Pathfinder Segunda
Edição
Contos dos Presságios Perdidos:
Ratoeira
A trilha levou, é claro, a uma
taberna.
Observando de um poleiro
escondido do outro lado da rua, Ulthor estudou o local. Era um buraco fétido e
esquálido no distrito Poças de Absalom. Peixes mortos jaziam semi mergulhado na
lama ao redor da entrada, suas cabeças apodrecidas erguendo-se como se
estivessem se esforçando por um último suspiro. Lá dentro, o ar estava denso de
fumaça de folhas e pesh, cerveja derramada e corpos sujos, e o fedor penetrante
e inevitável das marés sujas da Poças. Um pano cinza cobria as janelas sujas e
pendia das vigas, transformando a taberna já escura em uma confusão de sombras.
O Rato de Gonevar havia
afundado no mundo desde a última vez que Ulthor havia seguido a trilha. Ainda é
um homem fraco, propenso a vícios fracos, mas sem o dinheiro ou os amigos para torná-los
mais extravagantemente.
Isso foi bom. Isso tornaria a
apreensão mais fácil.
Lá.
Ulthor viu o chapéu surrado do Rato balançando por um beco enquanto o homem
atravessava os lamaçais. O chapéu era diferente e sua pluma alegre também, mas
Ulthor reconheceu imediatamente sua marca. O Rato havia perdido metade do pé
esquerdo no último encontro.
Sob seu sombrio elmo de ferro,
Ulthor se permitiu o mínimo semblante de um sorriso. Não mais do que o menor
amolecimento nos cantos dos olhos e da boca, a maior mudança que ele já permitiu
em sua expressão habitualmente rochosa. Foi uma longa caçada.
“Prepare-se para se mover”,
disse Ulthor a seus colegas cavaleiros. Ele requisitou três Cavaleiros
Infernais [Hellknights] de Rack como apoio da casa capitular local. A Ordem do
Rack geralmente não possuía a delicadeza que ele preferiria, mas seus cavaleiros
infernais eram tão terrivelmente ferozes e incorruptíveis quanto os da Corrente.
Eles fariam.
“- Termos de apreensão?” -
perguntou um dos cavaleiros de Rack.
Ulthor ficou brevemente
surpreso. Ele não esperava que os cavaleiros infernais se importassem. “O Rato
de Gonevar deve ser levado. De preferência vivo, mas morto é aceitável.
Minimize outras vítimas. Aqueles que não interferem não devem ser prejudicados.”
“E quem o fizer?”
“Será culpado de obstruir uma ação
legal de aplicação da lei.” Ulthor colocou o mandado de prisão na face do seu
escudo para que ele pudesse exibi-lo, mantendo as mãos livres. Pequena chance
de que os clientes de Poças respeitassem a autoridade do mandado, mas uma
pequena chance era melhor que nenhuma. Ele preferia não quebrar crânios
desnecessariamente. “Mais perguntas?”
Não havia nenhuma. Ulthor
despachou dois cavaleiros infernais para vigiar as saídas dos fundos e laterais
da taverna. Quando eles se posicionaram no lugar, ele levou o terceiro para a
porta da frente. Bêbados ociosos, repentinamente e nervosamente sóbrios, escorregaram
para longe da taverna quando os Cavaleiros Infernais se aproximaram.
Ulthor os ignorou. A porta da
taverna já estava aberta, mas ele a chutou de qualquer maneira, quebrando a
madeira castigada pelo tempo contra a parede para anunciar a chegada dos
Cavaleiros Infernais.
“Dunryl de Gonevar!” - Ulthor
gritou no silêncio. “Você é acusado de deserção, assassinato e tráfico de
corrupções profanas. Submeta-se à autoridade legal da Ordem da Corente.”
“Não acredite que eu irei”, o
Rato falou pausadamente. Seu tom era cheio de bravatas, mas mesmo com pouca luz
da taverna, Ulthor podia ver a mandíbula rija e as mãos trêmulas do Rato. Retraído
e com medo. Principalmente medo. “Sou um herói de Andoran, Eu sou.”
“Somos pessoas livres aqui”,
disse um dos outros jogadores de cartas. Ele olhou para Ulthor com olhos hostis
e embaçados de cerveja. “Pessoas livres. Sem medo.”
“Você diz isso, Gammel” -
encorajou o Rato, afastando a própria cadeira discretamente.
Gammel lançou um punho
desajeitado em Ulthor. O cavaleiro infernal aparou seu golpe com um soco curto,
enfiando um punho no rosto do bêbado. O nariz de Gammel trincou sangrentamente
sob o golpe, mas Ulthor conteve sua força. O bêbado não merecia morrer por
isso.
O Rato procurava embaixo da
mesa uma arma escondida. Chutando Gammel e sua cadeira para o lado, Ulthor
derrubou a espada sobre a mesa, esmagando o tampo de madeira, o bastão que o
Rato estava alcançando embaixo dele e o braço do Rato.
“Você é um mentiroso e covarde”,
anunciou o cavaleiro infernal, sua voz trovejando sobre o grito de agonia
ultrajada do Rato. “Você matou seu oficial superior e dois camaradas, roubou um
carregamento de escravos e vendeu todos, exceto os mais jovens e mais
impressionáveis. Aqueles que você lançou para espalhar falsas histórias de seu heroísmo.
Então você começou a ‘resgatar’ escravos para poder colocar textos profanos e
corrupções secretas em suas roupas e mentes, usando-os como mulas involuntárias
para transportar contrabando sujo por Andoran. Esses são seus crimes, Dunryl de
Gonevar.”
A maior parte da recitação de
Ulthor não foi ouvida. Ao ver aço nu, a taberna entrou em caos. Os clientes
jogaram canecas e tigelas pela metade em Ulthor e depois nos Cavaleiros
Infernais de Rack, que atacaram para apoiá-lo. Outros gritaram e zombaram,
menos interessados em defender o Rato de Gonevar do que em cuspir no símbolo de
autoridade mais próximo. A lei não era popular em Poças.
Os Cavaleiros Infernais de Rack
se moveram para parar a briga. Eles eram eficientes, metódicos e brutais. Ossos
quebraram. Ferro bateu em carne desprotegida. As provocações e zombarias se
transformaram em gritos de pânico e gemidos ensanguentados.
Ulthor não deu uma olhada. Ele
estendeu a mão sobre a mesa lascada, ignorando o grito de terror de Gammel e
agarrou o Rato pelo braço quebrado.
“Seu bastardo!” O Rato gritou,
histérico de dor. “Faz cinco anos e você não me deixa em paz! Você quebrou meu
braço!”
“Submeta-se”, disse Ulthor. O
punho dele estava flexionado. Ossos moeram juntos em suas garras.
O Rato balançou à beira de
desmaiar. “Deixe-me ir. Deixe-me ir! Eu posso te dizer... coisas. Todo o tipo
de coisas. Esquemas. Segredos. Os cultos dos gemidos. Os contrabandistas. As
pessoas que me contrataram. Eu posso dá-los para você. Por favor!”
Ulthor relaxou seu aperto
minuciosamente. Atrás deles, a briga havia desaparecido. Somente os gemidos dos
feridos podiam ser ouvidos agora. Os Cavaleiros Infernais se moviam entre os
caídos, dando socos extras àqueles que se recusavam a permanecer no chão.
“Por favor”, o Rato soluçou.
“Eu sou um cavaleiro infernal
da corrente”, Ulthor disse a ele. Ele ficou de pé, arrastando o Rato de pé pelo
braço quebrado. “Era meu dever prendê-lo. Mas se o que você diz é verdade, não
é meu dever prendê-lo. Cultos profanos não fazem parte do mandato em minha
posse.”
De alguma forma, o Rato
conseguiu engolir o grito de dor que lhe subiu pela garganta. Apesar de tudo, a
esperança acendeu em seus olhos. “Então temos um acordo? Você vai me deixar ir?”
“Não”, disse Ulthor. “Eu vou te
enviar para a Ordem da Pira.”
E então ele sorriu, realmente
sorriu, enquanto o Rato de Gonevar gritava.
- Liane Mircel
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