sábado, 15 de dezembro de 2018

D&D 5ªed será lançado no Brasil - Há o que comemorar?



D&D 5ªed será lançado no Brasil
Há o que comemorar?

Alguns foram surpreendidos hoje com a notícia de que D&D 5E estaria para chegar finalmente ao Brasil em sua versão em português pelas mãos da Galápagos  (recentemente comprada pela Asmodee, que é responsável pelo D&D na Itália e França). Depois de muitas idas, vindas e reviravoltas dignas de uma boa série de thriller (ou seria sitcom), ele deverá aportar no Brasil em abril de 2019. Ao mesmo tempo em que eu me junto aos que celebram a chegada de mais uma edição de D&D ao Brasil eu pergunto: estamos comemorando o quê?

Antes que os fãs raivosos de D&D me levem para ser queimado em praça pública, eu realmente considero que minha pergunta seja válida. D&D é um ícone do RPG mundial e isso é inquestionável. Sua marca e influência em tudo o que chamamos de RPG hoje em dia (além de muitas outras mídias) foi marcado pelas experiências, sucessos e mesmo fracassos de tudo o que D&D construiu ao longo das décadas. Ele está na história e ninguém pode apagar isso. Se pensarmos em Brasil temos a mesma impressão. Desde sua chegada por aqui ele ensinou à muitos o que era RPG. Certo, sei que tivemos outros sistemas naquela época por onde muitos rpgistas iniciaram sua jornada, mas D&D também estava por lá.

Por tudo isso, termos a quinta edição de D&D no Brasil em português é significativa e importante. Importante como legado à história de D&D, como marca do mercado nacional frente à comunidade de RPG do mundo e principalmente como uma resposta à péssima impressão que demos à comunidade internacional quando do fracasso das tentativas anteriores de lançar a quinta edição no Brasil que resultaram em coisas tão bizarras. Isso sim temos que comemorar.

Agora, retornando à minha questão inicial – o que comemorar – temos que ter claro que este lançamento está datado. Embora RPG seja um hobby que nos propicia jogar o sistema que desejarmos por mais velho ou novo que seja, em qualquer ordem, de qualquer mecânica, de qualquer cenário, não importa quando tenha sido lançado, ao mesmo tempo o mercado de RPG é extremamente dinâmico.


A dinâmica do mercado de RPG se baseia em duas coisas gerais, no meu entender. Primeiramente a conectividade (ligado ao anseio dos fãs) que nos dá acesso à qualquer material lançado em qualquer lugar do mundo de forma quase instantânea. Seja por compras de PDF, por compras físicas em lojas internacionais ou mesmo por transmissão não comercial (pirataria), temos acesso à qualquer material lançado. Desta forma, tão logo a quinta edição foi lançada lá fora, muitos rpgistas (conforme suas condições financeiras e de entendimento do idioma inglês) já estavam adquirindo o livro. A demora só fez com que o material se disseminasse de forma quase viral. Com as dificuldades crescentes de lançamento por aqui e o vexatório caso que culminou com o cancelamento da versão brasileira, as versões traduzidas por fãs (que já estavam circulando em menor quantidade) tomaram conta da rede. Mais e mais suplementos foram traduzidos e encadernados. Mesmo com qualidades que poderiam não ser as melhores (e alguns até eram muito bons em tradução e com encadernação de primeira) eles tomaram a grande maioria das mesas de grupos que ansiavam por jogar a quinta edição.

Em segundo lugar temos a dinâmica do mercado. O mercado não para. Outras editoras têm lançado e inundando o mercado nacional e internacional com material variado, interessante e de ótima qualidade de todas as mecânicas e formatos imagináveis. Ao mesmo tempo, depois de anos de espera, já começamos a escutar rumores e sussurros de coisas pensadas pela Wizard of the Coast para uma suposta sexta edição de D&D. Não é de se espantar, ora, a WoC é um empresa e vive de novidade e lançamentos – como qualquer editora que se preze. Ela tem concorrentes, ela tem fãs que desejam novidades e ela tem cabeças pensantes que querem colocar sua criatividade para fora.

Por isso eu disse que é o lançamento de um título datado. Temos um mercado nacional repleto de versões já em português e que logo logo poderá receber uma nova edição, e mesmo que não receba tão rápido assim, há muitas outras editoras ocupando espaços com novidades. Por tudo isso eu considero que devemos sim comemorar, mas tendo noção racional do todo e de tudo o que está envolvido. Comemorar de uma maneira comedida, mas sincera.

Desse lançamento o mercado tem que tirar duas lições. A primeira é de como não fazer as coisas. A segunda lição, mais direcionada para a empresa que o lançará, é acumular knowhow para que os futuros lançamentos sejam menos traumáticos para o rpgista brasileiro. Ele não merece isso!

Pode parecer que eu sou contra esse lançamento. Absurdo! Claro que não. Eu mesmo, tendo condições, comprarei tudo o que sair da quinta edição de D&D em português tanto por todo o legado que já mencionei, quanto pelo fato de fazer questão em apoiar a iniciativa de uma empresa nacional que deseja lançá-lo por aqui.

Que D&D 5ed seja bem vindo e tenha sucesso!

Bons jogos!