Debatendo o futuro do RPG
Li
hoje um ótimo artigo do blog Rolando 20 (e que convido todos à lerem) sobre o
futuro do RPG. O autor estava tentando descobrir como ficará o mercado de RPG
após o lançamento de D&D Next. Ele, o Daniel Anand, um auto-confesso
adorador do sistema D&D ponderou sobre os erros da Wizard of The Coast ter
passado do sistema OGL, da 3E para o sistema 4E e todas as suas modificações. O
resultado para ele, e que concordo em gênero, número e grau, foi desastroso e o
lançamento de D&D Next é uma tentativa de resolver isso.
Para
ele o resultado é mais, como ele mesmo diz no artigo, uma forma de “jogar panos
quentes” e tentar amenizar o erro que cometeram. Ele termina o artigo
desabafando que existem dois resultados possíveis com o lançamento de D&D
Next. O primeiro, mais otimista, seria da Paizo tomando o lugar da Wizard e
ditar os rumos do RPG. O segundo, e mais pessimista, o mercado se fragmentar e,
segundo ele, alienar ainda mais os jogadores.
Depois
de ler isso resolvi deixar aqui a minha contribuição para o tema. Primeiro
tenho que concordar com o Daniel sobre o tremendo erro que a WotC cometeu ao
simplesmente abandonar o OGL. O sistema de licença aberta deu uma alavancada
enorme tanto no hobby em si como na produção. Por um lado os jogadores se
sentiam parte atuante do universo do RPG, por outro lado muito material
sensacional ganhou as prateleiras vindo dos mais diversos locais e editoras. E acho
que este é um benefício que não se perdeu. Com o abandono, por parte da WotC da
OGL, muito material continuou a ser lançado pois a prática passou a fazer parte
da forma de se fazer RPG – produzir para o seu cenário e sistema favorito
tornando o seu material relevante. Com isso acho que não é exagero dizer que o
D&D está longe de ser um sistema acabado. Podemos considerar a versão 4E
como carta fora do baralho, mas o sistema está forte sim e com um lugar cativo
dentre os sistema de RPG atuantes no mundo. Este é um resultado anterior ao
cenário atual e que é, se é que posso assim dizer, determinante para o que
veremos em seguida.
Tendo
deixado isso claro foi enveredar pela opinião do Daniel sobre o que virá à
seguir. Acho que o próximo capítulo será um fortalecimento da multipolarização
dos sistemas no mercado e considero isso muito positivo, diferente dele. Por
que isso acontecerá e por que será positivo?
Isso
acontecerá, e está acontecendo nos últimos tempos, por dois motivos banais. O
primeiro deles é a internet e a comunicação global. Sei que parece chover no
molhado, mas o advento da facilidade de comunicação mundial continua gerando
efeitos e o RPG é um deles. Hoje todos têm acesso à qualquer sistema criado em
qualquer parte do mundo em instantes. E isso, por si só, impulsiona a criação
de mais material. É um verdadeiro sistema retroalimentativo, ou seja, ele é combustível
dele mesmo, sempre crescendo. Este é o advento dos RPGs indie. É impossível
parar esse processo mesmo com uma grande editora ou um grande sistema
encabeçando o mercado. Então, mesmo que tenhamos um sistema forte arrecadando ‘financeiramente’
muito lucro, ainda teremos uma polarização enorme do mercado, no que diz
respeito à prática dos sistemas jogados. Isso acaba por, de certa forma, frear
a hegemonia de um único sistema.
O
segundo elemento que acaba por fortalecer essa polarização é o advento (‘gostei
da palavra’) dos financiamentos coletivos. Hoje em dia se consegue financiar de
filmes à games, de quadrinhos à RPGs. Isso acaba deixando ao alcance de
qualquer um a possibilidade de lançar ‘seu’ sistema ou cenário no mercado.
Sabemos que apenas boas ideias acabam vingando, mas boas ideias são o que não
faltam e o mercado atual prova isso. Muitos sistemas importados saem lá fora
graças ao financiamento coletivo e depois acabam chegando por aqui e agradando
muito.
Com
essas duas coisas simples acho que posso dizer que o futuro do mercado de RPG é
a polarização, quem sabe extrema.
Mas
e por que acho isso positivo?
Acho
isso positivo, pois não acredito, e isto é uma posição pessoal, que o mercado
tenha que ter necessariamente um sistema ou editora ou cenário ditando regras
para a prática do RPG. Não posso acreditar que ‘limitar’ é melhor do que ‘variar’
e ‘expandir’. Da mesma forma que temos ótimos exemplos de grandes editoras que
trouxeram ótimos sistemas e cenários, também temos ótimos exemplos que pequenas
iniciativas que viraram grandes sucessos, e não necessariamente sucessos de
mercado, mas como relevantes ao aprimoramento da prática do RPG e de novas
ideias.
Eu
realmente saúdo tudo o que vir para agregar valor à prática do RPG ampliando ao
máximo sua prática, sua abrangência e os horizontes da criatividade.
4 comentários:
Pois, eu inclino-me mais para a tua opinião e também vejo q multipolarização como algo positivo. :)
A meu ver, o sistema da quarta edição não é de tão nefasto assim como dizem. O grande problema foi ter mexido na mecânica do jogo tentando emular os MMORPGs. Eu sou da opinião: se eu quero jogar um MMO, eu jogo no computador e não na mesa. Mas os conceitos inovadores da quarta edição poderiam ser aproveitados sim no d&d next. O que fez ruir a terceira edição foi justamente essa 'libertinagem' em criar conteúdos. Os livros novos não se preocuparam com o equilíbrio e criaram classes, raças e poderes totalmente abusivos e destruiram com o equilibrio do sistema. A concentração pode ser boa se o material for de qualidade e mantiver o equilíbrio do sistema.
Fui jogador de muitos anos da 3º edição, mas gostei muito mais da 4º. É mais equilibrada, organizada e trouxe todo um material novo para o hobby.Deixou de ser OGL? E daí? Pelo que eu saiba nenhuma outra grande editora possibilita a licença aberta dos seus sistemas (vide White Wolf e Steve Jackson Games).
também vejo como algo positivo, inclusive por que dá mais concorrência e aumenta a quantidade de RPGs para cada pessoa escolher o que lhe agrada mais.
E acho que a WOTC não precisa fazer uma nova OGL com o próximo sistema, os livros da White Wolf e de vários outros sistemas não são abertos, e ainda assim vendem bem. Perseguiram demais a WOTC por causa disso.
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