Erroneamente achamos que o caráter ‘neutro’
facilite a interpretação, mas é bem pelo contrário. Segundo David Pulver, no “The
Complete Druid’s Handbook”, o alinhamento Neutro é o mais incompreendido pelos
jogadores.
Se nos basearmos no personagem Tyrion, de “Game of
Thrones”, não por acaso todo o seu sucesso na interpretação de seu personagem, claramente
de tendência Neutra. Sua complexidade e profundidade o fez cair nas graças do
público, ao mesmo tempo que suas atitudes simples deixam clara suas intenções.
Embora os extremos pareçam complicados a
neutralidade requer uma sutileza que somente os mais maduros e experientes no
RPG terão plena capacidade de exercer.
Os personagens Neutros possuem uma frieza que não
podemos chamar de maldosa, mas prática. Com sua lógica apurada, os personagens
deste tipo têm uma capacidade de entender o seu redor e de que forma eles
precisam ‘se adaptar’ ou agir para que possam chegar a um ponto específico de sua
escolha. Segundo o Livro do Jogador de D&D 3ª edição “um personagem Neutro
sempre faz o que lhe parecer ser uma boa ideia”.
O entendimento do que esta acontecendo ao seu
redor é muito mais importante do que uma posição que tome. Naturalmente ao
entender o seu redor, o personagem neutro se posiciona e exerce o papel que
achar mais apropriado. Por essa noção eu discordo quando se diz que um
personagem Neutro possui uma falta de convicção para com um compromisso. Acho
que na realidade o personagem Neutro tem essa posição por convicção sim e como
uma escolha consciente.
Gostei muito quando li nas palavras de Gary Gygax que
o personagem Neutro “vê os outros alinhamentos como facetas do sistema”. Essas
facetas trazem o risco de desequilibrar o status quo e ele não poderia admitir
isso. O personagem deste alinhamento vê as coisas como organizadas em uma
lógica que não pode, ou não deve, ser alterada. O equilíbrio deve ser mantido e
para isso qualquer ação sua é justificável. Em resumo, ele faz o que é
necessário para continuar onde está ou para chegar à sua meta.
Assim, a postura de um personagem Neutro não pode
ser vista como mecânica, mas sim como uma postura lógica. Ele irá proteger a si
próprio e as sua convicções, assim como seus aliados (mesmo que de momento)
para manter o ‘equilíbrio’ em que está inserido.
Ele irá ter um comportamento agradável com seus
aliados e ríspido com seus adversários. Mas ao mesmo tempo ele não irá ter
ações desse tipo para com aqueles que não lhe dizem respeito. Ele não se
compadecerá de indivíduos que sofram algum mal se esses indivíduos não fizerem
parte de seu grupo que mantém o ‘equilíbrio’ ou seu interesse. Essa postura não
pode ser considerada como maldade, mas apenas como algo que não lhes diz
respeito.
“Se alguém estiver em necessidade,
eles vão pesar as opções das potenciais recompensas e perigos associados. Se um
inimigo estiver em necessidade, eles vão ignorá-lo ou tirar proveito da
situação.”
Se formos mais além vamos chegar a conclusão de
que personagens Neutros são, em última análise, imprevisíveis. Sua
imparcialidade descompromissada lhes deixam imunes à qualquer tipo de problema
por tomar posição sobre qualquer assunto, ao mesmo tempo que, quando tomam uma
posição, não sofrem por mudar de lado ou opinião.
Abaixo listo algumas ações de personagens Neutros:
- o personagem Neutro não evitará atacar um inimigo desarmado, se isso se mostrar necessário.
- Ele pode usar tortura para extrair informações, mas nunca sentindo prazer.
- Ele não matará por prazer, mas para defender a si ou à outros.
- O personagem Neutro ajudará pessoas com necessidades, se isso for de seu interesse.
- Ele não se importa de ser mandado por uma autoridade até que essa autoridade use a lei para dificultar sua vida ou seus interesses.
- Eles são indiferentes aos conceitos de auto-disciplina e honra, à não ser que isso fosse útil para seus interesses.
Um comentário:
Interessante isso dos comportamentos do rpg. Podem ser traduzidos pra narrativas tranquilamente.
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