terça-feira, 20 de maio de 2008

Mutantes e Malfeitores

Corra e pegue o seu!!!


Finalmente chegou a nova mania em rpg. A Jambô anunciou nesta segunda o lançamento da versão nacional para o rpg Mutante & Malfeitores.

Depois de alguns meses, desde o anuncio da produção, os fãs estavam enlouquecidos com a espera. Com esse título o amante de rpg tem regras para criar personagens com super poderes no melhor estilo Marvel e DC. Ele possibilita uma infinidade de combinações levando a criatividade aos limites máximos.

Temos de parabenizar a Jambô por acreditar no mercado nacional de rpg nos propiciando títulos novos e fugindo do usual. A política da Jambô de investir em editoras e produções que fogem do eixo da Wyzard of the Coast enriquecem em muito as possibilidades futuras nos deixando na espectativa do que virá à seguir...

Vamos aguardar por ainda nem chegamos no meio do ano!!! Então não espera mais... passe na Jambô ou solicite o seu exemplar pela internet na página deles!!!!

Diário de um Escudeiro - 10

Décimo sétimo dia de Cyd de 1392.

Estou confuso. Queria que meu avô estivesse por aqui para me dar alguma luz. Algo muito errado aconteceu hoje, à não ser que eu tenha “muito” o que aprender.

Fui acordado muito cedo com uma gritaria danada. A estrebaria fica bem ao lado da taverna. Com os primeiros raios de sol acordei escutando os berros do taverneiro chamando – “Lis!!”. Ele repetia como se estivesse procurando por alguém. Desconfiei que fosse a filha dele.

Os gritos continuaram por algum tempo. Neste meio tempo eu fui levantando de minha cama improvisada e arrumando minhas coisas. De repente os gritos cessaram e logo foram seguidos por um choro de mulher com lamentos que eu não conseguia distinguir.

Corri para a taverna pensando se poderíamos ser úteis em qualquer problema que houvesse já que meu senhor é um cavaleiro. Logo que entrei me deparei com meu senhor frente-a-frente com o taverneiro em uma acalorada discussão.

“- Como o senhor teve coragem? Como?” – lamentava a esposa do taverneiro com os olhos encharcados de grossas lágrimas.

“- O que o senhor tem na cabeça?” – gritava o taverneiro que mesmo com um semblante de raiva não conseguia esconder as lágrimas.

Na escada, sentada em seu topo, estava a menina que na outra noite me levara o jantar. Ela estava ainda com roupa de dormir e com o cabelo desgrenhado. Seu olhar perdera o brilho de ontem. Sua bochecha estava vermelha, não de um rubor juvenil, mas decorrente de uma possível agressão. Ela deveria estar ferida de algum modo, pois haviam pequenas manchas de sangue em suas vestes, próximo à cintura. Mas seu olhar foi o que mais me surpreendeu. Parecia um olhar sem vida.

Pensei em correr pela escada para ver se poderia ajuda-la, mas os dois homens discutiam bem no início da escada me obstruindo a passagem.

“- Ora, ora... não fique tão bravo assim meu caro. Pense que lhes concedi um favor honrando sua família com meu ‘mais puro interesse’” – disse meu senhor terminando de arrumar as vestes – “Além do mais isso aconteceria mais cedo ou mais tarde.... melhor comigo do que com qualquer criador de cavalos das redondezas, não acha?”

Não conseguia entender o que estava acontecendo. O quadro formado na minha frente não me fazia sentido. Tentava entender se meu senhor é que tinha feito aquilo.

“- E quanto à honra dela, como fica?” – gritava a senhora esposa do taverneiro.

“- Querem honra maior do que ter sido a pessoa que desabrochou tal flor. Ela agora pode gritar isso aos quatro ventos pois só lhe trará mais status” – meu senhor disse apontando o dedo no nariz do taverneiro – “aliás, o único que tem honra por aqui sou eu. Vocês têm idéia de com quem falam?” Depois de dizer isso Sir Constant se virou para mim pedindo para arrumar os cavalos pois estávamos com pressa.

No momento em que respondi vi o taverneiro puxar das costas uma adaga gritando “- Vais ver o que é honra...”

Mas quase como um raio, e não sei como ele percebeu, a espada de Sir Constant riscou o ar da taverna atingindo o pai de forma certeira. A mão jazia no chão ainda segurando a adaga. Aos poucos o taverneiro foi caindo de joelhos devido à dor. Sua esposa soltou um grito rouco e correu em seu auxílio tentando atingir meu senhor. Mas apenas com um tabefe ele a jogou para longe.

Eu estava paralisado. Era como se o tempo estivesse parado. A menina no topo da escada permanecia inerte como se nada houvesse acontecido.

“- De graças à Khalmyr por só ter perdido uma mão” – sussurrou o cavaleiro antes de virar-se para mim – “Vamos!”

Arrumei os cavalos o mais rápido que pude e os levei para fora da estrebaria. Lá de dentro eu ainda escutava os gritos de dor do pai e os soluços da sua esposa. Sir Constant estava sentado num toco de árvore limpando o sangue de sua espada numa peça de roupa arrancada do varal. Seu semblante era calmo como se nada tivesse acontecido.

Mesmo com todos os acontecidos da manhã ele passou o dia muito alegre e bem disposto. Nem parecia a mesma pessoa. Não parava de falar. Até a noite, agora pouco, ele continuava a conversar comigo sobre tudo um pouco.

Confesso que não escutei quase nada. Apenas as imagens desta manhã ocupam minha mente. E mais e mais perguntas e dúvidas vão se acumulando.

Romance

Por mares nunca antes navegados
PARTE 1 - Um longo prelúdio -
João "o escriba" Brasil





IV. Um encontro

O alerta veio do alto da gávea como um trovão inesperado que precede a tempestade. Todos pararam como numa brincadeira infantil de estátua. Os olhares foram concentrando-se em Listian, que apontava para estibordo, e iam desviando para o horizonte oriental acompanhando a indicação do vigia.

O capitão Joshua Slocun correu para a amurada e num salto colocou-se sobre ela agarrando uma das tantas cordas que prendia as velas frontais. De luneta em mãos passou a vasculhar o horizonte à procura de algo. Tugar, que estava próximo à ponte, subiu as escadas e estreitou os olhos para tentar encontrar algo.

- Onde está? – gritou o capitão para Listian.

- Um pouco mais para nordeste, senhor!

Lá estava ele. Um ponto no horizonte, mas claramente uma embarcação. Ainda era cedo para saber o que era, ou se era amigo ou inimigo. Mas era mais do que o suficiente para fazer o sangue pirata ferver, o sabor do butim chegar à garganta e o frenezi do combate alcançar seus pensamentos. Slocun foi acompanhando o movimento da distante embarcação, no horizonte, rumo norte – para longe do Gaivota. Mas de repente começou a mudar seu curso para oeste. Haviam visto o Gaivota e Slocun não podia dizer que não estava desejando isso.

- Ele mudou de rumo. Vem ao nosso encontro. Senhor Tugar, dê o alerta. Vamos desenferrujar as juntas!

Os gritos da tripulação poderiam chegar aos deuses. Eram gritos de jubilo pela contenda que estava por vir. Só havia três coisas capazes de apaziguar o espírito de uma tripulação à tanto tempo no mar – mulheres, rum e um bom combate, e não necessariamente nesta ordem.

O Gaivota fervilhava. Homens surgiam de todos os lados. Subindo e descendo pelas cordas no preparo do velame. Tugar corria de um lado para outro como um louco jorrando ordens para cada membro da tripulação. Seu contramestre já havia tomado seu posto junto aos canhões, nos dois andares abaixo do convés, e colocava tudo na mais perfeita ordem.

Toda a sorte de espadas, adagas e alguns daqueles estranhos mecanismos de pólvora – os mosquetes - passavam de mão em mão encontrando seu destino em combatentes ansiosos por ação. Muitos arrancavam as camisas ou amarravam os longos cabelos para facilitar o combate. Todos estavam se aprontando para a contenda.

Slocun corria tanto quanto seus subordinados ajudando-os nos preparativos. Listian à todo o instante gritava, da gávea, novas informações sobre o posicionamento e direção do adversário. Kankar, do timão, gritava para seus ajudantes prepararem uma barreira para protege-lo de ataques à distância.

- Senhor! – gritou Listian depois de alguns minutos – vejo a bandeira, é negra como a noite.

- Outros piratas, camaradas – soltou um jubiloso grito aos marujos. Embora não fosse comum gostavam de uma queda-de-braço contra irmão de profissão pelo simples prazer de cantar vantagem nas tavernas de onde aportavam. – Algum símbolo criança?

- Sim, senhor. Uma cabeça de lobo.

A informação deixou Slocun muito curioso. Primeiro uma bandeira com uma marca de pata de animal, algo que nunca houvera escutado até aquele dia. Agora uma nova bandeira com um símbolo animalesco. Mas o que dizer se eles mesmos tinham um animal como nome do navio e talhada em sua proa – uma vistosa gaivota. Slocun não conseguia mais conter sua ansiedade pela hora do combate.

Tugar, que agora já estava um pouco mais clamo, postara-se na proa para ver melhor seu adversário. Qualquer informação seria importante.

- Reunião! – gritou Slocun no centro do convés. Prontamente dirigiram-se para ele o mestre, seu contramestre, o timoneiro, o clérico e o responsável pelos reparos. Antes de qualquer combate todos os responsáveis reuniam-se no convés para preparar a estratégia do combate e receber as últimas ordens.

- Senhor, é uma embarcação que lembra um Clipper. Rápido e fácil de manobrar. Comporta uns trezentos homens em seu total – colocou Tugar – mas de casco mais frágil que o nosso e somente uma linha de canhões de cada lado.

- Ótimo. Sua vantagem é a velocidade – pensou em voz alta Slocun – senhor Rudolph, conseguiria uma saraivada de tiros na primeira passagem, em ordem, na zona da proa?

- É claro que sim.

- Linha de cima na ponte na primeira passada, linha de baixo no leme e no casco, próximo à linha d’água, na segunda passada.

- Sem problema – respondeu o contramestre que de pronto saiu correndo para sua posição sob o convés.

- Kankar, repita o movimento que fizemos para afundar aquela corveta de Deheon no último inverno. Hahahah.... pelo que sei até hoje estão tentando explicar para o imperador bigodudo o que aconteceu!

- Sim, senhor – respondeu Kankar também correndo para seu posto.

- Quero os homens preparados para abordar o navio após a segunda passagem, logo após a segunda saraivada dos canhões, se ele ainda estiver boiando, é claro.

- Todos os outros sabem o que fazer. Em seus postos! Vamos rachar umas cabeças!

Faltava pouco.

o O o

O vento estava à seu favor e Slocun tinha consciência da vantagem que isto lhe conferia. Estavam à mais de vinte e um nós, quase um quarto à mais do que seu adversário. Estava tudo perfeito. O gaivota quase voava sobre as ondas, tamanha sua velocidade. As ondas quebradas, em sua passagem, levantavam grossas nuvens de água que avançavam por sobre o convés deixando todos encharcados.

O Gaivota Prateada era um galeão espetacular. Sua madeira era de um tom escurecido que dava a impressão de ver-se uma sombra pairando sobre a água. Muitos brincavam dizendo que de prateado havia somente o nome, estaria mais para um corvo agourento. Seus três grandes mastros apontavam para os céus sustentando uma infinidade de velas – quadradas e triangulares em tons que iam do branco ao creme claro – e um emaranhado sem fim de cordas criavam um aspecto confuso. Possuía uma série de 30 canhões dispostos em linhas duplas, oito acima e sete abaixo – em cada lado. Era uma máquina de guerra tão perfeita quanto mortífera.

Em todos os locais por onde passava sempre atraia olhares que iam da inveja ao encantamento, do medo ao deslumbre. Em portos comerciais da parte oriental de Arton tais como os de Wynnla, Hongari, Porstmouth ou Bielefeld – entre tantos outros – o nome Gaivota Prateada trazia arrepios e lembranças de inúmeras cargas pilhadas. Também o nome Joshua Slocun não passava desapercebido. O capitão do Gaivota era sinônimo de destreza no uso das velas, percepção apurada no entendimento dos elementos do mar e sobre tudo honra. Embora fosse um pirata seguia um código de honra e exigia que todos os seus subordinados o seguissem. Dele não tinham medo, mas uma sutil admiração.


o O o

Quanto à embarcação adversária Slocun sabia pouco. Como a tudo nesta região desolada e afastada do Reinado. Reconhecia o navio – um Clipper. Já enfrentará muitos e vencerá todos. Mas este era um ambiente que, embora não concordasse, lhe dava poucas informações. Além disso, não reconhecia o adversário. Muito menos conseguia vê-los no convés do navio. A bandeira negra que hasteavam no mastro principal – com aquele símbolo curioso - não lhe dizia nada. Tudo estava estranho. Como tudo naqueles últimos dias. Desejava apenas a luta. Algo que conseguisse reconhecer. Algo que o tranqüilizasse.