V. Enfim uma luta...
O Gaivota Prateada singrava o oceano de forma desafiadora e inabalável diretamente para sobre o adversário. O mesmo fazia o outro navio. Os ventos estavam sendo generosos empurrando Slocun e sua embarcação ininterruptamente desde que avistaram um ao outro. As feições do adversário já eram bem mais nítidas. Sua embarcação também era de causar espanto. As velas, muito brancas, pareciam terem sido recém cerzidas. O casco impecavelmente construído e pintado brilhava sob a luminosidade da manhã. Em frente, na proa, abraçando o casco até a altura do mastro frontal, deitava-se uma belíssima escultura de um ser canino, meio humano meio animal, apontando para o fronte. Era realmente uma visão belíssima.
O Gaivota Prateada singrava o oceano de forma desafiadora e inabalável diretamente para sobre o adversário. O mesmo fazia o outro navio. Os ventos estavam sendo generosos empurrando Slocun e sua embarcação ininterruptamente desde que avistaram um ao outro. As feições do adversário já eram bem mais nítidas. Sua embarcação também era de causar espanto. As velas, muito brancas, pareciam terem sido recém cerzidas. O casco impecavelmente construído e pintado brilhava sob a luminosidade da manhã. Em frente, na proa, abraçando o casco até a altura do mastro frontal, deitava-se uma belíssima escultura de um ser canino, meio humano meio animal, apontando para o fronte. Era realmente uma visão belíssima.
- Será realmente uma reconfortante luta senhor Tugar. Olhe que bela nave esta que nos avança. Dará gosto de combater.
Tugar escutava a tudo, mas sem responder. Sua atenção estava em muito lugares ao mesmo tempo e repassando todas as ordens que deveriam ser dadas em cada momento. Sua mente era um turbilhão. E, ao contrário de Slocun, que maravilhava-se com extrema facilidade, ele considerava aquela visão preocupante. Seu adversário mostrava a imponência de um vencedor. E Tugar sabia que nenhum combate poderia ter dois vencedores.
- Preparem-se! – gritava o capitão – todos sabem o que fazer. Que o grande Oceano nos proteja e que as bênçãos de Lena nos envolvam até que a vitória seja alcançada.
- Preparem-se! – gritava o capitão – todos sabem o que fazer. Que o grande Oceano nos proteja e que as bênçãos de Lena nos envolvam até que a vitória seja alcançada.
- À vitória! – foi o grito em coro da tripulação que formou-se num uníssono que subiu aos céus.
Os dois navios rumavam num ponto de colisão certo. O normal num combate naval seria que passassem um ao lado do outro onde seria dada a primeira saraivada de canhões. Imediatamente ambos virariam para estibordo, girando para re-enquadrar-se e preparando um novo cruzamento. Isso aconteceria até que um deles estivesse avariado o suficiente a ponto de não poder mais manter o rumo. Nesta ocasião aconteceria a abordagem dos marujos do navio que ainda estivesse manobrável. Isso era o que ocorria normalmente. Mas não para Slocun.
Ele havia aprimorado, nos seus poucos anos de combate, uma técnica tão infalível quanto arriscada. O Gaivota possuía uma manobrabilidade estonteante. E Slocun se valia disso. Ele sempre se direcionava, para seu adversário, pelo lado direito. A manobra consistia em pouco antes de cruzar com o adversário jogar o Gaivota para estibordo, abrindo certa distância e rapidamente virá-lo para esquerda novamente. Aos olhos do adversário pareceria que Slocun estaria tentando uma manobra evasiva para uma fuga. Mas na verdade ele estava percorrendo um meio círculo que o colocaria cruzando pela popa do adversário. Neste momento seria dada a primeira saraivada dos canhões direcionadas ao timão, na ponte, e ao leme. Isso deixaria o adversário imóvel e normalmente nem seriam necessárias mais quaisquer outras ações dos canhões. E, se fosse necessário, o segundo cruzamento dar-se-ia pela proa do adversário de forma igualmente feroz mirando na base das velas dianteiras.A intenção de Slocun era preservar ao máximo a integridade da embarcação adversária para tirar o maior proveito possível.
Isso era o que deveria ocorrer normalmente. Mas não hoje. Os dados de Nimb, ou alguma outra força incompreensível tinha desígnios diferentes para eles.
Tudo estava claro na mente de Slocun. A manobra. A inversão. Os tiros. Tudo. Todos sabiam que a manobra seria mais ou menos assim e já se agarravam para a brusca virada que estava por vir. Kankar aguardava o momento da ordem do capitão segurando com firmeza no timão.
Tudo estava claro na mente de Slocun. A manobra. A inversão. Os tiros. Tudo. Todos sabiam que a manobra seria mais ou menos assim e já se agarravam para a brusca virada que estava por vir. Kankar aguardava o momento da ordem do capitão segurando com firmeza no timão.
- Agora! – gritou Slocun provocando uma reação imediata da Kankar, de todos os marinheiros responsáveis pelas velas e, por conseqüência, do navio. A curva que realizara quase fez a água entrar pelas amuradas. Era o movimento perfeito. Arriscado. Impressionante.
Mas a surpresa foi mais impressionante.
Quase que como um reflexo espelhado do Gaivota, o outro navio realizou a mesma manobra, só que invertida, como resposta. Ninguém entendeu nada. Muito menos Slocun. Ele foi realmente pego de surpresa. Nunca havia visto ninguém empreender tal contra-manobra contra ele daquela forma - Mas que diabos está acontecendo aqui? – pensou.
Os dois navios foram realizando suas curvas até estarem novamente frente à frente e em grande velocidade. A curva foi tão fechada que estavam à ponto de colidirem.
- Ele é louco ou o que? Dois quartos à bombordo senhor Kankar – e uma nova guinada, agora para o lado oposto, foi imposta ao Gaivota. E de novo o movimento foi espelhado à exatidão. A resposta do capitão adversário foi tão imediata que seria como se ambos pensassem da mesma forma e estivessem realizando movimentos combinados numa verdadeira coreografia.
Passaram-se longos minutos. Muitos movimentos foram realizados de forma prolixa e exata por ambos os capitães. Era uma aula de navegação para qualquer academia naval de primeira categoria. E o mais importante, e por que não dizer curioso, foi que ambos não realizaram nenhum disparo. Era o ataque perfeito com o contra-ataque igualmente perfeito.
Na última passagem Slocun começou a rir. Mais do que isso – gargalhar. Ninguém entendia o que estava acontecendo com o capitão – Senhor Tugar, abaixe as velas e diminua a velocidade.
- Como senhor? – pasmou-se o mestre do navio.
- Isso mesmo o que escutou, caro amigo. Vamos parar ou ficaremos tão tontos que não conseguiremos andar em uma linha reta nem em um milhão de anos – e continuava a rir – além do mais tenho muito interesse em conhecer este tal capitão desconhecido.
- Vocês ouviram – saiu gritando Tugar, meio que desconcertado, em direção à ponte – vamos parar essa banheira!
Imediatamente Listian correu para a ponte com uma bandeira vermelha e azul, dividida na diagonal, como sinal de uma trégua momentânea. E o mesmo ocorreu no outro navio.
o O o
Um quarto de hora depois ambos os navios estavam lado-a-lado, a uma certa distância era bem verdade, mas dentro da linha de fogo de ambos. Dois botes foram ao mar – um de cada embarcação. A conduta dos piratas dizia que em situações como esta, ambos os capitães se encontrariam em local neutro – no mar e entre os navios – para discutirem termos que resolvessem a situação que designaria a trégua. E lá estavam eles. Um se dirigindo para o encontro do outro junto de mais dois homens de confiança.
Os dois botes, após instantes de breve jornada, tocaram-se e manobraram até estarem lado-a-lado.
Slocun dirigia um olhar de extrema curiosidade para a figura no outro bote que aparentava ser o capitão. Um homem vestido ricamente e com uma bandana negra na cabeça. Estava sentado entre outros dois homens – um deles vestindo uma pesada capa que cobria-lhe até a cabeça e outro, do contrário, só de calças e com o corpo coberto por tatuagens.
- Belas manobras – disse levantando-se o homem ricamente trajado.
- Acho que posso dizer o mesmo – disse Slocun estendendo a mão para um aperto.
- Regogizo-me em conhecer tão brilhante capitão – e o estranho apertou a mão de Slocun com grande força.
- O mesmo posso dizer – respondeu Slocun – mas eu realmente gostaria de apertar a mão do verdadeiro capitão, se não se importa – continuou Slocun virando-se para a figura encapuzada.
A surpresa da figura em pé foi desconcertante. Ele não sabia o que fazer naquele momento. Tentou gaguejar algumas palavras, mas a voz não saia. Slocun sabia que alguns capitães gostavam de realizar pequenos trotes até reconhecer ou conhecer o capitão adversário. Até mesmo ele já empreendera tal artifício. Mas a situação tornou-se insuportavelmente hilária. Todos, menos o desmascarado falso capitão, caíram em uma risada que encheu com um ar de folgada descontração aquele pedaço de mar.
- Eu te disse que não enganaria nem um cego com essa cara – disse o marinheiro desnudo dando um pequeno tapa no ombro no companheiro que fingia ser o capitão que, por fim, rendeu-se às gargalhadas.
- Como descobriste esta pequena brincadeira caro colega de armas? – foram palavras que saíram da forte figura encapuzada que lentamente ia levantando-se e mostrando ser realmente alto.
- Confesso que eu mesmo já fiz muitos desavisados de bobo dessa forma, mas as manchas de pólvora nas mãos dele não me deixaram dúvida. Considero que um capitão tão habilidoso estaria no convés e não junto aos canhões. Sou o Capitão Joshua Slocun, de Bielefeld, a seu dispor.
- Capitão Gares Tyllon, de Prendick. Mesmo tendo uma ótima memória não lembro-me de ter ouvido falar de fossa cidade. Pertence à algum dos arquipélagos das Ilhas Dominique ou das Ilhas Colônias? – respondeu de forma calma o capitão adversário enquanto tirava o capuz da cabeça e tirava, igualmente, o fôlego dos três membros do Gaivota Prateada.