Por muito
tempo, não sei quantos dias, quando se fica preso sem poder ver sequer a luz do
dia, fica difícil contabilizar este tipo de conta, mas acho que já faz uns dois
meses que estamos aqui, presos dentro deste inferno chamado loja de brinquedos.
Foi muito
rápido, a TV começou a divulgar alguns tumultos em umas cidades da Ásia, perto
da Rússia, acho eu, sei é que as pessoas estavam pirando. No outro dia, estava
na casa da Raquel, quando a TV divulgou uma cena nos EUA de um grupo de pessoas
fugindo da cidade onde moravam em Seattle. Lembro até hoje do nome da cidade,
por causa da banda Nirvana, minha preferida; esse pessoal foi entrevistado e
disseram que as pessoas de lá estavam se matando.
Depois disso,
foi só correria e pânico. Perdi meus pais, um irmão e a minha namorada Raquel
também perdeu os seus pais. Até onde sabemos, sua irmã conseguiu fugir, não se
sabe para onde.
Raquel
interrompe:
- Carlos! Estão
batendo na porta!
- Fica quieta.
- Abram! –
Exclama uma voz tremula em desespero.
- Eu sei que tem
gente aí!
- Abram merda!
- Eles vão me pegar!
- Droga,
Raquel, vamos ter que deixá-lo entrar se não o zumbis vão nos ouvir.
- Carlos,
cuidado.
- Certo, vai
para trás do balcão!
- Vamos logo,
abre! - diz o maldito visitante inesperado
- Calma cara!
- Abre!
- Eles estão
perto!
- Vai!
Com muita
dificuldade, pois havia muitas coisas em frente à porta, consigo liberar a
entrada, abrindo-a para o homem que pedia socorro.
- Fecha! –
grita ele desesperado.
- Vai, fecha!
- Meu Deus,
Carlos, fecha logo, tem milhares lá na frente!
- Tô tentando!
– respondo com dificuldades.
Os mortos
vivos já haviam chegado na porta e enfiavam os braços pelas fendas para tentar
nos agarrar.
- Me ajuda
aqui cara, não to conseguindo segurar a porta! - Digo.
- Carlos! A
janela! – Grita Raquel.
- Merda eles
estão entrando!
- Viu o que
você fez seu filho da puta! Vamos morrer!
- Cala a boca
e empurra! – retruca o homem sem nome.
Pelo canto do
olho, vi Raquel pegar um taco de basebol, que a loja de brinquedos vendia, e
começar a bater nos braços dos mortos vivos que estavam quebrando a janela.
Naquele
momento já podíamos sentir o cheiro de carne podre que os corpos dos zumbis
exalavam por estarem em decomposição, podíamos sentir o desespero destes
monstros para saciar a fome que lhes corroíam as entranhas. Salivava um sangue
negro e denso que escorria de suas bocas, como se estivessem se preparando para
cravar seus dentes em uma carne úmida, vermelha e extremamente quente.
- Raquel,
cuidado! – grito.
- Carlos me
ajuda! Me pegaram!
- Cara não sai
daqui! Se soltar eles vão entrar! – diz nosso novo integrante
- Tudo isto é
culpa sua, seu desgraçado!
- Não solta!
Não solta! Têm muitos lá fora, eles vão entrar!
Ele me ordena
com cólera.
- Foda-se! Não
vou deixar que a mordam!
Largo a porta
e numa corrida, pulo em cima de Raquel, libertando seu braço que estava preso
por uma mão podre que atravessava a janela de madeira.
O que não podíamos
imaginar era o quão rápido os zumbis conseguiram encher a sala de entrada da
loja. Pela primeira vez, bem de perto, pudemos ver o que se tornaram aquilo que
um dia foi chamado de vivos.
Peles podres,
sangue coagulado pelas roupas, braços e parte dos rostos arrancados ou mordidos
e o pior de tudo, crianças. Vimos atacarem o homem que até pouco tempo atrás
tentávamos ajudar, e isto infelizmente foi a nossa sorte, pois eles se
distraíram primeiro com a sua carne.
O primeiro
zumbi o mordeu pelo braço com tamanha pressão que o segundo zumbi não teve dificuldade
de morder a sua face arrancando parte de seu olho, nunca vi tanto sangue
jorrar, nunca ouvi gritos de dor como a que aquele homem desconhecido pronunciou.
- Seus merdas!
Seus merdas! – foram as últimas palavras do homem sem nome.
- Raquel, pros
fundos! – digo desesperadamente.
- Vai!
- Carlos!
- Vai!
- MeuDeus! MeuDeus!
- Raquel sobe!
- Sobe as escadas!
- Carlos!
- Vai!
- Sobe!
- Aqui, Raquel
me ajuda a empurrar um armário.
- Vai, empurra!
- Carlos eles estão
subindo!
- Eu sei porra,
me ajuda!
- O armário
cai, levando os primeiros zumbis escada abaixo, e isto me dá tempo de ver uma
única porta aqui encima.
Aponto - Raquel,
lá, vamos entrar!
- Fecho a
porta: - não acredito! - É um banheiro! Fudeu.
- E cadê a
merda da janela?
- Carlos a
porta não vai aguentar!
- Mas que
merda!
- Merda,
merda, merda!
- Carlos, a
luz tá falhando – Raquel diz, olhando para o teto e vê a última fagulha de luz
se apagar.
O barulho que os zumbis fazem ao bater na
porta, sem parar por nenhum segundo, é ensurdecedor.
- Shhh! –Digo
... e, em tom quase inaudível comento: Olha só, senta aqui. Vamos ficar
quietos, talvez eles se esqueçam e daqui um tempo acabem indo embora.
- Mas Carlos?
- Silêncio
Raquel, silêncio. Não se preocupa que vou pensar em algo certo? Agora silêncio.
Silêncio.
NOTA: Este é o primeiro conto de Marcelo brasil, meu irmão, aqui na Confraria de Arton. Curtam, comentem e aproveitem. Em breve novidades.