segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Material de Apoio - Lâminas 19: Espada Longa - Combate I



Espadas Medievais - Espada Longa: Combate I

Erroneamente considerou-se, por muito tempo, que as lutas de espada da Idade Média eram o resultado mais de inspiração do que de conhecimento técnico. Um erro como este até pode ser aceito sem muito problema por culta de nosso imaginário e cultura pop. A Idade Média é erradamente classificada como uma época de declínio do conhecimento técnico da população européia. Mas a verdade é que o conhecimento fervilhava em cada canto escuro daquela época. E com o manuseio das espadas não poderia ser diferente.

A Idade Média foi o berço de uma série técnicas de combate com espadas longas. Isto é fácil de se explicar. As espadas longas surgiram como opção às arming swords. As arming swords além de serem curtas, tinham uma possibilidade limitada de uso devido à forma como era segura e à todo o seu designe.

Isto era diferente com as espadas longas. Como já explicado no artigo anterior o designe das espadas longas permitia escolhas diferentes de manuseio. Sua forma mais alongada, a possibilidade de usar a lâmina e o ricasso para segurar com a segunda mão, a possibilidade de utilização do pommel para manuseio da espada e inclusive a possibilidade de utilizar a empunhadura com uma ou duas mãos, tudo isto junto agregava à espada longa uma versatilidade ímpar para a época.

As técnicas empregadas no treinamento com a espada longa abrangiam uma grande série de elementos. Um dos mais importantes elementos para combate com espada longa é o chamado posição meia-espada, que consiste em segurar a espada com um das mãos na empunhadura e outra no meio da lâmina. O outro elemento diferencial era o pommel, que dava às espadas longas a possibilidade de ataques tanto com a ponta quanto com o pommel. Outro importante elemento para esta versatilidade das espadas longas foi a inovação de agregar ao manuseio das espadas elementos de luta corpo-a-corpo.

O que é conhecido do combate com as espadas longas vem de representações artísticas de batalhas de manuscritos e de manuais renascentistas e medievais de grandes mestres. Os manuais mais importantes vem das escolas italianas e germânicas de esgrima. Os primeiros manuais germânicos datam da segunda metade do século XIV. Eles eram escritos, originalmente, em versos, mas posteriormente foram sendo adaptados em prosa. Já a escola italiana tem como grande representante os manuscritos de Fiore dei Libero, de 1410.

Vamos apresentar aqui algumas das técnicas mais conhecidas. Elas são baseadas no manual Floss Duellatorun, de Fiori dei Liberi (1409), por ser um dos mais completos já achados.

A Guarda

A guarda é a posição que se assume como preparação para combate. Existem muitas formas de guarda para quem utiliza as espadas longas. Aqui preferi manter os termos em inglês.


Shot Guard” ou “Snake”: a vantagem desta posição é obvia segundo Fiori: “eu tenho uma ponta para ganhar controle frontal”. Pelo encurtamento da posição do espadachim segurando a espada no Ricasso, ele ganha uma pequena vantagem encurtando sua distância do alvo para golpes de ponta. Desta guarda, um golpe preciso de ponta pode ser feito oportunamente, principalmente no rosto.

True Cross”: parece um pouco estranho no início, como você está essencialmente de lado, quase de costas, para seu oponente. Segundo Fiore: “Na verdadeira cruz, você está pronto para golpear”. Após algum treinamento o espadachim aprende como fazer uso desta guarda para efetivos ataques. Ao mesmo tempo, em resposta à um ataque de perfuração do adversário, o espadachim pode realizar um pivot (giro), avançando ou retrocedendo, para defender ou contra-atacar.


Upper Snake”: Fiore dizia-nos que esta “leva a guarda para um golpe de ponta superior” e “protege contra golpes”. Esta posição inicial é efetiva para defesas de golpes de ponta que visem o rosto fazendo um movimento descendente. Ela é muito efetiva contra ataques do tipo murder stroke (golpe que não é mostrado no manual de Fiore, embora seja comum na escola alemão de esgrima).

Middle Iron Door” (também conhecido como Middle Iron Gate): o qual está, segundo Fiori, “sempre pronto para atacar com um golpe de ponta”. Este é a única posição de guarda que não usa a técnica da meia-espada (segurar a lâmina com a segunda mão). Mantendo a empunhadura bem segura, possibilita um movimento rápido (embora menos poderoso) de golpe de ponta para alvos à curta distância.


Guard of the Arrow” (também conhecido por “Archer”): Note como a espada está colocada para trás, como uma flecha que está pronta em seu arco. Seguindo a mesma idéia a espada está pronta para golpear com a ponta poderosamente, ou como Fiore diz - “bom para acertar e proteger”. A mão que está na empunhadura pode rapidamente impulsionar a lâmina que é direcionada pela mão da meia-espada. Há variações em que a espada pode ser lançada para frente para atungir um oponente à média distância.

Bastard Cross”: A qualidade defensiva desta guarda é óbvia. A empunhadura avançada e mão em meia-espada possibilitam um movimento rápido e versátil. Desta posição o espadachim está pronto para um movimento rápido da empunhadura de forma a atingir o adversário ou puxar a espada para uma ação ofensiva com a lâmina. Ao mesmo tempo ela se utiliza de um jogo de pés muito avançado para a época, onde um movimento com o pé direito para trás coloca o espadachim numa ótima posição defensiva pela posição da espada, enquanto um movimento com o pé esquerdo para frente coloca o espadachim numa vantajosa posição ofensiva. Normalmente é uma guarda própria para quando O espadachim está retirando sua espada do cinto.