Resenha
Senhores da Guerra:
Vikings
Tivemos um grande lançamento
esta semana no que tange à suplementos de RPG – Senhores
da Guerra: Vikings, da Redbox. Eu me sinto duplamente pressionado
para a resenha deste suplemento. Primeiramente por ser um sistema que adoro
desde seus primórdios, um contraponto ao que tínhamos e temos de RPG de
fantasia. Logo que o Dan Ramos conversou comigo sobre resenhar materiais da
editora eu deixei bem claro que só consigo fazer isso de uma forma – claro,
direto e sem “passar pano” – sendo fiel aos meus princípios - e ele me deixou
tranquilo com relação à isso dizendo ser exatamente o que espera de mim. Em
segundo lugar por ser amigo íntimo da Franz Andrade e ter sido maravilhosamente
homenageado por ela nos agradecimentos do livro. Assim a pressão é dupla.
Vamos começar acalmando os
leitores depois dessa minha introdução. Sim, Senhores da Guerra: Vikings é um
grande livro de RPG. Vale cada centavo gasto e cada minuto de leitura. Ele
transpira a paixão de Aquiles Fraga pelo tema e a qualidade rpgistica de Franz
Andrade sobre as regras. Claramente consigo ver a mão de cada um em cada parte
específica do livro. Talvez por trabalhar com a Franz por tanto tempo e ler
tanto de suas mãos me acostumei com seu estilo, facilitando a tarefa.
O livro é um verdadeiro manual
histórico sobre o tema, com a vantagem de estar preparado para ser usado em
RPG, no caso Old Dragon. Podemos dizer que sendo um verdadeiro old school, Old
Dragon já havia passado do tempo de ter um livro para vikings.
Temos toda a descrição
histórica pormenorizada dos vikings e sua cultura, e com uma qualidade
incrível. Posso atestar isso por ser historiado e ter me dado ao trabalho de
conferir muitas das informações por puro preciosismo. Aquiles fez um brilhante
trabalho descritivo com uma escrita apaixonada e contagiante. Se você pretende
jogar na Europa nórdica este será seu sistema do coração... como já é do meu.
Um verdadeiro livro de história e retomarei esse ponto mais adiante.
A união de história e
informação real com as mecânicas e regras rpgísticas de Old Dragon, flui com a
leveza que apenas a Franz é capaz. Sei que obras de quatro mãos acabam tendo
influência dos dois autores em todos os cantos do livro, mas percebo o peso da
visão e estilo dela nessa passagem de foco, e daí em diante. Não temos exageros
e excessos de informação, sendo cada palavra utilizada na construção do texto
útil em alguma medida do uso do tema nas sessões. A emulação do dia a dia
viking e toda sua estrutura social em termos de sistema de RPG está
perfeitamente apresentada. Em meio à essa estrutura de regras os boxes
apresentando informações históricas (a mão do Aquiles aqui é clara) corroboram
o texto exemplificando e reforçando tudo o que é dito. Às vezes as tabelas com
a intenção de prever ou indicar cada detalhe do tema podem poluir um pouco a
fluidez do conjunto, algo que sempre percebi nas obras de OD e que sempre me
incomodou um pouco, mas nada que seja um ponto negativo relevante.
As classes estão no ponto para
você olhar, se apaixonar e sair jogando principalmente por serem claras e
rápidas em sua descrição e ligação com o conhecimento dos leitores com as
regras básicas. Não temos invenções mirabolantes para criar mil e uma
subdivisões que comportem tudo o que existe na cultura viking. Aqui o menos é a
medida certa e correta.
Uma parte especial do livro é a
dedicada às Runas, tanto que acho que merecia um capítulo à parte. Runas são o
centro e alma do “ser” viking. Tanto como parte de reconhecimento como grupo,
quanto elemento de ligação real-sobrenatural, as runas tem um papel crucial em
qualquer aventura viking. O tema está muito bem descrito, mas acho que a
riqueza de tanta informação acaba por ficar fragmentado quando temos duas
tabelas com informações diferentes sobre as mesmas runas. O ideal para
jogadores, mestres e fluidez de uso na mesa, seria uma forma mais sucinta ou
aglutinada de apresentar suas informações, quem sabe até mesmo sem tabelas, mas
com texto contendo a informação de ambas as tabelas.
O capítulo Aventuras é o ponto
central para os mestres e trás todas as informações para você criar e levar
adiante suas aventuras de vikings. Suas doze primeiras páginas são incríveis e
cruciais para mestres. Deste ponto em diante considero que principalmente o
tema navegação deveria ter tido um capítulo em separado também, assim como as
runas, pela sua importância histórica e pela relevância que deveria ter para os
jogadores mais do que para os mestres. Mais do que elemento de aventura,
navegação é o modo de vida viking e estaria melhor colocado até mesmo no
capítulo dois (mesmo sendo um ‘equipamento’).
Por fim o capítulo Combate é
importante e muito bem explanado pelas peculiaridades da sociedade viking em
lutas e todo o tipo de ação relacionada. Novamente não temos exageros e novamente
o menos é mais em informações claras e específicas que facilitarão mestres e
jogadores na criação de suas cenas.
Eu não poderia deixar de falar da
arte do livro. Dan Ramos, como diretor de arte e ilustrador é sempre a escolha
certa. Algo que aprecio muito nas obras de Old Dragon principalmente é o visual
limpo e fluido das páginas. Nada de imagens saturadas e com informação em
excesso nos desenhos. Com uma arte que transita entre o cru clássico preto e
branco de Russ Nicholson e o aspecto realista de Ekaterine Burmak, Dan Ramos
nos entrega o que procuramos – imagens fortes, realistas e maravilhosas. Eu,
particularmente, não esperava menos do que isso.
Mas temos alguns pontos que não
podemos deixar passar.
Acho que o ponto que mais me
causou estranheza foi com relação a escolha de estruturação do livro. Sabemos
que o livro é baseado em uma cultura apaixonante dentro do imaginário atual,
mas ainda assim este é para ser um livro de RPG. A escolha de colocar todo um
longo capítulo inicial baseado em história pormenorizada (novamente,
maravilhosamente escrito pelo Aquiles) repleto de nomes, datas e informações,
torna o início da leitura um tanto cansativo. Confesso que por mais que ame
história, depois das duas primeiras páginas lidas, pulei para o meio do
capítulo dois e li até o final, retornando ao primeiro capítulo depois de tudo.
Isso me causou a impressão de que a melhor escolha teria sido tê-lo colocado
como um apêndice ao final de tudo. Assim a leitura fluiria com informações,
atiçando o leitor que teria ao final um reforço histórico de tudo o que foi
construído. Outra opção poderia ter sido colocar as informações históricas ao
longo dos capítulos em Box ou laterais de página reforçando ou exemplificando
os temas tratados, embora isso tornasse as informações históricas fragmentadas,
o que seria apenas um paliativo.
O segundo ponto que causou
estranheza ao me colocar no lugar dos leitores não acostumados com a cultura
viking é o uso de termos nórdicos. Por mais de uma vez fui obrigado à voltar no
texto para procurar o significado do termo ou correr para o glossário no final
do livro. Sei que o tema e a particularidade linguística acabam suscitando isso
por questões óbvias. Uma emulação perfeita e a criação de um ambiente
verdadeiramente nórdico e crível aos jogadores passa por uma terminologia
apropriada, mas ainda assim pode ser um estorvo para o leitor. A solução para
isso é complicada, embora em alguns pontos poderiam ter sido sanados por
escolhas diferentes da construção do texto.
Por fim temos os quadros de
personalidades históricas vikings. Embora como historiador eu tenha amado cada
um deles, achei em muitos casos entre extensos ou sem utilidade real. Eu
compreendo a intenção de aumentar o conhecimento geral da cultura viking com
exemplos reais. Como curiosidade são ótimos, mas para as pretensões do livro
estariam melhores postos como um segundo apêndice.
Final
O livro Senhores da Guerra:
Vikings, de Aquiles Fraga e Franz Andrade é um grande livro de RPG e que
enriquecerá sua estante. Ele será crucial para suas aventuras em ambiente
nórdico e é rico em informações muito bem arroladas. Em termos de RPG segue a
mesma qualidade e cuidado de todas as obras da Redbox e poderá ser usado
facilmente em aventuras tanto dentro de uma Europa real quanto em uma sandbox
dentro do ambiente de Old Dragon. Embora com algumas escolhas editoriais e
posicionamentos de texto que questionei, elas em nada desqualificam a obra e
sua importância e importância geral.
Nota: 8,5
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