quinta-feira, 30 de abril de 2009

Conto

O teste
(Um conto baseado em Vampiro, a Máscara)
João Eugênio Córdova Brasil


A música ecoava em seus ouvidos pelos fones de um mp3 player de última geração. As batidas fortes e compassadas de um rock setentista destoavam daquela noite fria e ventosa do inverno de Porto Alegre. Algumas gotas de chuva precipitavam sobre ele, mas de forma sutil. Se ainda fosse um humano tinha certeza de que estaria sentindo todo aquele frio. Mas não o era mais.

Vinha caminhando lentamente por uma das escuras ruas de uma vila pobre da zona leste da cidade. Não via ninguém, mas sabia que era observado de várias maneiras, por várias pessoas, com várias intenções.

O chão lamacento e sujo parecia querer impelir seu coturno para longe ou engoli-lo de vez. O ar, cada vez mais espesso, denotava uma fina camada de neblina – cerração, como costumavam chamar por estas bandas – que deixaria a respiração pesada, se ainda respirasse.

Algumas lembranças recorrentes invadiam sua mente. Lembranças de pouco mais de três meses. Lembranças de seu novo nascimento. Mais um. Não sabia quantos mais teria ou quantos já havia tido.

Não fazia muito que havia sido acordado, se este for o termo correto. Havia passado bons trinta anos na inconsciência de um torpor forçado poucos dias após ser arrancado de sua vida e jogado nesta não-vida. Mal tinha tomado noção do que realmente era, ou havia sido transformado, quando um pequeno grupo de caçadores paulistas se valeram de sua inexperiência e resolveram se divertir enterrando-o, empalado, no piso de uma construção em plena avenida Paulista.

Mas nenhum de seus algozes imaginava que reformas poderiam descobrir seu sepulcro forçado. Nem contaram que a curiosidade do mestre de obras lhe custasse a vida para matar a fome de sangue daquela criatura adormecida, que já tinha tantos anos.

Com a pouca informação, ao ser desperto, que tinha sobre sua condição, e daquilo que poderia matá-lo, tentou achar iguais por uma questão de pura sobrevivência. Com o tempo acabou vindo para em Porto Alegre, extremo sul do Brasil.

O som de um ranger de dobradiças velhas lhe trouxe de volta a realidade. Uma criança havia saído de uma das infelizes malocas sem lhe dar atenção. Os olhos embotados e o semblante de zumbi lhe pareciam claros – crack. Tinha certeza, com aquela visão, de que coisas piores que a não-vida existiam. E para isso que estava ali. Essa era sua tarefa. A primeira tarefa e o primeiro teste.

Dois meses atrás, após encontrar seus iguais paulistas e de ser apresentado ao Príncipe foi enviado para o sul como uma demonstração de boa vontade com os irmãos portoalegrenses em sua luta contra inimigos ocultos que tentavam invadir essa região. Era agora um membro do principado de Porto Alegre.

Sua chegada foi recebida com frieza pelo Príncipe que não escondeu – nem mesmo dele – que esperava mais do que “apenas alguns neófitos que mal conheciam seus poderes”, como ele mesmo disse. Mas de qualquer forma estavam aqui e ele não estava disposto a perder qualquer ajuda que tivesse. Mas ainda assim tinha de passar num teste para ser aceito. Este era o seu teste.

Mais uma centena de metros caminhando lentamente e estava quase no limite da vila. Um pouco mais adiante, pela rua, e chegaria à uma zona de mato em total breu. Ele deveria entrar na vila, encontrar a boca de fumo (ainda tentava se acostumar com a linguagem desta época), matar a resistência e queimar o lugar. Tudo isso fazendo parecer que era uma briga de quadrilhas. Por isso mesmo tentou, da melhor forma possível, andar pelas sombras para não chamar a atenção.

Não parecia muito difícil depois das “aulas” que teve com alguns da sua espécie e do seu clã (se é que isto significava algo) embora não fosse a característica principal de seus irmãos. Aos poucos ia tendo noção de suas capacidades e estava adorando isso.

O Príncipe disse que ele seria avaliado e que na noite, muitos eram seus olhos. Naquela hora ele não havia compreendido muito bem, mas agora, tinha uma vaga noção. Por mais de uma vez um ou outro membro se deixou ser visto por ele para saber que estavam por perto. Não sabia se isso era bom ou ruim. Mas ia continuar de qualquer maneira.

Estava chegando a hora da ação. A última casa daquela suja rua era maior e mais bem iluminada. Dela também vinha uma música muito alta de qualidade duvidosa, embora soubesse que nesses anos em que estivera fora da realidade muita coisa havia mudado.

Desde longe via a esquina e dava para ter a noção de que a vigia era intensa. Homens armados pesadamente, em duplas, não muitos, mas o suficiente para ser um estorvo. Passar por eles, embriagados ou entorpecidos, não poderia ser chamado de desafio ou teste. Mas sabia que nenhum deles poderia estar vivo ao raiar do dia. Seu maior inimigo era a quantidade deles.

Não estava desprevenido. Tinha algum armamento também. Não estava em condições de contar apenas com seus poderes que mal sabia como usar. Verificou as pistolas, com silenciadores, em cada um dos suportes abaixo de cada braço. Nos bolsos internos vários pentes sobressalentes suficientes. Tinha duas facas também, uma na cintura e outra numa bainha em uma das pernas. Era tudo o que precisaria hoje, pensava.

Vamos começar pelo início”­ – pensou rindo da própria redundância e desligando a música.

Saiu da escuridão propositalmente e encostou-se no muro de uma casa qualquer, na rua transversal à última quadra da rua que levava à casa que era seu alvo. Os dois primeiros vigias levaram um susto ao perceberem a figura fumando a certa distância. Mas de uma forma prepotente comum aos de sua posição caminharam rindo com as armas em punho como quem expõe troféus ou demonstra masculinidade.

“- Lugar errado me’rmão!” – disse um deles parando na sua frente.

“- Olha só o tipinho!” – disse outro dando uma risadinha de escárnio enquanto tocava com a ponta de seu fuzil no ombro do cainita – “que cê ta querendo?”

“- Quero cumprir uma tarefa” – pausa – “e levar todos vocês juntos, seus bosta!”

Os dois mal ouviram aquelas palavras e a figura já havia desaparecido de sua frente. Sentiram apenas uma brisa passar por eles. No outro segundo um deles estava erguido do chão, com o pescoço preso pelo braço do vampiro, enquanto o outro tinha uma das pistolas encostadas em sua nuca.

“- Vamos começar novamente” – disse o vampiro – “quero saber quantos tem lá dentro”.

“- Vai à merda, cara, tu tá ferrado”­ – disse aquele com a arma na nuca.

“- Resposta errada” - e com um movimento fácil provocou um estala no pescoço do vigia que tinha nos braços deixando o corpo dele escorregar sem vida ao chão.

“- Dez, dez, tem dez lá, cara!!!” – respondeu apavorado o que ainda esta vivo.

“- Resposta certa. Tem direito ao prêmio. Morte rápida”
- o gatilho foi puxado e um estalo abafado pelo silenciador demonstrou que uma bala havia atravessado o crânio do infeliz.

O cheiro do sangue espalhado pelo muro e pelo chão, inebriava seus pensamentos. Por sorte, e conselho de outros, havia se alimentado muito bem antes da ação – os olhos vermelho-sangue denunciavam sua saciedade. Conseguiu se conter sem esforço demasiado e partiu para a esquina.

Já dera o primeiro passo e não poderia voltar atrás. Sabia disto e estava adorando. Chegou à esquina silenciosamente e, protegido pelo muro, deu uma rápida olhada para o final da rua. Não tinha, próximo, vigia algum visível. Perto da casa do tráfico haviam pelo menos três siluetas como que conversando. Achou suspeito e resolveu improvisar.

Subiu com um salto no telhado da casa da esquina e dali para o poste de madeira. Procurava uma melhor visão e conseguiu. Dois terrenos a frente, na calçada oposta à casa, no meio da escuridão, conseguiu discernir duas pontas luminescentes. Provavelmente eram dois tranqüilos traficantes fumando, encobertos pelo muro de outra casa.

“Vamos nos divertir então” – pensou saltando para o chão e caindo como um gato silencioso projetando-se para frente num pulo e caindo sobre o estreito muro, com incrível perícia e equilíbrio. Dois passos largos e num novo salto já estava sobre os capangas desavisados. Em pleno salto ele retirou a faca da cintura enquanto descia, em seguida, sobre um dos seus inimigos com os coturnos em seu peito. Num movimento ele agarrou o pescoço do outro e realizou um corte fundo com sua faca indo da cintura ao meio do peito. O interior do infeliz escorreu para o chão em silêncio. O outro, desacordado, nem percebeu quando teve o pescoço cortado de ponta a ponta.

De suas costas, vindo do meio da escuridão, ele ouve um leve suspiro congratulando-lhe seu bom trabalho até aquele momento – “eles disseram que iam ficar de olho” – pensou – “não mentiram”.

Qualquer som da noite era encoberto pelo uivo do vento oeste. Isso lhe conferia ainda a vantagem da surpresa. Era uma vantagem considerável para este tipo de trabalho contra aquele tipo de gente. Quanto maior o silêncio, mais qualificado seu trabalho seria.

Daquele ponto escuro, entre duas casas, quase conseguia enxergar para dentro das janelas do ambiente festivo que era aquela casa de tráfico. Mas conseguia, agora, delimitar o perigo daquelas três formas que estavam na frente da casa. Os três estavam encostados no muro conversando e gargalhando. Muitas latas vazias de cerveja denunciavam o estado possível deles. Mesmo assim seria arriscado.

“Vamos mudar a estratégia” – pensa ele enquanto recoloca a faca em sua bainha e retorna para a esquina, em meio à escuridão. Sua maior chance, considerou ele, seria entrar pelos fundos ou por cima. Para isso ele começou a passar pelos pátios das casas vizinhas facilmente saltando por cima dos muros.

Quando chegou ao muro de seu alvo, com pouco mais de dois metros, teve a noção clara do antro de perversidade e luxuria. Sem saber como, os odores e sons que vinham de lá lhe traziam imagens mentais. Sangue, suor, álcool e fluidos corporais. Tudo aquilo criava um amálgama que o irritava profundamente. E nem ele sabia bem porque.

A música bem cadenciada era o que ele ouvira chamarem de rap, ou algo parecido com isso. Este som estranho, para ele, seria um importante aliado. Sua entrada seria facilmente camuflada.

Saltando para cima do muro ele, com mais um impulso, caiu suavemente dentro da sacada do segundo andar. Uma janela alta entreaberta deixava escapar parca luminosidade. Espreitando a fresta das venezianas ele viu um casal em momento íntimo, um tanto violento para seus padrões, mas igualmente íntimo. Era um aposento pequeno. Do lado oposto à janela havia uma porta fechada. Ao lado de uma cadeira, próximo das roupas espalhadas pelo chão, algumas armas.

“É fácil demais!” – pensou ele.

Valendo-se do som estrondoso da música ele abriu um dos lados da janela e entrou. Não foi percebido pelo despreocupado casal que, freneticamente, mantinha-se em seu ato. Ele ficou parado alguns instantes apreciando a cena e tentando lembrar-se da última vez que pode tirar proveito de tal préstimo. Mas isso era algo ligado apenas ao seu passado.

Mas ele tinha um trabalho a ser feito e não queria perder tempo. Puxou uma das pistolas com silenciador e pensou na ironia da situação, mas não mais do que um segundo apenas, e descarregou meio pente de balas sobre os dois. Nenhum grito. Nenhum barulho fora o estampido surdo das balas sendo abafadas.

Foi até as armas, no chão próximo da porta, e retirou seus pentes. Abriu uma fresta e olhou para o corredor. Nada. Ninguém. Retornou um passo e trocou o pente quase vazio de sua arma por um cheio.

Saiu para o corredor. O aposento onde estava ficava no final de um curto corredor. Antes de chegar à escada havia duas portas fechadas, uma de cada lado. Havia luz vindo pela fresta inferior de ambas as portas com sombras que se movimentavam.

“Está começando a ficar interessante” – pensou ele esgueirando-se silenciosamente até o lado de uma das portas. O som que veio de dentro parecia ser de uma conversa entre duas pessoas. Poderiam haver mais, mas não havia como ter certeza. E não importava para ele.

Puxou as duas pistolas e bateu duas vezes secamente na porta. A conversa parou e passou foram aproximando-se. Ao abrir a porta o sujeito nem teve tempo para surpresas. Uma bala já estava depositada em seu senho. Por sobre o ombro esquerdo do moribundo mais um disparo exato foi dado, antes do corpo bater no chão, em um outro traficante sentado numa poltrona. Entrou e fechou a porta do pequeno aposento.

Este deveria ser uma espécie de depósito. Muitas caixas com papelotes de cocaína estavam espalhadas por sobre armários. Cada uma tinha um nome indicando seu destino. Num canto, sobre um pequeno saco preto de lixo, haviam tijolos de maconha empilhados desleixadamente. Sobre a mesa de centro um pequeno saco cheio de pequenas pedras mortais – o crack.

“Vou adorar botar fogo em tudo isso” – pensou enquanto revisava suas armas, deixando ambas com balas engatilhadas.

Saiu de frente para a outra porta que permanecia fechada. A música havia abafado sua ação até agora. Deu dois passos e parou a alguns centímetros da porta antes de bater-lhe suavemente. Nenhum som vinha de dentro e isso não lhe dava expectativa do que esperar. Houve um som de uma tranca sendo aberta e a porta foi aberta lentamente. A surpresa foi dele agora.

“- Maicon, eu não disse que meu banho ia demorar...” – uma mulher enrolada numa toalha com as mãos secando os cabelos calou-se ao ver a figura pálida do cainita com uma pistola na mão.

Foi um longe instante. Ambos ficaram surpresos e calados por um segundo eterno que logo foi quebrado – “Socorrooooo!” – gritou ela de forma estridente sobrepondo a música.

“Merda.... perdi o foco” – ele pensou e alvejou-a com dois tiros pensando apenas em que não era nada mais do que mais uma traficante. O corpo dela caiu para trás sem vida. Mas mesmo antes dele atingir o chão a música já havia sido desligada no andar inferior.

Os sons agora eram de gritos, ordens e correria. A movimentação era evidente no andar inferior. A escada ficava a não mais do que cinco metros da porta do quarto onde estava. De sua posição só conseguia ver uma fraca claridade vinda da curva da escada. Sombras começaram a ganhar volume. Estavam subindo e teria de ser rápido.

A primeira cabeça que surgiu foi facilmente alvejada sem chance de reação. Mas logo depois as coisas começaram a complicar. Uma mão surgiu empunhando uma metralhadora fazendo muitos disparos à esmo para dar tempo de uma aproximação dos demais membros daquele grupo. O cainita ficou encoberto, no marco da porta, mas foi tempo suficiente para que três tomassem posição mirando e disparando para todos os lados naquele corredor.

No primeiro intervalo entre as saraivadas de tiros o vampiro esticou levemente a cabeça e disparou com suas pistola atingindo um e obrigando os outros a recuarem.

“Tenho de ser rápido e esperto” – pensou ele trocando o pente de uma das pistolas - “tenho que partir para a ofensiva e não dar chance de que tomem a iniciativa”.

Saltando para a direção da escada ele caiu a apenas meio metro do primeiro degrau já impulsionando um novo pulo para a direção da curva dela, meio andar abaixo, e girando o corpo. Neste movimento ele passa por cima de um dos capangas que estava agachado, de arma em punho, caindo em suas costas, sem lhe dar chance para qualquer reação. Com dois tiros e um grito engasgado o corpo do traficante cai como que abraçando a escada.

Mas com isso ele ficou descoberto sendo alvo fácil para dois disparos que o acertaram um na coxa e outro no ombro. Sentindo a dor ele joga-se para um canto oculto da escada, sobre o corpo do traficante morto, tentando pensar na próxima ação. A dor incomoda muito, obrigando-o a realizar mais uma das proezas que fora ensinado tempos atrás – curar-se parcialmente. Sorte que estava muito bem alimentado, pois do contrário isso seria impossível. Os ferimentos estavam bem mais suportáveis agora, mas não tinha tempo.

Os sons dos outros homens, que estavam no térreo, armados e esperando-o, silenciou. Provavelmente estavam considerando que seu opositor estivesse morto ou incapacitado. Dois ou três instantes passaram lentos.

“- Hahahahah...... o infeliz viu do que somos capazes!" – disse displicentemente um deles.

“- Esse já era. Vou pedir um aumento para a chefia!” – disse outro.

O cainita teve o tempo da desatenção de que precisava. Saltou velozmente para a parede, entre os dois lances de escadas, com os dois pés ganhando um grande impulso e jogou-se como que voando para o andar inferior.

A surpresa foi aterrorizante. Ainda no ar o cainita disparou acertando dois que caminhavam para a direção da escada. Eles não conseguiram realizar um disparo sequer, caindo de costas ante uma platéia de mais três traficantes, aqueles que estavam na rua, que olhavam aquilo de forma incrédula. Foi mais um instante de hesitação precioso para o vampiro.

Ao cair no chão, depois daquele salto prodigioso, rolou como que numa cambalhota caindo de joelhos bem na frente de seus inimigos, com ambas as armas em seus ventres. Os disparos foram curtos.

Apenas um homem estava parado, de pé, à frente dele. O vampiro levantou-se lentamente com um leve sorriso num dos cantos da boca. O traficante atônito. As duas pistolas foram soltas pelas mãos do algoz daquele grupo de traficantes, uma de cada lado. O traficante continuava sem entender nada.

O vampiro começou a sorrir numa enorme gargalhada mostrando agora os caninos salientes numa mescla de rosnado animalesco e sorriso histérico. As mãos começaram e desdobrar-se em garras ferozes abrindo e fechando lentamente como que querendo acostumar-se, o libertar-se, em sua nova forma. O traficante agora era apenas terror e medo, fixando aqueles olhos vermelhos e mortais.

Num único movimento o cainita segurou a garganta do infeliz levantando-o do chão como se seu peso fosse nada e perfurando sua garganta com as longas unhas. Com a outra garra, num movimento forte e rápido, cortou-lhe o ventre de cima a baixo, deixando o líquido vermelho escorrer abundante.

Esse era seu prêmio. Jogou-o no chão e pulo sobre o corpo bebendo abundantemente tudo aquilo que precisava e queria para compensar aquele trabalho infernal.

Dois minutos depois ele saiu pela porta da frente. A casa estava em chamas com focos em dois ou três lugares diferentes. Do lado de fora pelo menos três viaturas da polícia e um furgão das operações especiais estavam estacionadas com seus ocupantes prontos, com armar miradas para a porta da frente, em um completo alerta.

“O que está acontecendo por aqui?” – pensou ele parado na entrada sem saber ao certo o que fazer.

Um dos oficiais lhe fez um sinal para avançar, o que ele fez cautelosamente, até aproximarem-se um do outro.

“- Lhe enviam congratulações” – disse baixo o oficial – “agora suma daqui!”

O vampiro entendeu bem o recado e desapareceu nas sombras sem olhar para trás.


o O o
Na manhã seguinte ele estava preparando-se para se recolher. Havia limpado sua roupa e feito ligações. Tudo havia saído como encomendado. O próprio primogênito Gangrel havia telefonado dando-lhe ordens de apresentar-se, na noite seguinte, no elísio. Tudo havia corrido como esperado.

Ligou a televisão apenas para ver as notícias matitunas. O adiantado da hora já o incomodavam e sentia seu corpo com o cansaço natural da manhã. No telejornal a notícia de maior destaque estava sendo apresentada.

Nesta madrugada mais um foco de tráfico de drogas foi desmantelado pela polícia de Porto Alegre. Uma bem armada quadrilha entrou em combate com a polícia depois de longa investigação do denarc da capital. Foram encontrados, pelos bombeiros, nove corpos carbonizados depois de um incêndio que iniciou durante o combate. Mais quatro mortos estavam do lado de fora da boca de fumo. Essa ação desmantela o principal ponto de tráfico da zona leste. Em entrevista à nossa reportagem Roberto Gonçalves, investidor e empresário, garantiu que tomara conta desta região aplicando verbas de suas empresas em benfeitorias na educação e lazer...” – a reportagem continuava, mas o que chamou a atenção do vampiro foi a foto, que estava estampada na tela do televisor, apresentando tão eminente empresário e benfeitor. Era ele. O príncipe.

Entendera tudo agora. A sociedade vampírica e igual em todo o lugar. Seu teste foi apenas um pretexto para uma pequena movimentação das peças desse jogo de xadrez que é um principado. Ele foi apenas um peão, nada mais do que isso.

Sua gargalhada ecoou pelo quarto.

2 comentários:

Bruno disse...

Mto bom o conto, mto bom msm, historias ambientadas em Porto Alegre tem tudo para dar certo, meus parabens^^
abraços

João Brasil disse...

Obrigadão.... mais virão em breve!!!!