Cathulhu: os deuses antigos são... gatos!
É
impressionante como conhecemos pouco do que é produzido em RPG quando saímos do
eixo americano e para longe dos sistemas e cenários que monopolizam o mercado.
Da Alemanha foi lançado em 2002 algo inusitado e sensacional “Katzulhu” (posteriormente adaptado para o inglês como Cathulhu e lançado pela Sixtystone Press e traduzido em
italiano como Il Richiamo di Gatthulhu). A versão que tive acesso foi a italiana,
tradução de Giocco de Ruolo, pela Alephtar Games. Não é novidade para nós todo
o imaginário criado por Lovecraft centrado em Cthulhu. Este mesmo cenário e
personagem já deu origem à vários RPGs, alguns inclusive já lançados no Brasil,
mas nenhum como esta versão italiana. O próprio autor, na página oficial do
jogo diz: “Mas ninguém nunca teria
pensado de um jogo baseado em Cthulhu com personagens gatos ... mas alguém fez!”
Em
poucas palavras o livro cria um cenário onde assumimos os papéis de gatos
dentro de um cenário tipicamente de Cthulhu. O jogo é baseado em 2d6 (ou
dGatti, como os italianos chamam os dados comercializados especialmente para o
jogo). As jogadas de dados avaliam as ações que o personagem tem/deve realizar
contra uma definição prévia de dificuldade (fácil, médio e difícil) com
sucessos a partir do valor 4, para tarefas fáceis. Além disso, o jogo possui
algumas regras básicas sensacionais para a interpretação do ‘gato’, criando
interação física entre o RPG e o jogador. Um exemplo é a ‘Regola dell’Uno’ que obriga o jogador a manter um lápis na boca
quando o gato que interpreta carrega um objeto consigo.
Os
personagens são gatos no sentido mais simples e claro do termo. E justamente
nisso está a graça do jogo. Os autores dizem que para que isso seja bem feito é
óbvio que temos que pensar como um gato! - “Os jogadores não podem saber como
funciona uma porta ou um computador, eles não vêem a diferença entre um pano ou
um quadro de Picasso e, acima de tudo, eles não entendem a linguagem humana. Mas
eles sabem que os seres humanos são uma grande ajuda para fazer aquilo que eles
não conseguem fazer, como abrir uma porta.”
Outra
coisa interessante é que não há valores para determinar suas características, e
o real peso para a performance estará na sua descrição de como você é como um
gato, mais ágil ou mais forte, menos pelo ou com cauda fina. As características
é que determinarão suas vantagens e desvantagens durante a ação no cenário. Mas
você pode imaginar que tudo fica muito igual, quase que nivelado. Não. A
diferenciação está no “papel” do seu gato (algo como uma classe de personagem
nos sistemas usuais de RPG) e no tipo de gato. Os papéis são lutador (mais fortes),
acrobata (ágil), salottiero (não soube como traduzir exatamente, mas é aquele
que tem uma melhor relação com os seres humanos), bípede (conseguem fazer
algumas coisas sobre duas patas, como dar a descarga) e os tigres sonhadores
(gatos que vêem ‘o além’, muitas vezes servindo como guias espirituais, mas são
muito preguiçosos, pois esse contato vem enquanto sonham). Já os tipos são gato
de rua, gato de casa e gato de exposição. Agora imaginem as combinações
possíveis!
Mas
como isso se junto com o imaginário de Cthulhu. Segundo os próprios autores há
simplesmente o transporte dos mitos de Cthulhu para o nível animal. Imaginem o
deus gato Gatthulhu que odeia os humanos e que pretende destruí-los em prol da supremacia felina sobre a Terra. Como estamos
falando em mundo animal temos sim outros deuses ligados à outros animais como
cães, sapos e insetos. Os autores fazem a ressalva de que estas novas deidades
são bem trabalhadas, mas não são diretamente comparáveis aos clássicos
lovecrafitianos.
O
jogo pode desagradar aqueles mais ortodoxos ou puristas, mas quem realmente
curte RPG adora algo verdadeiramente novo e interessante.... e aqui tem gato! O
que mais poderíamos querer.
Algumas
resenhas, de pessoas que já experimentaram o jogo, o classificaram como muito
divertido e de fácil entendimento, mesmo para novatos. O jogo apresenta-se
muito centrado na narração (o que nem sempre agrada todo o tipo de rpgista) e
menos em regras determinando ações (e vice-versa). Mas, mesmo sendo fácil, o
jogo gera aventuras desafiadoras (como todos os jogos de Cthulhu normalmente
são).
O original
Por
curiosidade o Katzulhu apareceu na revista alemã Cthuloide Welte #1 e #2 entre
2001 e 2002, sendo republicado em 2006 na edição de Worlds of Cthulhu #6 para
acompanhar outro livro do cenário de Cthulhu, sendo desenvolvido por Ingo
Ahrens, Adam Crossingham e Daniel Harms.