domingo, 26 de outubro de 2008

Romance II

REVELAÇÕES
Julio "Julioz"

Capitulo – 1 “Caminho de casa”

Passos.

Esse era o único som audível em todo o corredor. O barulho ecoava forte na madeira, como se varias pessoas andassem lado a lado. O ruído vinha das botas de um homem. Andava decido com os punhos cerrados e o maxilar rígido. Seus olhos miravam apenas a saída sem ao menos reparar no resto. O corredor, por sua vez, não era muito longo, mas um tanto largo, e ia do salão principal ao lado de fora da mansão. Nele ficavam as passagens para as salas de aula. Era limpo e bem iluminado, decorado com quadros e estátuas, todas feitas pelo diretor. Esta era a Escola Rongald de Aventureiros, uma das melhores do ramo, e parte das principais atrações de Gorendill.

Seus olhos miravam apenas a saida sem ao menos reparar no resto. Ele sabia o que queria, e sabia aonde ir. Apesar de jovem seus objetivos, hoje, estavam mais do que definidos. Tinha olhos e cabelos negros, taços leves, boca de sorriso facil, corpo esguio e bem definido. Trajava uma camisa de linho branca, calças do mesmo material pretas e botas de couroo que vinham até a metade da canela.

Alcançou a saída e desceu as escadas de mármore que davam no quintal. Atravessou o pequeno jardim, passando por um caminho de pedras. No chão jaziam centenas de folhas que caíram ha quase três semanas com a chegada do outono. Já conseguia observar os contornos das armações de madeira em meio ás arvores. Alcançou um outro lance de escadas. Este marcava o inicio da arena, subiu e atravessou um modesto arco entre as arquibancadas. Admirou.

Ventava forte, as árvores ao redor de toda a escola balançavam. Folhas passavam voando a todo instante, se chocando nas construções e produzindo um baque seco. Azguer já começara a descer, faltavam quase duas horas para que Tenebra dominasse os céus. As arquibancadas estavam todas vazias. Fazia frio, pois o inverno batia à porta. Mas hoje ele não ligava. Esperava ansioso. Suas mãos transpiravam e sua boca estava seca. Caminhou até o centro da arena de treinamento. Sentia o frio na barriga, costumeiro antes dos combates. Passou a mão nos cabelos deixando-os apontados para cima. Cuspiu o pouco de saliva que conseguiu acumular tentando espantar o azar. Esperava há anos por esse momento, e ele finalmente havia chegado. Tinha certeza que estava preparado, mas não sabia ao certo o que esperar de seu professor.

Deu um giro de trezentos e sessenta graus procurando algum movimento. Nada se mexia. Mal fechara os olhos, e lembranças de muito tempo inundaram seu pensamento como uma enxurrada.

Lembrou dos treinos exaustivos. Lembrou das surras e lembrou da dor. Lembrou da primeira vitória e de como ficara feliz. Lembrou que depois dela, conseguiu obter o devido respeito dos outros estudantes, e de como as provocações cessaram rapidamente. Lembrou de que os treinos, a partir daquele dia mudaram, e que todos os seus esforços até ali lhe surtiam efeitos. Seus braços se moviam precisamente. Atacavam, aparavam e estocavam como se aquilo fosse normal à muito tempo. Suas espadas não bloqueavam ataques, apenas os desviavam. Seu corpo tinha adquirido incrível mobilidade e resistência. Enquanto seus adversários se cansavam, ele apenas dançava, fugia e os evitava. Seu pensamento agora era rápido, e ele podia prever muitos movimentos antes deles serem executados.

“– Desculpe o atraso. Acabei indo até seu quarto para me certificar que não estava escondido como um rato em baixo da cama," - o professor sorriu com os lábios chegando as orelhas - "fiquei realmente impressionado por ter vindo."

O jovem se virou rapidamente. Em sua direção caminhava seu professor. Era relativamente gordo, e mancava de uma das pernas. Estava vestido igual ao seu aluno, com exceção de uma rústica e fina cota de malha. Tinha duas espadas embainhadas e em uma das mãos carregava outro par. O professor estancou a apenas cinco passos do jovem e atirou-lhe as espadas. Ele as recebeu com destreza, segurando-as pelo cabo e com um giro, fez as bainhas aterrissarem a alguns metros atrás de si.

“– Já estava começando a acreditar" - rosnou o jovem - "que quem estava em baixo da cama era você, Randorill de Warton.”

“– Além do medo, ousa perder o respeito moleque! Vou ensinar-lhe uma lição" – ele apontou para uma das arquibancadas – "atrás daquela arquibancada você encontrara uma grande jarra de barro, ela esta cheia de tinta vermelha. Mergulhe suas espadas e volte até aqui, rapidamente.”

Ele caminhou pelo chão de terra batida até o local indicado, mergulhou suas espadas sem entender o significado de tudo aquilo. Ao retirá-las do jarro, tentou escorrer todo o excesso de tinta de volta para o recipiente. Em vão. Tentou novamente, mas sem melhores resultados. A tinta parecia presa na lamina, e o mais impressionante era que ela permanecia em estado liquido. Retornou ao centro da arena, onde Randorill o aguardava. Estranhamente suas duas espadas já estavam cheias da mesma tinta vermelha. Aos seus pés, aguardava jogada uma cota de malha semelhante a que ele mesmo trajava.

“– Pra você pirralho!" – disse o professor chutando a peça para o aluno.

A cota de malha foi jogada a alguns metros, levantando poeira por onde passava, até encontrar os pés do jovem.

O aluno a olhou com desdém e respondeu: “– Isso só serviria para restringir meus movimentos" -, falou enquanto chutava a cota de malha para longe - "lutarei sem proteção. Agora me explique as regras.”

“– Se quer tratar tudo isso como um jogo, tudo bem. A tinta onde mergulhou suas armas é mágica. Ela só sairá da sua espada caso encoste-a em mim" – ele levantou os dois braços mostrando as suas espadas – "Já a tinta das minhas espadas, só sairá caso eu encoste-as em seu corpo. Não deve se preocupar em ferir-me, as duas armas não têm fio nem ponta" – o professor apontou suas duas espadas para o aluno – "Vence a batalha quem conseguir três marcas no corpo do oponente, só não sendo valida a área da cabeça. Consegue entender as regras?”

“– Minha espada lhe mostrará minha resposta!”

Antes que pudesse terminar sua frase, o jovem já corria. Suas pernas se movimentavam altas e seus braços já estavam a postos para o ataque. O aluno ganhara terreno rapidamente, e em alguns segundos já desferia sua primeira seqüência de golpes. Randorill, apesar do corpo desproporcional e a idade avançada, se esquivava habilmente. O aluno atacava repetidas vezes intercalando as duas espadas em cortes e estocadas. Enquanto uma mão subia, a outra já estava em descida. O jovem se movia como um dançarino. Trançando as pernas, girava o corpo para um ataque mais forte, pulando e se abaixando para tentar acertar o alvo. O professor se esquivava com destreza. O jovem era ataque após ataque. Sua guarda agora estava baixa, totalmente aberta a qualquer investida.

Passaram-se apenas cinco minutos. á para os dois, se passara uma eternidade. O aluno tinha atacado todo tempo sem, no entanto, conseguir acerto algum. O professor era muito mais rápido do que qualquer pessoa pensaria, e só havia usado suas espadas quando só o movimento não bastava. Sua perícia era tamanha que o aluno chocara suas espadas contra as dele menos de dez vezes. O jovem ofegava e suas vestes já mostravam as marcas de suor. O professor ainda nem começara a transpirar.

"- Acha mesmo que está preparado?" – disse Randorill – "te ensinei como combater por cinco anos, e no dia do teu teste final, lutas comigo deste jeito" – ele balançava a cabeça em sinal de desaprovação – "Assim só me mostra que tudo que falei por todos esses anos sobre você era a mais pura verdade. Sempre achei que você levava meu treinamento como levava sua vida. Tudo em sua vida caiu em suas mãos, nunca precisou lutar por nada. Hoje te mostrarei que se quiseres terminar teu treinamento, terá de entender o real significado das coisas. "

“– Concordo com o que diz" - falou o aluno em resposta – "mas não posso aceitar que não levo seu treinamento a sério. Venho me dedicando ao máximo desde quando cheguei a Gorendill. Aqui fui humilhado e isolado até conseguir provar meu verdadeiro valor" – ele começara a gritar - "quando falas que nunca lutei por nada em minha vida, mentes, pois minha vida nesse lugar foi uma constante batalha, e só hoje poderei lhe mostrar que tudo isso não fora em vão.”

“– Se acha realmente isso, mostre-me e lute como te ensinei!" - era o professor quem agora gritava.

“– Prepar..." - a frase foi interrompida, as espadas se chocaram novamente, o professor quem atacava dessa vez. Tentava estocar o jovem a qualquer custo, um ataque após o outro, fazendo-o recuar quase até a borda da arena. O aluno sentiu as arquibancadas encostarem-se em seus calcanhares, e com um salto subiu no primeiro nível. Trocavam golpes que passavam perigosamente perto, as armas chiavam pelo ar fazendo a tinta vermelha parecer viva.

Randorill agora cortava, cortava como um camponês cortava o feno. Seus ataques eram fortes e o aluno foi forçado ao segundo nível da arquibancada. Quando o professor se preparava para continuar a perseguição degraus a cima, cometeu seu primeiro erro. Sem perceber abaixou demais as duas espadas deixando assim a parte superior de seu corpo exposta. O jovem percebera o erro e abusou de seu oportunismo. Com um salto magnífico, passou sobre o professor, acertando-lhe as costas na altura dos ombros e aterrissando com uma cambalhota as suas costas.

O combate parara por alguns instantes. Randorill se virou calmamente. Seu rosto mostrava claramente espantado. O jovem tinha um pequeno sorriso preso na boca. As camisas estavam agora ambas ensopadas. Os dois se olhavam sem piscar.

“– Prepare-se. Farei você pagar em dobro" - falou o professor.

“– Estou esperando "- respondeu desafiadoramente o jovem.

(continua)

Material de Apoio - Navegação 8

Material de Apoio - Navegação


A pirataria em Arton

Mas então o que fazer com relação a personagens piratas em Arton ou em contos ambientados neste cenário com este estereótipo?

Vou repetir o que já disse mais de uma vez nesta série de artigos. Não existe uma forma correta. Existem tantas formas quanto tipos de jogadores. Como já disse, minha intenção é suprir jogadores e contistas com elementos que podem ou não usar. Se os jogadores ou mestre querem maior realismo (ou proximidade histórica) podem usar as informações daqui sem alteração. Mas, se preferirem algo mais livre, podem adaptar da forma que melhor desejarem. O que conta é a satisfação dos rpgístas.

Hoje vou colocar a forma mais provável dos piratas, em Arton, em contraposição aos piratas da nossa história. Não vou criar nada completamente novo sobre isto, pois já foi muito bem abordado em Pistoleiros & Piratas (Jambô Editora). Mas nunca é demais tentarmos aprofundar um pouco mais.

Primeiramente não podemos deixar de lembrar que toda a vida de aventuras em alto mar é elemento relativamente raro em Arton. Os artonianos nunca tiveram grande interesse em se enveredar pelo reino do grande deus Oceano. Por isso mesmo a existência de piratas é muito rara. Tanto que as referências à eles ficam restritas ao lado oeste de Tyrondir. Dificilmente iremos cruzar com um deles numa aventura.

Os piratas de Arton são bonzinhos? Difícil responder. Um pirata, por si só, já é um vilão, um ladrão ou assassino. Mas os jogos de rpg em mundos de fantasia dão uma roupagem diferente para isso. Acho que podemos colocar que o que muda são as motivações. Na história real (como apresentado no último artigo) as motivações são as mais baixas e vis possíveis. Eles se juntavam numa espécie de contrato por um período estipulado procurando riquezas, riquezas e mais riquezas. Não importa o que tivessem que fazer para conseguir isto ou sobre quem tivessem que passar por cima. Considero que este tipo de pirata existe em Arton, mas estes seriam os vilões propriamente ditos do cenário – e sim, eles existem por lá

Mas os piratas que todos querem ter como personagem são diferentes. Nosso imaginário está repleto de modelos que foram criados com personagens como Simbat (tanto os filmes da década de sessenta ou o desenho da Disney), a tripulação do filme Mestre dos Mares ou até Jack Sparrow e cia. Todos eles têm o mesmo elemento. Eram anti-heróis. O que isto quer dizer? Quer dizer que embora eles tenham motivações de ganhos e enriquecimento, sejam fanfarrões e mal-humorados, e tenham a incrível capacidade de sempre irritar a pessoa errada, mesmo com tudo isso, seguem de alguma forma um código de honra. Eles podem ser extremamente cruéis contra seus inimigos e até roubar descaradamente comerciantes desavisados, mas sempre têm limites para isso. Na hora H eles sempre tentam fazer a coisa certa. Não deixarão ninguém na mão por um punhado de pedras preciosas – bom, quase ninguém e claro que, se eles conseguirem ajudar e ficar com as pedras preciosas ao mesmo tempo, melhor!

O carisma destes piratas ‘bonzinhos’ cativa-nos. Tanto que em nosso imaginário transformamos horrendos e temidos bandidos históricos em personagens que ansiamos em representar. Este é o pirata que em muitos casos vamos encontrar em Arton (claro que vou ressaltar que o são para aqueles mestres e contistas que enveredam pela velha e boa fantasia). É um personagem com código de honra e sempre à procura de mais uma aventura. É um personagem que sai atrás de tesouros não só pela riqueza, mas pela emoção da procura e da conquista. São uma tripulação que age como uma família se odiando e se amando, mas sempre junta, onde o elemento de união está no doce sabor do desconhecido e na emoção de encarar o perigo de peito aberto. Este é o pirata que todos queremos representar e que com toda a certeza vamos encontrar em Arton.

Lançamento Jambô

Vem aí "O Terceiro Deus"

O blog Laboratório do Dr Careca disponibilizou, em primeira mão, a capa do terceiro romance ambientado em Arton com o título de "O Terceiro Deus". A continuação de "O Crânio e o Corvo" é uma das obras, baseadas em rpg, mais aguardadas do ano.

Fiquei impressionado com a qualidade e beleza da arte. Valeria um poster na parede do escritório.

Leonel Caldela já havia nos dado algumas pistas sobre esta obra na entrevista feita pela Confraria de Arton. Naquela ocasião ele deixou claro que teremos muitas surpresas. Se você perdeu a entrevista é só clicar aqui. Podemos dizer que quando do lançamento de "O Tercerio Deus" estaremos presenciando um grande passo para a produção nacional de rpg fechando o ciclo da trilogia de Tormenta. Com toda a certeza, num país como o Brasil, é um feito a ser muito comemorado.