quinta-feira, 26 de junho de 2008

Micro-conto

Avançamos como a noite, somos rápidos como o vento, letais como a peste, "O flagelo de Glorien"...

A cidade festejava barulhenta, algum político importante deveria ter arranjado um casamento vantajoso para um de seus filhos. Costumes humanos. Que idiotas. Por isso dariam uma festa. Nada mais propício.

Nas altas muralhas poucos guardas de prontidão. Metade reclamava rabugenta por não poder entornar nem uma gota sequer de hidromel, a outra devia estar quase dormindo. Pederastas. Sem disciplina, sem confiança sem amor próprio. Camponeses frágeis festejam pensando estarem protegidos por seus pequenos lideres. Nós não sofremos desse problema, não temos lideres. Servimos “O Líder”. Não nos escondemos atrás de muralhas. Nós somos nossa própria muralha.

O portão era guarnecido apenas por quatro homens. Éramos mais de duzentos, todos loucos por sangue, obcecados por violência e sedentos pelo valioso butim. Ouro, jóias, mulheres e boa comida. Tudo isso constituindo uma grande oferta tentadora. Tudo isso guardado por apenas quatro homens.

Tenebra hoje estava escondida. Era o primeiro dia de lua nova. Nossas capas de pele negra, faziam com que avançássemos sem sermos percebidos. A campina que circulava a cidade era totalmente desprovida de abrigos. Olhos atentos teriam nos visto há tempos. Éramos simplesmente muitos. Aqueles soldados não estavam preparados, e soldados despreparados, para nós, eram soldados sem vida.

Com um comando de nosso capitão, minha tropa avançou. Rastejávamos escondidos agora pelas bênçãos de Ragnar. Nos aproximamos até pouco menos de dez metros. Outro sinal. Todos levantamos de arco na mão e flecha em punho. Apesar de mediana, a cidade era protegida por um muro de quatro metros de altura.

A festa corria animada, música e bravatas eram ouvidas aos montes. O capitão ergueu o braço direito e vagarosamente o cruzou frente ao pescoço, simulando uma decapitação.

Começara.

Os arqueiros retesaram seus arcos e duas dezenas de flechas com penas negras voaram. Cada vigia sem perceber, acabara ficando extremamente exposto. Todas as flechas atingiram seus alvos. Nenhum dos quatro continuou vivo para dar o sinal. Uma decisão sábia. Estar vivo naquela cidade, dali pra frente seria algo realmente doloroso. Avançamos novamente, os vinte principais guerreiros da tropa corriam em um ritmo alucinado. Nosso capitão carregava uma grande foice de lamina curva e muitas batalhas. Chegamos aos grossos muros de pedra, lançamos nossos ganchos. Escalamos rapidamente.

O muro não passava de um simples obstáculo. Em alguns minutos todos estávamos em cima da amurada. Rumamos rapidamente ao portão. Outros soldados o guardavam. Um combate rápido transcorreu. Cinco mortos, nenhum do nosso lado. O capitão ficara na parte de cima. Nós trabalhamos rapidamente. Retiramos a grossa viga de madeira, e o portão de carvalho foi aberto com estralar.

De cima do muro, uma voz trovejou sobre a noite quente:

"-RAGNAR!"

Uma onda hobgoblin se pôs em movimento. A planície parecia ganhar vida. Um alarme soou. Os homens tentavam formar uma resistência apressada. Fracos. O exército chegava ao portão. Bocas espumando de ansiedade. Músculos inchados pela tensão. Espadas, clavas, machados, e maças prontos para o massacre. Rugidos malignos uniam-se a urros macabros avisando à cidade o que começava a acontecer.

Mulheres gritavam, crianças choravam, clérigos rezavam. Os humanos se consideravam reis, e nisso podiam ser comparados aos elfos. E estes cederam sob o peso do punho de Ragnar. Estávamos aqui para avisá-los. Tínhamos chegado. Iriam perecer.

Inferno.

Os que resistissem seriam dilacerados. Os que não, teriam uma morte menos pior. Focos de incêndio surgiam cada vez mais númerosos. A cidade ruiria. E sobre as chamas marcharíamos.

Avançamos como a noite, somos rápidos como o vento, letais como a peste - O flagelo de Glorien. Somos a Aliança Negra.

NOTA: Esse é um micro-conto do Júlio Oliveira (Julioz no Fórum Jambô). Este pequeno conto foi preparado por ele para o PAN (Projeto Aliança Negra) que está sendo idealizado por um grupo de membros do Fórum. O Júlio, com esse trabalho, inaugura sua participação como colaborador da Confraria de Arton. Isso me deixa muito feliz pois mostra que um trabalho sério e honesto sempre arregimenta gente boa para colaborar. Essa colaboração também irá nos trazer novas possibilidades de matérias e assuntos.... Só temos o que comemorar!!

2 comentários:

Anônimo disse...

Ótimo conto, parabéns

João Paulo "Moreau do Bode" disse...

Muito bom.
E me deixa com mais vontade ainda de por as mãos no
PAN