sexta-feira, 18 de julho de 2008

Diário de um Escudeiro - 13

Vigésimo dia de Cyd de 1392.

Amanheceu chovendo o dia. E passou assim todo o dia. Mais ou menos como meu espírito. Meu rosto ainda está dolorido, muito embora minha alma esteja em paz. Esperava algo diferente desta jornada. Esperava que a aventura se personificasse em meus passos, assim como fora com meu avô e suas impressionantes histórias. Mas a realidade é muito mais dura e fria que o sonho.

Atravessamos as fronteiras de Namalkah ainda antes do início da noite. Desde nossa partida Suth Eleghar meu Senhor ficara quase mudo. Seu rosto, com olheiras inchadas, mostrava os efeitos de uma forte ressaca. Apenas próximo da fronteira é que trocamos algumas palavras. Suas ordens era sobre os costumes da terra à qual adentrávamos.

“- Rapaz, me escute com muita atenção. Estamos entrando em uma terra muito perigosa para aqueles que não sabem seu lugar” – professou ele.

“- Como assim senhor?”

“- Estamos entrando em terras de Yuden. Terras de guerreiros antes do que de homens. Terras onde a família nada mais é do que reprodução de uma tenda militar. Terras onde cada um sabe seu lugar, suas obrigações e seus deveres.”

“- Sim senhor.”

“- Não espere receber qualquer tratamento diferenciado por ser um estrangeiro, muito menos por servir à um cavaleiro de Khalmyr. Aqui o deus é outro e ele não aceita fraquezas.”

“- Como assim senhor?”

“- Keenn. Keenn é o deus da Guerra. A única virtude para ele é a superação, a força. A lei da espada na mão do mais forte e apto.”

Eu fui escutando com atenção. Meu avô poucas vezes falou sobre estas terras. Seus comentários restringiam-se a como eles eram rudes ou pouco amistosos.

“- O mais importante é saber o seu lugar, rapaz. Não fale sem ser pedido. Lá você é nada... não se esqueça disso. Mesmo as crianças têm a empáfia típica dos yudeanos. Você é lixo para eles”.

“- Certo”.

“- Se não se portar assim logo estará enfrentando seu primeiro duelo por lá. E posso assegurar que não é nada agradável ter um yudeano como oponente.”

Não sei bem o que esperar dos yudeanos. Logo depois de atravessarmos as fronteiras dava para sentir que estávamos sendo observados. Cada passo que dávamos eram cuidadosamente vigiados. Perto da noite, quando já procurávamos um lugar para montar acampamento, eles deixaram-se ser vistos como que avisando que estavam presentes.Dá um calafrio saber que estão por aqui, enquanto escrevo estas palavras. Aperto o medalhão em meu peito para ver se me sinto mais confortado, mas não adianta. Esta terra é fria como a alma de um guerreiro sem coração. Amanhã deverei conhecer os primeiros habitantes desta terra.

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