sexta-feira, 8 de abril de 2016

Cathulhu: os deuses antigos são... gatos


Cathulhu: os deuses antigos são... gatos!

É impressionante como conhecemos pouco do que é produzido em RPG quando saímos do eixo americano e para longe dos sistemas e cenários que monopolizam o mercado. Da Alemanha foi lançado em 2002 algo inusitado e sensacional “Katzulhu” (posteriormente adaptado para o inglês como Cathulhu e lançado pela Sixtystone Press e traduzido em italiano como Il Richiamo di Gatthulhu). A versão que tive acesso foi a italiana, tradução de Giocco de Ruolo, pela Alephtar Games. Não é novidade para nós todo o imaginário criado por Lovecraft centrado em Cthulhu. Este mesmo cenário e personagem já deu origem à vários RPGs, alguns inclusive já lançados no Brasil, mas nenhum como esta versão italiana. O próprio autor, na página oficial do jogo diz: “Mas ninguém nunca teria pensado de um jogo baseado em Cthulhu com personagens gatos ... mas alguém fez!


Em poucas palavras o livro cria um cenário onde assumimos os papéis de gatos dentro de um cenário tipicamente de Cthulhu. O jogo é baseado em 2d6 (ou dGatti, como os italianos chamam os dados comercializados especialmente para o jogo). As jogadas de dados avaliam as ações que o personagem tem/deve realizar contra uma definição prévia de dificuldade (fácil, médio e difícil) com sucessos a partir do valor 4, para tarefas fáceis. Além disso, o jogo possui algumas regras básicas sensacionais para a interpretação do ‘gato’, criando interação física entre o RPG e o jogador. Um exemplo é a ‘Regola dell’Uno’ que obriga o jogador a manter um lápis na boca quando o gato que interpreta carrega um objeto consigo.


Os personagens são gatos no sentido mais simples e claro do termo. E justamente nisso está a graça do jogo. Os autores dizem que para que isso seja bem feito é óbvio que temos que pensar como um gato! - “Os jogadores não podem saber como funciona uma porta ou um computador, eles não vêem a diferença entre um pano ou um quadro de Picasso e, acima de tudo, eles não entendem a linguagem humana. Mas eles sabem que os seres humanos são uma grande ajuda para fazer aquilo que eles não conseguem fazer, como abrir uma porta.”

Outra coisa interessante é que não há valores para determinar suas características, e o real peso para a performance estará na sua descrição de como você é como um gato, mais ágil ou mais forte, menos pelo ou com cauda fina. As características é que determinarão suas vantagens e desvantagens durante a ação no cenário. Mas você pode imaginar que tudo fica muito igual, quase que nivelado. Não. A diferenciação está no “papel” do seu gato (algo como uma classe de personagem nos sistemas usuais de RPG) e no tipo de gato. Os papéis são lutador (mais fortes), acrobata (ágil), salottiero (não soube como traduzir exatamente, mas é aquele que tem uma melhor relação com os seres humanos), bípede (conseguem fazer algumas coisas sobre duas patas, como dar a descarga) e os tigres sonhadores (gatos que vêem ‘o além’, muitas vezes servindo como guias espirituais, mas são muito preguiçosos, pois esse contato vem enquanto sonham). Já os tipos são gato de rua, gato de casa e gato de exposição. Agora imaginem as combinações possíveis!


Mas como isso se junto com o imaginário de Cthulhu. Segundo os próprios autores há simplesmente o transporte dos mitos de Cthulhu para o nível animal. Imaginem o deus gato Gatthulhu que odeia os humanos e que pretende destruí-los em prol da supremacia felina sobre a Terra. Como estamos falando em mundo animal temos sim outros deuses ligados à outros animais como cães, sapos e insetos. Os autores fazem a ressalva de que estas novas deidades são bem trabalhadas, mas não são diretamente comparáveis aos clássicos lovecrafitianos.

O jogo pode desagradar aqueles mais ortodoxos ou puristas, mas quem realmente curte RPG adora algo verdadeiramente novo e interessante.... e aqui tem gato! O que mais poderíamos querer.

Algumas resenhas, de pessoas que já experimentaram o jogo, o classificaram como muito divertido e de fácil entendimento, mesmo para novatos. O jogo apresenta-se muito centrado na narração (o que nem sempre agrada todo o tipo de rpgista) e menos em regras determinando ações (e vice-versa). Mas, mesmo sendo fácil, o jogo gera aventuras desafiadoras (como todos os jogos de Cthulhu normalmente são).

O original
Por curiosidade o Katzulhu apareceu na revista alemã Cthuloide Welte #1 e #2 entre 2001 e 2002, sendo republicado em 2006 na edição de Worlds of Cthulhu #6 para acompanhar outro livro do cenário de Cthulhu, sendo desenvolvido por Ingo Ahrens, Adam Crossingham e Daniel Harms.