Como estragar a diversão de alguém
- porque RPG não são só acertos -
por Thiago Miani
Aproveitando
o momento eu resolvi vir aqui e contar uma história. Talvez seja uma paixão dos
RPGistas por contar histórias, talvez seja por que eu aprendi mais com meus
erros que com meus acertos.
Tudo
começou num tempo muito antigo, antes dos celulares com tela de toque, quando a
internet era um mito distante em telas de tubo. O ano era 2001, eu tinha
entrado no ensino médio, e tinha muitas horas pra cumprir entre o ensino
regular e o técnico.
Nesse
meio tempo fiz amigos, bons amigos, Caio, Bean, Luiz e Eduardo. Todos jogavam
RPG e me convidaram a jogar com eles, um jogo um pouco antigo, chamado Vampiro
- a Máscara. E foram horas muito boas, divertidas, eles chegaram a me falar de
outros jogos, mas naquele momento não tinha interesse.
Menos
de um ano depois seria a última vez que iria ver a maioria deles. Com eles se
formando e seguindo suas vidas para a faculdade ou trabalhando eu me vi em uma
situação problemática, não tinha ninguém para jogar. Tentei jogar com outras
pessoas, mas de alguma forma não deu lá muito certo.
Para
resolver meu problema passei a estudar uma nova solução, procurei livros de
rpg, pesquisei na internet do colégio, cheguei até a imprimir material de blogs
e guardar em pastas. Aprendi inglês para estudar alguns, e o resto foi por pura
força de vontade.
Quando
me senti pronto comprei três livros, o livro do jogador de D&D revisado
para a edição que, mais tarde, viria a ser chamada de 3.5. O livro dos monstros
da mesma edição e uma aventura pronta, a aventura nem era para mesma edição,
era a Libertação de Valkyria para a edição anterior. Antes que se perguntem, eu
não comprei o livro dos mestres por que ele não havia sido lançado naquele
momento.
A
primeira sessão, a primeira derrota
Li
os livros e chamei meus irmãos para jogar. Foi horrível. Eu poderia culpar a
aventura, dizer que a pior coisa que um iniciante pode jogar é uma aventura
onde tudo se resume a pilhar, matar e destruir por 14 níveis.
Embora
isso seja verdade, não é sobre isso que quero falar. É sobre contar histórias.
E eu não contei uma boa história e, por conta disso, meu irmão nunca mais jogou
RPG, seja comigo seja com mais ninguém. Apesar de achar que minha irmã nunca se
divertiria com o jogo meu irmão certamente seria tomado gosto.
Eu
sei por que eu não me diverti. Como mestre uma das alegrias do jogo é criar, mudar
e me adaptar a coisas diferentes. Dar vazão a um monte de personagens, pensar
em sua história e suas motivações, pensar em por que ele faz o que faz. Na
aventura pronta os "chefes de fase" tinham um complicado histórico,
alguns com mais de meia página, mas não havia nenhuma oportunidade de contar
ela aos jogadores, nenhum momento. Ele era só um encontro aleatório não-aleatório.
Para
os jogadores o jogo foi maçante. Repetitivo, ande do ponto A ao B, jogue o
dado, tire o maior número possível em um resultado aleatório que você não tem
nenhum controle real. As fichas que eu fiz antes tirou deles o prazer de dar
vida ao personagem. No fim era a parte mais chata de qualquer RPG de videogame,
fazer o grid, mas com gráficos piores. Eu entendo por que meu irmão nunca mais
jogou, se isso fosse o RPG eu também não jogaria.
Foi
horrível, mas foi necessário.
Por
que caímos? Para aprender a nos levantar.
A
lição que eu aprendi naquele dia é que mestrar é bem difícil. Seguir linhas é
difícil. Mas recompensador. Aprendi a ouvir meus jogadores, e aprendi que eles
têm que se divertir. A máxima que não tem jeito errado de jogar está errada.
Existe sim jeito errado de jogar, quando alguém não está se divertindo. E eu
não estava, meu irmão não estava, minha irmã também não.
Então,
chegamos ao fim da história. Hora de dar alguma moral.
Esse
não é o caso. Essa história de minha primeira sessão. Eu tive centenas depois
dessa, foram mais de quinze anos depois disso. Quinze anos de histórias para
contar. Uma história de contar histórias.
Mas
eu vou deixar um conselho. Apenas um, siga ou não, eu sei que eu farei.
Aprenda. Não esqueça que falhar é parte do caminho do sucesso. Passamos nossa
vida tentando não falhar. No RPG falhar é sempre o fim, nunca o caminho para
nada. Eu ainda falho, e falho muito, enfrento novos problemas, que exigem novas
soluções.
Quase
sempre que vejo um comentário em um blog, postagem no Facebook, vídeos no
YouTube é sobre como superar os problemas. Eu recomendo que você não supere o
problema, mas sim que o encare, que aprenda com ele.
E
acima de tudo: Divirta-se.
Bom
dia do RPG a todos.