Trecho da história de Westeros
George
Martin não para de trabalhar. “The world of Ice and Fire”, que contará a
história de Westeros desde antes da conquista está finalizado e pronto para ser
lançado lá fora. Tudo o que aconteceu anteriormente ao que foi apresentado no
volume de sua celebre obra será apresentado coma mesma riqueza que já estamos
acostumados. E para você ter uma boa noção disso ele divulgou um grande trecho
que sua nova obra para divulgação. Abaixo está transcrito este trecho com
tradução de João Araújo, para o site Game of Thrones BR.
"Os
mestres da Cidadela que guardam as histórias de Westeros, têm vindo a usar a
Conquista de Aegon como o seu marco para os últimos trezentos anos.
Nascimentos, mortes, batalhas e outros acontecimentos são datados ou DC (Depois
da Conquista) ou AC (Antes da Conquista)*.
Os
mais cultos sabem que tal data não é muito precisa. A Conquista de Aegon
Targaryen dos Sete Reinos não se deu num só dia. Mais de dois anos passaram
entre Aegon desembarcar em Vila Velha (Oldtown) e a sua coroação… e até a
Conquista permaneceu incompleta, uma vez que Dorne resistiu. Tentativas
esporádicas de trazer os Dorneses para o reino continuaram durante todo o
reinado do Rei Aegon e também durante os reinos dos seus filhos, tornando
impossível determinar um fim preciso para as Guerras da Conquista.
Até
a data de início é algo equívoco. Muito assumem, erradamente, que o reino do
Rei Aegon I Targaryen começou no dia em que ele chegou à costa de Blackwater,
sob as três montanhas onde a cidade de King’s Landing acabou por se erguer. Nem
por isso. O dia da Chegada de Aegon foi celebrado pelo rei e os seus
descendentes, mas a Conquista, na verdade, datou o início do seu reinado desde
o dia em que foi coroado e ungido no Septo Estrelado de Vila Velha pelo Grande
Septão da Fé. Esta coroação teve lugar dois anos depois da Chegada de Aegon,
bastante depois de três das maiores batalhas da Guerra da Conquista terem
acontecido e terem sido ganhas. Assim, é possível ver que a maior parte da
verdadeira conquista de Aegon decorreu de 2 a 1 AC, Antes da Conquista.
Os
Targaryen era de puro sangue Valiriano, senhores dos dragões de uma antiga
linhagem. Doze anos antes da Perdição de Valyria (Doom of Valyria) (114 AC),
Aenar Targaryen vendeu os seus terrenos no Mercado (Freehold) e nas Terras do
Longo Verão (Lands of the Long Summer) e deslocou-se com as suas mulheres,
bens, escravos, dragões, irmãos, parentes e crianças para Pedra do Dragão
(Dragonstone), uma ilha deserta sob uma enorme montanha no mar estreito.
No
seu auge, Valiria era a maior cidade no mundo conhecido, o centro da
civilização. Dentro das suas brilhantes paredes, duas casas rivais ansiavam por
poder e glória na corte, caindo constantemente numa luta subtil e selvagem pelo
domínio. Os Targaryens estavam longe de serem tão poderosos como os outros
senhores dos dragões, e os seus rivais viram a viagem para Dragonstone como um
ato de desistência, de covardice. Mas a jovem filha do Lorde Aenar, Daenys,
para sempre conhecida como Daenys, a Sonhadora, previra a destruição de Valiria
pelo fogo. E quando a Perdição veio, doze anos depois, os Targaryen eram os
únicos senhores dos dragões sobreviventes.
Perda
do Dragão tornara-se o posto oeste de poder Valiriano por dois séculos. A sua
localização no Gargalo (Gullet) deu aos seus lordes um domínio da Baía de
Blackwater (Blackwater Bay) e permitiu tanto aos Targaryens como aos seus
aliados mais próximos, os Valeryons de Driftmark (uma casa mais baixa de
descendência Valiriana) para encher os seus cofres com o tráfego de barcos. Os
navios Velaryanos, juntamente com os de outra casa Valiriana aliada, os
Celtigars de Claw Isle, dominaram as águas do mar estreito, enquanto os
Targaryen reinaram os céus com os dragões.
Ainda
assim, durante a maior parte dos cem anos após a Perdição de Valiria (que foram
nomeados Século de Sangue (Century of Blood)), a Casa Targaryen olhou para
este, não oeste, e pouco interesse tiveram nos assuntos de Westeros. Gaemon
Targaryen, irmão e marido de Daenys, a Sonhadora, seguiu Aenar, o Exilado como
Lorde de Pedra do Dragão e ficou conhecido como Gaemon, o Glorioso. O filho de
Gaemon, Aegon, e a sua filha, Elaena, reinaram juntos após a sua morte. Depois
deles a terra passou para o seu filho Maegon, o seu irmão Aerys e os filhos de
Aerys, Aelyx, Baelon e Daemion. O último dos três irmãos era Daemion, cujo
filho Aerion depois reinou em Pedra do Dragão.
O
Aegon que é conhecido na história como Aegon, o Conquistador e Aegon, o Dragão,
nasceu em Pedra do Dragão em 27 AC. Ele era o único rapaz e a segunda criança
de Aerion, Lorde de Pedra do Dragão, e da Senhora Valaena da Casa Velaryon, ela
própria meia-Targaryen do lado da mãe.
Aegon
tinha dois irmãos de sangue; uma irmã mais velha, Visenya, e uma irmã mais
nova, Rhaenys. Já era costume entre os senhores de dragões de Valiria casar
irmão e irmã, mantendo a linhagem de sangue pura, mas Aegon casou com as duas
irmãs. Pela tradição, era esperado de si apenas casar com a irmã mais velha,
Visenya; a inclusão de Rhaenys como uma segunda esposa era incomum, contudo,
não era algo sem precedentes. Era dito por alguns que Aegon casou com Visenya
por dever e com Rhaenys por desejo.
Os
três irmãos mostraram ser senhores de dragões antes do casamento. Dos cinco
dragões que voaram de Valiria com Aenar, o Exilado, apenas um sobreviveu até
aos dias de Aegon: a grande besta chamada Balerion, o Horror Negro (the Black
Dread). Os restantes dois dragões – Vhagar e Meraxes – eram novos, nascendo em
Pedra do Dragão.
Um
mito comum, bastante ouvido entre os ignorantes, diz que Aegon Targaryen nunca
pisara o solo de Westeros até ao dia em que viajou para o conquistar, mas tal
não pode ser verdade. Anos antes da viagem, a Mesa Pintada (Painted Table)
tinha sido esculpida e pintada a comando do Lorde Aegon: uma enorme tábua de
madeira, com uns cinquenta pés de comprimento, esculpida na forma de Westeros e
pintada para exibir todas as florestas, rios, cidades e castelos dos Sete
Reinos. Claramente o interesse de Aegon em Westeros já mostrava alguns eventos
que depois o levaram para a guerra. Para além disso, existem relatos credíveis
de Aegon e a sua irmã Visenya visitarem a Cidadela de Vila Velha enquanto
jovens, e visitarem Arbor como convidados do Lorde Redwyne. Ele pode também ter
visitado Lannisport (Lannisporto); os relatos diferem.
A
Westeros do jovem Aegon foi dividida em sete conflituosos reinos, e era rara a
altura em que dois ou três desses reinos não estavam em guerra entre si. O
vasto, frio e pedregoso Norte era governado pelos Starks de Winterfell. Nos
desertos de Dorne, os príncipes Martell não vacilavam. As terras ricas de
Westeros eram reinadas pelos Lannisters do Rochedo Casterly (Casterly Rock), o
fértil Campina (Reach) pelos Gardeners de Jardim de Cima. O Vale, os Dedos
(Fingers) e as Montanhas da Lua (Mountains of the Moon) pertenciam à Casa
Arryn… mas os mais bélicos reis do tempo de Aegon eram aqueles cujos reinos
estavam mais próximos de Pedra do Dragão, Harren, o Negro e Argilac, o
Arrogant.
Da
sua grande cidadela Ponta de Tempestade (Storm’s End), os Reis da Tempestade da
Casa Durrandon chegaram a reinar uma vez a parte este de Westeros, desde Cape
Wrath (próximo de Matabruma) até à Baía dos Caranguejos (Bay of Crabs), mas o
seu poder tinha vindo a diminuir pelos séculos. Os Reis da Campina tinham
ficado aos poucos com os seus domínios a oeste, os Dorneses atacaram-nos do
sul, e Harren, o Negro e os seus homens de ferro empurraram-nos do Tridente
(Trident) e das terras a norte de Blackwater. O Rei Argilac, o último dos
Durrandon, tinha resistido a estas ofensivas há muito tempo, recusando uma
invasão Dornesa enquanto jovem, atravessando o mar estreito para se juntar à
grande aliança contra os “tigres” imperialistas de Volantis, e matando Garse
VII Gardener, Rei da Campina, na Batalha de Summerfield (Battle of Summerfield)
vinte anos depois. Mas Argilac envelheceu; o seu famoso cabelo negro tornou-se
cinza, e a sua proeza nas armas desvaneceu.
A
norte de Blackwater, as terras fluviais eram governadas pela sangrenta mão de
Harren, o Negro da Casa Hoare, Rei das Ilhas e dos Rios. O avô de Harren,
nascido no ferro, Harwyn Harghand, tinha tirado o Tridente do avô de Argilac,
Arrec, cujos próprios antepassados tinham derrubado o último dos reis fluviais
séculos antes. O pai de Harren tinha estendido os domínios a este para
Duskendale e Rosby. O próprio Harren tinha dedicado a maior parte do seu
reinado, perto de quarenta anos, a construir um gigantesco castelo ao lado de
Gods Eye, mas com Harrenhal a chegar ao fim da sua construção, aqueles nascidos
do ferro estariam rapidamente livres para procurar novas conquistas.
Nenhum
rei em Westeros era mais temido do que o Negro Harren, cuja crueldade tinha
ficado lendária por todos os Sete Reinos. E nenhum rei em Westeros se sentiu
mais ameaçado que Argilac, o Rei da Tempestade, último dos Durrandon – um velho
guerreiro cujo único herdeiro era a sua jovem filha. Assim, o Rei Argilac
contactou os Targaryens de Pedra do Dragão, oferecendo a Lorde Aegon a sua
filha em casamento, com todas as terras a este de Gods Eye desde o Tridente até
Blackwater.
Aegon
Targaryen rejeito a proposta do Rei da Tempestade. Ele tinha duas esposas,
explicou; não precisava de uma terceira. E as terras doadas pertenciam a
Harrenhal há mais de uma geração. Não eram de Argilac, portanto não as podia
oferecer. Claramente, o velho Rei da Tempestade pretendeu estabelecer os
Targaryen em Blackwater como uma ligação entre as suas terras e as de Harren, o
Negro.
O
Lorde de Pedra de Dragão lançou-lhe uma proposta como resposta. Ele ficaria com
as terras oferecidas se Argilac concedesse também Massey’s Hook e as terras
desde o sul de Blackwater até ao rio de Wendwater e as terras principais do
Mander. O pacto seria selado com o casamento da filha do Rei Argilac com Orys
Baratheon, o campeão e amigo de infância de Lorde Aegon.
Esses
termos Argilac, o Arrogant, rejeitou irritadamente. Orys Baratheon era um meio
irmão de Lorde Aegon, rumores diziam, e o Rei de Tempestade não iria desonrar a
sua filha dando a sua mão a um bastardo. A própria sugestão encheu-o de raiva.
Argilac cortou as mãos do enviado de Aegon e enviou-as para Pedra do Dragão
numa caixa. “Essas são as únicas mãos que o seu bastardo irá ter de mim”, ele
escreveu.
Aegon
não respondeu. Invés disso, ele convocou os seus amigos, estandartes e
principais aliados para se reunirem em Pedra do Dragão consigo. Eles eram
poucos. Os Velaryons de Driftmark eram ajuramentados à Casa Targaryen, como
eram os Celtigars de Claw Isle. De Massey’s Hook veio o Lorde Bar Emmon de
Sharp Point e o Lorde Massey de Stonedance, ambos ajuramentados a Ponta
Tempestade, mas com ligações a Pedra do Dragão. O Lorde Aegon e as suas irmãs
reuniram com eles e visitaram o septo do castelo para rezar pelos Sete de
Westeros, apesar de nunca ter sido visto como um homem devoto.
No
sétimo dia, uma nuvem de corvos saiu das torres de Pedra do Dragão para levar a
palavra do Lorde Aegon para os Sete Reinos de Westeros. Para os sete reis eles
voaram, para a Cidadela de Vila Velha, para lordes grandes e pequenos. Todos
levaram a mesma mensagem: a partir deste dia, haveria apenas um rei em Westeros.
Aqueles que dobrassem o joelho a Aegon da Casa Targaryen manteriam as suas
terras e títulos. Aqueles que erguessem armas contra ele, seriam derrubados,
humilhados e destruídos.
*AC
em inglês (After the Conquer) é exatamente o oposto do português, (Antes da
Conquista)"