Espadas Medievais - Espada Longa: Combate I
Erroneamente
considerou-se, por muito tempo, que as lutas de espada da Idade Média eram o
resultado mais de inspiração do que de conhecimento técnico. Um erro como este
até pode ser aceito sem muito problema por culta de nosso imaginário e cultura
pop. A Idade Média é erradamente classificada como uma época de declínio do
conhecimento técnico da população européia. Mas a verdade é que o conhecimento
fervilhava em cada canto escuro daquela época. E com o manuseio das espadas não
poderia ser diferente.
A
Idade Média foi o berço de uma série técnicas de combate com espadas longas.
Isto é fácil de se explicar. As espadas longas surgiram como opção às arming
swords. As arming swords além de serem curtas, tinham uma possibilidade
limitada de uso devido à forma como era segura e à todo o seu designe.
Isto
era diferente com as espadas longas. Como já explicado no artigo anterior o
designe das espadas longas permitia escolhas diferentes de manuseio. Sua forma
mais alongada, a possibilidade de usar a lâmina e o ricasso para segurar com a
segunda mão, a possibilidade de utilização do pommel para manuseio da espada e
inclusive a possibilidade de utilizar a empunhadura com uma ou duas mãos, tudo
isto junto agregava à espada longa uma versatilidade ímpar para a época.
As
técnicas empregadas no treinamento com a espada longa abrangiam uma grande
série de elementos. Um dos mais importantes elementos para combate com espada
longa é o chamado posição meia-espada,
que consiste em segurar a espada com um das mãos na empunhadura e outra no meio
da lâmina. O outro elemento diferencial era o pommel, que dava às espadas
longas a possibilidade de ataques tanto com a ponta quanto com o pommel. Outro
importante elemento para esta versatilidade das espadas longas foi a inovação
de agregar ao manuseio das espadas elementos de luta corpo-a-corpo.
O
que é conhecido do combate com as espadas longas vem de representações
artísticas de batalhas de manuscritos e de manuais renascentistas e medievais
de grandes mestres. Os manuais mais importantes vem das escolas italianas e
germânicas de esgrima. Os primeiros manuais germânicos datam da segunda metade
do século XIV. Eles eram escritos, originalmente, em versos, mas posteriormente
foram sendo adaptados em prosa. Já a escola italiana tem como grande
representante os manuscritos de Fiore dei Libero, de 1410.
Vamos
apresentar aqui algumas das técnicas mais conhecidas. Elas são baseadas no
manual Floss Duellatorun, de Fiori dei Liberi (1409), por ser um dos mais
completos já achados.
A Guarda
A
guarda é a posição que se assume como preparação para combate. Existem muitas
formas de guarda para quem utiliza as espadas longas. Aqui preferi manter os
termos em inglês.
“Shot Guard” ou “Snake”: a vantagem desta posição é
obvia segundo Fiori: “eu tenho uma ponta
para ganhar controle frontal”. Pelo encurtamento da posição do espadachim
segurando a espada no Ricasso, ele ganha uma pequena vantagem encurtando sua
distância do alvo para golpes de ponta. Desta guarda, um golpe preciso de ponta
pode ser feito oportunamente, principalmente no rosto.
“True Cross”: parece um pouco
estranho no início, como você está essencialmente de lado, quase de costas,
para seu oponente. Segundo Fiore: “Na
verdadeira cruz, você está pronto para golpear”. Após algum treinamento o
espadachim aprende como fazer uso desta guarda para efetivos ataques. Ao mesmo
tempo, em resposta à um ataque de perfuração do adversário, o espadachim pode
realizar um pivot (giro), avançando ou retrocedendo, para defender ou
contra-atacar.
“Upper Snake”: Fiore dizia-nos que
esta “leva a guarda para um golpe de
ponta superior” e “protege contra
golpes”. Esta posição inicial é efetiva para defesas de golpes de ponta que
visem o rosto fazendo um movimento descendente. Ela é muito efetiva contra
ataques do tipo murder stroke (golpe que não é mostrado no manual de Fiore,
embora seja comum na escola alemão de esgrima).
“Middle Iron Door” (também conhecido
como Middle Iron Gate): o qual está, segundo Fiori, “sempre pronto para atacar com um golpe de ponta”. Este é a única
posição de guarda que não usa a técnica da meia-espada (segurar a lâmina com a
segunda mão). Mantendo a empunhadura bem segura, possibilita um movimento
rápido (embora menos poderoso) de golpe de ponta para alvos à curta distância.
“Guard of the Arrow” (também
conhecido por “Archer”): Note como a espada está colocada para trás, como
uma flecha que está pronta em seu arco. Seguindo a mesma idéia a espada está
pronta para golpear com a ponta poderosamente, ou como Fiore diz - “bom para acertar e proteger”. A mão que
está na empunhadura pode rapidamente impulsionar a lâmina que é direcionada
pela mão da meia-espada. Há variações em que a espada pode ser lançada para
frente para atungir um oponente à média distância.
“Bastard Cross”: A qualidade
defensiva desta guarda é óbvia. A empunhadura avançada e mão em meia-espada
possibilitam um movimento rápido e versátil. Desta posição o espadachim está
pronto para um movimento rápido da empunhadura de forma a atingir o adversário
ou puxar a espada para uma ação ofensiva com a lâmina. Ao mesmo tempo ela se
utiliza de um jogo de pés muito avançado para a época, onde um movimento com o
pé direito para trás coloca o espadachim numa ótima posição defensiva pela
posição da espada, enquanto um movimento com o pé esquerdo para frente coloca o
espadachim numa vantajosa posição ofensiva. Normalmente é uma guarda própria
para quando O espadachim está retirando sua espada do cinto.