Contra Arsenal é um grande livro, uma grande aventura, uma grande possibilidade de muitas emoções. É o tipo de livro que dá prazer em jogar ou mestrar. Como à muito já foi divulgado, nesta aventura lançada pela editora Jambô, o protagonista principal de todo o enredo é nosso adorado e odioso Arsenal, o sumo sacerdote de Keenn. Depois de sua grande peregrinação por Arton, por muitos anos, ele consegue atingir seu objetivo – restaurar o gigantesco autômato Kishin usando as armas mágicas que foi recolhendo.
Agora ele tem tudo pronto para colocar seu real plano em andamento. E o único ponto entre Arsenal e sua vitória é o povo de Arton. Todo aquele que mora no Reinado é a resistência.
Marcelo Cassaro, Leonel Caldela e Guilherme Svaldi nos brindam com uma obra muito bem escrita, clara e de fácil compreensão, mesmo que a história esteja cheia de intriga, mentiras e corrupção.
A mega aventura possui uma série de peculiaridades, mas prefiro começar enaltecendo uma delas. Contra Arsenal vai além da simples aventura. Por seu tamanho gigantesco, assim como os colossos que nos apresenta, ela servirá, por um bom tempo, como também um livro de referência. Para cada ambiente que adentramos nas missões recebemos muitas informações que poderão ser utilizadas em qualquer seção futura. São muitas notas de lateral-de-página acrescendo informações ao cenário, além de todo um Apêndice repleto de personagens e criaturas. Nisso tudo ele mostra-se muito diferente da outra ótima aventura “A Libertação de Valkária”, já que não se mostra preso à um só ambiente.
Um ponto que com toda a certeza foi intencional foi a variedade de missões. Essa variedade veio para suprir todos os gostos. Você tem aquele grupo aficcionado por interpretação? Ou então seu grupo não dispensa uma boa peleja? Ou ainda eles são loucos por masmorras sombrias? Ótimo, em Contra Arsenal haverá uma missão perfeita para cada um deles. Não haverá choro de nenhum tipo de jogador.
O grande evento, que culmina com o grande embate entre os colossos, é antecedido por várias missões. Mas, além disso, muitas outras, incontáveis missões, pode ser criadas e colocadas entre cada uma das partes, sem gerar o menor problema para o andamento da aventura. No próprio livro isso é incentivado. Com um enredo amplo as possibilidades são grandes para mestres criativos criarem novas aventuras suprindo pontas para da aventura. Não duvidaria se começasse a pipocar, pelos blogs de plantão, mini-aventuras nesse sentido.
Outro dos ótimos pontos desta aventura é a completa independência entre suas partes. Cada uma das quatro partes pode ser jogada por grupos de aventureiros diferentes, como se as ações estivessem ocorrendo quase que simultaneamente em diferentes pontos de Arton. A escala de acontecimentos acaba por sugestionar isso mesmo. Mas nada impede do mesmo grupo de aventureiros participar de todas elas, tornando-os verdadeiras lendas ao final da aventura.
Tudo isso nos é dado no texto de Leonel Caldela, que nos acompanha, na aventura, como se estivéssemos degustando um de seus livros ou contos. O texto ora leve ora intenso acompanha o ritmo da aventura deixando-nos ligados em cada nova cena, em cada novo combate, em cada nova revelação.
Os raros problemas (não existe obra cem por cento) residem, até onde pude perceber, em uma ou outra letra faltando aqui e ali, mas nada que prejudique o texto. A aventura é dinâmica e cheia de possibilidades. Não há perda de emoção ou de ritmo entre as partes, mesmo sendo de diferentes formas – espionagem, combate e outros.
Este, que é o último título de Tormenta lançado no atual molde (vem aí o OGL), foi o verdadeiro fechamento com chave de ouro de uma década de sucesso e emoção para o mundo rpgístico brasileiro. Foi um fechamento grandioso como os acontecimentos que abalaram o Reinado. Foi um fechamento digno de quem prepara um novo molde para o maior cenário de RPG do Brasil.
NOTA: Não sou muito afeito a dar nota para livros do tipo aventuras, mas essa merece, por todos os elementos que apresentei até aqui um honroso dez!
ADVERTÊNCIA: Se você deseja jogar como um dos personagens eu advirto: não leia o livro antes. Toda a emoção está entregue ao desconhecimento do que ocorrerá adiante, em cada uma das partes. Se você é um mestre que pretende aplicar esta aventura ao seu grupo eu aconselho: leia todo o livro (mais de uma vez inclusive) para facilitar na boa aplicação de tudo o que terá em mãos.