Até que ponto um ou outro
Já escrevi algo sobre esse assunto à quase dois anos. Mas resolvi retomar o tema por uma experiência que tive nesta semana. Para amenizar o stress do final de ano nas escolas em que dou aula resolvi fazer uma seção de RPG para desopilar o stress do pessoal.
Para explicar. Tenho algumas turmas em que dou aula, em seu turno inverso, para reforço. E nesta prática trabalhamos com desenvolvimento de raciocínio lógico e a prática do pensar. Neste sentido resolvi aplicar, em algumas aulas, a prática do RPG. Meus alunos são de comunidades carentes e nunca tiveram contato com o RPG em si, a não ser alguns joguinhos de videogame.
Escolhi usar miniaturas para ser mais fácil para eles entenderem a prática, com o elemento visual como apoio. Desta forma tive duas experiências distintas nas duas turmas em que trabalhei.
A forma do trabalho foi explicar as regras, num primeiro momento, e a forma de jogar, partindo logo em seguida para cerca de uma hora e meia de jogo. Eu dei uma adaptada nas regras para simplificar – algo entre rpgquest e d20 (hehehe ... se é que é possível).
Com a primeira turma eu cometi um erro clássico e banal – me prendi em explicar as regras. Embora não fossem muitas comecei a perceber que quando as organizei fui colocando um detalhe à mais aqui, outro ali e deixei aquilo como um conjunto inchado de normas. Isso deixou o jogo cansativo para aqueles alunos que estavam tendo o seu primeiro contato com o mundo do RPG.
Com a segunda turma eu resolvi alterar a metodologia. Transformei aquele amontoado de regras em meia dúzia. Durante o jogo dei mais ênfase à ambientação, e menos importância as regras e aos cálculos. Resultado ... muito mais diversão para o grupo.
Muitas vezes nos prendemos à um amontoado indescritível de regras. E todos sabemos como RPG pode ser um aglomerado de regras. Não estou pregando o fim delas. Até por que para mais realismo elas são necessárias. Prego sim o uso inteligente e consciente delas pelos grupos e mestres. Não que exista uma relação inversamente proporcional entre diversão e regras, mas com certeza existe sim uma ligação íntima e próxima entre elas.
Isso me lembrou outro caso bem mais antigo. Lá pelo ano de 2002 eu fui jogar um enorme live-action de Vampiro aqui em Porto Alegre, como bom Nosferatu que sou. Eram quase 50 jogadores, além de mestres e amigos em off, encenando um baile à fantasia. Todos ricamente caracterizados num salão de festas devidamente alugado, inclusive com seguranças devidamente fantasiados. Era para ter sido um enorme sucesso (como fora o live anterior). Mas as malditas regras acabaram por ofuscar a diversão. Lá pelas tantas, um jogador que encenavam um gangrel, fez alguma coisa que ‘feria as regras’ em algum ponto. Isso foi o suficiente para criar um enorme alvoroço entre os fanáticos por regras, com seus livros em punho, transformando aquilo que era para ser uma segunda bem sucedida experiência rpgística numa decepção cansativa.
Regras são boas para nos fazer entender a dinâmica do jogo (ou sistema) e criar um norte em nosso entendimento. Temos de nos lembrar que não podemos ser escravizados por elas, mas sim as organizarmos para que funcionem conforme nossa necessidade.
Não esqueçam. Usem as regras, mas não se deixem usar por elas.