- Contes Ensorceles
criado por Antoine
Bauza
Lançado
originalmente na França pela Le Septième Cercle, criação de Antoine Bauza (7
Wonders e Takenoko). Direcionado para crianças de 6 a 10 anos, ele se apresenta
como uma forma de desenvolver histórias participativas com crianças em mundos
de fantasia, ou seja, uma outra forma de falar RPG. Em seu cerne sua
preocupação maior está não na mecânica, mas no desenvolvimento da história em
si. Uma versão em inglês foi adaptada por Amanda Valentine (uma das
desenvolvedoras do Marvel Heroic RPG). Ele se baseia em três atributos – corpo
(atividades físicas), cérebro (atividades mentais) e coração (intereação) –
categorizados de 0 a 3, onde a resolução de todos os desafios é feita com 2d6.
Mas o mais interessante do sistema é que o narrador é incentivado a permitir para
os jogadores qualquer faça sentido antes dos testes, e também incentivar um
sistema de chamados Desastres e Triunfos, ao invés de simplesmente punir um
jogador. A obra possui 128 páginas já contando com três aventuras completas.
- Hero Kids
criado por
Justin Halliday
Um
dos mais conhecidos RPGs introdutórios (de 4 a 10 anos), Hero Kids tem tido uma
vida que vai muito além da simples apresentação do sistema à novatos. Acumulando
uma grande variedade de livretos e livros, desde o sistema básico até compêndios
e aventuras, ele trouxe não uma complexidade à algo que deve ser introdutório,
mas sim uma variedade e valorização do dos novatos no sistema. Não é porque é
uma criança ou novato no RPG que ele não merece variedade. Hero Kids prova
isso. O blog do desenvolvedor está sempre trazendo muita novidade e material
para ampliar ainda mais a ação de seu título (AQUI). Nas cerca quarenta páginas
de seu sistema básico – claramente direcionado aos pais ou responsáveis - ele ensina
didaticamente como jogar e como aplicar o jogo às crianças. Todas as mecânicas
básicas – movimento, iniciativa, ataque, defesa, round – são ensinados de
formas simples e rápidas. Além do cenário de fantasia, Hero Kids tem ingressado
no mundo do espaço no melhor estilo Star Wars! A Confraria já apresentou uma
matéria sobre essa publicação anteriormente AQUI.
- Fairy
Tales
criado por Patrick Sweeney, Sandy Antunes, Christina
Stiles, Colin Chapman and Robin D. Laws
Quer
algo mais ligado à fantasia do que jogar com uma fada? Fairy Tales é indicado
para crianças a partir de 6 anos. No livro temos todas as regras para criar uma
fada (e alguns outros seres fantásticos como duendes). Em suas quase cem
páginas temos as noções básicas para o adulto narrar e desenvolver aventuras,
bem como toda a mecânica necessária para a criança ter as primeiras noções de
RPG. Já vem com três aventuras. A versão Deluxe vem com um adendo com mais
aventuras, filmografia para assistir com os pequenos jogadores lhes dando
ideias novas e muito mais.
- Suprecrew
criado por
Tobias Radesäter
O
sueco Supercrew achou a fórmula perfeita para resolver um dos maiores problemas
existentes entre RPG e super-heróis: como emular a quebra das regras que os
heróis estão sempre realizando? De forma simples, em texto ou quadrinhos, o
sistema se apresenta em pouco mais de trinta páginas. Usando apenas d6, o
sistema se baseia na nos poderes do personagem onde todos possuem apenas três
habilidades onde cada uma tem ligação com 1 (seu poder fraco), 2 (seu poder
mais confiável) ou 3 (sua arma secreta) dados. Rolagens 4, 5 ou 6 nos dados são
sucessos onde tirar 6 é um grande sucesso com muitos benefícios. Ao mesmo tempo
usar sua habilidade de três dados requer ter um ponto heroico (semelhante à
Mutantes e Malfeitores da Green Ronin) levando-o a usar com cuidado até ganhar
um novo ponto heroico, que você ganha apenas com o uso do poder de graduação 1 –
uma grande sacada. É, sem dúvida, uma forma elegante e simples de emular um
cenário de Super-heróis.
- Kids’ D&D
criado por
Jimm Johnson
Com
quatro classes disponíveis de forma simplificada (habilidade especial,
equipamento e CA), onde se acrescenta apenas os PVs (1d6), o jogo apresenta uma
forma simples e dinâmica de demonstrar e exercitar a mecânica do RPG. As regras
são apresentadas como uma forma de direcionar o mestre não na complexidade
inerente ao sistema, mas de uma forma que pontue os elementos cruciais da
mecânica: ação-reação-premiação/fracasso. Houveram duas versões gratuitas em
português para ele, ambas lançadas pela Flying Ape: Kids’ Dungeon & Dragons
(livreto e ficha) e Kids’ & Dragons (livreto)
-
Return of the Woodland Warriors
criado
por Simon Washbourne
Baseando-se
na mecânica do Sword & Wizardry, ele está adequado para iniciantes de 6 a 8
anos em um cenário onde você assume o papel de um ser antropomorfizado
protegendo sua casa. O sistema é baseado em d6 com CAs de 2 a 6 e combates
curtos (cada combatente lança tantos d6 quanto seus níveis possibilitando assim
ataques múltiplos, possibilitando algumas variações com queima de dados para
outros benefícios). As opções de perícias são poucas para dar mais ênfase à
mecânica a ser aprendida do que na especialização do personagem. Outro fato,
comum em sistemas para iniciantes, é a dificuldade do personagem morrer, mesmo
quando seus pontos de vida chegam a zero.
-
Monster Island: the game of giant monster combat
criado por Bruce Harlick e Pactrick Sweeney
Outra
produção da Firefly Games, este RPG é centrado sobretudo no combate em si – uma
das coisas mais gostosas e divertidas. Ele em si não um RPG propriamente dito, embora
faça uso de sua mecânica, sendo muito mais propício para iniciantes do que
necessariamente para crianças. Seus sistema é baseado nas regras de Ação! e em
suas 32 páginas divide-se em apenas três etapas – modelagem do monstro, modelagem
do ambiente e combate. Para quem não conhece o sistema temos quatro atributos
(força, reflexo, vitalidade e mente) com graduações de 1 a 10. Deles temos
outros cinco atributos derivados (vida, evasão, resistência, atordoar e
movimento) e os poderes. Você gasta 30 pontos iniciais entre os quatro
atributos e os poderes. Por sua vez o ambiente crie vantagens ou desvantagens em
meio ao combate. O combate em si é muito simples ensinando facilmente questões
como tipos de ataque (à distância com poderes) ou ataque corpo a corpo e o
movimento além da alternância de turnos. É uma ótima forma de ensinar a
mecânica de combate e criação de personagens. Além disso tudo, o livro repleto
de referências de Kaijus e outros monstros gigantescos.
- Adventures in OZ
criação de F.
Douglas Wall
Baseado
em um dos cenários de fantasia mais conhecidos das crianças, com mais de cem
anos, ele transporta os jogadores para o mundo de Oz onde a aventura será
vivenciada. Ele possui um sistema próprio indicado para maiores de 8 anos. Os
personagens são criados no sistema de arquétipos pré-determinados com valores básicos
para seus atributos e com certas características. O jogador recebe alguns
pontos para distribuir sobre essa base e dar a sua cara ao personagem. A mecânica
do sistema é toda baseada em 2d6: se dois são rolados com valores individuais
acima do valor da perícia testada é uma falha, se pelo menos um dos dados tem
valor igual ou abaixo do valor da perícia é um sucesso, e se os dois valores dos
dados forem abaixo do valor da perícia é um sucesso especial. Os combates são
igualmente simples, mas o genial é que os ferimentos em combate não o matam –
você apenas perde aquela parte do corpo e segue em frente... ora, você está em
Oz!
- Mermaid Adventures
criado por Eloy
Lensata
Fruto
de um bem sucedido financiamento coletivo, ele foi criado pensando em introduzir
meninas pequenas no RPG, embora tenha um considerado sucesso com meninos
também. Com um sistema próprio ele foi preparado com dicas para pais o usarem
com filhos, visando ensinar também aos pais o que é RPG. São várias raças para
escolher, todas hibridas com algum tipo de ser marinho e customizáveis sobre
uma base estabelecida. Ele se vale de dados d6 (muitos e de preferência em duas
cores com funções diferentes) e possui o sistema de sucesso e falha diferenciados
conforme a rolagem: rolando dados de atributos (de uma cor) e de dificuldade com
quantidade conforme a tarefa (de outra cor) valores 4, 5 e 6 são sucessos de um
lado ou de outro, bastando apenas comparar quantidades e valores um a um. Em
alguns momentos ele pode parecer um pouco cheio demais de tabelas e
estatísticas, mas como eu disse, ele foi pensado para pais o usarem com seus
filhos.
- Infestation: a RPG of bugs and
heroes
criado por Eloy Lasanta, Jacob Wood e Amanda Milner
Imagine
ser um inseto que acaba de ganhar consciência após um acontecimento chamado O
Despertar! Percorra os cômodos da casa com seus perigos tente manter seu
domínio. Aqui lixo e sujeira são seus tesouros esperando que você os descubra e
pegue. Seja uma das doze espécies vivendo em sua casa e conquiste o lixo!
-
The Heroes of Hesido e Champions of the Elements
criado por Sussan
J. Morris
Baseado
em Monstrer Slayer, de Lukas Ritter, esses dois livros adaptam D&D em uma
linguagem própria para crianças a partir de 6 anos. Ambos possuem regras para
combate, personagens pré-gerados e muito mais. A forma simplificada das regras
e da mecânica facilitam a compreensão de um sistema tão amplo quando D&D
para que os primeiros passos sejam dados de forma segura.
- First Fable
criado por Matthew
Farland
Outra
ótima opção gratuita para introduzir RPG para crianças a partir de 6 anos.
Segundo informações sobre o jogo, ele foi preparado tanto por pessoas
especialistas em RPG, quanto por educadores. Você pode jogar apenas com o livro
básico usando suas informações, mas o mais interessante é que cada criança pode
jogar com um dos livretos de tipo de personagem. Eles foram todos preparados
para serem compeltos pela criança em um sistema de atividades e perguntas e
respostas para montar o perfil de seu personagem – incluindo o desenho e a
ficha. Ao final da aventura há um espaço especial para que a criança descreve o
que aconteceu tal qual um diário inclusive com espaço para imagens dos
acontecimentos. São quatro livros variados de tipo de personagem de graça
(Animal Keeper, Faeri Princess, Knight, Pirate) para enriquecer as aventuras. O
fato de ser gratuito facilita em pré sejam impressos tantos livretos quantos
forem necessários!
-
The Princes’ Kingdon
criado por
Clinton R. Nixon
Dedicado
a introdução de jogadores de 5 a 12 anos, ele vem preparado para pais que
desejam levar as crianças para o mundo do RPG. Ele é uma adaptação de Dogs in
the Vineyard, de Vincent Baker. The Princess Kingdon assume que todos os personagens
são filhos do rei, cada um com exata idade que os jogadores – entre 5 e 12
anos. O jogo seria como uma preparação para que esses príncipes e princesas
assumam a administração do reino no futuro. Para isso eles irão visitar ilhas
do arquipélago o qual seu pai governa e resolver problemas. O mestre (que tem
de ser assumido por um adulto) cria as ilhas, os cidadãos e principalmente os problemas
que os príncipes enfrentarão. O sistema é próprio e muito bem pensando. A
criação do personagem possui como elementos Atributos, Qualidades,
Relacionamento, o mais interessante é o Atributo que equivale à um valor relacionado
à idade real do jogador. A evolução no jogo vem da resolução dos problemas. Ele
não é acessível para crianças, mas sim para ser usado com crianças, já que
possui uma mecânica intrincada e necessitando de alguém conhecedor dela.
- Shadow
criado por
Zak Arntson
Um ótimo jogo gratuito para
introduzir tanto crianças quanto adultos. Ele usa da premissa de que cada
jogador participará da aventura com uma representa sua. Ele começa com o
jogador fazendo primeiro um desenho seu em uma folha de papel (pode ser sim um
bonequinho de pauzinhos), em seguida cada um deve desenhar a sua sombra (de
algo real à um monstro, será seu alter-ego), em seguida cada um recebe um dado
para si e um para sua sombra (distintos para serem facilmente identificados) e 3
tokens. O jogo começa sempre da mesma forma: “vocês estão dormindo quando de
repende são acordados ao escutarem um barulho no andar de baixo”. Pronto, o
jogo começou. A aventura se passa na casa, à noite, com você fora da cama, sem
que seus pais saibam e se forem pegos fora do quarto terão problemas. A aventura
transcorre enquanto você investiga o que está acontecendo (à critério do
mestre) e foge de ser descoberta pelos seus pais. Sua sombra sempre tenta lhe
causar problemas e quando a criança decide fazer algo ela declara o que ela
quer fazer e o que a sombra quer que acontece, e então joga ambos os dados. Se
o seu dado “bom” tirar um resultado igual ou maior ao dado da sombra, o que
você quer fazer acontece. Mas os adversários podem influenciar dando um de seus
tokens para obrigar um adversário a refazer uma jogada.
- Magissa
criado por
Edanna Real e Fernando R. Reyes
Produção
espanhola de 2013 da Nosolorol Ediciones para crianças de 6 a 12 anos. A receptividade
foi tão positiva que já está na quarta edição e com duas versões diferentes. O
livro com mais de cem páginas é direcionado para adultos que conduzirão as
aventuras. As regras são fáceis e ágeis e com possibilidade de ampliações que
possibilitarão ao jogo ir se adequando às crianças que participarão. Embora
sendo um jogo de RPG, ele tem um fundo pedagógico e já na introdução ele lista
uma série de benefícios para a criança que serão exercitados com ele: trabalho em
equipe, linguagem, pensamento lógico e criativo, imaginação, cálculo e
probabilidade, cálculo mental, resolução de problemas, pensamento tático e
estratégico e a expressão corporal! Realmente uma aquisição sensacional! Ainda
no prólogo, Edanna explica toda sua dificuldade para criar algo que realmente
chamasse a atenção das crianças ... e conseguiu!
-
Happy Birthday: Robot
criado por Daniel
Solis
Indicado
para crianças acima de dez anos, sua premissa é simples: o robô fará aniversário
e seus amigos o querem fazer feliz. Este jogo é uma verdadeira forma de
construção colaborativa de uma história. O objetivo é criar uma história que
emule um livro de histórias infantil. Sua mecânica é simples e inventiva. Tudo
começa com a frase “Feliz Aniversário, Robô!”, em seguida um jogador rola os
dados (no mínimo 3), conforme o valor dos dados ele mantém alguns com ele e
passa os outros para os jogadores vizinhos. O primeiro jogador escreve uma
série de palavras até um total igual ao número de dados que ele manteve consigo
podendo usar 1 vez a palavra “robô”. O jogador à sua direita vai adicionando um
palavra por dado que recebeu podendo usar 1 vez a palavra “e”. A frase é
terminada pelo jogador da esquerda que adiciona uma palavra para cada dado
recebido e pode usar 1 vez a palavra “mas”. Está é toda a mecânica! As
sentenças vão ficando maiores, mais complexas. Outros detalhes existem
possibilitando ter algumas vantagens para mais palavras e outras funções.