quinta-feira, 6 de junho de 2013

Fanfic - Assassin'S Creed: Romance Dawn



Fanfic por: Douglas “Antonywillians” M. Almeida

APRESENTAÇÃO
      
Assassin’S Creed é uma famosa série de games que tem arrecadado cada vez mais fãs este ano. Narra a história da Irmandade dos Assassinos, uma antiga ordem que existe desde as primeiras civilizações com assassinos leais compromissados em eliminar os corruptos no mundo em prol da humanidade, o enredo da série no game narra a história de dois Grão-Mestres, Altaïr Ibn-La’Ahad e Ezio Auditore de Firenze, o primeiro pertencente aos assassinos árabes que enfrentaram a tirania dos templários em suas terras durante as cruzadas e o segundo já da época da renascença que enfrentara a ordem templária impedindo que assumissem inicialmente o controle da Itália.
Recentemente comecei a produzir um fanfic que teve um bom número de pessoas que sequer conheciam o universo do game, mas gostaram do enredo. Em respeito a isto, faço este pequeno conto na finalidade de explicar ao máximo a história por trás desse mundo que se passa na própria Terra, mais especificamente na Itália como base, todavia, que possui características diferentes. A história narrará uma missão realizada por Claudia Auditore, irmã de Ezio, que foi inserida na Irmandade dos Assassinos em 1504, e posta no controle da ordem desde que seu irmão partira pra o oriente após ler uma carta do pai, em que falava sobre uma biblioteca de grande conhecimento deixada por Altaïr, o sírio lendário e que acabou como mentor da ordem no passado. A história, portanto, ocorre durante o jogo Assassin’s Creed: Revelation, mas na Itália.

Espero que gostem,
In bocca al lupo!




Laa shay’a waqi’un moutlaq bale koulon moumkine… Estas são as palavras pronunciadas por nossos ancestrais, que repousam no coração de nosso Credo… Onde outros homens cegamente seguem a verdade, lembre-se… Nada é verdade. Onde outros homens são limitados pela moralidade ou pela lei, lembre-se… tudo é permitido! Trabalhamos na escuridão, para servir à luz. Somos assassinos.

Nada é verdade, tudo é permitido.

                                             –  Palavras do Ritual de Iniciação ao Credo
da Irmandade dos Assassinos





Havia se passado pouco tempo para tanta coisa. Durante quinze anos sua vida havia sido tão surreal que chegava a se envergonhar das preocupações daquela época. Vivera em uma família como filha de nobres burocratas, de uma antiga e respeitada linhagem que recentemente trazia toda opulência de uma vida de banqueiros italianos muito bem sucedidos em Florença, eram conhecidos como os Auditore. Crescera no luxo sem igual, com roupas de seda tingidas com tintas exóticas e aromatizadas trazidas pelos mercantes mais aventureiros, capazes de viajar em caravanas ao distinto oriente asiático para fornecer especiarias e tecidos únicos no mundo europeu. Não era capaz de se imaginar poucos séculos atrás em uma vida medieval, como a de seus ancestrais, antes do renascimento do comércio que trazia novamente o fluxo mercantil por aquelas terras. Sempre tivera boa índole – apesar de ser conhecida por seu temperamento ardio que assustava muitos pretendentes, o que muito preocupara seu pai –, mas ainda assim era mesquinha, arrogante e fútil como toda jovem nobre deveria ser. Seu mundo eram os livros, estudando para ajudar seu pai no ofício das finanças e se enterrando em romances escritos por grandes autores, tentando vivenciar, o que não lhe era oferecido por seu amante na época, que até recebera uma surra de seu irmão por traí-la.
O mundo era fútil… Tolo… Nada comparado a agora. Tudo começara em 1476, a data em que o nome da família foi manchada a sangue; de grandes banqueiros tornaram-se traidores, sendo caçados como criminosos perigosos. Seu pai fora arrastado junto a seus irmãos Frederico e o mais jovem, Petruccio. Sua mãe Maria que tentara impedir fora agredida, sentindo escapar por seus dedos toda honra que tentara manter na família, o que a deixou traumatizada por vários anos. Seu pai e irmãos foram executados, com a exceção de seu irmão do meio… O jovem e imprudente Ezio Auditore. Sua mansão estava devastada, sua família destruída e sua mãe doente em espírito e mente. De início não sabia muito do que seu irmão arquitetava, e este passou a sumir constantemente e trajar um robe branco com capuz e a lutar contra os que traíram e macularam o nome da família, ele estava afundado no sentimento de vingança. A paz não existia mais. Anos se passaram vivendo na Villa Auditore, uma mansão pertencente a seu tio Mario na comunidade fortificada Monteriggioni, servindo aos afazeres financeiros para o engrandecimento da cidadela, protegida pelos mercenários que Mario liderava. E mesmo assim, quanto tempo demoraria para esta proteção acabar tragicamente!?
Em 1500, na manha do dia de seu aniversário enquanto as pétalas de flores eram espalhadas pelos saguões e os trovadores preparavam seus instrumentos para uma cerimônia que buscava novamente todo orgulho e luxo que o sobrenome da família já trouxera outrora, enormes esferas de chumbo irromperam pelas paredes da Villa Auditore, estas que além de queimarem telhados, derrubaram as grandes torres de vigília das muralhas de pedra envolta. Mais uma vez seu mundo caíra, a vingança de Ezio trouxera a ira da família  romana Borgia que enviara César Borgia, o General da Armada Papal que sitiara Monteriggioni naquele dia, massacrando os cidadãos, arrassando com as defesas urbanas, esmagando o exército mercenário e por fim matando seu tio Mario a sangue frio com um tiro aos portões da comunidade. Mais uma vez fugiam após um familiar ser assassinado por traição. Seguindo para Roma, assumiria como administradora de um famoso Bordel, Rosa del Fiori, junto a sua mãe, já que as cortesãs locais eram ótimas em recolher informações importantes para as tramas romanas para Ezio.
 Por Deus, como seu destino fora capaz de mudar tanto… De nobre frágil tornou-se mulher com punho de ferro, ajudando a Irmandade dos Assassinos na luta contra os Bórgia, líderes do que chamavam de Templários, não mais os guerreiros cruzados do passado, mas uma nova ordem de grandes políticos e homens ricos que descenderam dos antigos soldados e agora tinham o propósito de impôr sua própria ideologia de dominação ao mundo. Não demorou muito e vieram atrás dela no bordel, soldados armados foram chacinados facilmente pela jovem que portava unicamente uma adaga, sem que uma gota sequer de sangue pingasse em seu vestido. Fator que surpreendeu Ezio, na época já reconhecido como mentor da Irmandade dos Assassinos em Roma, após recrutar diversos cidadãos que combatiam a opressão com talento em prol dos ideais de limpeza político-social dos Assassinos. Logo foi levada para a cerimônia em que seria iniciada no Credo como Irmã Assassina. Ali aprendera coisas sobre os bastidores do mundo que fariam os mais céticos arrepiarem-se, fora instruída pelo mentor da Irmandade Romana anterior a Ezio e amigo de seu irmão, Niccolò Machiavelli, ou apenas Maquiavel. Um escritor, filosofo e combatente dedicado, de personalidade rígida e olhar sempre sério. Enquanto era tutorada pelo gênio político, o habilidoso artista pela qual sua mãe apaixonara-se pelas obras, na época que tinham uma vida calma em Florença, Leonardo da Vinci, cuidava da preparação e armação de seus equipamentos nas missões de assassinato e infiltração. Sua vida havia rodopiado, sua mente amadurecido e após a morte da própria mãe, em 1504, sua responsabilidade se contrapôs à toda futilidade do passado…
“Tenho vergonha dessas jovenzinhas inúteis que vivem como se em redomas de luxo e fantasias… Meninas que nunca serão mulheres de verdade… Pois muitas vão chegar a entregar seus filhos a uma empregada para serem cuidados enquanto continuam tolas e irresponsáveis” - às vezes se pegava sussurrando isso enquanto, em suas missões, espiava dos telhados as nobres em seus aposentos.
Enfim o destino a lapidara para aquela missão em que seu irmão Ezio lhe incumbira. O mesmo deixara por um tempo seus ofícios como Mentor em prol de uma missão ao longínquo oriente atrás de informações sobre a fundação da Irmandade, já que era por lá… Em uma tal cidade síria chamada Masyaf, onde repousava o berço do Credo. Até lá, Cláudia lideraria a Irmandade tutoriada por Maquiavel até seu retorno. Sentia saudades imensas de Ezio, já fazia nove anos desde sua partida de Roma pelo Mediterrâneo, e as cartas eram escassas… A visão de uma ave entrando no pombal secreto da Irmandade Romana sempre lhe era uma esperança incompreensível, e uma frustração indizível quando era apenas mais um contrato de missões a serem realizadas pelos assassinos. A última que tivera fazia quase uma semana, mas não podia fraquejar neste momento… Assim que os dedos róseos e machucados do assassino recrutado surgiram na borda do telhado, revelando que enfim conseguira escalar a parede daquela casa, Cláudia Auditore percebeu que era hora para sair de suas lembranças e continuar a missão: treiná-lo, instruí-lo e juntos proteger o embaixador português dos que o tinham como alvo àquela noite, como a carta de Maquiavel lhe informava.
A cidade Roma imitava as estrelas no céu noturno de poucas nuvens, brilhando em suas janelas com lamparinas de óleo e querosene que ardiam sonoramente com odor gorduroso atingindo as narinas mais sensíveis de maneira incômoda. Poucas pessoas estavam pelas ruas naquela hora, até porque mesmo pagando aos ladrões do Distrito Antigo de maneira a nunca sofrerem roubo, seria abusar demais da boa vontade dos furtivos homens que espreitavam tudo das sombras. Os únicos que facilmente encontravam-se diante do olhar de Claudia e do Assassino Recruta Leon eram homens bêbados saídos da taberna da La Volpe Adormentata, uma das mais movimentadas na cidade naquele século. Era um grande casarão de vários andares com quartos de hospedagem e aposentos secretos aonde se localizava a base da guilda dos ladrões de outro amigo dos Auditore, o irmão assassino La Volpe. Um homem de gênio parecido de Maquiavel, só que mais flexível, parecendo irmãos implicantes. Como mestre dos ladrões de Florença, tinha uma aura de rumores e boatos míticos sobre suas capacidades, falando de poder ver através de paredes, poder aparecer e sumir quando quissesse, aparecer em vários lugares ao mesmo tempo e até de já ter roubado um artefato dentro da carruagem papal com o próprio Papa dentro sem ninguém ter percebido. Era um homem incrível em seus talentos e muito reservado. Enquanto Ezio fundava a Irmandade na poderosa metrópole, financiara o reparo de vários pontos conquistando alianças, um deles foi a antiga taverna estalagem que permitiu uma nova base da guilda de La Volpe e um novo ponto de recolher informações. Desde que seu irmão partira pro oriente, La Volpe nunca mais fora visto em Roma, seus ladrões informantes até permaneceram fornecendo suporte para a Irmandade, e graças a eles agora sabia que seu objetivo estava no interior daquele estabelecimento a ponto de sair a qualquer momento.
- Mestra, não devemos entrar para guiá-lo? – o recruta indagou retirando o capuz branco para prender o longo cabelo louro em um rabo com um elástico negro.
Claudia negou com a cabeça e colocando o braço esquerdo aberto a frente do jovem fez com que se afastasse. Devia ter avistado algo. Claudia era uma dama belíssima. Uma das poucas dentro da ordem usando trajes de tecido vermelho escuro, quase vinho – sua cor favorita – combinava os trajes de Assassina com os cabelos castanhos claro. Seus olhos estavam sempre serenos e um sorriso afrodisíaco sempre parecia pronto a se formar em seus lábios, de aparência delicada, talvez a única cicatriz que possuía era a cicatriz do corte nos seios, feito no passado por soldados dos Borgias que desejaram vingança pela morte dos mesmos na mão de Ezio. Se arrependeram profundamente do ato.
- Não, irmão Leon! Temos que seguir o Credo… Lembra-se dele!?
Ela indagou sorrindo, aproveitava os momentos para instruir o jovem que encontrara espancando guardas outro dia em um cemitério, era um pouco lerdo, porém talentoso.
- Mantenha a lâmina distante da carne de um inocente… Nunca seja visto… E nunca comprometa a Irmandade! – Repetiu baixo enquanto pensava.
A Mentora lhe recompensou com um sorriso no canto do rosto e olhar de orgulhosa.
- Nós não temos esconderijo… Nós não existimos… A irmandade é um mito que poucos ousam falar, e Assassinos são mentira! – ela lhe disse – Nós surgimos do meio da multidão para em seguida sumir nas sombras dos telhados! Nós trabalhamos na escuridão para servir a luz! E servimos pelos inocentes! O credo da irmandade se resume nestas três pontuações e assim servimos ao propósito de eliminar a corrupção em prol do povo indefeso!
Leon guardou as informações em silêncio. O frio parecia penetrar no tecido de seu robe branco que ganhara na recrutação pelo homem de jeito rabugento que chamavam de Maquiavel, a noite ventava intensa sobre os telhados das casas, mas Claudia parecia inabalável diante daquela temperatura.
- Mas e o tal Mentor do qual comentaram? Ezio que criou todos esses códigos?
Cláudia desandou a gargalhar imprudentemente sem conseguir se segurar, até Leon ficou encabulado sem saber o que fazer já que deviam ficar silenciosos para não serem detectados, assim que ela segurou o riso, apontou para outra casa aonde o telhado era mais alto. Correram pelas telhas velozmente, Leon sentia seus pés escorregarem, mas a tutora parecia andar sobre elas como se fosse o próprio solo, acabando a beirada do telhado deu um impulso e desceu em pé no outro adiante. Leon tentou, deixou uma telha cair, e por pouco não caiu na rua abaixo junto, conseguindo com sorte segurar-se na beirada esfolando os braços e tendo a ajuda de Claudia para subir. Os bêbados alarmados caminharam de um lado a outro, assustados com a risada vinda do nada. A tutora se recompôs e abafou a risada que ainda teimava em continuar.
- Oh, oh! Scuzi! Hahah! Ezio!? Criando código? Ah, irmão Leon… Ezio não seria capaz de se auto-controlar em nada, o que o diferenciou esses anos foi a resistência e iniciativa! Mas acho que só o Credo será a regra que seguirá neste mundo! A Irmandade foi criada há muito tempo… Épocas imemoráveis! Na Roma e Grécia Antiga já existíamos, e se espalhou por todo o mundo… Em horizontes que nem você imagina! Ah... ah... Devo evitar rir assim, ou Machiavelli me dará uma bronca! Veja, nosso alvo.
Uma pessoa saíra pela porta da taverna, era um homem de barriga avantajada, em trajes da corte bordado à fios e folheado a metais preciosos que não condiziam com a cena miserável envolta. Tinha farto bigode burguês, olhos semicerrados de embriaguês e uma mão gorda repleta de anéis, logo atrás vinham seus guardas. Homens com bufantes e pistolas preparadas com a melhor pólvora. Era o embaixador português, um grande aliado dos Assassinos na Península Ibérica que deveria ser muito bem zelado. Os bêbados balbuciavam sobre vozes, bruxas e demônios derrubando telhas, o homem apenas apontava para os mesmos de maneira que os guardas se adiantassem para afastá-los e calá-los diante do cano preto das armas.
- Santo Padre cuidai destes espíritos na Santa Roma!
Proferiu embriagado fazendo um sinal da cruz torto e trocando as pernas enquanto caminhava. Mal podiam perceber os vultos que saltavam entre telhados, corriam sobre varais de madeira que interligavam as casas, ou lançavam-se por hastes de bandeiras, placas e suportes de lamparinas que lhes permitia maior velocidade. A acrobacia fazia parte da arte de ser um assassino, os grandes saltos, encontrar apoios para escalar quase qualquer parede rapidamente, ministrar qualquer vertigem e tudo com tanta destreza quanto furtividade. Claudia e Leon agora usavam o capuz sobre o rosto, obscurecendo seus semblantes e evitando que seus cabelos os atrapalhasse.
Saltos, passos sobre telhas, Cláudia segurou-o por duas vezes que por pouco não fora ao chão metros abaixo. Então a tutora interrompeu os passos, seguido pelo recruta. Os olhos vieram de dentro do capuz vermelho. Não mais castanhos, e sim amarelos, inumanos…
- M-mas, o q…
Claudia o calou com um dedo nos lábios, via a frente no telhado algo que o breu da noite vendava. Em poucos segundos a figura tornou-se um vislumbre que tomava a forma de um soldado papal, uma praga em tempos recentes. Após a morte de Rodrigo Borgia nas mãos do próprio filho César, Julius II assumira a liderança da Igreja, e por muito tempo virou patrono da Irmandade até que caiu enfermo de horrível peste e terceiros assumiram o poder… Terceiros para não dizer Templários. Agora a armada papal era novamente inimiga da ordem, e deviam se manter atentos. Leon puxou uma faca de arremesso de seu cinturão, mas Claudia o impediu repreendendo-o com o olhar. Fez um sinal para que a seguisse, e esgueirando-se por trás de chaminés, aproveitaram pontos cegos e enquanto o militar olhava em direções diferentes para passarem despercebídos. Em ponto seguro ela falou.
- Nenhuma morte deve ser causada sem propósito!
- Mas ele não era um inocente… Era um deles, nos mataria se tivesse nos visto…
- Não seja visto então… Se for, aí sim a morte deles deve a um propósito!
- Hey, o que fazem aqui!?
A voz fez um arrepio correr a espinha dos Assassinos, tanta discrição e atraíram a desconfiança de um guarda. Claudia respirou fundo, abriu os olhos na direção do aliado e se lançou na direção do guarda. Os passos da mesma eram ágeis como um lince, em instantes já tinha saltado de um telhado a outro sacando a adaga prateada que trazia na cintura e antes que o guarda pudesse ter certeza da figura que investia sobre ele, a lâmina já perfurara sua garganta, rasgando-a e impedindo que saísse o menor som. O sangue rubro se misturou ao vermelho de seu traje enquanto o corpo caía sobre o telhado. Ela agachou e gentilmente lhe fechou os olhos.
- Resquit en Pace! – ergueu-se e virou para o jovem – Ao nos ver sua morte se fez necessária por se tornar uma ameaça ao Credo! Mas ainda assim devemos respeito a eles, na morte todos são iguais… Independente do que fizeram em vida! Agora vamos ou perderemos o embaixador de vista!
Continuaram, e logo os olhos amarelos da tutora encontraram as figuras que cercavam protegendo o embaixador português. Leon estava intrigado, ela era capaz de ver mesmo na escuridão daquelas ruas tão pobres e iluminadas precariamente, mas como?
- Mentora, como posso usar essa habilidade de vocês com os olhos?
Claudia estava concentrada no alvo que parecia seguir em direção ao rio Tibre, talvez já fossem atravessar a ponte. A pergunta a deixou inquieta, de fato Ezio explicara pouco sobre aquilo.
- Não sei o que dizer! Ezio me contou que nosso pai possuía, o próprio Frederico meu irmão era mestre em achar coisas perdidas e Petruccio podia facilmente enxergar as penas de águia que colecionava! Acho que sempre teve haver com isso, como um dom que aparece nos olhos de algumas pessoas! Nunca entendi bem, Machiavelli me contou que tem haver com um poder antigo no sangue de algumas linhagens… Se chama Visão Aquilar, os Olhos da Águia! Pequenos detalhes, inimigos, aliados e objetivo, tudo se torna mais claro… Mas nem todos na Irmandade despertaram este poder! Nem mesmo alguns mestres assassinos que meu irmão treinou! Eu mesma só despertei este sentido há pouco tempo, mas não se preocupe… Estou de prontidão qualquer coisa. Aliás… - apontou para duas sombras que surgiam de becos furtivamente portando adagas, prontos para flanquearem a comitiva do embaixador - …trabalho para você!
Leon entendeu a ordem. Imediatamente correu e saltou da beirada do telhado em direção a uma carroça de feno estacionada ali como se de propósito. O som de caindo na área fofa foi mínimo, sequer atraíra a atenção. Sorrateiro, escapuliu ainda com feno preso à roupa e foi a passos cuidadosos e destros para próximo dos dois homens. Eram ladrões, mas não de qualquer tipo… Eram da guilda romana de ladrões conhecida como Cem Olhos, pagos pelos Templários para adquirir informação das ações dos Assassinos, e que agora queriam degolar o embaixador. Quando puderam perceber, os dois ladrões já tinham a figura de capa entre eles. Surgindo do nada como deve ser, ergueu os dois braços. Uma lâmina saltou de um bracelete com dispositivo no pulso de cada mão assim que os dedos se abriram e seus fios entraram na goela de cada um antes que qualquer grito alarmante fosse proferido. A seguir jogou os corpos na carroça de feno e desapareceu na escuridão do beco. Claudia sorriu com o sucesso da missão. Não demorou muito e logo ele já avançava contra uma parede pegando impulso de breve corrida para dar alguns passos na vertical e agarrar no parapeito de uma janela no segundo andar, apoiando-se, foi encontrando suportes até o telhado.
- Salute, leon! Continue, eu vou dar uma olhada melhor na área…
Claudia sorriu novamente e continuaram a avançar pelos telhados. Claudia então tomou rumo diferente, ágil subiu pela parede de um campanário. Suas mãos facilmente encontravam fissuras, relevos, janelas e qualquer coisa que pudesse se apoiar e subir cada vez mais. O frio da noite lhe arrepiava assim como a adrenalina. Abaixo ía se distanciando do solo seguro indo em direção a um ponto em que a vertigem teimava em querer dominá-la ao ver os telhados diminuírem consideravelmente. Após algum tempo estaria no topo. Uma água voou envolta piando como em resposta e Claudia respondeu com uma mesura de cabeça, em respeito ao símbolo da Irmandade. Ali a ventania soprava forte e fria assoviando enquanto a visão da grande Roma enchia seus olhos. As colinas no Aventino e Palatino estavam iluminadas pelas diversas casas erguidas entre as ruínas, o grande coliseu arruinado era como a sombra de um titã apagado ao longe, e nas termas de Trajano devia estar havendo alguma festa pagã que fugia aos olhos do Vaticano. Ativou seus olhos especiais, algumas auras pareciam delinear-se. Concentrada identificou alguns inimigos sobre telhados e becos, mas que não teria que se preocupar de perceberem-na. Adiante o embaixador era levado de uma margem do Rio Tibre a outra através de um bote que devia estar aguardando-o. Um ladrão aproximou-se pela água… Seria tarde demais até para Cláudia intervir, contudo, Leon já emergia atrás do homem e antes que pudessem ser percebidos, afundou com o mesmo. Devia ter injetado-lhe veneno e assim evitar que gritasse ou debatesse ou mesmo manchasse a água de sangue que poderia chamar a atenção do gordo lusitano.
O bote seguiu um pouco e parou, aonde o embaixador embriagado, na ajuda de seus guarda-costas, saía já próximos do ponto que deveriam estar alojados, a hospedaria pessoal das embaixadas em Roma na Ilha Tiberina, bem próximo do Esconderijo dos Assassinos de maneira que estes últimos pudessem manter controle antes que Templários fossem enviados. Claro… Isto em um passado em que tinham a ajuda do Papa Julius II. Hoje a hospedaria tão próxima lhes era um perigo considerável, já que os templários poderiam ficar em um ponto próximo do esconderijo. Algo estranho ocorreu, um dos guardas do embaixador Miguel do Porto desembainhava um florete sem motivo aparente. Os olhos da Auditore retomaram a cor dourada e ela engoliu o suspiro… Via a hostilidade exalar de cada guarda, sem dúvida eram traidores. Nâo tinha como chegar a tempo ou mesmo imaginar que Leon tivesse visto. Então sua reação foi um assovio alto.
Os guardas não entenderam de onde viera aquele som agudo alto. Pararam hesitantes até que um desabou com uma seta de madeira enterrada nas costas perfurando pulmão e coração em um único trespassar. A seguir a figura em robe branco molhado surgiu de espada em punho se lançando sobre um dos homens armados. Houve tiros e fumaça escura mal cheirosa banhou o ar. Um assassino saltou de um telhado e enterrou a lâmina oculta entre o ombro e pescoço de um deles, passando sem estragar as costelas e perfurando o coração do homem. Um dos soldados bloqueou a investida de Leon que esperou o retorno de maneira nem um pouco higênua. A Lâmina desceu de cima para baixo, bloqueou e jogou devolta na mesma direção abrindo a guarda do homem, em resposta esticou o braço esquerdo e perfurou o abdomen do soldado que desabou na água do rio gaguejando de dor. O português estava pasmo, homens em trajes brancos surgiam de todas as direções e eliminavam os homens que viera consigo. Assim que a peleja finalizara, Claudia deu impulso com os pés e lançou-se daquela altura para as águas frias do rio Tibre. O Credo não tinha religião definida… Não tinha deus… A crença era no próprio homem. A um humano que entenda que a natureza, os conceitos e significados são disfarces e ilusões que se faz acreditar, e assim entende que suas próprias ações é que trazem consequências, percebe que Nada é verdade… E tudo lhe é legítimo. Assim era o caso do que chamavam de Salto da Fé, um ritual da Irmandade que acreditavam que independente de aonde estivessem, ao se lançarem de peito aberto de qualquer altura, sempre algo apararia-os da queda. E Claudia o realizava neste momento de cima do alto campanário.
O vento que vinha do leste agora era debaixo para cima, esvoaçando seus trajes de seda vermelha e fazendo tudo abaixo vir em uma velocidade consideravelmente grande. Ela podia ouvir o assovio em seu ouvido, como um guincho de uma águia, um sentimento comum quando se realizava o salto. Seu mergulho fez espirrar alto a água fria do Tibre.
Logo saía incólume, apenas molhada, de dentro do rio e seguindo em direção ao embaixador com o capuz cobrindo o máximo possível sobre o nariz. Seu sorriso feminino e apaixonante atraía os homens, até que percebessem seu temperamento, e logo o feitiço ía caindo sobre o português de barriga saliente. Com um gesto Claudia dispensou todos, inclusive o talentoso Leon, e seguiu acompanhando o embaixador.
- Agradecido fico a vosmicê, garina!
- É apenas um pequeno serviço, embaixador… À um aliado importante! Antes de deixá-lo em sua porta em segurança. Há algo que traz para nossa Doce Casa? – Claudia falava de dentro do capuz. Sentia aproximações hostis, mas aguardaria o momento certo.
- Oh sim, garina! Ouvi falar que há uma peça em posse dos espanhóis no novo mundo… Avise apenas isso a seu Mentor, é o máximo que oferecerei por hora!
- Va bene! Avisarei a nosso Mentor assim que ele retornar, ficará feliz sobre a notícia!
Os perseguidores já estavam quase sobre ela quando percebeu que era o momento. O primeiro, um guarda papal, estocou com uma lança. Hábil, a jovem girou o corpo escapando e pegando a haste, puxando para desequilibrar o oponente e com a mão livre retirou a adaga da cintura e enterrou na cabeça do homem pelo olho esquerdo perfurando-lhe a cabeça. O seguinte viera por trás, segurando-a pelo braço e imobilizando, enquanto outros dois iam na direção de Miguel do Porto que caiu na lama amedrontado. Com movimento rápido, Cláudia puxou o braço do homem que a segurava e o fez dar cambalhota por cima dela, caindo a seus pés. Antes que o mesmo pudesse se mover, pisou contra sua garganta eliminando-o em um sonoro e doloroso crack.
Com um golpe um dos guardas rasgou o braço esquerdo do português que por pouco não fora degolado, por sorte Cláudia já estava sobre eles, abrindo os braços e perfurando-lhes o pescoço com a lâmina que Da Vinci lhe preparara para a ser portada no braço direito e com a adaga segura na mão esquerda. Uma Assassina de potencial, como seu irmão vira anos atrás.
- Estás bene, ser Porto? – estendeu-lhe a mão para que levantasse.
- Sim… Essa ferida cuidarei amanha, garina! Agradecido pela companhia, irei a meus aposentos!
Trôpego, passou pela porta da hospedaria de embaixadores e seguiu para seu quarto. A ferida seria cuidada por médicos de sua caravana e a cama cuidaria da embriaguês. Cláudia, contudo, continuou o caminho ignorando os corpos dos soldados, ela mergulhava em dúvidas. Sempre quisera entender essa história das Peças do Éden, artefatos os quais praticamente toda sua vida estava envolvida. Sabia que tinha haver com uma civilização do passado capaz de produzir esses equipamentos surreais de poder incrível que misturava tecnologia e feitiçaria de alguma forma e moldara em diversos objetos. Um deles em especial presenciara a vida toda, sem ter podido tocar por intermédio de seu irmão, a Maçã. Não uma fruta, mas um globo dourado com placas contendo uma luz dourada mais pura que ouro e mais forte que fogo. Vira raras vezes Da Vinci ativá-la em meio aos estudos ou mesmo Ezio em situações extremas. O globo revelava em sua luz ofuscante números, imagens estranhas, sons que não se ouvia, apenas entendia, e fazia coisas bizarras como criar ilusões dos mais próximos que sumiam depois de um tempo. Hoje repousava em algum lugar arquitetado pelo próprio Ezio antes de partir em sua missão ao Oriente, mas sabia que tinha que encontrar as demais Peças dessa tal civilização que viera antes, pois fosse magia ou ciência, esses itens em mãos erradas como a dos templários poderiam causar sérios danos à sociedade e a própria história do mundo. Maquiavel contava a história que alguns desses podiam controlar mentes, como no famoso caso de anos atrás, em Florença, quando o monge Girolamo Savonarola furtou de Ezio a maçã e colocou toda a cidade sob seu controle hipnotizando os grandes líderes urbanos, evento conhecido como a Fogueira das Vaidades.
Independente de qualquer problema, a atual líder da Irmandade de Roma terminara seu serviço por aquela noite, só tinha mais uma coisa a fazer. Dois jovens recrutados há semanas haviam adquirido o mérito de alcançar o posto de Assassinos, e assim deveriam passar pelo ritual. Apressada, entrou em uma porta que parecia ser uma qualquer naquele vasto bairro que formava a ilha Tiberina e seguiu descendo a escadaria de mármore para os subterrâneos, o esconderijo da ordem. Correu pelo saguão vazio e subiu as escadas secretas até seu aposento. Removeu o robe vermelho molhado no Tiber e colocou a roupa branca cerimonial de Ezio na época que era jovem e antes de adotar os trajes de Mentor. Depois deveria seguir ao Grã-Salão Cerimonial.
Feito em um grande aposento de mármore, com esquifes guardando os corpos de grandes nomes da Irmandade, as velas já estavam acesas por todo o canto. Os rostos dos Assassinos que presenciariam a cerimônia estavam ocultos pelos capuzes, menos de um homem, ao lado da pira repleta de palha fumegante. Alto, de nariz adunco, olhar severo, cabelos bem penteados já em fios brancos e em trajes de corte bufantes, Maquiavel aguardava a líder. Não trocaram uma palavra, mas ela já imaginava o sermão depois por ter se atrasado até tão tarde da noite. Posicionada ao lado do homem que lhe servia de tutor desde que Ezio partira, convocou com a mão para que os homens viessem em sua direção. Eles, em trajes brancos e rostos erguidos por dentro do capuz miravam a líder Auditore.
- Laa shay’a waqi’un moutlaq bale koulon moumkineEstas são as palavras pronunciadas por nossos ancestrais, que repousam no coração de nosso Credo… Onde outros homens cegamente seguem a verdade, lembre-se… Nada é verdade. Onde outros homens são limitados pela moralidade ou pela lei, lembre-se… tudo é permitido! Trabalhamos na escuridão, para servir à luz. Somos Assassinos.
Ela então pegou uma espécie de chave de remover grandes parafusos que tinha sido enterrada na palha do braseiro. Seu metal estava vermelho na ponta enterrada, fervendo.
- Nossos ancestrais pediam a carne… O dedo anelar fora como promessa e iniciação à Irmandade, hoje em dia isso não se encontra mais necessário! – explicou Maquiavel cerimonialmente enquanto Claudia fechava a ferramenta fervente nos dedos de cada um, fazendo chiar e a pele borbulhar queimando no formato de uma aliança, sem que dessem um gemido, agüentando a dor da promessa – Isso dói por um tempo, irmão. Como tantas outras coisas!
- Nada é verdade! -  disse Claudia finalizando – E tudo… É Permitido!
Maquiavel e a jovem guiaram os dois até o topo da torre do esconderijo que se elevava acima dos telhados das casas. Dali, em meio a noite de Roma, saltaram de olhos fechados e braços abertos em direção ao Tibre muito abaixo… Davam o salto da fé… Iniciavam-se como Assassinos… E começavam uma carreira de assassinatos em prol do bem social e moral política. Essa era a Irmandade, e este era o Credo dos Assassinos.









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