A
palavra castelo tem origem latina (castellum)
que teria como significado direto como “lugar comum”. Daí o termo foi sendo
absorvido por vários troncos lingüísticos e se modificando. No inglês antigo
ele assumiu a forma castle (embora o
inglês comum e moderno seja associado ao termo keep), enquanto em
francês tornou-se chastel ou château e em italiano Castello.
Em
última análise, como já vimos na postagem anterior, o castelo (como o
entendemos) surgiu como uma fortificação para campo de batalha utilizado no
avanço em campo inimigo, o motte and bailey, por ser rápido de construir e mais
fácil ainda de mudá-lo de posição.
Os
castelos, como estamos acostumados em nosso imaginário, surgiram com um
propósito totalmente diferente. Eles eram agora a residência, fortificada, de
um senhor ou nobre. O termo ‘fortificado’ é crucial e deve ser levado em conta,
pois nobres normalmente possuíam uma residência consideravelmente enorme para
ostentar sua posição. Mas essas residências, não fortificadas, recebem o nome
de palácio e até podem ter uma
amurada para proteção, mas a proteção em si não era sua prerrogativa principal.
Da
mesma forma que os motte and bailey surgiram (em forma e função) primeiramente
na França, os castelos como os conhecemos também. Com a queda do império
Carolíngio boa parte do território da atual França ficou fragmentado entre um
grande número de senhores e nobres. Como a intenção desses senhores era
principalmente a defesa de sua residência, o antigo motte and bailey foi se
tornando uma estrutura permanente e muito mais resistente. O castelo tem
associado à si, agora, tanto o caráter militar de defesa, quanto o caráter
simbólico de poder. Este caráter simbólico de poder é fácil de ser entendido
pois para a construção de um castelo destas dimensões e estrutura demandava-se
muitos fundos e mão de obra em larga escala. Usando como base a atual
Inglaterra, após a chegada de Guilherme da Normandia, podemos dizer que o
primeiro castelo neste molde foi o castelo de Durham
Arquitetura
de um castelo
Enquanto
os motte and bailey tinham uma estrutura de madeira fácil de ser entendida e visualizada,
os castelos que vieram depois dele foram aprimorados. Sua concepção principal baseava-se
em dois elementos – localização e defesa concêntrica, regra que foi assumida
após o século XIV de forma quase que universal na Europa, mas principalmente na
Normandia e Inglaterra. Uma idéia errada que temos que corrigir primeiramente é
com relação às dimensões dessas estruturas. Estamos acostumados a ver no cinema
e em seriados, castelos gigantescos com toda uma cidade dentro de seus muros.
Isso é literalmente fantasia. Quase sempre os castelos mediam cerca de 50
metros de cada lado, como no castelo Beaumaris. Lógico que poderiam haver
exceções, mas a grande maioria era de reduzidas dimensões. As comunidades
viviam em vilas ou mesmo cidades do lado de fora dos muros.
Os
castelos começavam primeiramente por sua localização.
Enquanto seus antecessores delimitavam sua posição por uma questão estratégica
ofensiva, os castelos primavam por elementos de defesa e área. Eles precisavam
de uma posição que tivesse vantagem defensiva, ao mesmo tempo que tivesse uma
área que comportasse sua grande estrutura. Mas normalmente o primeiro elemento
acabava por obrigar a adequação do tamanho e forma do castelo. Um exemplo disso
é o castelo de Bamburgh, na costa de Northumberland, na Inglaterra. Outro ótimo
exemplo é o castelo de Conwy, no norte do País de Gales, que teve toda sua
estrutura adaptada à uma elevação rochosa que seria muito vantajosa em sua
defesa.
Castelo Bamburgh |
Castelo Banburgh |
Castelo Conwy |
Quando
não há esse limitante do terreno o castelo pode ser muito mais amplo, como no
caso do castelo de Beaumaris, na ilha de Anglesey, no País de Gales, construído
sobre um pântano. Ele pode ser muito mais simétrico, proporcional e estendido
devido à ampla área plana.
Castelo Beaumaris |
A
defesa concêntrica foi muito adotada
depois da experiência e conhecimento adquirido nas Cruzadas (Castelo Belvoir,
em 1168, na atual Israel), mas muito mais intensamente após o século XIII. Não
chegava a ser uma inovação já que a lógica já era utilizada desde o século V,
em Constantinopla. A defesa concêntrica se baseia em muros distintos e
circundantes, normalmente três, que restringem o acesso a partir do centro,
onde ficavam as estruturas principais, sempre paralelos aos anteriores. Assim
para podermos atingir o centro do castelo, normalmente onde estão a casa do
nobre, quartéis e outros prédios administrativos ou de recursos, tínhamos que
atravessar esses três muros. Eles poderiam ser muito próximos e sem nenhuma
outra estrutura construída entre eles à não ser militares, ou poderiam possuir
construções e moradias. O tamanho acabava por determinar essas possibilidades.
Este exemplo pode ser facilmente visto nos castelos de Dover (1200), Caerphilly
(1270) e Beaumaris (1282). O castelo de Caerphilly é considerado como o divisor
de águas, quando a engenharia dos castelos começou a ser pensada à partir da
defesa concêntrica.
Planta do Castelo Beaumaris |
Castelo Dover |
Castelo Caerphilly |
A
lógica da defesa concêntrica tinha um elemento à mais que culminou com a maior
utilização e evolução da arquearia. A arquearia ficava sobre os muros para um
maior alcance de seus disparos. Quando acontecia de um desses espaços entre os
muros concêntricos fosse alcançado por tropas inimigas, os arqueiros do
primeiro muro poderia atirar para dentro juntamente com os arqueiros do segundo
muro concêntrico. Isso era uma enorme vantagem. Qualquer um que atacasse um
castelo com defesa concêntrica correria um enorme risco: ter que atravessar três
linhas de muro, enfrentar os arqueiros e ter o tempo contra si, já que a demora
possibilitaria a chegada de ajuda. Mas ao mesmo também haviam desvantagens com
este estilo de designe.
A
primeira desvantagem era o custo. Se construir um castelo era muito caro,
construir o equivalente à três castelos era uma exorbitância. Dados históricos
dizem que a construção do castelo de Caernafon, no País de Gales, custou £ 22
mil libras (nada menos do que 35 milhões de libras em valores de hoje), o
tesouro arrecadado em todo um ano de tributação.
Outro
elemento desvantajoso era o tempo. A construção de um castelo concêntrico
levava anos e a velocidade de construção é proporcional à quantidade de mão de
obra disponível, mas durante a Idade Média sabemos que a população não era em
tão grande quantidade, muito menos concentrada. Além disso, qualquer pessoa
construindo um castelo era uma pessoa à menos produzindo alimento que teria de
ser estocado para o inverno.
Tudo
nos castelos era pensado para a defesa. Dois elementos que completava essa
estrutura concêntrica eram as torres, o portão e o fosso. As torres em formato
circular (exceção com o castelo de Caernafon) eram, além de um reforço
estrutural, uma forma de ampliar o alcance dos ataques da arquearia. Essas
torres normalmente eram em número de quatro e ficavam nos vértices dos muros
externos, mas isso não era uma regra. Elas poderiam ser em maior número e
também se encontrarem nos muros internos.
O
portão (ou Grande Portão) era normalmente uma estrutura retangular separada e
independente do muro, com torres próprias e localizado no centro de um dos
muros externos. Em regra haviam dois desses portões em posições opostas por uma
questão de estratégia e logística. Isso só não acontecia quando havia uma limitação
do terreno.
O
fosso poderia ser um simples buraco vazio muito profundo, ou poderia estar
cheio de água ou ainda com estacas. A função era sempre a mesma – dificultar a
aproximação de tropas inimigas no muro.
Termos
Adarve
(chemin de ronde): é o caminho de circulação por sobre o muro. Normalmente ele
é protegido pela ameia e pelo merlão.
Ameia
(Crenel): é a estrutura no topo do muro para possibilitar que um soldado possa
ver à longa distância de forma protegida. Nada mais é do que uma mureta.
Normalmente está associado à um Merlão.
Barbacã
(Barbican): é um pequeno muro, menor em altura, que visa proteger o acesso ao
fosso e dificultar ainda mais a proximidade.
Baluarte
(Bastion): é uma proeminência de uma extremidade do muro aumentando a área de
ataque e defesa para fora da zona do castelo. Pode ser próximo ou afastado do
muro, tanto em forma circular como pentagonal. Seu uso em castelo é bem antigo,
já tendo sido visto em castelos de 1066, na Normadia.
Cadafalso
(Hoarding): é uma estrutura provisória feita de madeira e construída sobre o
muro ou torre, propiciando proteção contra as condições do clima e maior
proteção. Normalmente são construídas em momentos de conflito.
Embrasure:
é uma abertura no centro de um merlão para possibilitar o disparo de flechas e
setas.
Guarita
(Bartizan): é uma pequena torre colocada de forma saliente na parte externa do
muro, com seteiras, para utilização de vigias.
Mata-cães
(Machicolation): é uma abertura no piso do topo de um muro ou torre, saliente
para além da base, que permite aos defensores atacarem lançando objetos ou
flechas de forma perpendicular ao solo.
Merlão
(Merlon): é o denteamento junto a ameia, para conferir mais proteção à quem
estiver sobre o muro.
Poterna
(Postern): pequena porta camuflada no muro que permite entrada e saída do
castelo sem chamar a atenção das tropas agressoras.
Rastrilho
(Portcullis): é uma grade pesada de ferro que fica normalmente entre a ponte
levadiça e o portão principal de um castelo. Ele fica depositado dentro do muro
e pode ser rapidamente usado para defesa, já que se valia de contra-pesos.
Seteira
(arrowslit): é um rebaixamento ou abertura no muro que possibilita o disparo de
flechas ou setas.
3 comentários:
Fantástico! Adorei saber cada detalhe a respeito da origem, construção, estratégia, e, claro, a história por trás do que conhecemos hoje. Parabéns e obrigada pelas informações.
Obrigadão pelo elogio, tão logo eu tenha possibilidade pretendo continuar com o material!
Uou!... Está muito bom!
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