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ESPADAS RENASCENTISTAS – As Rapiers
O século XVI trouxe uma grande alteração nas espadas de uma mão, alterações essas que aconteceram tanto em seu uso como em sua forma. A espada estava sendo cada vez mais utilizada por civis. Mas as rapiers tinham uma peculiaridade – elas foram as primeiras armas criadas para uso civil em toda a história da humanidade. Um movimento crescente, iniciado pelo menos cem anos antes e de forma gradual, transformou as espadas numa peça do vestuário dos homens da época. Um acessório sofisticado e notório. Além disso, e pelo crescente costume dos duelos para limpar a honra ou qualquer outra natureza de desavença, elas começaram a ser vistas nas cinturas de um enorme número de homens. Era idéia da autodefesa tomando conta da criação de uma arma.
Para suprir estas necessidades uma das modificações sofridas por esta arma, ao longo do tempo, até chegar ao que era uma verdadeira rapier, foi a redução de seu peso e comprimento. Elas tinham não mais do dois quilos e cerca de cento e nove centímetros de comprimento. À essas dimensões acrescenta-se uma substancial redução da espessura da lâmina (um dos motivos que ajudou na redução do peso). A lâmina afinava desde a empunhadura até a ponta de forma constante, encerrando numa extremidade pontiaguda (muito diferente das outras espadas, até então, que encerravam numa ponta rombuda). Toda a extensão da lâmina tinha um formato em forma de diamante (ou triângulo), mas com pouca possibilidade de ser afiada.
Essas características acabaram por transformar a rapier numa espada extremamente rápida e ágil. Com menos peso no metal da lâmina, o ponto de equilíbrio da espada passou para o cabo a empunhadura (na altura do polegar). Isso permitia movimentos mais precisos seguindo a movimentação do punho do esgrimista. Segundo John Clemments, diretor do The Arma (The Association for Renaissance Martial Arts), as rapiers possuem um impressionante equilíbrio entre velocidade e precisão advindo de suas características físicas. “Mesmo assim finas e de aspecto frágil”, como ele também diz, “é muito difícil e mesmo raro, quebrar-mos uma rapier.” Sua resistência é tamanha que é provado, por textos da época e por experimentos modernos de pesquisadores esgrimistas do próprio Instituto, ser a rapier capaz de aparar golpes de espadas muito mais encorpadas sem partir ou entortar.
Além disso, outra modificação que foi se aprofundando com o tempo, diz respeito à empunhadura. Com uma arma mais leve e com ponto de equilíbrio mais próximo aos dedos era necessário que eles se sobressaíssem (polegar e indicador como visto na foto abaixo) para um melhor manuseio da lâmina. Um manuseio adequado da lâmina de uma rapier trazia a necessidade de posições novas no que diz respeito à forma como a empunhadura era agarrada. Com os dedos sobressaindo da empunhadura tinha-se a necessidade de que toda a proteção fosse preparada para esta nova posição. Isso evoluiu até o chamado complex-hilt. Ele era um emaranhado de fios metálicos que desenhavam uma proteção à mão (e aos dedos) do esgrimista. Essa proteção tinha uma enorme variedade de formas e decorações que iam desde as mais práticas para o combate até as mais ricamente ornamentadas, transformando-se numa peça de status para a vestimenta e para o nome do esgrimista.
Voltando às motivações para o surgimento de uma espada tão diferente das suas antecessoras vem a pergunta: mas por que surgiram as mudanças vindas com a rapier? Segundo John Clemment foi uma questão de concepção histórica da forma de lutar: “A essência da luta com rapier é a opinião de que a luta contra a menor distância entre dois pontos não era a linha curva de um corte, mas a linha reta de um golpe de perfuração”. A velocidade e o alcance que uma rapier pode atingir em combate é surpreendente se utilizado da forma correta por mestres. Soma-se à isso que um ferimento perfurante de uma rapier é mortal em quase a totalidade das vezes. Ele ainda diz que, durante um combate com a rapier, no mesmo movimento o esgrimista pode bloquear o ataque adversário e, no mesmo movimento, ele aplica o contra-ataque necessário – tudo isso numa única ação.
Essas modificações – peso, velocidade, letalidade – criaram, ou deram impulso à um novo estilo de combate com espadas. Era um estilo de luta que se preocupa menos com o poder de ataque e mais com o julgamento de precisão e intervalo de ataques. O estilo foi uma aparente ruptura com a herança medieval de cortar e defender, mas isso não significa que um estilo fosse superior ou inferior ao outro. Todos tiveram seu lugar nos momentos históricos. Neste estilo os pés ganharam uma grande importância, ainda maior do que anteriormente. Uma série de movimentos ligeiros como fintas rápidas, falsas passadas e passos circulares. O estilo passou a ser muito mais enérgico e agressivo. Mesmo assim enganam-se os que acreditam que o contato corporal diminuiu com este novo estilo. Os esgrimistas, ainda mais do que antes, continuaram a empregar socos, chutes, gravatas, agarrões entre muitos outros golpes. Por tudo isso fica claro que o treino era uma obrigação longa e cansativa que o esgrimista tinha a intenção de ser minimamente eficiente na utilização daquela arma.
A eficácia das rapiers é questionada, mesmo com tudo isso, pela sua aparente fragilidade e menor possibilidade de ataques – golpes de ponta. Em alguns artigos de análise das rapiers é sublinhada a capacidade dela ser incrivelmente enganosa na possibilidade de seus golpes e manobras criando grandes dificuldades para os adversários. Eram muito precisas se soubessem usa-la adequadamente. Um esgrimista treinado poderia ir ferindo o adversário sem mata-lo por um longo tempo com ferimentos rápidos e superficiais em partes variadas do corpo. Ao mesmo tempo seu poder de penetração é incrivelmente forte. Sua capacidade de penetração poderia infringir um ferimento mortal, mesmo quando aparentemente superficial, se pego num ponto correto. Aqui já temos uma importante diferença das rapiers para as outras espadas baseadas em ferimentos por corte. Um corte, segundo especialistas, pode ser profundo sem ser fatal, mesmo num ponto crucial do corpo do adversário.
Mas, com tudo isso, temos uma desvantagem desta espada - ela era quase que ineficaz quando realizado golpes de corte. Sua pouca massa era o principal inconveniente. Embora em muitos filmes vemos golpes de corte sendo feitos com rapiers, isso é apenas elemento cinematográfico, ficando totalmente sem amparo da realidade. Mesmo aquele celebre movimento do personagem Zorro, desenhando com a ponta de sua espada rapier, era pura fantasia. Claro que as rapiers também tinham algum tipo de fio pela borda da lâmina, mas nada que fosse comparada às outras espadas. Ela era afiada apenas o suficiente para que não fosse facilmente agarrada pela mão do adversário durante um combate. Caso fosse mais afiada ela teria uma integridade comprometida e quebraria facilmente. E isso ainda pode mudar – quanto mais fina a espessura da lâmina, menor a quantidade de fio dela.
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