terça-feira, 17 de março de 2015

A capa da discórdia - Coringa 75 anos

A capa da discórdia
- Coringa 75 anos -

Fui surpreendido ontem com a notícia de que o desenhista brasileiro Rafael Albuquerque tinha solicitado que sua capa variante sobre o Coringa, uma homenagem aos 75 anos do personagem que seria publicada na edição Batgirl #41, de junho, não fosse publicada.

Seu pedido veio de forma oficial depois que muitos leitores haviam se sentido ofendidos com sua arte e uma suposta apologia à violência à mulher. A capa em questão é, segundo o próprio artista, um a homenagem à antológica graphic novel “A Piada Morta”, de Alan Moore, que completa 25 anos de seu lançamento. Nesta história o Coringa atinge Bárbara Gordon com um tiro deixando-a paralítica, além de muitas outras atrocidades. Foi uma das melhores coisas que li e apreciei na minha longa história dos quadrinhos.


Seu desenho coloca o Coringa e Batgirl, lado a lado, com ele desenhando um sorriso mórbido em seu rosto ao mesmo tempo que ela apresenta um semblante assustado e constrangido. Rapidamente analogias à violência sexual e opressão feminina foram realizados, gerando um grande movimento de críticas ao artista e à editora.

O desenhista publicou um pedido para sua arte não fosse incluída na publicação e a DC Comics aceitou seu pedido. Leia as duas mensagens abaixo.

Carta de Rafael Albuquerque:

"Minha arte da capa variante da Batgirl foi concebido para homenagear uma história em quadrinhos que eu realmente admiro, e eu sei que é uma das mais favoritas de muitos leitores. "A Piada Mortal" é parte do cânone de Batgirl e artisticamente, eu não poderia evitar de retratar a situação traumática entre Barbara Gordon e Coringa.

Para mim, era apenas um "disfarce assustador" que trouxe algo do passado da personagem que eu interpretei artisticamente. Mas tornou-se claro que, para outros, ela tocou em um nervo exposto. Eu respeito essas opiniões sejam elas certas ou erradas, pois geraram uma discussão que não deve ser desacreditada.

Minha intenção nunca foi ferir ou incomodar ninguém pela minha arte. Por essa razão, recomendei a DC que a capa variante fosse retirada. Estou muito satisfeito que a DC Comics entendeu as minhas preocupações e não vai publicar a arte da capa em junho, como anunciado anteriormente.

Com todo o respeito,

Rafa"

Comunicado da DC:

"Nós publicamos revistas dos maiores heróis do mundo, e os vilões mais malvados que se possa imaginar. As capas variantes do mês de Junho são um reconhecimento ao 75º aniversário do Coringa.

Independentemente se fãs acharem que fosse incompatível falar sobre temas como ameaças de violência e assédio na fase atual da Batgirl, entendemos que fora uma homenagem de Rafael Albuquerque ao Alan Moore, pela graphic novel A Piada Mortal, uma obra de 25 anos atrás.. 

Vamos honrar o talento criativo, e por solicitação do Rafael, a DC Comics não vai publicar a capa variante da Batgirl."

DC Entertainment

O que eu entendo sobre isso.

Temos tido muita movimentação nos últimos tempos principalmente nos debates sobre machismo e sexismo dentro das comunidades nerds. Debate e tema necessários e totalmente apoiado. Ao mesmo tempo temos que sempre levar tais debates com cuidado e racionalidade. Por si só tanto machismo quanto sexismo são irracionais e reprováveis. Mas também temos que ter em conta que análises devem ser feitas de forma cuidadosa.

Uma coisa é a apologia, o incentivo e o apoio à um conceito e ideia. Fotos e comentários como os apresentados em grupos de RPG pelo Facebook são o claro exemplo disso. Eles fazem alusão à uma postura frente ao gênero feminino que deprecia a igualdade e os coloca como submisso ou abaixo. Outra coisa é a criação sem a intenção por detrás. Pode parecer paradoxal ou estranho, mas a intenção faz todo o sentido e dá toda a conotação.

No caso da capa do Rafael Albuquerquer ele apresentou sim uma imagem pesada e assustadora, mas não na forma de apologia. Com sua imagem ele não incentivou, apoiou ou qualquer coisa do gênero. Ele apresentou um vilão cometendo um crime. Já pelo fato de ser um reconhecido, e quase centenário, vilão por si só já é uma demonstração de postura. Caso ele tivesse feito a mesma capa com um herói a interpretação seria muito diferente e com certeza desaprovada por todos. Mas usar um vilão é demonstrar seu repúdio e que devemos continuar à odiá-lo.

A liberdade de expressão, que muito falam e colocam-se de um lado ou de outro, convenientemente conforme o caso, está intimamente ligado à intenção que desejamos passar. George Martin não fez apologia ao machismo colocando em sua mais celebre obra as mulheres com uma medieval postura submissa. Ele apenas representou uma época em que isso acontecia. Criar filmes ou literatura sobre nazismo, seriais killers, machistas ou racismos não significa que estamos fazendo apologia ou apoiando tais práticas, desde que nossa intenção e produção seja para um fim de representação ou crítica. O Rafael fez uma simples alusão ao procedimento de um sanguinário vilão em forma de uma homenagem à um reconhecido artista e sua aclamada obra. Sei que temos muita gente louca para ver nesta explicação um simples motivo para criticar o uso de dois pesos e duas medidas, mas é muito diferente. É simplesmente o uso da razão e o respeito ao outro em primeiro lugar.

Os motivos que levaram às reclamações, agora por um viés mercadológico, são fáceis de entender. Há algum tempo que a personagem Batgirl vem atraindo um público feminino e teen. Em uma primeira impressão a capa tornou-se muito ofensiva para elas. A posição da DC de rapidamente concordar com o pedido do desenhista e retirar sua arte também é entendido pelo mesmo motivo. O mercado editorial de quadrinhos de heróis (Marvel e DC principalmente) à décadas que tenta atrair o público feminino e eles não iriam perder sua maior ligação com esse público.

Quanto ao fato do Rafael ter pedido para sua arte não ser publicada não significa que ele reconhece as acusações que recebeu, mas simplesmente que ele teve uma posição respeitosa (aos ofendidos) e profissional, vendo sua carreira como alguém equilibrado e não como um motivo para cabo de guerra. Em resumo, concordei plenamente com sua atitude e pedido. Infelizmente ele tentou fazer uma homenagem, mas não percebeu que isso seria tão ofensivo para alguns, tornando a homenagem imprópria.

Acho que o caso se desenrolou de forma simples e respeitosa para todos os lados.

Abaixo as todas as capas que serão publicadas:














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Seriados na Confraria
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Um novo teaser de Penny Dreadful foi apresentado hoje com a temática ‘demônios’. A estréia da segunda temporada será em 3 de maio próximo, pelo canal Showtime nos Estados Unidos (HBO no Brasil).