quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Mutantes e Malfeitores: Analisando os Descritores


Analisando Regras: Descritores

Voltando ao nosso debate sobre regras do sistema Mutantes e Malfeitores vamos abordar, desta vez, a questão dos descritores. Uma dúvida que eu tinha logo em meu primeiro contato com o sistema foi no que tange aos descritores e como os utilizar. Logo que conheci o sistema, apresentado pelo Rafael, da Jambô Editora, ele me disse para atentar bem com essa questão, pois isso facilitava muito a construção dos poderes, mas ao mesmo tempo, poderia confundir.

Estamos acostumados, ou podemos dizer viciados por certos sistemas, à criar efeitos já prontos e acabados. Se queremos um raio elétrico escolhemos a magia “relâmpago” ou mesmo “raio”, se desejamos aplicar um jato de areia temos de escolher “jato de areia” (perdoem-me a redundância). Por um lado isso facilita muito e não abre margem para controvérsias. Mas ao mesmo tempo isso acaba por nos limitar.

Bem sabemos que o sistema Mutantes e Malfeitores é um sistema que prima pela universalidade, pelo seu caráter genérico e abrangente. Como tal ele tenta não restringir nossas possibilidades. Mas temos que ter um certo cuidado pois para um bom entendimento temos que ter uma boa compreensão da mecânica conceitual do sistema.

M&M compreende e diferencia alguns poderes por sua natureza tanto no que diz respeito ao seu efeito quando à sua forma de utilizar. Ao sistema não importa se o determinado poder causará um raio azul com purpurina. O que importa é o tempo que ele dura, o alcance, como resistir à ele (se possível) e o dano à partir de sua graduação. Este é um entendimento que temos que ter quando vamos jogar, criar um personagem novo ou mesmo adaptar um personagem já existente.

Como estamos acostumados à sistemas que nos indicam as coisas, que equivalem aos poderes, já de forma terminada, nos habituamos à imaginar nossos poderes hermeticamente ligados aos efeitos. Para montar um poder em M&M temos que transcender isto e mudar nossa visão de elaborar nosso poder.

Alguns exemplos podem ser utilizados para demonstrar isso.

Um poder que serve muito bem como exemplo é Pasmar. Pasmar é um poder que causa uma fonte de distração à um alvo (ou alvos) determinado. Por exemplo, a personagem Cristal, mutante do universo Marvel que consegue manipular a luz (não vamos entrar em detalhes mais profundos aqui), e com a utilização dessa luz consegue cegar seus alvos por um tempo determinado. Para M&M não importa qual o material que cegará o alvo momentaneamente, e sim qual o sentido que o poder influencia (visual, auditivo, olfativo etc), o quão rápido isso será aplicado ao alvo (ação), até onde atingirá (alcance), se será ou não resistido pelo alvo, e por quanto tempo o poder permanecerá ativo. Desta forma eu posso aplicar o mesmo poder, com a mesma graduação, para personagens tão diferentes como Cristal e Pó, a primeira dificultando a visão do alvo com luz e a segunda com uma nuvem de areia.

Outro bom exemplo seria o poder Raio. Há uma gritante diferença entre o raio que Cíclope aplica através de seus olhos ou as flechas disparadas pelo Gavião Arqueiro. Pode parecer loucura mas, no que diz respeito ao sistema M&M, os dois são a mesma coisa.

O descritor, como o próprio nome indica, é a forma como descrevemos um determinado poder, dando mais realismo e credibilidade para ele, dando, como bem diz no Módulo Básico, dando aparência à um poder. Seria o diferencial que faz com que o sistema frio e genérico de M&M ganhe cor e beleza. É claro que não é só isso. Como o sistema se presta para ser um sistema genérico, ele não poderia esmiuçar cada tipo de poder em todas as suas nuances. Ao mesmo tempo ele não pode generalizar demais para não correr o risco de ser considerado superficial. Assim os descritores servem, primeiramente, como um elemento estético, e também como uma forma de especificar um poder que, em sua origem, é colocado como generalista.

Indo um pouco mais além, o descritor também auxilia, e isso não é por acaso, na interação do poder com a história. Ou seja, todos sabemos que existem zilhões de tipos diferentes de raios e zilhões de tipos de proteções ou imunidades. O descritor também serve para casar situações como essas. Imagine se tivéssemos apenas Raio e Imunidade, ambos de forma genérica. Quem tivesse o poder Raio nunca conseguiria ferir quem tivesse Imunidade. O outro extremo também é entendível. Imagine se o manual fosse descrever cada um dos zilhões de raios e imunidades, criando uma regra para cada um deles... não haveria livro que chegasse para isso!

Na minha humilde opinião a ideia dos descritores é uma das grandes sacadas da Green Ronin e dos criadores do sistema. Isso poupa trabalho ao mesmo tempo que leva o sistema até quase às infinitas possibilidades.


Claro que existem ainda outros subterfúgios (no bom sentido) para definir ainda mais o poder de seu personagem, dando um caráter ainda mais pessoal, mas isso será o tema de outra postagem.

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