Batman, Cavaleiro das Trevas. Um divisor de águas?
A história da junção do universo dos quadrinhos como a sétima arte não é novidade. O início desta jornada dá-se com o seriado Superman ainda na década de 40 (sim...seriados eram exibidos no cinema). O pontapé inicial foi dado com dezessete episódios animados exibidos entre 1941 e 1943 com a voz de Clayton Collyer. Em 1948 chegou ao cinema personificado pelo ator Kirk Alyn em dois seriados cinematográficos com quinze episódios cada um exibidos até 1952. Um início tão precoce é justificável pelo mercado americano, além de ser o berço dos quadrinhos de heróis ser também um mercado tão receptível ao universo de fantasia. Ainda antes disso (por volta de 1940) já eram exibidas, por lá, radio-novelas com o kriptoniano como personagem principal.
Juntamente com o kriptoniano fora lançado o lendário seriado de Batman com vinte e cinco episódios de quarenta minutos cada. Enquanto o Superman ficou meio parado em produções de qualidade muito abaixo do aceitável durante a década de 60, Batman ainda veria seu grande, mas na televisão, no saudoso seriado estrelado por Adan West (Batman) e Burt Ward (Robin) e estreado em 1966.
Depois disso, novidades, somente no fim dos anos oitenta
Enquanto isso o mercado de quadrinhos chegava ao Brasil. A edições não tinham uma periodicidade fixa. Eram mais facilmente acompanhados na seção de quadrinhos dos jornais do centro do país. Os jovens brasileiros, da época, tinham uma grande receptividade para quadrinhos, mas o interesse dos jovens da época estava diluído entre uma infinidade de publicações de heróis, e super-heróis, que iam dos mais conhecidos até personagens do velho oeste americano.
Chegamos ao final dos anos setenta e início dos oitenta. Surge uma nova safra de heróis no cinema. Temos o início da série de filmes do Superman estrelados por Reeve (“Superman: o filme”, 1978; “Superman II: a aventura continua”, 1980; “Superman III”, 1983; e “Superman IV: em busca da paz”, 1987), os filmes do Batman (1989), uma versão estranha do Homen-aranha, um bizarro homem de ferro e um Capitão América no melhor estilo Seção da Tarde. Esta nova safra tinha uma única preocupação – arrecadar dinheiro. Eles levavam às telas os personagens, e só. As produções tinham a preocupação de levar ao cinéfilos e amantes de quadrinhos obras onde o nome do personagem era a única proximidade existente com os originais. Eram produções pobre, de conteúdo e efeito. As “obras” não tinham preocupação com características, dados ou cronologia das publicações.
Mas esta era uma “crise” já sentida em outras áreas – inclusive nos quadrinhos. Desde os anos setenta houve uma grande preocupação com relação ao futuro dos quadrinhos. Um mundo em franco desenvolvimento da tecnologia, dando os primeiros passos para uma futura globalização, engatinhando na cybertecnologia, tendo cada vez mais acesso à informação, estava gerando uma enorme necessidade de mutação (heheheh...palavrinha muito usada em quadrinhos). Todas essas mudanças estavam gerando uma legião de leitores que procuravam algo mais em cada edição. Não bastavam mais heróis com poderes simplesmente inexplicáveis, sem passado, sem vida. O público procurava algo fantasioso, mas que tivesse um pé na realidade. Outra reclamação crescente era com relação à continuidade das histórias. Até aqui as histórias tinham a duração de uma ou duas edições e só. Parecia que era uma fatia independente da vida do herói. A próxima edição começaria do zero.
Nesta virada dos anos setenta/oitenta a indústria dos quadrinhos já tentavam vislumbrar um futuro diferente, mas o cinema ainda representava a realidade dos anos setenta.
O que mudou?
Gradativamente, num percurso que iniciou nos fins dos anos setenta e foi até o final dos anos oitenta, humanizou-se o herói. Nesta época uma dos maiores sucessos de venda (e o é até hoje) era o Homem-aranha. Muito deste sucesso se dava pela “humanização” do personagem. Mesmo sendo um herói ele tinha toda a espécie de problemas ditos “normais”. Precisava pagara aluguel, enfrentar um chefe ranzinza, encarar desventuras amorosas, se dar mal nos exames finais da faculdade e, ainda por cima, salvar o mundo. A identificação dos leitores com o dia-a-dia de Peter Parker levava-os a estarem sempre se perguntando o que viria na próxima edição: um problema com o chefe ou com um vilão. Suas aventuras (quase desde o início) eram como capítulos de um livro – sempre havia reflexos ou reações no futuro. Esta foi a bússola norteadora tanto para Marvel como para a DC.
Além dessa mudança de comportamento e interesse do público, houve também uma mudança comercial. A globalização que vislumbravam muito próxima nos anos oitenta levaram as indústrias dos quadrinhos à encararem seus personagens como marcas. E como tal mereciam um tratamento muito mais profissional. E nisto incluem-se as produções cinematográficas.
Então chegamos à última e atual fase do cinema centrado em heróis. O sucesso que culmina com “Batman: Cavaleiro das Trevas” (que me deterei mais adiante) é alcançado por uma confluência de dois fatores importantíssimos. Eles possuem as condições de produção (efeitos especiais, computação gráfica etc) capazes de realizar quase qualquer montagem numa tela de cinema e a presença das editoras (no caso Marvel e DC) em todo o processo de criação da obra.
Personagens como Homem-Aranha e X-men da Marvel e Superman e Batman mostram-se como estrondosos sucessos deixando o público sempre com um gostinho de “quero mais”. Claro que não são obras perfeitas (principalmente na opinião dos mais afixionados), mas possuem uma qualidade muito superior, e o que é melhor, crescente.
E este é o caso de “Batman: Cavaleiro das Trevas”. Podemos considera-lo como o topo desta evolução de qualidade, não o limite, mas o melhor até o momento. Muito mais do que uma simples adaptação ele pode ser considerado um grande filme. Possui todas as características para isso. Seu bom roteiro faz com que tenha quase que uma existência própria (além dos quadrinhos) servindo para agradar aos adoradores de quadrinhos e aos adoradores de cinema. As interpretações de ótima qualidade e a ação mesclada com efeitos em doses perfeitas transformam as mais de duas horas de filme numa agradável experiência. Não por menos que já na madrugada (nas primeiras horas do dia 18 de julho) da estréia ele já havia iniciado seu curso para bater todos os recordes de público nos cinemas.
A história da junção do universo dos quadrinhos como a sétima arte não é novidade. O início desta jornada dá-se com o seriado Superman ainda na década de 40 (sim...seriados eram exibidos no cinema). O pontapé inicial foi dado com dezessete episódios animados exibidos entre 1941 e 1943 com a voz de Clayton Collyer. Em 1948 chegou ao cinema personificado pelo ator Kirk Alyn em dois seriados cinematográficos com quinze episódios cada um exibidos até 1952. Um início tão precoce é justificável pelo mercado americano, além de ser o berço dos quadrinhos de heróis ser também um mercado tão receptível ao universo de fantasia. Ainda antes disso (por volta de 1940) já eram exibidas, por lá, radio-novelas com o kriptoniano como personagem principal.
Juntamente com o kriptoniano fora lançado o lendário seriado de Batman com vinte e cinco episódios de quarenta minutos cada. Enquanto o Superman ficou meio parado em produções de qualidade muito abaixo do aceitável durante a década de 60, Batman ainda veria seu grande, mas na televisão, no saudoso seriado estrelado por Adan West (Batman) e Burt Ward (Robin) e estreado em 1966.
Depois disso, novidades, somente no fim dos anos oitenta
Enquanto isso o mercado de quadrinhos chegava ao Brasil. A edições não tinham uma periodicidade fixa. Eram mais facilmente acompanhados na seção de quadrinhos dos jornais do centro do país. Os jovens brasileiros, da época, tinham uma grande receptividade para quadrinhos, mas o interesse dos jovens da época estava diluído entre uma infinidade de publicações de heróis, e super-heróis, que iam dos mais conhecidos até personagens do velho oeste americano.
Chegamos ao final dos anos setenta e início dos oitenta. Surge uma nova safra de heróis no cinema. Temos o início da série de filmes do Superman estrelados por Reeve (“Superman: o filme”, 1978; “Superman II: a aventura continua”, 1980; “Superman III”, 1983; e “Superman IV: em busca da paz”, 1987), os filmes do Batman (1989), uma versão estranha do Homen-aranha, um bizarro homem de ferro e um Capitão América no melhor estilo Seção da Tarde. Esta nova safra tinha uma única preocupação – arrecadar dinheiro. Eles levavam às telas os personagens, e só. As produções tinham a preocupação de levar ao cinéfilos e amantes de quadrinhos obras onde o nome do personagem era a única proximidade existente com os originais. Eram produções pobre, de conteúdo e efeito. As “obras” não tinham preocupação com características, dados ou cronologia das publicações.
Mas esta era uma “crise” já sentida em outras áreas – inclusive nos quadrinhos. Desde os anos setenta houve uma grande preocupação com relação ao futuro dos quadrinhos. Um mundo em franco desenvolvimento da tecnologia, dando os primeiros passos para uma futura globalização, engatinhando na cybertecnologia, tendo cada vez mais acesso à informação, estava gerando uma enorme necessidade de mutação (heheheh...palavrinha muito usada em quadrinhos). Todas essas mudanças estavam gerando uma legião de leitores que procuravam algo mais em cada edição. Não bastavam mais heróis com poderes simplesmente inexplicáveis, sem passado, sem vida. O público procurava algo fantasioso, mas que tivesse um pé na realidade. Outra reclamação crescente era com relação à continuidade das histórias. Até aqui as histórias tinham a duração de uma ou duas edições e só. Parecia que era uma fatia independente da vida do herói. A próxima edição começaria do zero.
Nesta virada dos anos setenta/oitenta a indústria dos quadrinhos já tentavam vislumbrar um futuro diferente, mas o cinema ainda representava a realidade dos anos setenta.
O que mudou?
Gradativamente, num percurso que iniciou nos fins dos anos setenta e foi até o final dos anos oitenta, humanizou-se o herói. Nesta época uma dos maiores sucessos de venda (e o é até hoje) era o Homem-aranha. Muito deste sucesso se dava pela “humanização” do personagem. Mesmo sendo um herói ele tinha toda a espécie de problemas ditos “normais”. Precisava pagara aluguel, enfrentar um chefe ranzinza, encarar desventuras amorosas, se dar mal nos exames finais da faculdade e, ainda por cima, salvar o mundo. A identificação dos leitores com o dia-a-dia de Peter Parker levava-os a estarem sempre se perguntando o que viria na próxima edição: um problema com o chefe ou com um vilão. Suas aventuras (quase desde o início) eram como capítulos de um livro – sempre havia reflexos ou reações no futuro. Esta foi a bússola norteadora tanto para Marvel como para a DC.
Além dessa mudança de comportamento e interesse do público, houve também uma mudança comercial. A globalização que vislumbravam muito próxima nos anos oitenta levaram as indústrias dos quadrinhos à encararem seus personagens como marcas. E como tal mereciam um tratamento muito mais profissional. E nisto incluem-se as produções cinematográficas.
Então chegamos à última e atual fase do cinema centrado em heróis. O sucesso que culmina com “Batman: Cavaleiro das Trevas” (que me deterei mais adiante) é alcançado por uma confluência de dois fatores importantíssimos. Eles possuem as condições de produção (efeitos especiais, computação gráfica etc) capazes de realizar quase qualquer montagem numa tela de cinema e a presença das editoras (no caso Marvel e DC) em todo o processo de criação da obra.
Personagens como Homem-Aranha e X-men da Marvel e Superman e Batman mostram-se como estrondosos sucessos deixando o público sempre com um gostinho de “quero mais”. Claro que não são obras perfeitas (principalmente na opinião dos mais afixionados), mas possuem uma qualidade muito superior, e o que é melhor, crescente.
E este é o caso de “Batman: Cavaleiro das Trevas”. Podemos considera-lo como o topo desta evolução de qualidade, não o limite, mas o melhor até o momento. Muito mais do que uma simples adaptação ele pode ser considerado um grande filme. Possui todas as características para isso. Seu bom roteiro faz com que tenha quase que uma existência própria (além dos quadrinhos) servindo para agradar aos adoradores de quadrinhos e aos adoradores de cinema. As interpretações de ótima qualidade e a ação mesclada com efeitos em doses perfeitas transformam as mais de duas horas de filme numa agradável experiência. Não por menos que já na madrugada (nas primeiras horas do dia 18 de julho) da estréia ele já havia iniciado seu curso para bater todos os recordes de público nos cinemas.