sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Tadhana, um RPG filipino repleto de fantasia e mitologia


Tadhana, um RPG filipino
repleto de fantasia e mitologia

Estou sempre à caça de coisas interessantes sobre RPG, principalmente fora do eixo ocidental. Por isso fiquei muito feliz quando vi um amigo canadense, Chris Van Deelen (autor das fichas de Aliens para Starfinder que traduzo), comentar sobre Tadhana, um RPG de mesa filipino baseado no seu folclore.

Tadhana, cujo significado é ‘destino’ é baseado em folclore, lendas urbanas e mitologia das Filipinas. Tudo nele é cuidadosamente rústico. Ele vem (pelo menos a versão de pré-venda vinha) dentro de um saco de aninhagem com um logotipo, dando um aspecto peculiar, ao mesmo tempo cheio de estilo. O conjunto vinha com um livro básico (242 páginas), uma livro de campanha chamado Bulong (que significa “Sussurro”, com 98 páginas), 40 cartas chamadas de Cartas do Destino, tokens, marcadores de papel e uma arte... tudo isso por menos de 20 dólares.



Temos os clássicos papéis de Mestre e jogador. Cada jogador possui 4 atributos que são Lakas (poder), Husay (perícia), Talisik (sagacidade) e Diwa (espírito), e escolhe uma dentre as seis raças (ou Lahi), que são Aswang, Diwata, Engkanto, Garuda, Tao e Tikbalang, cada uma com usas histórias, culturas e características próprias com aspectos desbloqueados nos níveis 1, 6 e 11. Cada raça tem suas peculiaridades, por exemplo, Aswang pode se transformar em qualquer animal pequeno e inofensivo.

Você pode adquirir uma profissão que seria o equivalente às classes dos RPGs ocidentais. As classe dentre as cinco possíveis são Mandirigma (guerreiro), Pana (ranger), Sarong (monge), Albularyo (druida/clérigo) e Salamangkero (mago), cada qual com suas peculiaridades. Por exemplo, o Mandirigma possui um estilo de luta e postura de combate, o Albularyo tem uma alma mágica e um companheiro espiritual e o Pana pode se comunicar e usar animais como crocodilos e javalis. Outro ponto interessante é que toda Lahi (raça) e profissão pode usar magia.


O jogador também tem à disposição uma série de características genéricas tal quais vantagens e feitos. As magias são limitadas pela sua graduação em Talisik, ao mesmo tempo que podem ser personalizadas de forma quase ilimitada. Temos ainda cerca de vinte páginas de equipamentos e itens.

As Rodadas de Combate são divididas em duas fases: Fase de Discussão e Fase de Ação, com Talisik determinando a Iniciativa. A mecânica de combate confronta Lakas (poder) do atacante contra a Husay (perícia) do defensor determinando a quantidade de compra de Cartas de Destino onde a configuração dos símbolos determina o desfecho o combate. Durante as cenas podem aparecer as Trilhas do Destino – obstáculos a serem superados - centradas em um dos quatro atributos para desafiar o personagem, que são resolvidos de forma similar ao combate centrado na contraposição do atributo da trilha.


O dano é descontado da Lakas (poder) do personagem e não de pontos de vida, enquanto Husay (perícia) é descontada de alguns tipos de ações realizadas. Diwa (espírito) é gasto no uso de alguns poderes, enquanto Talisik raramente é gasto. Todo esse sistema de ganho, perda e gasto  de pontos de atributos, seja na realização de ações, seja em combates, são marcados com os tokens.

Bulong, o livro de campanha introduz um cenário chamado Sekunda, com Zho como um dos seus cinco principais continentes. O sol é um vazio escuro rodeado de prata e duas luas acompanham a presença da luz do dia. Este é o lar de dois deuses principais – Pahla e Goema – que representam respectivamente a vida e a morte

O livro é uma maneira divertida de se acostumar com o sistema, agindo como um módulo e como um guia de jogo Também introduz os muitos monstros e ameaças no jogo, como os Tiyanaks, o Sigbin e muito mais. Um terceiro capítulo compartilha a história da criação do jogo e termina com uma lista de itens lendários e raros.


Os idealizadores do projeto se disseram fãs de D&D e justamente a frustração com ele, devido ao seu alto custo, os levaram a procurar algo mais acessível, ao mesmo tempo que inovador em mecânica. Isso os levou à estudar sistemas mais leves como Fate e Axiom, levando-os a criar um sistema flexível e sem dados.

Quanto ao tema de Tadhana, um dos desenvolvedores e escritor do Projeto Tadhana, John Nathaniel Briones, disse ter tido receio em incorporar a mitologia e folclore filipino por medo de desrespeitar a cultura local. Sua base para trabalhar a temática foi Sandman (de Neil Gaiman) e a série de romances Overlord (de Kugane Maruyama). Segundo Briones: “Sandman me fascinou com sua interpretação de deuses e mitologia internacional, enquanto Overlord forneceu insights sobre como as raízes culturais e uma experiência localizada da sociedade podem afetar a construção do mundo da fantasia, mesmo se a estrutura for baseada nos padrões de fantasia tolkiano e ocidentais. (Eles) me ajudaram a entender que não há problema em tomar liberdade artística quando se trata de worldbuilding, desde que haja o devido esforço dado à pesquisa, enquanto respeito e amor é o foco principal quando se presta homenagem aos materiais de origem.”