quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Cenário - A Torre da Fronteira 1

A TORRE DA FRONTEIRA

João Eugênio Córdova Brasil & Júlio Oliveira



“Eu conheço este olhar que vocês têm no rosto! É igual à todos os que percebem que fizeram uma burrada. Foi o mesmo olhar que eu tinha na cara logo que cheguei aqui quando ainda era um recruta, como vocês!” – esbravejava um anão de trejeitos muito rudes e barba ornada em uma enorme trança.

“Aqui vocês servirão à sua raça fazendo aquilo que sabemos fazer de melhor, proteger nossa adorada Doherimm” – ele continuava falando enquanto caminhava de um lado para o outro arrastando os seus pés no chão arenoso e continuou, após uma pausa – “Aqui aprenderão a serem guerreiros de verdade.”

Ele abriu os braços de costas para os recrutas como numa encenação – “Aqui, na Torre da Fronteira, no maior basteão armado do norte do reino dos anões, o verdadeiro alicerce de nossas defesas, aqui vocês serão guerreiros de verdade.”

“E por que este ponto é tão importante? Por que aqui, no meio do nada, tão abaixo da superfície é tão importante? Porque do outro lado desta enorme torre e de seus intransponíveis portões está a Grande Câmara. Um lugar tão gigantesco quanto perigoso. Um lugar que fará vocês rezarem a Tenebra todo o dia para saírem daqui e rogarão à Heredrimm toda a sua força. Um lugar onde encontrarão as criaturas mais perigosas que já se ouviu falar, e outras tantas que nem imaginavam que existiam.”

“Minha função é ensinar vocês a serem dignos de pertencerem à uma raça tão valorosa quanto a nossa. Aqui se transformarão me anões de verdade. Espero que odeiem este lugar.”


HISTÓRIA

Para aqueles que pensam que Arton se restringe a tudo o que os olhos conseguem ver na superfície o engano é certeiro. Muita coisa está longe das vistas dos moradores do Reinado. Maravilhas se escondem nas profundezas dos mares abraçados pelo deus Oceano. Riquezas incontáveis embelezam outros planos, junto dos deuses. E uma civilização inimaginável vive abaixo de nossos pés, tão antigo quanto o próprio continente – este é o reino dos anões.

O reino dos anões é praticamente desconhecido pelos habitantes da superfície, embora muitas sejam as histórias contadas. Poucos são os privilegiados que foram conduzidos até seus recantos para encherem seus olhos com suas belezas feitas de metal e pedra. A localização de sua capital, Doherimm, é guardada à sete chaves e é, por muitos, considerado o lugar mais seguro de Arton.

Quando falamos em anões logo temos em nossas mentes a qualidade de seus guerreiros e a honra que permeia suas vidas. Mas, além de tudo isto, reconhecemos a fama que possuem de incríveis construtores. Todos dizem que quando um anão coloca as mãos em algo consegue moldá-la ao seu prazer. Seus serviços, quando estão dispostos a vende-lo, é disputado sendo garantia de qualidade. Contam as lendas que todo os principais castelos e fortificações de Arton foram construídos ou orientados por algum anão.

Mas essa fama não é à toa. Realmente o conhecimento anão em construção é uma realidade palpável. E a prova disto está longe até dos olhos de muitos anões. O maior de todos os feitos, desta incrível civilização, é a Torre da Fronteira.

Os anais da civilização anã remontam a construção de Torre da Fronteira à poucas dezenas de anos após a fundação de Doherimm, por anões vindos de Arton-sul, provavelmente. Contam que anos depois da fundação da capital anã, insistentes ataques eram realizados contra Doherimm. Criaturas das profundezas avançavam contra os domínios dos anões causando grandes problemas.

O inconveniente não poderia durar mais. Soluções foram procuradas em muitos níveis. O mapeamento dos arredores da capital anã foi uma das primeiras iniciativas. Boa parte das profundezas do subsolo do Reinado é permeado por uma enormidade de túneis e cavernas. Nos arredores de Doherimm não era diferente. Assim pretendiam procurar os caminhos que seus inimigos usavam para empreender seus ataques.

O responsável encarregado deste mapeamento foi Klóin Forjador. Considerado um dos melhores rastreadores das cavernas de toda a população anã, Klóin decidiu que deveriam realizar expedições o mais rápido possível para poderem levantar defesas seguras em pontos estratégicos. Já tinham conhecimento de que os pontos mais críticos eram ao norte e ao sul da capital. Assim duas grandes caravanas militares foram organizadas. Uma delas, a do sul, seria chefiada por seu irmão mais novo – Tróly – enquanto ele mesmo comandaria a segunda caravana, para o norte.

Foram semanas de estudos, pesquisas e combates. No sul não houveram grandes surpresas. Tróly rapidamente descobriu que não precisavam temer grandes perigos daquela região, pelo menos nada que não pudessem enfrentar facilmente. Mas no norte as coisas foram diferentes. Combates cada vez mais intensos surpreendiam Klóin quanto mais seguiam para o norte. Tanto que por mais de uma vez foi obrigado a pedir reforços, mantimentos e armas para a capital.

Na quinta semana de marcha, lenta, rumo ao norte, realizaram a maior de todas as descobertas. Saindo de um enorme corredor, que só pelas dimensões já era impressionante, encontraram o que chamariam de A Câmara. Era uma estrutura natural de quilômetros de diâmetro e largura que formava um gigantesco espaço vazio debaixo da terra. Mas isso não era o mais incrível. Ao se depararem com este vazio, tinham a impressão de terem saído à superfície num dia de lua cheia. Algum fenômeno desconhecido para os anões, naquele momento, fazia com que as paredes da gigantesca câmara conferissem uma parca luminosidade azul escuro, como um luar, ao ambiente. Ficaram logo maravilhados, mas a sensação durou pouco. Junto com a descoberta da Câmara encontraram a origem dos problemas da civilização anã – uma outra civilização de criaturas muito pálidas já habitava aquele lugar. Em um número enorme as forças adversárias, estranhas para os anões, eram numerosas e vorazes. Pelo que perceberam essas criaturas vinham de muito além da extremidade desta enorme câmara, mas naquele enorme espaço é que se reuniam para os ataques. O encontro com os inimigos não foi nem um pouco amistoso.

A força da investida foi enorme, mas os anões valeram-se de sua perspicácia e inteligência. A sobrevivência do contingente anão só foi possível por usarem a geografia daquele lugar ao seu favor. A Câmara afunilava no seu encontro com o túnel que levava até Doherimm. Usaram desta forma a entrada do túnel para facilitar sua resistência contra o inimigo restringindo o poderio ofensivo deles.


A vitória foi sangrenta e difícil, mas alcançada. Klóin logo percebeu a incrível dificuldade que tinham nas mãos. Mas, ao mesmo tempo, percebeu que já tinha a solução. Voltou para Doherimm e solicitou o envio de mais guerreiros e dos melhores construtores da capital. Explicou sua estratégia ao monarca – construir a solução final para os problemas do reino. Ele mesmo iria ser o arquiteto daquele monumento à defesa do reino.

Foram décadas de lutas e esforço. Mas o sangue e o suor foram recompensados. Quando a última pedra foi colocada em seu lugar, Klóin teve certeza que sua obra duraria mais do que o mundo.

Assim nasceu a Torre da Fronteira.