sábado, 24 de fevereiro de 2018

Como estragar a diversão de Alguém - porque RPG não são só acertos



Como estragar a diversão de alguém
- porque RPG não são só acertos -
por Thiago Miani

Aproveitando o momento eu resolvi vir aqui e contar uma história. Talvez seja uma paixão dos RPGistas por contar histórias, talvez seja por que eu aprendi mais com meus erros que com meus acertos.

Tudo começou num tempo muito antigo, antes dos celulares com tela de toque, quando a internet era um mito distante em telas de tubo. O ano era 2001, eu tinha entrado no ensino médio, e tinha muitas horas pra cumprir entre o ensino regular e o técnico.

Nesse meio tempo fiz amigos, bons amigos, Caio, Bean, Luiz e Eduardo. Todos jogavam RPG e me convidaram a jogar com eles, um jogo um pouco antigo, chamado Vampiro - a Máscara. E foram horas muito boas, divertidas, eles chegaram a me falar de outros jogos, mas naquele momento não tinha interesse.

Menos de um ano depois seria a última vez que iria ver a maioria deles. Com eles se formando e seguindo suas vidas para a faculdade ou trabalhando eu me vi em uma situação problemática, não tinha ninguém para jogar. Tentei jogar com outras pessoas, mas de alguma forma não deu lá muito certo.

Para resolver meu problema passei a estudar uma nova solução, procurei livros de rpg, pesquisei na internet do colégio, cheguei até a imprimir material de blogs e guardar em pastas. Aprendi inglês para estudar alguns, e o resto foi por pura força de vontade.

Quando me senti pronto comprei três livros, o livro do jogador de D&D revisado para a edição que, mais tarde, viria a ser chamada de 3.5. O livro dos monstros da mesma edição e uma aventura pronta, a aventura nem era para mesma edição, era a Libertação de Valkyria para a edição anterior. Antes que se perguntem, eu não comprei o livro dos mestres por que ele não havia sido lançado naquele momento.

A primeira sessão, a primeira derrota

Li os livros e chamei meus irmãos para jogar. Foi horrível. Eu poderia culpar a aventura, dizer que a pior coisa que um iniciante pode jogar é uma aventura onde tudo se resume a pilhar, matar e destruir por 14 níveis.

Embora isso seja verdade, não é sobre isso que quero falar. É sobre contar histórias. E eu não contei uma boa história e, por conta disso, meu irmão nunca mais jogou RPG, seja comigo seja com mais ninguém. Apesar de achar que minha irmã nunca se divertiria com o jogo meu irmão certamente seria tomado gosto.

Eu sei por que eu não me diverti. Como mestre uma das alegrias do jogo é criar, mudar e me adaptar a coisas diferentes. Dar vazão a um monte de personagens, pensar em sua história e suas motivações, pensar em por que ele faz o que faz. Na aventura pronta os "chefes de fase" tinham um complicado histórico, alguns com mais de meia página, mas não havia nenhuma oportunidade de contar ela aos jogadores, nenhum momento. Ele era só um encontro aleatório não-aleatório.

Para os jogadores o jogo foi maçante. Repetitivo, ande do ponto A ao B, jogue o dado, tire o maior número possível em um resultado aleatório que você não tem nenhum controle real. As fichas que eu fiz antes tirou deles o prazer de dar vida ao personagem. No fim era a parte mais chata de qualquer RPG de videogame, fazer o grid, mas com gráficos piores. Eu entendo por que meu irmão nunca mais jogou, se isso fosse o RPG eu também não jogaria.

Foi horrível, mas foi necessário.

Por que caímos? Para aprender a nos levantar.

A lição que eu aprendi naquele dia é que mestrar é bem difícil. Seguir linhas é difícil. Mas recompensador. Aprendi a ouvir meus jogadores, e aprendi que eles têm que se divertir. A máxima que não tem jeito errado de jogar está errada. Existe sim jeito errado de jogar, quando alguém não está se divertindo. E eu não estava, meu irmão não estava, minha irmã também não.

Então, chegamos ao fim da história. Hora de dar alguma moral.

Esse não é o caso. Essa história de minha primeira sessão. Eu tive centenas depois dessa, foram mais de quinze anos depois disso. Quinze anos de histórias para contar. Uma história de contar histórias.

Mas eu vou deixar um conselho. Apenas um, siga ou não, eu sei que eu farei. Aprenda. Não esqueça que falhar é parte do caminho do sucesso. Passamos nossa vida tentando não falhar. No RPG falhar é sempre o fim, nunca o caminho para nada. Eu ainda falho, e falho muito, enfrento novos problemas, que exigem novas soluções.

Quase sempre que vejo um comentário em um blog, postagem no Facebook, vídeos no YouTube é sobre como superar os problemas. Eu recomendo que você não supere o problema, mas sim que o encare, que aprenda com ele.

E acima de tudo: Divirta-se.

Bom dia do RPG a todos.

A Confraria completa 10 anos



A Confraria completa 10 anos

A Confraria de Arton está completando 10 anos! Por uma feliz coincidência o Dia Nacional do RPG foi marcado no mesmo dia em que, uma década atrás, o blog iniciou seus trabalhos. Inicialmente ele foi apenas uma válvula de escape. Uma forma de jogar as coisas que criava e que acabava não tendo para quem mostrar naquela etapa da minha vida. Eu tinha contos, fichas e todo o tipo de material que ia se acumulando em meu HD e blocos de anotações e muito pouco tempo para jogar ou me encontrar com pessoas que tinham gostos afins.


Nesta década que passou acumulei milhões de acessos em quase seis mil postagens. Acumulei quase uma centena de capítulos de contos variados, mais de quinhentas fichas de sistemas variados, várias revistas autorais, muito material para ajudar outros rpgistas. Mas o principal foram os amigos que conheci nesse tempo, os rpgistas que me procuraram para ajudar, os jogadores e mestres que agradeceram por meus materiais que os auxiliaram. Pois isso é a Confraria. Isso é o que sempre idealizei para ela e aquilo pela qual ela é reconhecida em muitos meios. O RPG pelo RPG. Ajudar o máximo de rpgistas pelo simples prazer de ver nosso amado hobby desenvolver-se. E acho que tenho conseguido isso.

Obrigado à todos os amigos que nos acompanham. Obrigado aos colaboradores que de coração vieram, partiram ou continuaram conosco – minha filhota Pammela, Julio Oliveira, Bruno Barrero, Tiago Miani, Dominus Are, Franz Andrade. Obrigado à comunidade rpgistica que sempre me aturou e à quem dediquei todo o trabalho que fiz!

Que novas décadas venham, sempre comemorando junto – não por acaso – o Dia Nacional do RPG.