segunda-feira, 3 de julho de 2023

Distopia RPG – a celebração das possibilidades infinitas

Distopia RPG
– a celebração das possibilidades infinitas -

 

Foi anunciada pela editora Tria, na última edição do Diversão Offline, sua lista de lançamentos para os próximos meses. Dentre eles havia uma surpresa escondida, um RPG autoral da editora, uma produção nacional que estava no forno a algum tempo e que agora começava a ganhar forma real – trata-se de Distopia.

Distopia é, em poucas palavras, uma maravilhosa caixa de ferramentas para criação de aventuras em um cenário multifacetado que abrange quaisquer imagináveis (como no próprio playtest fechado diz) “subgêneros da fantasia científica: ópera espacial, espada e planeta, romance planetário, terra agonizante, cenário apocalíptico e ficção científica transcendental”, isolados ou mesclados, usando por completo as regras de Pathfinder 2e, às quais tive acesso, mas também terá versões para D&D 5e e T20.

Normalmente cada um desses tantos gêneros está em um universo diferente, isolado em seu próprio mundo e com suas regras. Em Distopia temos quase um amálgama. Se alguém pensou em um lutador marcial shaolin com luvas energéticas seguidor do mantra de uma tecnomancia sombria... Isso será possível!

Mas só isso ainda diz pouco sobre o RPG que teremos em mãos em breve.

Distopia é claramente uma ode de amor à uma série de variados gêneros de ficção, mas fugindo daquela típica pegada retrô sessentista, setentista e mesmo oitentista que vemos em outras produções rpgísticas que se propõem ao mesmo e tentam se aproximar do gênero. Nada contra o visual retrô (gosto muito, por sinal), mas Distopia é modernoso na melhor acepção da palavra. Não estamos mais no mundo da futura e visionária IA (HAL 9000 manda lembranças), estamos em um mundo onde as IAs já estão conversando conosco em nosso dia a dia e nos auxiliando. Assim, Distopia nos brinda com um texto moderno, inundado de referências “antigas”, repleto de realidade vívida, mas com aquela remasterizada de qualidade.

Mas vamos por partes, pois tenho muito a dizer com o cuidado de não estragar as surpresas que virão no futuro.

Temos em Distopia um multicenário. Como assim? O cenário foi criado dentro da ideia de multiverso. É uma estrutura que tenta dar corpo para a ideia de variados ambientes conceitualmente diferentes sob um mesmo prisma, mas ainda assim, com linhas delimitadoras claramente perceptíveis, embora tênues. Assim como Marvel e DC nos ensinaram o que eram, Distopia usa e abusa dos conceitos de multiverso, dimensão e plano. É a forma perfeita de conseguir unir tantos elementos de cenários distintos em um único ambiente. Toda a introdução de Distopia nos apresenta uma explanação científica em uma linguagem acessível e simples que vai se encaixando e construindo noções do próprio universo do cenário - o Constelado. Mas por trás de todo o texto há apenas uma única intenção dita ao leitor – este é o nosso cenário de ficção, e te damos de brinde nele todos os cenários que você ama para se divertir e explorar.



Quando vi pela primeira vez a proposta, logo que comecei a ler a obra parcial (ainda em fase de produção), logo uma questão me veio à mente – isso não ficará bagunçado já que teremos tantos cenários com tantas peculiaridades, com tantas ‘regrinhas’ em cada canto? A leitura foi me mostrando que não.

Todos os elementos superlegais dos cenários existentes no imaginário da fantasia científica – John Carter a Patrulha Estelar, de Tropas Estelares a Star Trek – estão presentes em Distopia de uma ou de outra forma. Como eu disse, pode parecer perigoso tantos elementos soltos em um só lugar, mas temos um detalhe muito bem pensado e trabalhado aqui – eles não estão realmente soltos. Embora tenhamos todo o multiverso à disposição com todos os seus elementos ao alcance da mão, pairando sobre tudo está o enredo do cenário – a derrota da VIA (Verdadeira Inteligência artificial) na Grande Revolução que acaba por causar uma série de efeitos em todos os lugares (não vou estragar a graça dando spoiler sobre isso) – que tem por objetivo puxar fios aqui e ali para determinar limites, consequências e efeitos gerais, facilitando o trabalho de enquadrar cada ‘mundo’.

Assim os autores não precisam criar regras para cada cenário em si (o que seria impossível quando a proposta é do cenário ser o próprio multiverso), mas linkar elementos básicos como magia, planos, portais à reguladores específicos. Assim, por exemplo, a magia que existe em um mundo tipo de ópera espacial assim como em um tipo de romance espacial ou qualquer outro, terá especificidades (é claro) em cada um... mas com os limites determinados pelo cenário com apenas uma frase: “quando alguém usa magia relevante, é fortemente impactado por essa superconcentração da essência mágica, de maneira que parte de sua própria existência é danificada (ainda que na maioria dos casos temporariamente)”... Isso é brilhante! O recado é: ‘magia existe no mundo x, y ou z, mas com essa peculiaridade, use-a dentro disso... o resto é magia’.

Então uma outra pergunta me veio à mente: mas como unir esse tanto de mundos de uma forma que não engesse demais as campanhas pelas distâncias ou localização planar? Novamente isso é apresentado e explicado de forma simples – portais. Os Portais serão um elemento presente em todo o cenário. Uma forma de explicar a mobilidade ou a possibilidade de integração de elementos diversos dentro dos cenários. Tão logo comecei a ler sobre eles e sua proposta, me lembrei das manhãs de sábado na minha infância, nos anos setenta, quando ficava vidrado na televisão assistindo ao clássico seriado The Fantastic Journey (1977) – uma incrível referência, tenho certeza. Em Distopia poderemos ir para os mundos listado de sistemas solares próximos e distantes (são 25 mundos em Distopia) ou outros tantos que os mestres quiserem com a facilidade de atravessar simples portais. E antes que eu começasse a questionar as dificuldades dessa abrangência toda, novamente os autores me apresentaram aquela pequena regra delimitante linkada ao cenário do Constelado e sua história que atua nos portais, enquadrando-os ao cenário, assim como fez com magia.



É muita coisa interessante para falar, mas não posso exagerar, então vou me prender em alguns outros pontos que são os que sempre me chamam mais a atenção. Vamos começar com os personagens possíveis.

Um dos chamarizes de todo o cenário que se preze é o quanto ele possibilitará aos jogadores soltarem sua imaginação para criar seu personagem e Pathfinder 2e nos ensinou muito sobre isso. Em Distopia temos coisas interessantes para fazer tanto pela criatividade dos autores quanto pela utilização da mecânica de P2e. São apresentadas sete ancestralidades mais comuns no cenário:
 

- Athaches, seres de três braços super avançados tecnologicamente, que consideram ter a missão de proteger o multiverso;

 

- Bioroides, que foram criados pela VIA como substitutos cibernéticos aperfeiçoados dos humanos;

 

- Brachys, grandes crustáceos bípedes, extremamente adaptáveis e expressivos;

 

- Dorgones, enormes humanoides pacíficos com placas e escamas que contemplam o cosmos;

 

- Svartalfar, elfos sombrios telepatas e que vivem sob a lei do mais forte e mais rico;

 

- Humanos, seres ambiciosos e resilientes com reputação de comportamento efêmero;

 

- Nissthras, humanoides ofídios capazes de trocar de pele para transformar sua aparência.

 
Com essas sete ancestralidades temos um prato cheio de possibilidades para um universo diverso como o do Constelado. Cada uma delas sai do usual em outros RPGs e mostra que a intenção e nos jogar diretamente no diverso. Agora, imagine que além delas temos a possibilidade de miscigenação, ou seja, nossa ancestralidade escolhida inicialmente como base, com traços de outra ancestralidade. As possibilidades são multiplicadas. A variabilidade é a palavra de ordem e abraço isso com amor. No tópico específico para as miscigenações são apresentadas as características de alguém de cada uma dessas heranças e suas peculiaridades.

Tem mais? Sim, tem. Mas é surpresa, por enquanto. Seguindo o esquema ABC de Pathfinder 2e, nas biografias temos uma generosa lista de possibilidades que concedem aquele tempero à nossa construção com uma enorme série de escolhas possíveis, do Apostador ao Clone, do Cultista ao Hacker, ou o meu preferido no momento – o Desistente.



As Classes já são um conceito comum trabalhado em muitos sistemas de várias matrizes diferentes de RPG. Aqui a função é a mesma – mais variabilidade direcionando para uma forma de agir ou interesse. As classes de Distopia são também em número de sete: Agente, mestre em atividades e operações especiais; Comandante, capacidade pessoal de controle de situações; Combativo, a pessoa do campo de batalha; Dimensionista, usa o poder de outras dimensões para moldar a realidade; Primor, usando magia sem apoio da tecnologia; Tecnista, o expert em todo o tipo de tecnologia; e o Tecnomante, mesclando tecnologia e magia. Para quem conhece P2e espere a mesma estruturação e desenvolvimento durante a evolução do personagem com toda aquela variabilidade maravilhosa.

O segundo ponto que muito me atrai em RPG são os equipamentos. Ora, queremos é puxar a espada laser, sacar a pistola de raios e erguer o escudo energético. Como era de se esperar não faltarão opções para proteção ou ataque. Recomendo experimentarem uma Granada Criogênica Maior para... esfriar um pouquinho as coisas em meio ao combate. Teremos tabelas e mais tabelas com descrições e mais descrições. Me lembrou muito o que temos em Starfinder por motivos óbvios da temática, mas com uma pegada autoral de primeira.

Quanto as Perícias, elas são muito da alma de um RPG já que nos dão o grosso do que podemos fazer em mesa. Não se vive só de combate no RPG e em um mundo tão variado quanto o do Constelado, perícias podem ser o que mais vamos usar. Teremos várias perícias novas em Distopia adaptadas para as necessidades do cenário. Muito da nomenclatura me lembrou jogos com temática Cyberpunk, então preparem-se variados tipos de ação tais como hackear, manipular sistemas, ajustar armaduras, pilotar e mais. Como o documento que tenho em mãos ainda é um playtest, acredito não ter tudo ali ainda, mas já me deu uma enorme vontade de invadir um sistema e burlar a segurança.


Finalizando... Eu vi muita coisa boa no pouco que pude ver, pois como eu disse o livro ainda está em produção. Há um enorme potencial em Distopia. Para alguns pode parecer “apenas mais um jogo de opera espacial e afins”, mas não, ele é mais, muito mais. Por ser essa caixa de ferramentas com todo um multiverso à sua disposição ele possibilitará muito mais aos mestres e mesas do que RPGs usuais unitemáticos.

Com o trabalho cuidadoso que eu percebi no material, os autores parecem querer que a história do cenário se desenrole ao largo de todas as campanhas que serão criadas pelos fãs e jogadores, podendo ou não ser relevante ou usadas. Essa história do cenário estará sempre lá, já que seus efeitos são percebidos em vários pontos de todo o multiverso e do que se pode fazer, mas ao mesmo tempo, não precisa ser o foco de cada aventura. Isso é pensar além do próprio cenário. É pensar no desenvolvimento e diversão que os jogadores terão com suas aventuras que, por acaso, estão acontecendo num mundo com essas peculiaridades.

Eu realmente quero muito ler mais disso e conto os dias para ter o livro completo em minhas mãos.

[Observação: o financiamento coletivo de Distopia inicia à 00:01 do dia 04/07.]




Um comentário:

Bruno Mares disse...

Excelente resenha! Fico muito satisfeito de saber que essa prévia do Distopia passou a mensagem que desejamos! Bora ligar os motores!