Oitavo dia de Cyd de 1392.
Até o início desta tarde eu continuei no quarto. Arrisquei apenas algumas espiadelas, mas não consegui ver muita coisa... só corredores mal iluminados. No almoço recebi a visita de rapaz de ontem, acompanhado da menina que me trouxera o jantar.
Até o início desta tarde eu continuei no quarto. Arrisquei apenas algumas espiadelas, mas não consegui ver muita coisa... só corredores mal iluminados. No almoço recebi a visita de rapaz de ontem, acompanhado da menina que me trouxera o jantar.
“Como está? Meu senhor disse que mais tarde terá contigo”. A menina, que também estava junto, segurava uma bandeja com carne, pão e algo que parecia uma mistura de legumes cozidos. Era um verdadeiro banquete para alguém como eu. Descobri que seus nomes eram Nick e Tuale. Eram irmãos e nasceram naquela casa. Seus pais eram empregados ali desde que nasceram também. Isso é muito mais comum do que se imagina em casas de famílias ricas. Conversamos sobre amenidades enquanto eu comia minha refeição. Parecia que eles estavam mais interessados em como era a vida na minha pequena vila do que eu sobre a vida numa capital como aquela.
o O o
Já era quase meio da tarde quando fui chamado pelo criado mais velho. Era uma espécie de chefe dos criados. Seu rosto não transmitia qualquer emoção. Enquanto caminhava ao meu lado realizava movimentos medidos e firmes com um olhar frio e inanimado. Suas únicas palavras foram algumas orientações estranhas – “Alguém como tu não deve estar acostumado a lidar com pessoas de estirpe apurada. Comporte-se. Só fale quando ordenado. Não olhe diretamente para meu Senhor. Não sorria... é de mal tom”. Eram normas sem razão ao meu ver. Tudo o que eu queria era olhar um cavaleiro, escrutinar cada movimento seu. Queria fazer mil perguntas.
Ele estava sentado numa grande cadeira de madeira negra e veludo vermelho, bem no centro de uma grande sala. Era um ambiente amplo mas escuro. Todo o interior era revestido com madeira escurecida. Amplas janelas, muito altas, entrecortavam as paredes, mas as pesadas cortinas mantinham uma penunbra que dava ares extremamente formal. A decoração deveria ser composta de milhares de peças das mais variadas origens. Eram armaduras, escudos, espadas e lanças, bandeiras, animais empalhados e muitas outras coisas que nem imagino o que sejam.
Ele estava sentado atrás de uma grande mesa negra vestido de forma simples. Á sua frente muitos papéis. Fiquei em pé, em frente à mesa, por alguns instantes até que dissesse algo – “Estás pronto para as responsabilidades de ser um escudeiro?” Era uma pergunta direta que me pegou desprevenido.
“É uma grande responsabilidade ser o serviçal de um cavaleiro como eu. Muitos dos cavaleiros seguidores de Khalmyr não usam escudeiros. Preferem passar a vida aventurando-se em grupos bizarros e insólitos. Preferem preparar sua própria comida e polir sua própria armadura. São estranhos mesmo, são de uma outra geração, não negam a origem humilde da maioria deles. Estamos em novos tempos e vivemos um novo momento na ordem. Estás preparado para dar a vida pelo seu senhor?”
Tudo o que consegui foi balançar a cabeça afirmativamente. Estava sendo um momento mágico.
“Ótimo! Temos de estar em Bielefeld para a Cerimônia de Admissão da Ordem da Luz. Saindo em dois dias poderemos ir calmamente e chegar lá em pouco mais de trinta dias. Lá terá seu treinamento. Enquanto isso serei mais condescendente contigo. Mas espero que aprenda rápido e que guarde cada detalhe. Aqui está uma lista de tudo o que vamos precisar para nossa jornada. Aprenda pois nas próximas vezes será de tua inteira responsabilidade. Aqui está o dinheiro que precisará. Três moedas são tuas e podes fazer com elas o que quiser. Leve Nick contigo para poder trazer tudo. Daqui a dois dias, nos primeiros raios do sol, sairemos. Quero tudo pronto. Agora vá!”
Confesso que foi mais frio do que esperava depois das histórias que meu avô contou. Mas as primeiras impressões podem ser falhas. Imaginara algo um pouco diferente, mas ele é uma pessoa muito ocupada. Quando formos mais próximos teremos uma relação bem melhor.... tenho certeza.
Ao sair Nick já estava à minha espera do lado de fora do enorme salão. “Hoje já não adianta sairmos à procura de nada. Mas amanhã teremos tempo de sobra. Meu conselho é de que vá para o seu quarto e descanse até amanhã.” Assim fiquei até a hora de dormir. Jantei e me recolhi ao sono.
Nenhum comentário:
Postar um comentário