Resenha
Os
Vingadores: era de Ultron
[com spoilers]
Logo
que foi lançado o primeiro filme dos Vingadores em 2012, todos começamos a
aguardar um segundo filme. Ainda não tínhamos real noção do que seria o UCM
(universo cinematográfico Marvel), mas tínhamos certeza que muito mais estava à
caminho. Tivemos alguns sucessos e alguns filmes medianos, mas sempre com a
mesma pegada, o mesmo norte e a mesma inserção no UCM.
Quando
a Era de Ultron foi anunciado na San Diego Comic Con todos ficaram extasiados, mas
também preocupados pela grandiosidade de tal projeto. Quem acompanhou o arco nos
quadrinhos em 2014 sabia, pelo menos eu tinha certeza, que seria muito difícil
de adaptá-lo tal e qual as HQs. Mas ao mesmo tempo sei que não sou o único que
sabe que nem tudo que funciona nos quadrinhos funciona também no cinema.
Mas
vamos ao filme e vou começar com minha avaliação geral – o filme é grandioso.
A
primeira coisa que percebemos, ou que tivemos a impressão, comparando os dois
filmes dos Vingadores, foi com relação ao antagonista. No primeiro filme dos Vingadores
tínhamos o antagonista muito bem identificado no Loki. Ele foi sendo construído
desde o primeiro filme do Thor e por todo o primeiro filme dos Vingadores ele
interagiu e reforçou sua posição. Neste segundo filme o antagonista não foi
apresentado de início. Começamos tendo a Hidra como vilã e depois temos a mudança
para a figura de Ultron. A Hidra tem sido fortalecida como vilã nos dois filmes
do Capitão América e pelo seriado dos Agentes da SHIELD, mas ela não era o
antagonista desta vez, mas apenas o estopim para o que se desenrolaria depois.
Isso acaba por parecer uma quebra na continuidade do filme. Não sei de que
outra forma eles iriam introduzir o Mercúrio e a Feiticeira Escarlate, já que
desde o final de “Capitão América: o soldado invernal” eles já estavam lá, sob
jugo da Hidra. Ela foi um mal necessário.
Mas
esta impressão é aparente e foi, ao meu ver, a tentativa da Marvel Studios de
complexar e abstrair um pouco seus roteiros. Ultron é o resultado de todos os
filmes anteriores, quando a raça humana descobre que não está só e, além disso,
não é párea para esses novos seres (alguém lembra da fala de Fury no primeiro Vingadores?)
que vem surgindo com tanto poder. A Hidra apenas serviu para trazer a última
peça que faltava para a iniciativa de Stark, que infelizmente foi além da
compreensão dele. Muitos não perceberam que a construção do antagonista deste
filme começou lá no início, em Hulk, passando pelos filmes do Homem de Ferro,
principalmente por Thor e, culminando com o primeiro filme dos Vingadores – o medo.
Outro
elemento que pareceu estranho aos espectadores foi a entrada de Mercúrio e da Feiticeira
Escarlate. Eles tiveram uma introdução muito rápida e concordo que sem muita
possibilidade de atrair o público. O problema é que a Marvel, infelizmente, não
tem condições de trazer às telonas um filme de origem para cada personagem
novo. Quando tivemos o primeiro Vingadores, cada um de seus protagonistas já
havia tido um ou mais filmes de origem, mas nem sempre isso é possível. Eles
tiveram de optar com uma introdução rápida e acho que pueril. Com isso não
conseguiram tanta simpatia ou cumplicidade do público, mesmo no momento de
morte do Mercúrio. Ao meu ver ela (ou eles) terão mais chance de agradar e
fortalecer sua posição dentro do imaginário do público na continuidade do UCM.
A
introdução do personagem do Visão, ao contrário, não gerou o mesmo problema. A
construção de sua identidade foi rápida, não por escolha da produção, mas por
uma característica do próprio personagem e mesmo com essa rapidez não sentimos
falta de maiores explicações além das que foram sendo dadas ao longo da segunda
metade do filme.
Quanto
à morte de Mercúrio, um parênteses. Pode ser apenas impressão minha, mas não
acho que a Marvel descartaria tão rapidamente um personagem com tanto potencial
quanto ele. Embora a versão que apareceu no filme dos X-Men tenha caído nas
graças no público por uma questão muito mais estética do que enredo, essa
versão dos Vingadores seria um incrível acréscimo à história. Vamos aguardar
para ver.
Vamos
mudar o foco agora para o filme como um todo. O que desejamos quando vamos ver
um blockbuster baseado em quadrinhos é a emulação da ação que temos nas páginas
passada para as telas e foi exatamente isso que tivemos. A cena dos primeiros
minutos, ainda antes do título surgir, foi uma ótima amostra de como fazer isso
de forma bem feita. Combates simultâneos, inimigos diversos, ações grandiosas
de combate, quase uma baixa... tudo estava lá. Depois deste início tivemos mais
quatro momentos de combate, dois menores e dois grandiosos. Diferente do que
muitos disseram não foram momentos de combate descontextualizados ou sem razão aparente
transformando o filme em um amontoado de cenas de ação. Cada um deles tinha sua
posição exata dentro do arco e ia construindo duas impressões básicas para o
filme – a quase onipresença de Ultron e a incapacidade aparente dos Vingadores.
Cada uma das quatro seqüências de combates teve ação crescente e muito bem
embasada com o todo da história. E o melhor, cada uma dessas seqüências trouxe,
mesmo que em pequenos detalhes, elementos vivos dos quadrinhos e de sua
mecânica. Por isso mesmo alguns aparentes exageros geraram reclamações ou
estranheza de muitos espectadores.
A
última e mais longa seqüência de combate foi grandiosa e digna dos amantes de
quadrinhos. Teve tudo o que poderíamos imaginar, sonhar, querer ou desejar.
Cada personagem teve seu papel no grande mosaico e sua importância na trama
final, culminando com aquela maravilhosa cena de combate de todos eles dentro
da igreja. Não faltou nada. Acompanho quadrinhos desde o início dos anos
oitenta e aquela cena foi a realização de um sonho que apenas minha imaginação
já havia conseguido montar. Escutei também algumas pessoas dizendo que a
derrota de Ultron foi relativamente simples e sem grandes desafios... na
verdade isso é um engano. Todo o combate, toda a enorme seqüência final de
combate foi, na verdade, contra Ultron. Toda a ideia construída de que todas as
cópias representavam e eram a consciência de Ultron, e de que ele estava em
todos os lugares, passa por esse combate onde à cada cópia derrotada toda a sua
estrutura também era derrotada. E mesmo assim foi necessária a cena antológica
de Visão, Homem de Ferro e Thor usando de todo o seu poder contra o ‘vilão’,
recebendo o golpe de misericórdia do Hulk.
Após
o término do arco achei a cena final um pouco prolongada demais, mas não de
todo desnecessária. Ela serve muito bem como elo entre este e outros filmes da
terceira leva do UCM. E mais uma vez somos lembrados, na cena pró-crédito, que
por trás de tudo o que tem acontecido temos um Thanos preparando-se para a
Guerra Infinita!
Como
avaliar um filme, ou melhor, como avaliar um filme como este? Para mim a
avaliação de um filme deve necessariamente ser feita sempre usando como base
aquilo que é pretendido entregar ao espectador. A Marvel nos promete um
blockbuster sim e isso nunca foi escondido ou camuflado. Eles nos prometem a
adaptação do universo dos quadrinhos de heróis. Eles nos prometem que veremos
tudo aquilo que imaginávamos quando líamos as HQs. Tudo isso nos é entregue.
Para aqueles que não vem do segmento dos quadrinhos eles prometem um filme
divertido, cheio de ação e que deixará todos com vontade de saber o que virá à
seguir. Eles também conseguem isso. Levando isso em conta acho que tiveram um
enorme sucesso. Para mim não seria um filme nota dez pelos dois pequenos
problemas apresentados no início, com relação à aparente alteração de
antagonista que produz uma quebra muito rápida e por conta da introdução de
Mercúrio e da Feiticeira Escarlate. Mas mesmo assim “Os Vingadores: a era de
Ultron” merecem uma nota 9,0 com louvor!