Realidade e Fantasia - Bardos II
Como
vimos no artigo anterior os Bardos existiram realmente, mas com funções muito
específicas conforme sua época. Mas e no RPG, o que temos de fantasioso e o que
temos de influência da realidade?
Nos
vários sistemas de RPG existentes é quase unânime que os Bardos não são vistos
com bons olhos pelas pessoas de bem. Boêmios, na maioria das vezes, vagabundos
em outras tantas, os Bardos percorrem os seus cenários como aventureiros
bonvivans à procurando de aventura, fama e raparigas distribuindo música e
alegria para todos. Em todos os casos eles pessoas que estão constantemente
procurando aventuras para registrar e para os promoverem. Abaixo, nos trechos
selecionados, podemos ver como essa ideia é constante:
“Todos sabem que a
música possui uma magia especial e o bardo prova que isso é verdade. Viajar o
mundo, acumular conhecimento, contar histórias, retirar magia de sua música e
sobreviver da gratidão de usa audiência – essa é a vida de um bardo. (...) Os
bardos são viajantes, guiados por sua intuição e vontade, não pela tradição e
pela ordem”. [D&D
3,5 – Livro do Jogador]
“Com espírito livre e
fala amistosa, os Bardos se tornaram os principais veículos de informação no
Mundo Conhecido. Tendo a arte como seu maior poder, eles conseguem cativar
pessoas facilmente, sendo muito bem recebidos na maior parte dos reinos”. [Tagmar II – Manual de Regras]
“Grandes salões de
baile, cortes refinadas, tavernas agitadas e metrópoles lotadas são os domínios
dos bardos – os artistas, músicos, sedutores e fanfarrões de Arton. (...) Alguns
aventuram-se por lealdade a um rei ou senhor (...) Outros bardos viajam ao lado
de aventureiros famosos (ou que um dia serão famosos) para registrar suas
façanhas.” [Tormenta
RPG – Módulo Básico]
Além
disso, nos são apresentados personagens que possuem a capacidade de manipulação
de certas forças mágicas por meio de suas aptidões artísticas. Eles seriam
capazes de realizar magias, arcanas, em menor variedade e força que magos. A
utilização dessas magias estaria ligado à sua capacidade artística:
“Todas as magias de bardo possuem um componente
verbal (cantar, recitar ou tocar um instrumento)” [D&D 3,5 – Livro
do Jogador]
“Você pode usar música (ou outro tipo de arte
performática, como dança) para gerar vários efeitos mágicos”. [Tormenta RPG –
Módulo Básico]
Como
a realidade influenciou a fantasia? Vamos começar pela magia.
Em
nossos dois primeiros artigos desta série vimos o que eram na realidade os
druidas e descobrimos que um dos vários desígnios deles era o termo Fili
(reconhecido por Bardo).
Este tipo específico de druida era responsável em percorrer as diversas regiões
disseminando sua cultura e a histórias dos antepassados sob forma de música,
poesia e teatro. Mas ainda assim eles levavam consigo o estigma de serem
'druidas' e, naturalmente, de possuírem poderes mágicos. Diziam que a forma com
a qual eles transmitiam suas histórias pela música e pela poesia poderia
hipnotizar uma pessoa. Em algumas regiões diziam que as rimas bem feitas dos
bardos eram suficientes para amaldiçoar uma pessoa, trazendo-lhe desde verrugas
à morte lenta e gradativa. Não é de admirar então que o termo Bardo tenha sido
vinculado às práticas mágicas. Mas ao mesmo tempo seus poderes teriam certas
limitações, não atingindo nada de tão extraordinário.
Em
Tormenta RPG, por exemplo, as magias possíveis dos Bardos usarem são aquelas
que mexem com os sentimentos – medo, pavor dos inimigos ou inspiração de
aliados. Isso é mais um elemento que contribui com a noção histórica de que Bardos
tinham um certo ‘poder’ sobre a mente de quem escutasse suas obras.
Já
a questão de seu estereótipo boêmio é muito mais fácil de ser explicado e
entendido. Realmente, como já vimos na postagem anterior, sua vida era errante
desde seus primórdios. Cada dia ou semana numa comunidade diferente perpassando
seus conhecimentos. Ao mesmo tempo o status dos druidas (na época em que os
Bardos se designavam Fili principalmente) também se aderiu à eles e a
posição privilegiada lhes proporcionava que não precisassem trabalhar e que a
cada comunidade nova que chegassem fossem tratados com reverência. Necessidades
imediatas como alimentação e abrigo eram oferecidos pela população das
comunidades. Não é incomum na história principalmente dos povos do norte da
Europa que mulheres fossem oferecidos à essas pessoas 'importantes' que
visitavam a cidade (principalmente quando achavam que ele poderia facilmente
amaldiçoar a vila inteira).
Então
nessas duas características dos Bardos dos RPGs, acho que as principais, vemos
elementos que a história serviu como suporte, muito mais do que com os Druidas.
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