A Confraria de Arton vai inaugurar a série de entrevistas de nosso blog em grande estilo. Nosso primeiro entrevistado será Guilherme, da Editora Jambô. Ela foi realizada através do Fórum Jambô no dia 21 de março e está sendo colocada aqui na íntegra. Bom proveito.
- Qual o segredo para uma editora fora do eixo Rio-São Paulo ter alcançado tamanho sucesso no mercado editorial nacional (no que diz respeito à RPG) e ser detentora dos direitos de tantos (e tão bons) títulos da linha de RPG?
Bastante trabalho! Como dizem, é 1% de inspiração e 99% de transpiração. Trabalhar em uma editora de RPG é divertido, mas o trabalho aqui não é nem um pouco menos árduo do que o trabalho em qualquer escritório mais "convencional". Bastante profissionalismo também; isto é, embora nosso produto seja, essencialmente, entretenimento, nós temos que levá-lo a sério. Fazer algo só porque é legal é para os fãs. Nós cobramos pelo nosso trabalho, e por isso temos a obrigação de entregar algo bem acabado. Quanto à questão geográfica, é verdade que o eixo Rio-São Paulo é o centro comercial do Brasil, mas isso não chega a prejudicar o nosso trabalho. Algumas coisas são mais fáceis em São Paulo, mas não é nada que alguns telefonemas, muitos e-mails e uma eventual viagem não resolvam. Estamos na era da informação, ora!
- Há espaço para uma editora de RPG como a Jambô crescer mais ainda no Brasil?
Muito! O Brasil é um país gigante, com um povo bastante receptivo a produtos de qualidade. Este ano iremos publicar os primeiros livros de RPG independentes da Jambô, que atingirão um público maior do que nossos títulos anteriores, levando o nosso hobby para diversas pessoas novas. Também iremos concluir nossa primeira trilogia de romances — mas não vamos parar por aqui, no que se refere à literatura.
- As duas principais linhas da Jambô - no que diz respeito à RPG - são Tormenta e Reinos de Ferro. Muito embora ambos sejam direcionados ao publico jogador e amante de RPG elas possuem suas características próprias quanto ao público que vão atingir. Quais as diferenças (quanto a cuidados de produção, lançamento, escolha de títulos, acabamento) que a Jambô tem no tratamento à esses dois segmentos?
O cuidado é o mesmo, afinal cada livro é um filho para nós, e todos sabem o que os pais sempre dizem quando pergutam de qual filho eles mais gostam. Tormenta é o cenário de RPG mais jogado no Brasil, e atinge uma fatia imensa — e variada — de pessoas. Por causa disso, uma de nossas preocupações com Tormenta é deixá-lo acessível às pessoas; em outras palavras, não fazer livros muito caros. Um exemplo é o guia básico do cenário. Publicando em duas partes (o Guia do Jogador e o Guia do Mestre) conseguimos que os jogadores possam comprar apenas o que lhes interessa, sem ter que gastar dinheiro com o material que não lhes seria tão útil. Já em relação aos Reinos de Ferro, em grande parte seguimos os formatos usados nos Estados Unidos. Ainda assim, a série Sem Trégua, que só existe no Brasil, é algo que fizemos exclusivamente para trazer mais material para o público brasileiro de uma maneira acessível, mas mantendo a qualidade que é marca registrada do cenáro.
- Pelas manifestações dos rpgistas em geral ligados à Tormenta - seja no Fórum da Jambô, nos Encontros Aleatórios da DS ou nas inúmeras comunidades do Orkut - os Reino de Moreania (lançado inicialmente na DS 01) agradaram muito à todos. Como a Jambô viu este "adendo" à Tormenta quando de seu lançamento? Vocês acreditavam que seria tão bem recebido pelos jogadores de Tormenta? Podemos esperar uma parceria mais profunda, visto que será lançado “Reinos de Moreania”?
Os Reinos de Moreania agradaram a muitos fãs de Tormenta — mas não a todos. Isso é natural, afinal, quando uma pessoa conhece determinada coisa ela forma uma opinião, e quando vê surgir algo diferente relacionado a essa coisa é comum um sentimento de rejeição. Para esses, eu digo o seguinte: não tomem uma decisão baseados apenas em preconceito — ou seja, julgar algo antes de fazer uma análise de suas características. Leiam os artigos sobre os Reinos de Moreania na revista, ou leiam o livro quando ele for publicado. Se ainda assim não gostarem, ok, é só não usar em seus jogos! Quanto à nós, é sempre legal ver o cenário crescer. Os Reinos de Moreania e Tormenta são relacionados, mas independentes. Isso significa que as principais histórias de um cenário não terão grande influência no outro, de modo que os jogadores de um dos continentes não precisarão, necessariamente, conhecerem ou se preocuparem com o outro para desenvolverem suas histórias. No entanto, para aqueles que quiserem misturar, temos certeza de que os Reinos de Moreania têm muito a acrescentar à Arton, e vice-versa! Em outras palavras, cada cenário terá uma linha de produtos, e em princípio não iremos misturar muito. No entanto, "participações especiais" do material de um dos continentes no outro eventualmente irá aparecer (quem leu O Crânio e o Corvo sabe do que estou falando!)
- "Mutantes e Malfeitores" segue uma linha um pouco diferente no que diz respeito ao tradicional cenário de RPG. Muita gente ainda torce o nariz quando se fala de um cenário que não seja tipicamente "medieval" (e isso vem desde o GURPS Supers que não se mostrou um sucesso aqui no Brasil como fora nos EUA). Por que a decisão de investir nele?
Na verdade, GURPS Supers foi um dos suplementos mais bem vendido da linha GURPS, e o gênero de super-heróis é um dos mais jogados no mundo — atrás apenas da fantasia medieval, e empatado com o horror. Além disso, esse estilo de história tem tudo a ver com nosso hobby. Quer dizer, elas envolvem heróis com poderes extraordinários, vilões terríveis, super-tecnologia, viagens dimensionais, magia, psiquismo, monstros, alienígenas... Quer algo mais "rpgístico" que isso? Os super-heróis também estão bastante populares nessa década, tanto pelos filmes de Hollywood quanto por uma nova leva de escritores de HQs, que têm trazido temas novos e interessantes para o gênero. Tudo isso fez com que uma parte cada vez maior do público se empolgasse com esse tipo de material. E como o nosso objetivo é atender o público, nada mais natural que trazer o melhor RPG de super-heróis da atualidade para o Brasil.
- Podemos esperar que "Mutantes e Malfeitores" siga os passos de Reinos de Ferro e ganhe uma série de lançamentos durante este e o próximo ano pela Jambô?
Certamente. Queremos lançar pelo menos um suplemento para a linha ainda esse ano, e diversos no ano que vem. Uma grande vantagem de Mutantes & Malfeitores é que ele é perfeitamente jogável só com o módulo básico. No entanto, sempre há como aprimorar a experiência de um grupo com suplementos (desde que o conteúdo desses suplementos seja bom, é claro). Para as pessoas que quiserem se aprofundar em M&M, estaremos aqui, produzindo material.
- Existe algum título que seria "o sonho de consumo" da Jambô para um futuro lançamento no mercado nacional?
Existem alguns livros publicados no exterior que nós gostaríamos de trazer para cá. De cabeça, posso citar o Conan RPG, da Mongoose Publishing. Além do livro ser muito bem feito, e bastante fiel às histórias do bárbaro, Conan possui uma grande base de fãs aqui no Brasil, que certamente gostariam de um RPG sobre a Era Hiboriana. No entanto, por enquanto, preferimos nos focar em nossos cenários principais, para conseguir trazer pelo menos de dois a três títulos por ano para cada um.
- Umas das grandes preocupações atualmente é o lançamento da nova edição da D&D, para o meio deste ano lá nos Estados Unidos. Quais as expectativas que vocês, como jogadores e editores, têm para este lançamento? Qual será o impacto de seu lançamento no mundo d20, e por que não dizer no mundo do RPG como um todo?
Dungeons & Dragons é atualmente o RPG mais jogado no mundo, mas a cada dia que passa mais e mais jogadores estão migrando para outros sistemas de jogo. Isso acontece por D&D estar se focando em um estilo específico — no caso, simulação de histórias estilo video-game, com os personagens andando de um lado para o outro matando monstros e acumulando bônus. Para aqueles que gostam desse estilo, isso é ótimo. Mas aqueles que preferem outro tipo de jogo estão procurando outras opções — e como o mercado está trazendo essas opções, o público está se diversificando. Por causa disso, o impacto da 4º edição será bem menor que o da 3º (que realmente inovou muito com a Licença de Jogo Aberto), principalmente aqui no Brasil, onde a maior parte dos rpgístas prefere jogos com mais interpretação e história.
- Existe alguma preocupação especial quanto aos lançamentos já anunciados para este primeiro semestre (tanto para Tormenta quanto para Reinos de Ferro) frente as alterações que o sistema d20 poderá sofrer com a nova edição de D&D?
Todos os títulos já anunciados serão publicados para a versão 3.5 do Sistema d20. Ou seja, não se preocupem em botar seus livros fora por enquanto! Para o futuro... bem, quando estivermos mais perto iremos anunciar novidades interessantes. Fiquem ligados no site da Jambô e na revista Dragonslayer!
- Para encerrar! O maior medo de todo jogador é a saturação de um cenário. O que podemos esperar para o futuro do cenário de Tormenta? Ou melhor.... como Tormenta estará daqui a uns cinco anos?
Tormenta tem diversas histórias para serem contadas, e nós ainda mal começamos. Daqui a cinco anos, o cenário terá várias trilogias de romances, novas HQs e — quem sabe — uma ou duas séries animadas. E, o mais importante, terá também, uma linha robusta de livros de RPG, para que vocês também possam participar dessas histórias!
Podemos ver que o trabalho não para na Jambô e que muita coisa muito boa vem por aí! O único problema é a espera!!! Essa foi a entrevista com o Guilherme. Esse foi o primeiro passo para a Confraria de Arton. Em breve novas entrevistas! Aguardem.