sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

Spralwrunners, o cyberpunk em Savage Worlds EA - Resenha

 Spralwrunners, o cyberpunk em Savage Worlds EA Resenha

 

No finalzinho do ano passado recebi meu exemplar de Sprawlrunners, da Retropunk Publicações. Eu o aguardava ansiosamente e considero que com sua chegada foi um fechar de ano sensacional. Depois de uma lida rápida (rápida, pois queria ver tudo o que ele tinha para me oferecer) resolvi colocar minhas impressões aqui.

Tenho muitas, inúmeras, paixões. Dentre elas há a temática cyberpunk e o sistema de RPG Savage Worlds (em especial a Edição de Aventura). A temática cyberpunk me acompanha a décadas, desde a primeira obra que li por inteiro ainda nos anos oitenta. Hackers, lutas contra um sistema opressor em um mundo futurista e distópico, viagens no cyberespaço e alta e sombria tecnologia.  De lá para cá fui de Willian Gibson à Marie Lu, com as mais variadas nuances sobre o tema. Por óbvio acabei por experimentar Shadowrunner – que por incrível que pareça conheço muito pouco -, mas foi uma experiência muito prazerosa. De outro lado, Savage Worlds EA arrematou meu coração com sua mecânica simples e enxuta e com algumas das campanhas mais sensacionais que já joguei, tanto pelo cenário quanto pelas mãos criativas e competentes do mestre. Então, era óbvio que eu iria me apaixonar por Sprawlrunners.

Pretendo fazer aqui um apanhado das minhas impressões, sem profundidade em demasia.

Em primeiro lugar, e o mais importante neste suplemento, é termos claro à que ele veio. Como é dito em suas páginas - “Sprawlrunners não traz páginas de equipamentos por personagem. Ele não fornece uma infinidade de implantes ou poderes. Em vez disso, é uma estrutura para te ajudar a contar as histórias desses runners. (...) Sprawlrunners é sobre pessoas e suas histórias, não sobre a acumulação de equipamentos”. Esse é o mote principal aqui e exatamente o que procuro e o que me encanta.

O cenário é exatamente o mesmo ambiente distópico que estamos acostumados a ver em todas as infinidades de produções semelhantes – megacorporações, outras espécies, certo grau de magia, desigualdade, violência e tecnologia. Mas esse cenário não é detalhado à exaustão, como em outras franquias de RPG. Aqui ele é comentado ao longo das passagens do livro, mais como exemplos práticos do que como uma narrativa encadeada e linear. Os autores pressupõem que você sabe como é um cenário dentro da proposta de Sprawlrunners e deixa à cargo do mestre sua estruturação conforme suas preferências – ora, essa é a proposta de tudo em Savage Worlds, não é?

Mas Sprawlrunners não te deixa órfão. Ele te oferece tudo que você precisa, mecanicamente, para criar um personagem típico deste cenário. Embora ainda seja necessário termos o Livro Básico de Savage Worlds EA, em Sprawlrunners temos todos os elementos para criação de personagens neste tipo de cenário – todas as ancestralidades estão lá com detalhes para um mundo cyberpunk. Temos complicações exclusivas para o cenário – que somamos às do Livro Básico -, temos Vantagens Modificadas (para uma adequação ao cenário), Vantagens de Ciberespaço e Vantagens Cibernéticas, essas duas últimas a cereja do bolo de nosso personagem. Temos muita magia também... vai por mim, você vai adorar os totens e servos! O livro nos apresenta três antecedentes Arcanos novos (Adeptos do Chi, Magos e Xamãs) e regras adicionais novas.

Retornando ao começo, o detalhe que é um grande diferencial em Sprawlrunners – o sistema de riqueza abstrato. Ele nos traz uma forma diferente de alocar recursos. Em vez de apenas controlar o dinheiro (que aqui está totalmente em segundo plano e diretamente ligado ao Estilo de Vida - começamos no mais baixo deles), os personagens têm uma seleção de Pontos de Logística que podem ser alocados para equipamentos, com base no que é necessário para uma missão/ação/corrida específica. Os personagens podem alocar esses pontos livremente (um personagem novato começa com 10 pontos, aumentando esse limite à cada estágio adicional) conforme necessário para conseguir recursos uteis (armas, veículos, vestimentas etc) e, após a missão/ação/corrida, eles recebem de volta todos os pontos gastos ao mesmo tempo que devolvem os equipamentos. É como o personagem saber perfeitamente quem procurar para conseguir aquela drone de reconhecimento de última geração (que, por acaso, custa 4 pontos de logística). Os personagens ainda podem, se precisarem ou quiserem, selecionar algum equipamento para que o tenham equipado com eles, mas isso será uma exceção e custará pontos de logística ou a boa vontade do mestre.

Existem ainda os Pontos de Implante. Eles limitam a quantidade de ciberware que um personagem pode ter e representa tanto o dinheiro gasto para obter um determinado implante quanto o estresse recebido para isso – demonstrando a tensão ou a redução de essência que eles causam. Os Pontos de Implantes são definidos pelo padrão de vida do personagem - novamente um mecanismo para evitar o foco no dinheiro no jogo. Meus implantes preferidos já são a Navalha de Mão (2 pontos de implante) e os Aprimoradores de reação (0,5 pontos de implante). Todos estão listados, junto com outros equipamentos próprios para o cenário, em um capítulo exclusivo para equipamentos.

Com os parágrafos anteriores em mente, podemos ir um pouco além na proposta de Spralsrunners. Normalmente um RPG cyberpunk é baseado em conseguir recursos e mais recursos para o que quer que desejamos fazer. Mas aqui o foco não está nos recursos. O que isso significa? Significa que o foco está em outro lugar – no desenvolvimento do personagem. Fazemos 4 rolagens ou escolhemos nossos antecedentes para selecionar nossas Raízes (de onde vieram), Trabalho (o que ele costumava fazer), Revolta (como a vida dele mudou) e Metas (o que impulsiona ele). Este último é o mote do jogo – onde o personagem quer chegar. O jogo está aqui, em como atingir isso e nas relações que se construirão para isso.

Mas isso não seria um RPG cyberpunk se não tivéssemos um capítulo especial sobre o ciberespaço. Nas dez páginas dedicadas à ele, temos regras para cyberdecks, GELOs e todos os elementos clássicos de um cenário cyberpunk com foco na realidade virtual. Há duas regras para hackear. Queima Lenta (andar sorrateiramente através dos Nós do sistema, lutando contra o GELO e vasculhar dados) e Pista Rápida (método rápido para lidar com o ciberespaço em tempo real). Além disso, temos quatro páginas para os Jóqueis – operadores que se conectam à um drone ou veículo através de seu deck... eles são o veículo.

Ufa... tudo isso em quase cem páginas!

Conclusão
São quase cem páginas de uma leitura muita agradável e que no fim nos deixam claro de que não precisamos de quinhentas páginas para termos nossa mesa cyberpunk. Não desmereço outros sistemas ou franquias, mas Spralsrunners cai como uma luva em quem se adaptou à leveza do Savage Worlds EA. Se você já joga SW, a criação ou entrada em uma mesa cyberpunk será tranquila e sem traumas, precisando de poucos ajustes ou orientações aos seus jogadores. Se você ainda não joga SW, pode ter certeza de que o ingresso no sistema, com foco em uma mesa cyberpunk, será indolor e nada assustador. O foco no que os personagens querem e como eles chegarão à isso, em vez de equipamentos, dinheiro e loot, nos presentei com uma visão do gênero focado nos fins e não no acúmulo de recursos por si só. 

Alguns podem sentir falta de um cenário estabelecido e detalhado, mas realmente considero essa liberdade como uma benção que nos livra de um excesso de história pregressa que acaba por dar detalhes demais para coisas que nunca vamos usar. Os mestres estão livres para colocar em voga a sua ideia de cenário e levar adiante as suas histórias.

Assim como Savage Worlds EA, recomendo muito que experimente Spralwrunners. Não se arrependerão!


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