O monstro da
semana e o RPG
O termo ‘monstro da semana’ foi criado e difundido pelo
mundo otaku quando nos referíamos aos seriados e animes japoneses que à cada
novo episódio tinha um vilão que inevitavelmente seria combatido no final do
episódio. Lógico que o termo era uma crítica ao sistema linear e óbvio, muitas
vezes, o que tirava um pouco da emoção e diversão (pelo menos quando os
telespectadores são maiores).
Em RPG pode-se incorrer do mesmo erro facilmente.
Muitas seções se tornam chatas ou cansativas por seres
‘óbvias’. Nelas, à cada seção, sabe-se que no final haverá um grande vilão e
que teremos boa chance de derrotá-lo. Quase tudo o que se faz antes de
alcançarmos esse ápice é em prol desse final ‘grandioso’. Assim, cada seção se
torna uma insuportável e cansativa linearidade, em que passamos duas ou três
horas simplesmente acumulando recursos mágicos, bons equipamentos de
preferência mágicos e o máximo de experiência possível para que, ao final da
seção, tenhamos a tão aguardada luta.
Ironias à parte este erro é muito mais comum do que se
imagina principalmente em grupos com mestres iniciantes. Por uma questão de
segurança os mestres com pouca experiência têm a falsa ideia de que dando à
cada seção ‘fortes emoções’ em seu final estará agradando os jogadores.
Lógico que todo o grupo de rpgístas gosta de destruir
bandos de orcs ou vencer um grande desafio, mas depois de algumas seções isso
se torna insuportavelmente repetitivo se for comum. Se desejamos garantir um
bom jogo para nosso grupo temos que tentar variar nos desafios que serão
impostos à eles. Nem sempre o desafio precisa vir ligado à um combate ou à um
grande chefão de final de seção. Os verdadeiros desafios devem ser guardados tal
qual um gran finale para momentos ímpares em sua seção, e não à todo final de
semana.
Os combates devem ser ferramentas do enredo para qualquer
momento, mesmo alguns que os obriguem à recuar ou mesmo fugir desesperadamente.
Experimente começar uma seção já com um grande e desafiante combate sem motivo
algum e faça do resto da seção as repercussões dele. Termine uma seção com um
grande desafio, mas longe de um inimigo palpável ou físico, ou termine com uma
grande descoberta sobre um enigma ou com uma declaração bombástica de um NPC
importante, deixando-os com uma semana inteira de expectativa.
Os verdadeiros bons finais de seção são aqueles que deixam
o grupo sedento pela próxima seção, contando os dias para a chegada do próximo
final de semana. As grandes emoções de um final de seção necessariamente não
estão no fio da lâmina de uma espada ou na ponta de uma flecha, mas na emoção
com aquele gostinho de quero mais.
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