Fortão, o gato aventureiro de Arton
Capítulo 9
Fortão
estava de mau humor. Era o sétimo dia de chuva torrencial e constante desde que
haviam partido de Valkaria rumo ao norte. Era a direção do primeiro destino
desta nova jornada desde que o grupo de aventureiros decidiu resolver o
problema de Truilli. Sendo o sétimo dia de chuva era também o sétimo dia que
todos estavam ensopados e, como todos, Fortão estava transformado em uma figura
deplorável e esquálida como somente os gatos conseguem ficar após molhados. Seu
pêlo estava tão molhado que até mesmo seus bigodes estavam pesados e caídos.
Ele
ficava imaginando por que os deuses estariam tão incomodados para derramarem
aquela chuva toda sobre eles. Ou então se não seriamos maus espíritos do tomo
amaldiçoado tentando os impedir de continuar na jornada para destruí-lo. Mas
não importava qual a resposta, eles iriam continuar. Ele sabia disso. Depois de
tão pouco tempo aula de seus novos amigos, algumas semanas apenas, ele sabia
disso. Mais ainda, ele tinha certeza.
Olhando
para um lado e depois para o outro Fortão percebia que climas assim, adversos e
molhados, deixavam todos mais lentos, quietos e carrancudos. Até mesmo os
cavalos estavam andando em uma cadência arrastada que o permitia permanecer
despreocupadamente prostrado em sua posição habitual, sobre a mochila de
Blander, amarrada no dorso de sua montaria.
Cada
um dos aventureiros estava absorto em seus próprios pensamentos e lembranças.
Embora não tenham motivos para tristeza ou desânimo, além da chuva, é claro, a
missão na qual estavam engajando seria muito perigosa. Os últimos
acontecimentos em Valkaria os lançaram em uma aventura justamente quando
imaginavam que iriam ter algum tempo para aproveitar os espólios da última
catacumba que haviam visitado, em Collen. Mas não se importavam. Na verdade bem
no fundo adoravam a sensação de rumo ao desconhecido.
O
destino do grupo havia sido determinado por Truilli. Rumavam para Fross, a
capital de Callistia, quase na fronteira com Samburdia. Este fora o último
lugar que o irmão de Gustav havia tido notícias de Randyra, sua ex-colega de
aventuras e habilidosa feiticeira.
Não
seria uma ornada simples, tampouco rápida. Os mais de mil e quinhentos
quilômetros não seriam vencidos com menos de sessenta dias de marcha constante
e acelerada. Eles teriam de atravessar nada menos do que quatro reinos para
chegar. Saindo de Deheon teriam de passar por Zakharov, Namalkah e atravessar a
própria Callistia, já que Fross ficava em seu extremo norte, bem na junção do
Rio dos Deuses com o Rio vermelho. Mas o tempo estava contra eles e não podiam
se dar ao luxo de fazer perder tempo atravessando literalmente meio continente.
Jornadas tão longas quanto essa guardavam perigos e surpresas proporcionais e a
pura aventura não era o foco desta empreitada. Por isso mesmo um plano
alternativo seria usado.
Ally
já tinha preparado tudo em sua cabeça quando entrou correndo pela porta da
taverna Caneco de Bronze quando Dorten arrumava as últimas provisões antes da
saída. Ele entrou gritando “Vectora!!
Vectora está perto!” e desatou a explicar tudo como uma avalanche. Desde lá
estão rumando para o norte.
Desde
que a dupla de elfos contou para Fortão sobre a cidade voadora de Vectora que o
gato não a tirava do pensamento, mesmo ensopado. Ele simplesmente não conseguia
imaginá-la, da mesma forma que não imaginara como era a descomunal estátua de Valkaria,
até dias atrás. Desde que se juntara ao grupo em Malpetrim, que ele não parava
de se maravilhar com as belezas de Arton e tinha certeza que Vectora seria mais
uma dessas agradáveis surpresas.
Usar
a cidade comercial de Vectora era a tentativa de encurtar a jornada para menos
de um quarto do tempo normal. Ally tinha bem claro o trajeto da cidade já que
vivera nela pelo período de três invernos completos, e sabia que uma coisa
nunca acontecia – nos mais de cento e vinte anos da cidade, ela nunca se atrasou.
Ela até foi acrescentando novas paradas ao longo das décadas, mas nunca atrasou
qualquer uma de suas paradas marcadas, e a próxima seria nas Cataratas de Hynn.
Oficialmente
não há nenhuma cidade ali para uma parada de Vectora, o motivo eram os anões e
a existência não confirmada de uma das entradas para a cidade secreta de
Doherimm. Eles invadem a cidade voadora em seus três dias de parada sobre as
quedas d’água, prontos para comprar e vender. De qualquer forma o motivo não
importava, desde que o grupo chegasse à tempo de entrar nela. E para isso a
chuva não estava ajudando em nada.
Quando
deixaram a cidade de Valkaria, calcularam sete dias de jornada até as cataratas,
coincidindo com o segundo dia de parada de Vectora. Mas com a chuva o atraso era
inevitável, e eles já estavam tentando compensar isso desde o terceiro dia de
viagem com jornadas diárias mais longas e períodos de descanso, noturnos e diurnos,
os mais curtos possíveis. Não só os aventureiros estavam cansados. As montarias
também estavam esgotadas e mais de uma vez indagavam Fortão com olhares
tristes. Ele apenas tentava acalmá-los, pois sabia que estavam chegando ao seu
destino. Sim, Fortão os entendia e eles entendiam a linguagem felina. Quase
todos os filhos da deusa Allihanna compartilhavam uma linguagem minimamente
comum.
Enfim,
no final do oitavo dia, o grupo avistou a impressionante cidade voadora quando
atravessaram uma floresta próxima, no topo de uma elevação ao lado das
cataratas. Não importa quantas vezes alguém já tenha visto Vectora, sua visão
sempre impressionava e Fortão estava literalmente de queixo caído, se é que
isto é possível para um gato. Ele prontamente pulou para o ombro de Blander,
enquanto começavam a descer a elevação, para ter uma visão melhor.
A
cidade voadora de Vectora era como uma enorme montanha virada de cabeça para
baixo, com uma cidade depositada em sua base. Era algo verdadeiramente
descomunal. Ela estava bem baixa, uns duzentos metros acima do solo apenas,
para facilitar o ingresso dos visitantes por meios diversos. Abaixo de sua
igualmente enorme sombra um formigueiro de carroças, barracas improvisadas e
vai e vem de pessoas, principalmente anões, não parava. Pontos de luz de
inúmeras fogueiras começavam a acender no meio daquela comunidade improvisada
ao mesmo tempo que outros tantos pontos de luz ia surgindo nas janelas e ruas
da cidade voadora. Era uma visão única.
Enquanto
desciam a chuva ia transformando-se em uma pequena garoa e mais adiante cessou.
Ally disse alegremente que possivelmente era alguma magia de Vectorus. Fortão
olhou o elfo de forma indagatória e desconfiada.
“-
Ora, meu amigo peludo, quem faz uma montanha de rocha com uma cidade flutuar
pode facilmente para a chuva, não pode?” – ele disse com um olhar de soslaio
tal qual uma criança arteira.
Era
verdade. Acabar com a chuva não seria problema para um dos dois poderosos arquimagos
de Arton. Fortão estava percebendo que o mundo era muito maior e com mais
surpresas do que sonhava quando ficava sentado sobre seus barris vendo os
navios entrarem e saírem do porto de Malpetrim. Perigos e tesouros, deuses e
arquimagos, combates e cidades voadoras, tudo era muito mais complexo que
sonhara. Mas igualmente muito mais maravilhoso e agora ele estava no meio disso
tudo. Não poderia estar mais feliz.
Conforme
o grupo se aproximava do aglomerado de carroças e tendas, abaixo de Vectora,
aquela descomunal rocha flutuante mostrava-se ainda mais amedrontadora. Mas o
povo abaixo dela parecia nem perceber. Mesmo com o sol já tendo se posto, um
vai e vem interminável de pessoas, principalmente anões, não parava. Mercados
improvisados vendiam de tudo um pouco, mas principalmente armas e produtos
artesanais de madeira, especialidades dos anões.
Os
cavalos do grupo de aventureiros percorriam os espaços entre as tendas, tal
qual vielas, vagarosamente. À frente Ally indicava o caminho. Ele insistia que
sabia a melhor e mais barata forma de chegar à cidade voadora.
“-
Mas olha só.... quem é vivo ás vezes aparece!” – uma voz feminina forte e
cadenciada com um sotaque que poucos teriam condições de definir cortou o
silêncio. Todos olharam para a sombra que estava sentada um galho de um antigo
e robusto carvalho, menos Ally, que sabia exatamente de quem se tratava.
“-
Eu achava que à esta altura alguém já teria tido o prazer de jogá-la lá de
cima, Ardora!” – as palavras do elfo vieram sem nem ao menos ele virar o rosto,
mas Fortão percebia que ele não estava bravo.
A
sombra saltou perto de uma das tantas tochas do local e teve sua silueta revelada.
Era uma mulher com alguma idade, mas com olhar extremamente jovem. Os cabelos
grisalhos demonstravam que já tinham vivido demasiadas aventuras, mas ela não
parecia estar menos em forma por isso. Vestia-se com um uniforme padrão de
algum tipo de milícia, mas de um material que o demonstravam ser muito flexível
e confortável. O cabelo era longo e trançado até a cintura e se confundia com
duas espadas cruzadas em suas costas.
“-
Acho que escutei de ti que tão cedo não voltaria a voar nesta cidade que só lhe
causava enjôo!” – ela disse rindo – “e foi verdade... quanto tempo faz? Quinze?
Vinte anos.”
“-
Vinte e dois!” – ele respondeu com um ar melancólico – “o tempo voa quando se
vive com a espada em punho. Mas pelo visto a senhorita subiu na vida, não é?
Vectorus a promoveu à oficial da guarda?”
“-
Agora pode me chamar de capitã Ardora” – ela disse enquanto fazia uma mesura
forçada e cômica – “tenho uma reputação para manter!”
A
conversa dos dois transcorria enquanto todos os outros apenas assistiam. A
existência de Ardora, que aparentava ser importante para Ally, nunca fora
mencionada por ele em todos esses anos, algo estranho para um compulsivo
tagarela como ele. A presença de todos iria permanecer incógnita se Blander não
pigarreasse chamando a atenção dos dois.
“-
É verdade.... quase me esqueci” – Ally foi falando enquanto descia de sua
montaria habilmente – “faço parte um grupo... trupe.... sei lá o que somos...
mas somos amigos ... e estamos em uma missão” – as últimas palavras ele disse
em um sussurro matreiro.
Ela
passou a observar todos um por um.
“-
O guerreiro Blander, os anões são Gustva e seu irmão Truilli, meu irmão de raça
Ehllinthel e, por
fim, mas não menos gracioso e importante, Fortão.”
Ela foi olhando
um por um os membros do grupo conforme Ally ia dizendo seus nomes, mas quando
chegou em Fortão ela parou e começou a procurar como se achando que o último
estivesse atrás dos cavalos ou oculto.
“- Minha cara,
Fortão é nosso mais recente companheiro e sim, ele é um gato, mas um gato muito
especial!”
Fortão que
estava sentado na garupa da montaria de Blander olhava com olhos de desdém para
Ardora como se ofendido, enquanto ela o olhava com uma mescla de curiosidade e
espanto. O felino então pulou para o chão e vagarosamente escrutinou a
miliciana com todo o cuidado enquanto caminhava ao seu redor ora olhando-a de
cima à baixo, ora farejando suas botas. Por fim ele se afastou para perto de
Ally e olhando com rosto severo, mas amigável, bufou e miou, dirigindo-se
novamente para o cavalo de Blander.
“- Acho que ele
perdoou a ofensa” – disse o elfo para Ardora com o cenho marotamente franzido.
“- Arg....” -
bufou raivosamente Gustav com as duas mãos tapando o rosto com apreensão –
“esse gatos e acha o líder do grupo... juro que vou matá-lo um dia desses e
fazer um tambor com seu couro!”
Fortão o olhou
com canto de olho com pouco caso que lançou todos em uma divertida gargalhada,
contagiando até mesmo Ardora.
“- Bom, minha
cara, precisamos subir, pegar uma carona até a próxima parada, descansar um
pouco e quem sabe rever alguns bons amigos...” – Ally disse essas palavras se
aproximando de Ardora, tocando maliciosamente em sua cintura como que preparando
um abraço, ação que foi interrompida com uma rapidez desconcertante que
culminou com o elfo deitado de costas no barro.
“- Subir podem,
viajar também, descansar idem... mas muito cuidado para não tocarem em nada que
lhes cause alguma, como poderia dizer, dor de cabeça ... ou perder um membro!
Ou a vida! Ou simplesmente aprenderão a voar da maneira mais fácil que
conheço!... Sigam-me!”
A capitã começou
a guiar os cavalos do grupo por uma trilha de pessoas em seus afazeres. Cada um
dos amigos que passava pelo elfo enlameado, e ainda no chão, lhe dizia alguma
piadinha. Nem Fortão deixou de apresentar sua opinião balançando sua cabeça em
desaprovação.
o O o
Os tramites
foram rápidos, principalmente pela presença da capitã, e logo todo o grupo, e
suas montarias, estavam na praça de entrada de Vectora. Ardora, por ser uma das
oficiais da milícia que cuidava da cidade tinha lá seus privilégios, e um deles
era acesso à teletransporte quando necessário. Por isso a chegada de todos foi
rápida e sem maiores problemas.
A praça de
entrada era o primeiro contato de quase todos com a cidade. Seria algo
semelhante à uma alfândega ou posto de fronteira. Ali os recém chegados eram
avisados das regras da cidade e tinham acesso à Gilda dos Rangers Urbanos, uma
espécie de guias de luxo para ninguém perder seu precioso tempo pelo emaranhado
de ruas e vielas da cidade. Já aqueles que estavam se despedindo da cidade
tinham a ajuda dos alegres sacerdotes da loja Asas de Dragão, com seus feitiços
para levar todos em segurança até o chão. Era uma visão surreal para Fortão
quando ele caminhou até a borda da Estação de Ancoragem e vislumbrou o intenso
movimento de pessoas descendo e subindo da cidade voadora de todas as formas
imagináveis. Alguns chegavam planando no ar, outros em balões dos mais variados
tipos, tamanhos e cores, iluminados por suas lanternas que se perdiam na
escuridão, deixando o céu ainda mais estrelado. Outro tanto apenas aparecia e
desaparecia em pequenas explosões que produziam fumaças de todas as cores.
Fortão não
acreditava em tudo o que via e corria alegremente pela beirada, não querendo
perder um só momento de tudo o que estava acontecendo. Ardora e Ally se
aproximaram dele sem nem ao menos ele perceber a presença de ambos.
“- Isso é o que
se pode chamar de pura felicidade!” – disse Ally com um olhar paternal para o
felino.
“- Este é o
efeito que esta cidade causa em muitos... por quê seria diferente com um gato!”
A agitação de
Fortão era tanto que ele acabou se atrapalhando infantilmente com as próprias
patas e tropeçou descuidadamente lançando-se para o vazio. Em uma fração de
segundo ele simplesmente pensou em como aquela morte seria estúpida e fechou os
olhos para não ver a queda até o chão.
Mas nada
aconteceu. Ou melhor, quase nada aconteceu. Quando o gato abriu os olhos
percebeu que estava pairando suavemente no ar, caindo, é verdade, mas muito
lentamente. Ele apenas pensou – “magia”. Mas seu pensamento foi interrompido
por um safanão que o trouxe novamente à realidade. De um momento para o outro ele
havia saído do suave pairar e alcançado uma grande velocidade rumo aos céus.
Quando deu por si estava no colo que uma bela e jovem moça, uma elfa na
verdade. Ele não entendia o que estava acontecendo. Ela rodopiou pelo ar
enquanto o aconchegava de forma segura nos braços até pousar ao lado de Ardora
levantando uma suave poeira do chão. Quando Fortão olhou de novo para ela
percebeu algo que nunca imaginara - asas.
“- Mais um
resgate bem sucedido, senhora!” – ela disse com jovialidade enquanto soltava o
gato no chão – “e muito cuidado da próxima vez amiguinho!”. Tão logo ela terminou
de falar lançou-se novamente no ar.
Fortão estava
admirado, maravilhado e tantos outros ‘ados’ que pudesse conceber.
“- Você não
achou que Vectorus iria deixar que um perigo simples, como cair daqui de cima,
acometesse seus visitantes, não é?” – Ardora disse para Fortão, ainda com os
olhos arregalados – “toda a cidade é cercada por um campo de levitação. Todos
os desavisados ou descuidados que caiam são protegidos com uma queda lenta por
algum tempo, tempo o suficiente para que alguém o ajude!”
“- E sim, meu
amigo” – disse Ally para Fortão – “aquilo era um elfo com asas... uma linda
Elfa-do-Céu. História longa... lhe contarei outro dia!” – ele complementou enquanto
se virava para voltar a conversar com Ardora.
Fortão estava
maravilhado com tamanho poder. Alguns metros adiante, ainda no Parque de
Entrada, estava a famosa estátua de Vectorus. O felino se aproximou olhando-a e
pensando como seria um ser com tamanho poder. Quais seriam seus limites e
desejos. O que mais estaria por vir nesta jornada que estava apenas começando. Enquanto
isso os outros estavam arrumando os cavalos e a bagagem para procurar uma
hospedaria descente em meio à risadas e brincadeiras.
o O o
A primeira noite
em Vectora, depois de a alcançarem com o auxílio de Ardora, não fora de festa
ou agitação. Todos caíram como pedras em suas camas, inclusive Fortão. O
caminho para alcançarem a cidade voadora havia sido longo e desgastante e os
seus corpos pediam um merecido descanso. A hospedaria Nimbus fora indicada pela
capitã que o denominou como verdadeiro refúgio para quem procura tranqüilidade
em uma cidade tão agitada. Ele ficava bem no centro do bairro de Numem, à
direita da Estrada das Estrelas, via que cortava a cidade de norte à sul. Os três
quartos ficavam lado á lado ocupando todo o andar superior do prédio,
garantindo ainda mais sossego e privacidade, coisas que o dinheiro podia
comprar com facilidade em Vectora. Tão logo se acomodaram em seus cômodos,
todos caíram no sono. Inclusive Fortão, que tentou ficar desperto o quanto deu,
olhando pela janela o movimento da rua, mas foi vencido pelo o sono e
esgotamento.
Na manhã
seguinte, logo com os primeiros raios do sol, todos já estavam de pé terminando
sua refeição matutina para poderem aproveitar ao máximo a breve estadia na
cidade voadora. Eles ficariam na cidade pouco mais de dez dias, o que já seria
uma ótima economia no tempo da viagem. Mas para uma cidade com tantos atrativos
mesmo todo este tempo seria pouco. Além disso, eles não tinham se esforçado
tanto para chegar à Vectora por nada.
A ideai de pegar
carona em Vectora tinha duas intenções claras. A primeira, e óbvia, era
encurtar o tempo de viagem para uma jornada tão longa, onde a velocidade era um
imperativo. A segunda razão era mais estratégica. Eles estavam entrando em uma aventura
aparentemente muito maior do que as que eles estavam acostumados. O grupo de
Blander sempre fora muito realista de suas possibilidades e sabiam mensurar os
perigos frente àquilo que poderiam realizar, e este era um problema realmente
grande. Mas eles não iriam deixar Truilli
sozinho com este problema, ainda mais influenciando tanto Gustav e toda a dor
que ele enfrentava nesses anos. Por tudo isso Vectora se mostrava uma
oportunidade para conseguirem informações que lhes ajudassem. Onde mais
poderiam conseguiriam informações úteis sobre magia? A Academia Arcana sempre
era uma alternativa, mas sua posição centrada no coração do Reinado e toda a
burocracia exigida por Talude, o outro arquimago de Arton e único à rivalizar
com Vectorus, a tornava menos interessante que Vectora.
Ao redor da mesa
todos pareciam animados enquanto Ally contava sobre algumas peculiaridades de
Vectora. As diferenças entre os quatro bairros que formavam a cidade, locais
que não poderiam deixar de visitar e locais que deveriam evitar à todo custo,
de tudo um pouco. Fortão comia pedaços de peixe seco e escutava animadamente à
todos. Ele já havia decidido que desejava visitar algum dos templos espalhados
pela cidade, um dedicado á deusa Allihanna. Embora Vectorus houvesse decidido
que sua cidade voadora não estaria chancelada por qualquer um dos deuses do
Panteão, ele permitiu aos poucos, no correr das décadas, que pequenos templos e
algumas capelas dedicadas aos deuses prestassem seus serviços espalhados pela
cidade. Fortão queria descobrir que alguém poderia lhe esclarecer do que estava
acontecendo com ele com tudo aquilo que ele vivenciava e sentia.
A conversa foi
encerrada quando uma animada Ardora entrou pela porta da sala de jantar da
estalagem – “Quem está interessando em um tour guiado pela cidade?”. As tigelas
e canecos foram esvaziados rapidamente e logo todos estavam alegremente saindo
pela porta da Nimbus. A visão de Vectora em plena luz do dia era impressionante
embora seu movimento não fosse tão grande assim. A cidade já estava se
deslocando para seu próximo destino, o que significava que haviam poucos
visitantes por suas ruas. Em momentos assim a maior parte da circulação dentro
da cidade era de seus próprios residentes, o que já era uma quantidade
considerável de pessoas, e daqueles que estavam ‘pegando uma carona’.
o O o
Perdeu
o início da aventura, veja os capítulos:
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