segunda-feira, 14 de abril de 2014

Por Mares Nunca Antes Navegados: Parte 1 - capítulos 1 e 2


PARTE 1 - Um longo prelúdio -

João Eugênio Córdova Brasil


I. Um início


O vento castigava seu rosto em uma carícia agressiva e úmida. O balançar cadenciado proporcionado pelo oceano deixava seus longos cabelos negros mareando de um lado para o outro. Ele não precisava estar lá. Não era sua função. Possuía desígnios bem mais importantes. Deveria zelar pela segurança de uma tripulação de cerca de cinqüenta almas, além de sustentar a difícil tarefa de ser uma inspiração para elas. Deveria mantê-los vivos, manter suas esperanças e sonhos. Ele era o capitão.

Mas desde garoto, quando acompanhava seu tio, que era a figura mais próxima de um pai que teve, e que também era um capitão experiente e honrado, a gávea era o seu lugar especial. Um lugar só seu dentro de uma morada flutuante com quase duas centenas de moradores. Sua vida, naqueles dias, era sua tarefa. Nas alturas estava o seu lugar. Seu porto seguro.

Seu refúgio especial não era sua cabine, mas a gávea que sustentava-se no mastro maior do Gaivota Prateada. Mesmo já não sendo mais um garoto – passara dos trinta a um anos – erguia-se pelo encordamento do velame com maestria invejável e alegria infantil, encerrando suas acrobacias, inevitavelmente, na cesta no topo do mastro.