quinta-feira, 28 de abril de 2011

Diário de um Escudeiro- 38

Oitavo dia de Lunaluz de 1392

Este foi o pior dia de minha vida. Em nada se compara com a chegada tranqüila e calma do dia anterior. Não conseguimos dormir de ontem para hoje. Meus olhos se mantém abertos com dificuldade, mas não quero deixar de registrar aqui o que aconteceu.

Antes de deitarmos deixamos todos os vigias à postos. Nós seis iríamos revezar, de dois em dois. Logo após deitarmos, durante o primeiro turno ainda, ouvimos o alerta de intrusos. Como de costume o bando de ladrões iria atacar à noite. O alerta havia sido dado no lado oeste da vila. Em instantes estávamos todos prontos.

Como combinado Arlan, Philip e Bruy iriam controlar as defesas internas em caso de ataque, e eu, Gustav, Sevenal, com a ajuda de Mikail, sairíamos com mais seis homens para assustar os bandoleiros. Tudo correu conforme os planos.


O ataque dos bandidos ocorria da mesma forma sempre. Eles arranjavam uma forma de se infiltrar pelo muro, protegidos por ataques de dois ou três arqueiros, e com os portões abertos, o resto do grupo, que não deveria passar de uns doze, realizava o roubo que desejasse. Era uma ação fraca, mas que para uma vila sem experiência militar, era facilmente arrebatada.

Logo que as primeiras flechas começaram a cair na vila, nós respondemos com os doze caçadores da vila no papel de arquearia. Eles começaram a lançar flechas com pontas de fogo. Isso era mais para assustar do que para ferir, mas serviria para deixá-los preocupados. Logo depois Arlan e seu grupo surgiu com suas armaduras para dar mais um tom dramático ao visual da paliçada, mostrando que estávamos ali. Nossa intenção era impedir qualquer luta e sangue derramado. De início isso deu certo. Logo os bandoleiros ficaram apavorados com a organização e começaram a correr. Quando o meu grupo saiu pelo portão à cavalo brandindo espadas, eles correram como loucos e sumiram na floresta.

A ação não demorou mais do que dois ou três minutos. Tudo havia corrido como planejado. Havíamos deixado muita coisa preparado para se houvesse um combate mais agressivo, mas nada daquilo foi necessário. Pelo menos era o que pensávamos.

Após aquela breve vitória toda a vila acordou para uma nova festividade. Era a esperança de que não seriam mais importunados.

Logo pela manhã nos levantamos cedo. Estávamos animados à mesa comendo pão e tomando leite dos mais saborosos quando o inferno deu seus caras.

Fomos alertados para a aproximação de um estranho com uma bandeira branca em direção ao portão principal. Um homem de aspecto sujo, mas muito bem armado com duas espadas cruzadas às costa e que nada parecia com os infelizes que tínhamos assustado na noite anterior trouxe uma mensagem de seu líder, o chefe dos bandoleiros. Segundo a mensagem nós não deveríamos ter nos metido nos assuntos dele e que a presença de cavaleiros por aqui era muito curiosa, mas que isso não os intimidaria em nada e que eles fariam daquela vila um exemplo para as demais que eles infernizavam nas redondezas. Ele simplesmente se virou e começou a andar parando poucos metros depois. Ele se virou e disse que se os cavaleiros saíssem dali naquele momento eles poderiam ter misericórdia da vila. Então ele se virou e continuou andando até sumir na floresta.

Nós seis ficamos atônitos. Não sabíamos como proceder. Mikail também estava aturdido. Ele nos disse, naquela hora, que com toda a sua experiência nunca vira alguém tão seguro de si e calmo quanto aquele infeliz. A única certeza que tínhamos era que não poderíamos deixar a vila desamparada.

Tão logo nos viramos para entrar e uma primeira saraivada de setas correu o ar e por pouco não nos atingiu pelas costas. Fomos obrigados à nos jogar ao chão e correr agachados. Eles eram traiçoeiros e com certeza teriam dizimado a vila se não tivéssemos permanecido ali.

Ao entrar já começamos a dar ordens à todos. Aquilo nos pegou desprevenidos e tivemos de ser práticos e rápidos. Mikail ficou incumbido de pegar os homens que mais tivessem prática com o arco e de fazerem um grupo de apoio. Bruy organizou as mulheres, velhos e crianças em lugares seguros. Os homens foram postos para proteger suas famílias e realizar as defesas internas com Gustav. Eu, Arlan, Philip e Sevenal iríamos enfrentar os bandoleiros. Não estávamos querendo o status de heróis, mas os homens da vila não tinham treinamento e seriam facilmente mortos e nossa tarefa era protegê-los.

Rapidamente nos arrumamos em nossas armaduras e nos postamos próximo dos portões. Não imaginamos o que estava para acontecer.

Um pouco depois as primeiras flechas começaram a cair. Mas desta vez eram muito mais numerosas que na noite anterior. Não poderia ser uma meia dúzia de arqueiros. E realmente não eram. Aquilo estava ficando cada vez mais estranho aos nossos olhos. Logo três dos aldeões estavam feridos e eram colocados em lugar seguro. Da floresta escutávamos gritos e muito barulho que deveria ter sido feito para nos assustar e confundir – o que deu certo naquele momento.

Quando os primeiros bandoleiros saíram correndo da floresta trazendo escadas, cerca de um quatro grupos de três bandoleiros, eu dei a ordem para sairmos também e os enfrentar. Achava que com o apoio do nosso grupo de arqueiros seria fácil e eles não poderiam fazer muito com os arqueiros que restassem. Isto foi um flagrante erro de minha falta de experiência. Quando os portões abriram e corremos para fora fomos surpreendidos por pelo menos mais trinta bandoleiros à pé que saíram de todos os lados. Além disso, haviam dois deles montados em enormes lobos. Mais atrás surgiram duas criaturas enormes, um ogro e um robusto hobgoblin. Aquilo foi tão surpreso que ficamos parados sem saber o que fazer. Inclusive Mikail custou a dar a ordem de ataque para os arqueiros. Alguns dos homens que estavam na paliçada fugiram de medo diante da imagem daquele grupo agora organizado.

Nossa sorte foi que o ataque deles chegou fragmentado, ou teríamos perecido na primeira leva. Começamos a recuar um pouco para não nos afastarmos muito da entrada da vila. Nos dividimos naturalmente em duplas, eu com Arlan e Philip com Sevenal. De início atingimos o grupo que chegava com as escadas. Eles traziam escadas como fachada apenas para que saíssemos da proteção da vila. Nossas lanças serviram para o primeiro combate arrebatando pelo menos três de suas vidas. Isso nos deu tempo e uma certa vantagem pois os outros ficaram temerosos, mas logo voltaram à carga.

Enquanto isso os arqueiros, sob ordens de Mikail, iam tentando manter o resto e mais numeroso grupo de bandoleiros afastado. Esta era nossa única chance. Pouco depois Gustav e Bruy surgiram para nos ajudar, alertados pelo transtorno que estava acontecendo. Eles chegaram bem à tempo de nos ajudar quando estávamos sendo cercados. Nosso treinamento fazia a diferença, mas poderíamos muito bem derrotados por uma quantidade boa de adversários de uma só vez.

Quando as flechas começaram a não fazer mais efeito para segurar o segundo grupo, e mais numeroso, de inimigos, decidimos entrar para a proteção da paliçada. Estávamos ficando cansados e precisávamos nos organizar. Tão logo entramos, eles recuaram. Ficamos todos aturdidos pois a maioria de nós nunca havia matado antes. Acho que apenas eu já havia tirado a vida de alguém, antes deste combate.

Mikail nos contou depois que uma figura esteve o tempo todo olhando o combate de longe. Deveria ser o líder do grupo, que depois iríamos combater frente a frente.

Logo que entramos e postamos vigias, nos reunimos para tentar achar uma solução. Chamei o druida da vila e pedi que ele mandasse uma mensagem urgente de alguma forma. Ele nos disse que enviaria uma águia usando a magia para isso. Enquanto isso fomos discutindo. Philip estava ferido em seu braço e seria um problema à mais para nós.

Tinhamos certeza de que eles atacariam novamente à noite, o que nos dava algumas horas de preparação. Segundo Mikail nossa única chance, até chegar a ajuda, seria realizar uma tática de guerrilha. Nos organizamos para isso.

O combinado era que Mikail sairia sorrateiramente para a floresta no que caísse a noite. Suas habilidades seriam perfeitas para isso. Assim ele tentaria nos dar apoio pelas costas dos bandoleiros, os confundido. Nos teríamos os arqueiros da vila na paliçada e tentaríamos segurar ao máximo os bandidos que viessem à pé, tentando repetir o que acontecera mais cedo. Se tivéssemos sorte sairíamos dali vivos.

Enquanto nos preparávamos eu tive a oportunidade de conversar mais demoradamente com muitos aldeãos. Eu estava curioso com o que havia sido dito no ultimato dos bandoleiros. Eles haviam sido claros de que suas ações eram antigas na região. Para minha surpresa era verdade. Eles me disseram que isso era regular, mas aturável até algum tempo atrás. Mais de uma vez já haviam mandado emissários à Vallahim para ter com os representantes do regente Solast Arantur. Mas a resposta era sempre a mesma. Que as comunidades deveriam estar aptas para se protegerem. Depois fiquei pensando. O povo de Tollon é extremamente orgulhoso e corajoso. Se eles haviam procurado ajuda era porque a situação já era insustentável. Como os dirigentes deste reino não perceberam isso. De qualquer forma não era hora para pensarmos em política.

Mas eu fui surpreendido.

Um pouco depois do meio dia recebemos a visita de quase todos os homens da aldeia. Não entendemos, de início, do que se trataria. Eles vieram e foram enfáticos em seu agradecimento e gratidão por nossa ajuda. Mas também foram enfáticos em dizer que desejariam lutar ao nosso lado. Tentamos argumentar que eles não tinham preparo nem conhecimento do perigo que correriam. Mas eles não nos deixaram argumentar. Sua única resposta é que eles não poderiam deixar que nós fizéssemos sozinhos o trabalho de defender suas terras e famílias. Como eu disse este era um povo orgulhoso e eles me provaram exatamente isto.

Corremos contra o tempo para ensinar-lhes alguns truques e um pouco de organização para combater os bandoleiros. Organizamos tudo o possível até o final do dia. Se tudo mais desse errado queríamos pelo menos garantir a fugas dos indefesos. A noite ainda nos reservava muitas surpresas. Sabíamos que estávamos à nossa própria sorte e assim deveria ser. Estivemos apavorados, não vou mentir, pois nunca havíamos estado numa situação de combate verdadeira como aquela e, ainda por cima, com tantas vidas em nossas mãos.

Quando os primeiros raios do deus Azgher começaram a se esconder por entre as copas das enormes árvores nós já estávamos prontos. Mikail esperava, com mais cinco homens, a escuridão para poder correr para a mata e procurar um bom lugar nas alturas para ser nosso apoio. Eu e os outros cadetes estávamos prontos com nossas armaduras e armas à postos. Todos em seus lugares com grupos de aldeões preparados.

Embora fosse um povo corajoso víamos o medo em seus olhos. Aquilo era muito mais do que já haviam passado. Era um combate muito mais complexo do que simples escaramuças de bandidinhos. O sacerdote de Allihanna realizava algumas orações pedindo ajuda de sua deusa enquanto os homens se agrupavam em pequenos grupos. Foi então que Arlan tomou a palavra com uma eloqüência que veio não sei de onde. Se bem me lembro das suas palavras foram mais ou menos assim:

“- Eu também estou com medo!” – ele disse se levantando de perto de uma fogueira – “e é compreensível que todos vocês também tenham. Mas o que é o medo senão uma forma, um motivo, para nos prepararmos mais, para nos esforçarmos mais, para nos ajudarmos. Eles vieram aqui e decidiram que iriam tomar o que não é deles. Eles vieram aqui e decidiram que fariam de suas casas as casas deles. Eles vieram aqui e decidiram tomar tudo o que fosse de vocês! Os deuses não criaram covardes. Khalmyr não abençoou esta terra de Tollon com um povo covarde. Ele deseja que todos os seus filhos vivam sob seus desígnios de honra, honestidade e justiça. E hoje é o dia do povo desta aldeia receber sua parcela de gloria. Do povo desta aldeia buscar a justiça que tanto necessita e que não querem que ela encontre. E o local para agarrarem esta justiça é lá fora, atrás destes muros, enfrentando aqueles bandidos. Pois então é para lá que iremos. Iremos buscar o que é nosso de direito. Iremos buscar nossa honra e aplicar a justiça à quem merece. Iremos lá aplicar o golpe poderoso da mão de Khalmyr sobre nossos inimigos e exigir que a justiça seja feita sob o fio de nossas espadas. Eu não estou aqui como um cavaleiro, mas sim como um filho de Khalmyr. Então todos nós somos iguais aqui em nossa busca por aquilo que nosso pai nos oferece.”

Eu juro que naquele momento do discurso inflamado de alguém que até aquele dia era muito comedido eu vi uma luminosidade sair dele. Uma aura suave, mas que inundava à todos. Os homens amedrontados foram invadidos de uma força vinda, com certeza, da morada de Khalmyr. Estávamos prontos para morrer naquele momento sem piscar ou lamentar.

E o momento não demorou em vir.

Com o cair da noite, logo depois que Mikail saiu com seus homens para a escuridão da floresta, começamos a escutar os primeiros sons de nossos inimigos.

Uma série de pontos luminosos começaram a aparecer em meio à mata. Eram flechas prontas para incendiar toda a vila. Uma primeira linha de arqueiros, uns vinte, surgiu e lançou-as em arco perfeito até atingirem alvos aleatórios dentro dos muros. Em instantes duas casas estavam em chamas. Mas continuamos impassíveis e sem nos desesperar.

Não queria correr o risco de nos arriscarmos sem que nossos arqueiros estivessem em posição com Mikail. Não tínhamos como saber onde estavam nem se estavam prontos. Nossa alternativa era gastar o máximo de tempo possível.

Quando os primeiros bandoleiros surgiram correndo em direção à paliçada começamos à nos mover também. Os portões foram abertos lentamente para nossa passagem. O número deles era maior do que imaginávamos. Uns cem, pelo menos, o que é um número considerável para este tipo de ação e vindo do que achávamos serem simples bandidos de estrada. Mas o nosso número também os deixou surpresos. Saímos com pelo menos trinta homens atrás de nós. Eles não esperavam por isso. De cima da paliçada surgiram mais uns dez arqueiros.

Mesmo assim ainda estávamos em desvantagem numérica, além deles serem melhor treinados do que os simples camponeses que estavam conosco. Nossa organização teve de ser nosso trunfo.

Nos postamos próximos da paliçada com escudos de madeira improvisados. Era importante que eles chegassem o mais próximo possível do raio de ação de nossos arcos. Mantivemos formação enquanto eles iam se aproximando. A corrida daquela turba era desenfreada e sedenta de sangue. Não vinham fortemente armados. Traziam espadas e adagas, e vestiam não mais do que proteções de couro. Ainda assim eram numerosos.

Quando se aproximaram á poucos metros de nós lhes mostramos nossa primeira surpresa. Alçamos pelo menos duas dúzias de lanças muito longas, mas firmes e resistentes, graças à madeira especial deste reino.

Eles não tiveram tempo de parar – empalamos toda a primeira leva de ataque. Tão logo isso aconteceu e os arqueiros da paliçada lançaram uma primeira saraivada de flechas. Mais uma meia dúzia tombou.

Este primeiro momento nos deu novo ânimo. Nos aglutinamos novamente e esperamos, com espadas em punho o restante dos bandidos. Nossos escudos improvisados funcionaram muito bem. Resistimos ao primeiro golpe deles e tivemos a chance de revidar de forma eficiente. O objetivo era o básico da estratégia que aprendíamos na academia – forma um grupo firme, imóvel e mortal. Só dependíamos de nós já que os arqueiros não poderiam nos ajudar naquele momento. Eles estavam prontos para uma segunda leva de ataque.

Resistimos muito bem por alguns minutos, mas isso não seria o suficiente, pois estávamos ficando cansados e tínhamos nossos primeiros feridos.

Quando eles perceberam isso lançaram um segundo grupo de ataque. Este segundo grupo era mais mortal, pois contava com o ogro, o hobgoblin, mais uma dúzia de homens e uma surpresa impensada por nós – quatro homens cavalgando possantes lobos ou algo parecido. Não tínhamos força para enfrentar aquilo de frente. Sorte que tínhamos Mikail e nosso grupo surpresa.

Ainda oculto na floresta ele percebeu o perigo e direcionou todo o seu ataque para aquele grupo. Sua oposição, pelos flancos e costas, do topo das árvores, foi mortal. Dois dos lobos sequer deram dois passos após saírem da floresta e já estavam no chão. O mesmo aconteceu com o ogro e com metade daquele grupo de homens. Ação os desnorteou, mas também chamou suas atenções para nossos homens que logo começaram a ser alvos dos arqueiros deles. Perdemos bons homens ali.

Infelizmente dois lobos ainda avançaram com seus cavaleiros. Nossos arqueiro da paliçada lançaram todas as flechas possíveis na tentativa de freá-los, mas apenas um tombou. Havia ainda um de pé, o que era mais do que suficiente para nos trucidar. Naquele momento a luta começava a tomar a forma de luta campal. Bruy e Gustav estavam mais para o lado esquerdo, enquanto Arlan mais para o lado direito. Cada um dos lados tinha o apoio de pelo menos seis valentes aldeões. Eu e Seneval continuamos no centro, com uns dez homens. Naquele ponto a luta já estava quase que equilibrada. Nossa posição e estratégia defensiva foram um trunfo que fez a diferença. Mas ainda havia aquele lobo.

Quando estávamos nos dando conta de que a vitória não seria um sonho impensado, o gigantesco logo passou arrebatando, tal qual enorme aríete vivo, e tombou todos os homens que estavam do lado esquerdo, inclusive Bruy. O monstro continuou correndo e quase fez o mesmo com os homens de Arlan. Tinhamos de enfrentá-lo e não poderia ser mais tarde. Corri com Seneval atrás da fera. Os arqueiros tentavam acertá-lo sem sucesso.

O Hobgoblin alcançou o combate, também, perto dos portões e logo foi enfrentado por alguns de nossos homens. Esses monstros, embora fortes e perigosos, podem ser freados e derrotados se houver trabalho em equipe, e isso estava sendo feito por Arlan e mais dois, com dificuldade, é verdade, mas foi o suficiente até o final.

O lobo gigantesco estava cercado e tentávamos acertá-lo com nossas espadas. Mas mesmo nesta condição ele era mortal. Um dos aldeões que tentou nos ajudar foi abocanhado por ele o jogado muitos metros longe, já sem vida. Não teríamos muita chance até recebermos uma ajuda inesperada. Em meio ao combate o lobo, de repente, ficou imóvel. Aos poucos percebemos que seus pés estavam presos por galhos que moviam-se como se fossem vivos. O druida da aldeia, com a ajuda da sua deusa, estava no campo de batalha conosco. Aquela aparição fez os homens vibrarem. Infelizmente ele foi logo alvo dos ataques dos bandoleiros e caiu ferido em seu flanco por uma espadada, desfazendo a sua magia. Mas aqueles poucos momentos de sua intervenção foram o suficiente para que tivéssemos a chance de cravar fundo nossas espadas no lobo, enquanto os arqueiros o alvejavam por cima.

Quando dei por mim estávamos em vantagem numérica. Mais alguns instantes e o último dos bandoleiros tombava. O silêncio do campo de batalha era uma benção. Eu não acreditei, naquele momento, que aquilo fosse realidade.

Mas o silêncio fora cortado por uma voz.

“- Vocês não vão sair vivos daqui!” – era o líder dos bandoleiros. Eu não imaginava o que ele poderia fazer sozinho contra todos nós. Mas suas mãos começaram a brilhar e eu descobri.

Ele era um mago, ou algo parecido. Os aldeões sobreviventes começaram a correr para dentro dos portões. Todos sabiam do quão mortal um mago poderia ser. Tenho certeza que aos olhos dos aldeões aquele era um perigo muito maior do que tudo o que enfrentaram naquela noite. Eu também achava isso, mas não poderíamos recuar. Começamos a correr na direção dele mesmo sabendo que não conseguiríamos alcançá-lo antes dele lançar a magia que preparava. Não sei o que era, mas era grande. Todo o seu corpo brilhava como uma chama viva enquanto ele gesticulava com as mãos. Nossas armaduras nos atrasavam ainda mais. Ele moveu as mãos ainda mais rápido, pronto para lançar a magia, e gesticulou em nossa direção.

Então ele parou e caiu de frente, morrendo em si toda a luminosidade. Em sua nuca uma flecha cravada. Atrás dele estava Mikail, ferido e sujo de sangue com seu arco em punho – “odeio magos... eles perdem muito tempo!”

A vitória fora nossa. Por milagre, por organização, por ajuda e força de Khalmyr. Mas fora nossa. Esta noite será a primeira que esta aldeia irá realmente dormir tranqüila, embora alguns ainda chorem seus mortos. Mas poderia ter sido muito pior.

Escrevi muito hoje, mas não poderia deixar passar nenhum detalhe. Os outros me ajudaram com partes que eu não vi ou que me esqueci depois de tanta ação.

Meu corpo pede descanso. Amanhã terei uma nova luta. Tenho contas a acertar com aqueles que deixaram essas pessoas à própria sorte.

Um comentário:

Anônimo disse...

To gostando hein ^^
Continue assim que a história ta bem legal ^^