sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Material de Apoio - Navegação 7

Material de Apoio - Navegação

A pirataria

Muito do que sempre imaginamos sobre os piratas não condiz com a realidade, mas outro tanto é bem real. O pirata é aquele marujo intrépido, pronta para novas aventuras, corajoso e alegre. Sua honra e seu senso de Robin Hood mal compreendido gerava suspiros e admiração em todos os portos por onde passassem. Mas isto não era bem assim.

Antes de mais nada, o pirata é um bandido. Era um marginal que se associava a outros por motivos torpes – indisciplina, deserção, motim, crime, assassinato o u avidez por ganhos, ou todos eles juntos. A hierarquia – o estabilidade social – do grupo repousava na força, que era uma qualidade reconhecida por todos eles. Não raro ele era astuto, feroz e portador de uma mente malévola. Mesmo eles vivam sob a sombra de regras (já mostrado em artigo anterior) devido ao perigo de simplesmente se aniquilarem.

Honra era outra palavra por eles pouco reconhecida. É muito conhecido o caso dos saques do Panamá, descrito em Voyage aux îles de l’Amérique pelo padre Labat, onde o capitão Morgan fogiu com todo o butim, abandonando seus marujos sem navio ou mantimentos.

Toda a relação entre a tripulação de um navio pirata seguia um tempo determinado que eles chamavam de campanha (ou chasse-partie entre os bucaneiros franceses). Ao final da campanha estavam livres para fazerem o que quisessem de suas vidas e de suas riquezas. Mas durante a campanha ficavam vinculados às ordens do capitão e sua autoridade. Normalmente, quando de uma noiva campanha, não era incomum se reorganizarem numa mesma tripulação novamente.

Os piratas mostraram-se, sempre, como um perigo à civilização de sal época. Eles estavam à margem da ordem vigente. Ele era livre. O único verdadeiramente livre em sua época. Eram combatidos por representarem uma alternativa impensada para a época. Foram um reflexo das fraquezas de uma forma de estado relativamente nova.A pirataria não foi um tema, então, romântico. Foi um caso militar, um caso de Estado. Um caso de preocupação e de dor.


Tática

Os navios usados pelos piratas eram invariavelmente rápidos e ágeis, na maior parte das vezes não muito grandes. Possuíam lastros leves e cascos untados com sebo que pudessem proporcionar grandes velocidades numa menor resistência com a água.

A tática resumia-se em um único termo – abordagem. Labat contava que bucaneiros lhe diziam que não usavam mais do que seis canhões. Eram poucos pois tinham uma função de aparência do que efetivamente de combate e consideravam que seus fuzis bastavam para importunar o navio adversário até que fosse chegada a hora da abordagem.

O sucesso da investida contra outro navio estava determinação e superação dos marujos. Valiam-se de seu grande número para fazerem de seus sabres e punhais o horror das tripulações de comerciantes. Normalmente lutavam em duplas – chamando-se de matelot.


Butim

Podemos dizer que o elemento centralizador da vida pirata era o butim. Resumidamente podemos descrever o butim como toda e qualquer coisa que o pirata pudesse colocar as mãos quando de uma investida contra outro navio ou vila costeira. Quando da captura deste butim ele pertence ao grupo, mas sob os olhos do capitão.
Dele saía o soldo de cada marujo. Tudo era calculado em ‘piastras’ (uma antiga moeda de prata cujo valor variava de acordo com o país ou época histórica). De início o capitão guardava uma quantia para as despesas da embarcação. Ele separava, também, entre 100 e 150 piastras para o carpinteiro e de 200 a 250 piastras para o cirurgião. Do que sobrava era pago o soldo. O capitão recebia seis vezes a parte de um marinheiro, o imediato recebia duas partes, os marinheiros recebiam uma parte, os grumetes meia parte. Mesmo os feridos e incapacitados recebiam sua parte: a perda do braço direito dava direito à 600 piastras; o braço esquerdo ou perna direita, 500 piastras; perna esquerda, 400 piastras; um olho ou um dedo, 100 piastras.

Mas não só metais e preciosidades faziam parte do butim. Mulheres também eram uma mercadoria. Na obra Historie des aventuriers et des boucaniers d’Amérique (1686) escrita pelo cirurgião de um navio pirata chamado Oexmelin, era descrita a disputa pelas mulheres capturadas, sendo elas disputadas num simples cara-e-coroa quando havia mais de um ‘pretendente’.