Bardos:
Fantasia & realidade
A História
Nosso primeiro alvo nesta seção foram os druidas. E
para minha surpresa, como deve ter sido para vocês também, a origem histórica
de druidas e bardos estava intimamente ligada. Para sermos mais exatos eles
eram variações da mesma pessoa. Mas estudando mais profundamente vamos tendo
novamente mais dúvidas do que certezas.
Pesquisas históricas e etimológicas mostram não só
que há divergências entre a origem dos bardos como sobre qual ‘bardo’ era o que
estava ligado aos druidas. Além disso, o termo e a função social dos bardos
mudaram com o passar do tempo.
A ligação de Bardos e Druidas vem do termo irlandês
Fili que designava um tipo de druida.
Eles eram ligados à disseminação da cultura druídica celta através de suas
habilidades artísticas em poesia, música e dança. A tradição oral de toda a
comunidade, e seus antepassados, deveria chegar à toda a população em todos os
cantos. Por isso os Filis saiam em
peregrinação transmitindo seus conhecimentos por meio da arte.
Com a disseminação da religião católica e a
aculturação dessas comunidades celtas o papel místico, e mesmo a posição e
status dos druidas, foi sumindo ou tomando outras formas nas sociedades. Com
isso o papel social dos Fili (bardos)
também mudou. O termo bardo passou a assumir o significado genérico de autor de
épicos, cantor e narrador. Ao perder sua importância social (transmitindo o
conhecimento e a cultura nativa) e sua posição de status (druidas/filis eram
posições de comando dentro da sociedade) ele passou a ser um artista
profissional.
A palavra ‘Bardo’ tem uma origem
proto-indo-européia que significa “levantar a voz” ou “louvor”. Não sabe-se ao
certo quando os termos fili e bardo acabaram se casando, mas temos
certo que em algum momento histórico o trabalho realizado pelos fili ganharam o nome de bardo. Eles
começaram a percorrer regiões e reinos inteiros cantando épicos que lhes
agradassem ou sendo contratados por senhores e nobres para criarem músicas e
cânticos sobre seus feitos.
Ao mesmo tempo que assumiu o termo ‘bardo’ sua
atividade começou a ser vista de outra forma pela população e pelos
governantes. Não mais como um itinerante sábio que percorria as regiões
disseminando histórias passadas e ensinando sobre a cultura do povo celta.
Agora ele era visto de forma ambígua. Um pouco como um conhecedor profundo da
literatura e um homem de letras, um conhecedor da política e um crítico sagaz.
Por outro lado era visto como um boêmio sem paradeiro fixo que vivia viajando e
satirizando à todos por onde quer que passassem.
Mas os estudiosos da história da poesia medieval
deram uma certa luz para essa dualidade. Eles explicam que o bardo era contratado
como um poeta profissional para criar odes sobre os ‘feitos’ de um senhor de
uma determinada região. Para este serviço ele seria pago como qualquer
empregado. Mas se o pagamento não fosse feito ou se fosse insuficiente na visão
do bardo, ou ainda se o bardo considerasse o senhor indigno de sua obra, ele
então comporia uma sátira desqualificando o seu senhor. Aos poucos eles foram
se diferenciando dos ‘poetas’ propriamente ditos, e acabaram como renegados (ou
boêmios) na visão da comunidade.
A história dos bardos não parou aí, como muito
podemos nos enganar. Eles se organizaram e formaram escolas, principalmente na
Irlanda, que passavam os ensinamentos e conhecimentos em poesia e música para poucos
e selecionados discípulos. Mesmo no século XVII, quando as últimas escolas
foram extintas, a cultura barda se encerrou definitivamente.
Mas hoje ainda temos alguns exemplares de bardos
pelo mundo. Na Indonésia e na África Central pessoas assumem o papel desses
menestréis passando de forma oral a história dos antepassados dessas
comunidades ensinando sob forma de cantos e fantoches.
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