Parte 3
Hasmuss
e Liana corriam como loucos pelo terreno acidentado enquanto Müller os seguia
um pouco mais de longe. O comunicado de emergência de Ronden os pegara à todos
de surpresa. Eles sabiam que apenas três era muito pouco dependendo do perigo,
mas teria que servir por hora.
O
fato de estarem em exercícios dificultou tudo. Embora a maioria dos hussardos
estarem intactos eles estavam atolados, decorrente da atividade de treinamento.
Já os três hussardos dos instrutores também tomaria muito tempo até serem ativados
e com os pilotos à postos, levando até 5 minutos. Apenas os três estavam livres
e prontos para ação.
Após
a notícia Cornélius deu a ordem dos três serem a linha de frente da ajuda. Nem
ao menos tiveram tempo de se armarem adequadamente, pois o processo de colocar
a munição ou recarregar as baterias levava pelo menos dez minutos e o tempo
estava contra eles. Eles estavam indo com as espadas e com o armamento primário
que era composto de uma pistola de energia e um fuzil energético leve.
Só
tiveram tempo de receber as coordenadas e partir para a ação. Com aquele tempo
adverso e o terreno impróprio o um quilômetro e meio de distância até o ponto
exato levaria um tempo demasiadamente longo para ser percorrido podendo ser
fatal para seus colegas.
Não
havia estratégia preparada, apenas a urgência. O som do metal batendo pesado no
chão era estridente e abafado. O entardecer deixava as sombras alongadas e
quase imperceptíveis frente à escuridão que avançava.
“- Ronden,
responda! [bzzz]” – repetia Hasmuss nos últimos minutos sem qualquer
resposta – “confirme localização [bzzz]”. O silêncio poderia ser um mau
sinal ou apenas um cuidado do grupo para não ser localizado.
Liana
e Müller apertavam o passo para tentar acompanhar Hasmuss, mas ele estava correndo
como um louco pulando e desviando de rochas e árvores da forma que dava. A
chuva e o terreno quase não o impediam de realizar o percurso.
“- Alguma
coisa no radar Liana? [bzzz]” – questionou ele.
“- Tudo
limpo! [bzzz]”
“- E
você Müller? [bzzz]”
“-
Ei, quem te colocou no comando? [bzzz]” – o mau humor na resposta de
Müller só não era maior do que a inveja que ele estava tendo da atitude de
Hasmuss que naturalmente tomou à frente da situação.
Hasmuss
travou sem aviso seu robô quase arrancando uma árvore pela raiz ao usá-la como
apoio para frear. Liana passou por ele direto e parou alguns metros à frente,
mas Müller se assustou e não conseguiu travar à tempo. Hasmuss esticou o braço
metálico propositalmente atingindo o colega na altura do peito, provocando um
enorme estrondo e sua queda. Com um giro rápido ele postou-se à frente de
Müller com o pé sobre seu peito.
“-
Olha aqui, não quero saber quem é sua família ou de que buraco vocês saíram ... [bzzz]
...muito menos me interessa saber se tu acha isso justo ou injusto ... [bzzz]
... temos uma missão para realizar e colegas para ajudar ... [bzzz]
... então, ou tu entra no esquema e faz o teu trabalho sem reclamar ou
volta correndo para a mamãe!”
Apenas
o som da chuva e dos trovões e dos trovões eram audíveis, além da pesada
respiração de Hasmuss naquele longo minuto. Liana observava tudo com espanto. O
amigo sempre tivera uma atitude de fugir dos conflitos e resolver tudo com
diplomacia. Ela não sabia se a atitude tinha relação com o perigo que o
amigo corria ou se ele apenas tinha ficado cheio das atitudes de cadetes como
Müller.
Ele
tirou o pé de cima e ofereceu a mão para Müller. O robô caído não aceitou a
ajuda empurrando a mão de Hasmuss para o lado.
“- Você
vai se arrepender disso! [bzzz]”
Hasmuss
apenas bufou enquanto voltava para seu caminho. Quando eles estavam à cerca de
cem metros do ponto do pedido de ajuda a escuridão estava ainda mais densa. A
floresta acabava alguns metros adiante no que parecia ser uma enorme clareira e
o pedido de ajuda viera dali.
“- Comunicação
desligada! [bzzz]” – disse Hasmuss. Isso era feito quando havia o perigo
de serem escutados por inimigos. Como não sabiam quem estava atacando era uma
ordem lógica. Nessas situações toda a comunicação era realizada por meio de
sinais com as mãos, como em qualquer ação tática fora dos hussardos. Hasmuss apontou
para Liana circundar pela esquerda e para Müller ir para a direita. Ele fez
mais um sinal antes deles irem para que aguardassem a ordem dele para avançar
para a área aberta. Ambos assentiram com a cabeça e rumaram para seus lugares
enquanto ele puxou o rifle com cuidado e começou a cruzar as últimas árvores,
parando bem na beirada.
A
área da clareira era muito extensa. Provavelmente fora desmatada para servir de
paradouro improvisado de aeronaves de transporte das empresas mineradoras. O
chão era firme de pura rocha tendo muito pouca lama em pontos específicos. As
sombras contrastavam com o esbranquiçado do solo rochoso iluminado pelos
relâmpagos ao mesmo tempo em que impossibilitava que se conseguisse enxergar a
outra extremidade.
Hasmuss
esperou tempo suficiente para que Liana e Müller tomassem suas posições para
que recebesse cobertura para uma aproximação então começou a avançar lentamente
– “Avançar! [bzzz]”.
Enquanto
avançava calmamente ele percebeu cerca de cem metros à esquerda o avanço do
hussardo de Liana, com a pistola apontada para o vazio. Um pouco mais longe, à
direita, Müller também avançava com o rifle em mãos.
O
terreno à frente deles tinha muitos destroços espalhados como que sendo
resultado de um combate. Algumas partes da unidade de terra ainda estavam
intactas e poderiam muito bem servir de cobertura para eventuais inimigos,
então todo o cuidado era pouco. Hasmuss colocou-se de costas contra um enorme
container. O radar não apontava nada, o que era muito estranho. Ou estavam com
uma camuflagem eletrônica ou já haviam ido embora.
“- Algum
contato visual? [bzzz]” – pergunta Hasmuss.
“- Direita
limpa ... senhor! [bzzz]” – a última palavras saiu pausadamente ofensiva
da boca de Müller.
“- Esquerda
lim..., espere... movimento no ponto 4-5-2 ... é um dos nossos! [bzzz]” –
disse Liana.
“- Estou
vendo também!!! [bzzz]” – disse Müller – “pode deixar comigo! [bzzz]”
“- Não...
Não abandonem a formação, repito, não abandonem a formação! [bzzz]” –
gritou Hasmuss quando percebeu que Müller avançava diretamente para a posição
onde se encontrava um hussardo dos que haviam pedido ajuda. Liana visualizava à
tudo de sua posição sem se mover tentando avaliar o que fazer.
“- Já
te disse que ninguém te colocou no comando ... [bzzz]” – ele dizia
freneticamente pelo comunicador enquanto avançava quase que correndo em direção
ao outro hussardo - “... não vou esperar a ordem de um ninguém para ser um
herói ... [bzzz]” – ele continuava avançando até quase chegar do lado do
colega aparentemente abatido - “... como eu já disse eu vou sen...” –
a comunicação de Müller foi interrompida por um forte estrondo vindo de um
disparo de um poderoso rifle de precisão que poderia estar à centenas de metros
de distância. O disparo arrancou o braço esquerdo do hussardo de Müller
fazendo-o girar no ar e cair sobre o outro hussardo que estava de joelhos e
aparentemente inativo. Logo que os dois se tocaram houve uma forte explosão.
Era uma armadilha e havia dado certo.
O
clarão da explosão cegou momentaneamente a dupla de amigos que foram pegos de
surpresa. A ação impulsiva de Müller lhe custará caro, quem sabe até a vida, e
uma resposta rápida deveria ser assumida ou os dois também pereceriam ali.
“- FORMAÇÃO
DEFENSIVA!!! [bzzz] ...” – gritou Hasmuss para Liana.
Prontamente
ela lançou seu hussardo para trás de alguns escombros. Quase que ao mesmo tempo
os disparos começaram a cortar o ar vindo de todas as direções, pelo menos era
a impressão que dava. Logo que Liana se postou protegida três disparos
acertaram nos escombros antes de acertarem ela. Ao mesmo tempo Hasmuss
abaixou-se tentando localizar a origem dos disparos. Ele contou pelo menos
quatro fontes pelo menos, mas deveria ser mais.
Aqueles
disparos deveriam ser para cobrir a aproximação de outros adversários e ele
sabia que se continuassem em campo aberto seriam um alvo fácil e muito
rapidamente seriam atingidos.
“- Como
você está? [bzzz]...” – perguntou Hasmuss para Liana.
“- Estou
com uma boa proteção, pelo menos por enquanto! [bzzz]”
“- Preciso
de cobertura para chegar nas árvores ... [bzzz] ... é nossa única
chance ...[bzzz]”
“- Vou
lançar algumas granadas ... corre para a tua esquerda... parece ser o caminho
mais curto! [bzzz]”
“- Ok
... Prepara então... [bzzz] ... um ... dois ... TRÊS!”
Três
granadas foram lançadas pelo ar para três pontos diferentes. A explosão foi
seguida de pequenas mas eficientes nuvens de fumaça branca que permitiram que
Hasmuss chegasse até a primeira linha de árvores. Quando os inimigos perceberam
para onde ele iria já era tarde.
Hasmuss
escondeu-se de costas contra algumas árvores e analisou a situação - “Lembra do
treinamento na sala escura? [bzzz] ...” – ele perguntou para Liana – “Faremos
igual... vou pela esquerda!”
Liana
prontamente entendeu o que ele dizia e confiava na sua decisão. Hasmuss
aprontou seu rifle começou a correr. Ele deu dois disparos para seu lado
esquerdo, mas começou a correr para o lado oposto. Ele contava que os inimigos
estivessem espreitando sua comunicação. A referência que ele fez sobre o
treinamento da sala escura era uma lembrança de um de seus primeiros dias na
Academia quando ele, Liana e Ronden venceram uma espécie de pega-pega às
escuras se comunicando com informações ditas ao contrário para confundir os
outros participantes e ele contava que isso desse alguma vantagem pelo menos
inicial no combate que estava por vir.
Logo
depois dos disparos para seu lado esquerdo Hasmuss percebeu algum movimento à
certa distância. Enquanto isso Liana disparava como se estivesse dando
cobertura para o caminho imaginário do colega. Ele ganhou alguns instantes de
vantagem.
Liana
percebia pelo menos três movimentos de todos os lados ao redor da clareira,
todos se direcionando mais ou menos para a posição que Hasmuss queria que todos
acreditassem que ele estava indo. O plano estava dando certo.
Ele
se posicionou de tocaia atrás de alguns troncos e ficou aguardando por alguns
instantes. Por entre a vegetação extremamente alta surge um rosto metalizado
seguido do cano de um fuzil pesado de energia. A pouca luz não o deixava
identificar quem era seu adversário, mas isso não importava. O que importava
era que ele era um robô inimigo e ele tinha de despistá-lo, pois um combate
direto era impensado. Hasmuss tinha noção que lhe faltava experiência para um
combate direto. Aquilo era muito diferente de um simulador e em caso de falha não
haveria um ‘game over’ na tela, mas sim uma morte dolorosa. O inimigo parecia
atento e à procura de algo, que no caso era Hasmuss.
Um
silêncio tenebroso estava no ar. Apenas o som da chuva e dos relâmpagos ecoavam
deixando o ambiente ainda mais fúnebre. Após o robô inimigo passar ele se valeu
do som dos trovões e em um movimento rápido avançou para a retaguarda do
adversário com uma faca termal em punho. Com um golpe seco ele atingiu a nuca
do robô rompendo os principais circuitos de funcionamento e desligando suas
baterias principais. Isso trava qualquer robô e é muito eficiente para um
ataque silencioso. Sem o acesso às baterias ele ficaria com as comunicações
interrompidas. Era uma ótima vantagem.
Menos
um.
A
intenção de passar pelo adversário e sair da posição desconfortável de estar
encurralado havia funcionado. O segundo passo seria ajudar Liana, achando uma
posição em que pudesse dar cobertura para ela sair daquela situação perigosa. E
isso teria de ser feito sem evitando ao máximo um confronto direto.
Hasmuss
avançou cuidadosamente. Os disparos recomeçaram para a direção de Liana, o que
indicava que eles já haviam percebido seu engodo e ela havia se tornado o alvo
prioritário deles. Ela teria de sair dali rapidamente e para isso precisaria de
sua ajuda. Hasmuss posicionou-se atrás de algumas árvores e quebrou o silêncio
da comunicação.
“-Liana
... [bzzz] ... vou te dar cobertura.... [bzzz]... corre
para minha direção!”
“- Onde?
... [bzzz]”
Não
respondeu para não dar mais chances para que o localizassem. Ele pegou seu
rifle e começou a mirar na direção dos disparos. Logo após um disparo de algum
dos inimigos ele atirou três vezes tendo atingido algo pelo som que produziu,
embora não enxergasse o que ou quem. Logo depois começou a disparar repetidamente
tentando criar uma linha de fuga para a amiga.
Liana,
ao perceber a possibilidade de fugir, se levantou e começou a disparar também,
enquanto recuava de costas o mais rápido que conseguia. Ela conseguiu atingir a
segurança da cobertura das árvores, mas não sem antes ser atingida
violentamente em um dos braços, inutilizando-o. Mesmo assim ainda estava de bom
tamanho já que estava viva.
Hasmuss
dividia sua atenção entre dispara contra os adversários e tentar descobrir como
a colega estava. Eram alvos claros e os disparos não paravam, mas mesmo assim
ele conseguiu ver que ela estava viva, embora seriamente avariada. O fuzil
estava fora de cogitação, tanto que após o braço ser atingido ele acabou
ficando no chão no meio do caminho. Ela já estava com a pistola na mão enquanto
se apoiava de costas contra o tronco de uma enorme pedra.
A
situação não era das melhores, ainda mais com Liana avariada. Os disparos
haviam cessado por alguns instantes enfatizando novamente o silêncio quebrado
pelo som da chuva e lhes dando aparentes instantes para recuperar o fôlego e
colocar as idéias no lugar.
Hasmuss
estava abaixado por entre arbustos e destroços de algumas árvores enquanto ela
estava apoiada com por um dos ombros, segurando a pistola com uma das mãos e
com o outro braço caído ao longo do corpo.
Ele
tentava manter a calma, mas estava visivelmente nervoso, inclusive para ele
mesmo. Não tinha certeza do que fazer. Já havia perdido um colega, embora a
imprudência não tenha sido dele, e a sua outra companheira estava avariada. Os
amigos o cobravam como se fosse um líder graças ao seu desempenho nos treinos,
mas isso estava longe de ser apenas um treino. Ele mesmo se cobrava demais para
conseguir levar seu sonho e aquela promessa até o fim. Mas o fim parecia que
seria hoje. Tudo isso passou em sua cabeça em uma fração de segundos.
Ele
foi trazido de volta quando sua atenção foi atraída por um movimento na
vegetação que demonstravam que os adversários estavam se movendo muito rápido.
Eles estavam em movimento e isso só poderia significar que estavam saindo da
passividade para o ataque.
“
– Como está o braço? [bzzz]” – perguntou à Liana.
“- Travado! [bzzz]
A
chuva começava a piorar e os relâmpagos ficavam mais intensos.
“- Vamos
improvisar! [bzzz] – Hasmuss respondeu tentando elaborar um plano em que
pelo menos eles saíssem vivos dali.
A
melhor solução, mais perigosa é verdade, seria o ataque direto e tentar usar as
enormes árvores como escudo, como fizeram até agora.
“- Vamos!!! [bzzz]”
– ele gritou pelo comunicador – “vamos pegar um de cada vez! [bzzz] –
completou apontando para a esquerda. Aquele seria o primeiro alvo deles, além
de ser o mais próximo.
Eles
começaram a correr. Hasmuss contava que a vegetação os escondesse dos que
vinham pelo outro lado enquanto ele e Liana se aproximavam do alvo.
“- Fica
na retaguarda!!! [bzzz] – ele gritou para ela enquanto controlava pelo
localizador a distância entre eles.
Hasmuss
puxou seu rifle de laser e liberou a trava. O zunido agudo típico do reator de
energia se preenchendo para os disparos soou como música para ele. Ele estava
pronto e certo de que conseguiriam destruir pelo menos um dos adversários e
logo depois encontrariam a morte. Mas se não conseguisse cumprir a promessa que
fizera para si mesmo quando fora classificado no Torneio da Constelação do
Sabre do ano anterior, conseguindo a vaga para a Academia, sua morte seria um
sinal de que pelo menos estava no caminho certo.
Logo
á frente ele percebeu um rápido movimento por entre a vegetação seguido de uma
sombra graças à um relâmpago. Instintivamente ele abriu fogo deslocando a
direção que seguia ligeiramente para um dos lados bem a tempo de escapar dos
disparos de resposta.
Mais
dez metros e ambos entraram em um espaço entre as árvores grande o suficiente
para que ambos conseguissem se ver. Mas foi tudo tão rápido que quase não
passou de um flash. O robô adversário era enegrecido como que camuflado com
sinais pintados de cores avermelhadas em um dos braços, mas Hasmuss não tinha
tempo para pensar nisso agora.
Logo
que conseguiu ajeitar seu corpo e encontrar um ponto de equilíbrio após travar
seu deslocamento foi atingido pelo braço do outro, quase o derrubando. Era um
movimento parecido com que ele mesmo havia executado momentos atrás em sua
briga com Müller. Mas ele estava preparado. Hasmuss tento erguer o cano de
seu rifle, mas a velocidade do outro era invejável, bloqueando a arma e
desviando o disparo para a floresta. O cadete realizou o mesmo movimento
travando a enorme arma do inimigo, iniciando uma verdadeira medição de forças
fazendo o metal ranger em mais de um lugar.
Mas
o adversário tinha um robô superior e aos poucos Hasmuss foi sendo arrastado
para trás ao mesmo tempo que ia arqueando os joelhos.
Quando
ele caiu de joelhos o elemento surpresa apareceu sob a forma de Liane e sua
simples pistola que quase que a queima roupa atingiu o inimigo em sua nuca,
causando um curto que explodiu sua cabeça.
Logo
que Hasmuss e Liana ficaram frente a frente, com a queda do outro robô, mais
disparos, mas desta vez contra eles. Liana teve seu robô lançado por sobre o
colega com tanta força que ele voou caindo às suas costas.
Mas
a surpresa foi do atirado pelo campo de visão não havia percebido que Hasmuss
estava ali. A surpresa deu ao cadete tempo de erguer o rifle, com carga máxima,
e disparar na junção da cabeça com o tronco. Fora um disparo tão forte que o
robô adversário rodopiou parando de costas para Hasmuss. Quando o piloto
adversário se deu por conta uma espada estava o transpassando na altura do
abdome causando um estrago fatal para ambos, máquina e piloto.
A
espada ficara presa, mas Hasmuss não quis perder tempo tentando tirá-la. Sua
preocupação era com a amiga. Ele correu para ela virando o enorme corpo do robô
dela.
“- Como
você está?? [bzzz]”
“- Eu... [bzzz] be......[bzzz]”
– sua comunicação não estava clara, mas pelo menos estava respondendo.
O
som de metal arranhando lentamente atraiu a atenção de Hasmuss. Ele se virou
lembrando que havia, segundo seus cálculos, mais um robô ainda. E era
justamente este terceiro que estava à sua frente, retirando a espada que estava
cravada no inimigo destruído.
Ele
era bem maior que os outros e sem marcas algumas. Um de seus braços parecia ter
sido enxertado de outro robô ainda maior o dando um aspecto animalesco, belo,
mas animalesco.
O
rifle estava no chão e não daria tempo para ele pegá-lo e a espada estava na
mão do inimigo. Não lhe restava muito o que fazer, mas algo deveria ser feito
pois Liana ainda estava viva.
“- Ejeta
e se esconde! [bzzz] – ele gritou na mesma hora que pulou sobre o
adversário surpreendendo até mesmo o inimigo.
Hasmuss
pulou na linha de cintura do outro lançando-os para trás e despedaçando duas ou
três árvores menores. Com esse movimento a espada caíra e o rifle do inimigo
estavam presos pelos braços do cadete.
Liana
começou o procedimento de ejeção da máquina enquanto dois robôs enormes se
agarravam poucos metros à sua frente. Ela tinha poucos instantes para isso,
sorte que o procedimento para sair é muito mais rápido do que para entrar. Ela
pressionou uma sequência em seu painel e toda a cápsula superior foi lançada
para o ar. Mais alguns movimentos e ela estava escorregando pela lateral de seu
robô.
Enquanto
isso a luta continuava. Com seu braço desproporcionalmente maior o inimigo
lançou Hasmuss para longe, libertando-se. Ele olhou para o cadete que de se levantava
e disparou contra seu braço. O cadete não sabia que arma era aquela, mas
arrancou-lhe o braço esquerdo de uma só vez.
Hasmuss
podia jurar que via o sorriso do piloto do outro robô quando este se preparava
para um definitivo disparo.
Foi
um longo momento de silêncio como se nem mesmo a chuva continuasse a cair. Mas
o som que o cadete escutou não foi o zinudo do laser, mas um brado muito
conhecido.
“- Avante
Brigada! [bzzz]”
Por
entre as árvores surgiram Ronden e mais dois de seus colegas, todos os três
nitidamente avariados. Os disparos começaram a vir incessantemente atingindo o
enorme adversário de todos os lados.
“- Veio
para a festa sozinho e não convidou os amigos? [bzzz]” – era a voz de
Ronden. Ele estava vivo.
“- Os
convites devem ter se estraviado.... mas é só escutarem uma briguinha que todo
mundo aparece!! [bzzz] – Hasmuss estava feliz e aliviado com achegada do
colega que ele achava que estava morto. Com a pistola em mãos ele também
disparava, reforçando ainda mais o ataque.
O
robô inimigo ia sendo cercado embora os disparos não fizessem muito estrago em
sua couraça reforçada, embora ele não conseguisse sair dali. Algo mais forte
teria de ser usado para resolver essa contenda definitivamente. E apareceu esse
‘algo’.
“- Crianças,
deixem o vovô aqui mostrar como se faz! [bzzz] – a voz clara do comandante
Cornélius surgiu como uma benção.
A
voz veio seguida do disparo que uma bazuca energética de alto calibre. O
disparo arrancou o enorme braço mecânico jogando o robô cinco metros para trás.
Logo em seguida surgiram mais três hussardos, esses do corpo de elite da
Brigada, que com suas pesadas carabinas laser terminaram o serviço despedaçando
o inimigo.
“- Bom
trabalho cadetes.... muito bom! [bzzz]” – disse Cornélius enquanto olhava
em volta – “baixas? [bzzz]”.
“-
Duas .... [bzzz]” – disse Ronden.
“-
Uma .... [ bzzz] – respondeu Hasmuss.
“- Ótimo.
Poderia ter sido muito pior. [bzzz]” – ele caminhou em direção aos restos
do inimigo no chão – “Isso era para ser um exercício de preparação, mas acabou
se tornando um batismo de fogo.... eu lhes apresento os Proscritos.....
parabéns, vocês nasceram de novo, feliz aniversário! [bzzz]”