terça-feira, 1 de julho de 2008

Romance

Por mares nunca antes navegados
PARTE 1 - Um longo prelúdio -
João "o escriba" Brasil


VII. O último dia...

O terceiro dia nasceu abraçado ao lamento da despedida. Seria o fim daquele encontro inesperado que tornou-se uma imensa festa. Cada um, a sua maneira, realizava os preparativos definitivos para seguirem seu rumo.

Syan permanecia em um torpor acordado de dar pena aos seus colegas. Não admitia a si mesmo deixar uma informação que fosse para trás à respeito do novo mundo de Moreania. Queria guardar cada detalhe que fosse para eterniza-lo em seus pergaminhos e livros posteriormente. Ele já estava acostumado a ser procurado por todos os seus colegas marujos para responder a toda a natureza de dúvidas. Por isso, e pela sua natureza inata de querer saber sempre mais e mais, estava atrás de toda a informação possível.

Tugar também estava fora de seu estado normal. Era comentado por todos no Gaivota que nunca o viram tão calmo e despreocupado. Seu rosto sereno era uma visão surpreendente. Tugar tivera reuniões longas com o mestre do Alcatéia, Brunian, sobre as peculiaridades da navegação em águas desconhecidas por eles.

- O que pretende fazer, caro capitão, agora que descobriu o que existe ao norte de sua terra? – perguntou Gares soltando círculos de fumaça de seu alongado cachimbo.

- Estou verdadeiramente encantado. Acho que meu rumo será o norte, ainda. Há um mundo totalmente novo para ser descoberto. Ao menos para mim.

- Isso me alegre. A beleza do desconhecido. Não há sabor mais viciante. Esta terra é maravilhosa e veras isso com teus próprios olhos.

- Nunca encontrei realmente meu lugar. Quem sabe não estou à caminhos disto nesta nova terra. E tu Garas? O que pretendes fazer agora que sabes da existência das terras do sul?

- Já estou cansado de pilhar sempre os mesmos imprestáveis. Necessito de imprestáveis novos. No sul poderemos nos divertir um pouco. Quem sabe não esbarro em algum amigo seu – disse o capitão lobo soltando uma risada por entre a fumaça.

- Então que assim seja. Vamos trocar de lares por uns tempos e nos aventurar no desconhecido – proclamou Slocun agarrando e levantando um caneco de rum em um brinde improvisado.

- Vamos escrever nossos nomes na história de dois continentes – acompanhou Garas levantando seu caneco.
E um aperto de mãos selou a alegria mutua e o início de grandes aventuras. Grandes laços foram criados pelos inúmeros membros de ambas as embarcações. Laços estes que, se as embarcações pertencessem ao mesmo lugar, nunca teriam se firmado.

As provisões do Alcatéia foram divididas com os membros do Gaivota. Brunian preparou o percurso inicial para os primeiros dias de viajem de Slocun. Tugar também fez o mesmo para Gares. Syan presenteou Pitush com alguns tomos e pergaminhos sobre assuntos variados relativos à Arton dizendo serem muito úteis para não se cometer certas gafes perigosas, em mar ou terra, nem desembarcar em terras do horror vermelho. Pelo menos no início teriam uma certa segurança. Algumas correspondências foram trocadas pelas tripulações para o caso de aportarem em certos portos de ambos continentes.


o O o


Duas horas depois um navio já não conseguia vislumbrar o outro no horizonte. A proa apontava para o desconhecido mútuo de duas almas visionárias. Nas gáveas olhos ávidos por novidades não se cansaram de aplicar-se em sua função. Em ambas embarcações transpiravam a jovialidade, a determinação e a alegre beligerância dos homens que vivem da pilhagem no mar.

Nas amuradas de ambas as proas, como figuras espelhadas, capitães tão diferentes e ao mesmo tempo tão parecidos se deixaram agredir pelo vento e pelo suave respingar frio das ondas singradas. Era como se estivessem empreendendo sua primeira aventura no mar. Como se não soubessem mais nada sobre o meio onde estavam navegando. Como se a cada momento, tudo o que respiravam e viam, fosse pela primeira vez sentido por eles. Um privilégio. Era esta a palavra que lhes veio à mente. Eram privilegiados por adentrarem, de peito aberto, no desconhecido.

Realizaram uma prece baixa à seus deuses. Não eram afeitos a isto, mas o momento os tomou de assalto. Era uma ladainha sussurrada pedindo proteção. Agradecendo. Mas, sobretudo, desejando nunca deixarem de sentir aquela doce sensação.

Tinham realmente certeza de serem privilegiados.

...e isto era só o começo de grandes aventuras...


- F I M -