Hero Kids, um RPG
verdadeiramente para crianças
Em
todos os encontros de RPG, sejam nacionais ou reuniões locais, um dos temas
recorrentes é em qual idade e como introduzir o RPG. È bem verdade que possuímos
sistemas simplificados para introduzir novatos tal como 3d&T, aventuras
solo e mesmo o saudoso RPGQuest. Mas e se a intenção for introduzir o RPG para
crianças? É inegável todas as vantagens que a prática do RPG traria para
crianças tanto em seu desenvolvimento cognitivo quanto na ampliação de sua
criatividade, além do comum estímulo à leitura. Então pergunto novamente, como
introduzir o RPG para crianças?
Parece
que a questão foi respondida em 2012 pelo australiano Justin Halliday criando o
Hero Kids, para a Hero Foge Games (pequena empresa pertencente ao próprio
autor). Apenas para mostrar primeiramente a credencial deste RPG, ele tirou a medalha
de prata na categoria Best Family Game no ENnies 2013 perdendo apenas para o “Doctor Who: Adventure in Time and Space –
11th Doctor Editon”, da Cubicle 7.
Justin
é um designer de videogames que jogava a 4ª edição de D&D até que resolveu
criar seu próprio jogo de RPG para sanar alguns problemas que ele via na
dinâmica daquela edição de D&D. Assim surgiu “Heroes Against Darkness”. Ele
conta em uma entrevista que quando terminou seu jogo sua filha mostrava
interesse pelo que ele estava fazendo e ele decidiu começar o RPG com ela, mas
todos os sistemas ou eram muito simples ou muito complexos. Assim ele se
decidiu por um novo projeto – um RPG para crianças. Esse era o nascimento de
Hero Kids.
Hero
Kids é um RPG para crianças de 4 a 10 anos que apresenta de uma forma simples e
prática os principais fundamentos do hobby. Como Justin mesmo diz na introdução
do livro básico, “RPGs são o único e o melhor caminho para ensinar nossas
crianças um grande número de perícias, tais como: matemática, probabilidade,
noção de tempo, resolução de problemas, desenvolvimento da imaginação, atuação e
história.”
Outro
grande diferencial do sistema é que as crianças irão jogar com personagens
crianças também, onde as aventuras são condizentes com seu imaginário no melhor
estilo “As Crônicas de Spiderwick”. Os personagens possuem, ao invés de
atributos básicos, níveis de ação básicos. Na ficha há espaços para “Ataque com
espada”, “Ataque com arco”, “Magia”, “Defesa” e “Pontos de Vida”. Conforme o
seu personagem, divididos entre guerreiro, caçador, sacerdote ou mago, um dos
três primeiros campos mostra (apenas) quantos dados o personagem usa na ação.
Veja o exemplo abaixo!
Os
elementos básicos são ensinados de forma fácil e prática – movimento,
iniciativa, ataque, defesa, round e turnos, tudo fica entendido em poucas
palavras. Os testes de dados – o jogo usa d6 – também tem uma resolução simples
onde o maior valor vence, onde a noção de probabilidade é trabalhada na criança
jogando entre os elementos “valor do dado” e “quantidade de dados”.
Habilidades
também estão presentes e igualmente são trabalhadas de forma fácil para as
crianças. Os elementos “espada”, “arco” e “magia” que constam na ficha funcionam
como os atributos que são somados ao d6 (com ou sem a utilização de algum equipamento).
Isso já trás a noção (ainda que eles nem percebam isso) de classe, já que ações
física são mais facilmente realizadas por que tem a espada, ações de equilíbrio
são mais facilmente realizadas por quem tem o arco, e ações intelectuais são
mais facilmente realizadas por quem tem a magia.
O
manual básico, embora com uma linguagem fácil para crianças, é na verdade um
manual para os pais. Um verdadeiro roteiro de como usar o RPG com a criança. Na
parte final existe um apêndice com dicas de como lidar com violência, moral,
valores etc.
Como
é normal para crianças dessa faixa etária o elemento visual é muito importante,
por isso o jogo todo é usado juntamente com miniaturas e tabuleiro (aquele
modelo de mesa simples que todo o rpgísta já está cansado de conhecer). Todas
as peças e mapas da primeira aventura são fornecidos dentro do próprio livro
básico. Aventuras separadas vêm com suas peças e mapas também. No Básico existem
dez personagens com seus tipos variados, para as crianças perceberem as
diferenças entre tipos de personagens, desde os mais extremos para força ou
magia, até os balanceados. Todos os animais também possuem suas fichas nos
mesmos moldes das dos personagens.
O
sistema todo é apresentado em quase quarenta páginas com uma produção, que
embora em preto e branco, é muito bem feita. As imagens chamam a atenção das
crianças pela simplicidade, mas com qualidade.
O
jogo pode ser adquirido em pdf ou impresso (em preto e branco ou colorido) por
um valor entre $ 5 e $12 dólares - AQUI. Além do básico já exixte um grande número de aventuras prontas.
10 comentários:
Será que alguém me julgaria de maneira errada se eu dissesse que fiquei com muita vontade de jogar esse jogo?
HAHAHAHAHAHA.... claro que não ...RPG é RPG, não importa o nível ou dificuldade!!!!
Cadé uma editora brasileira da nova geração pra trazer esse material em portugues pra gente? Seria uma boa!!! Tenho filho e fiquei com muita vontade de mestrar hero kids pra ele!!!
Ótima matéria sobre um material que pode fornecer grandes idéias para os game designers do Brasil, quem sabe ? Sobre rpg para crianças, Herbert, temos o Kids and Dragons, traduzido pela fly ape e em breve deve vir mais coisas por ai...
Que bom que todos estão gostando...realmente é um tema muito importante....
Minha intenção quando comecei a escrever a matéria era, além de apresentar para todos esse ótimo material, ver se a alguma editora se aventurasse em lançá-lo por aqui...
Quanto ao Kids and Dragons, Petrus, se conseguir algum material posso divulgar por aqui!!!!
Bacana para crianças perto dos dez anos, para as mais novas faço reflexões. Há questões de 'atacar', 'armas'. Há 'morte'?
Comecei a jogar com minha sobrinha quando ela tinha 5 anos, fará 8 em abril. Usamos d6 assim e vamos criando as histórias, pode acontecer tudo, qualquer coisa mesmo. Com 3, 4, 5 e 6 consegue. Com 1 e 2 não consegue.
Gilson
Gilson, entendo tua preocupação e concordo com ela... o ideal é que o tema seja condizente com o amadurecimento de cada criança e essa avaliação deve ser feita com o adulto/mestre
Em muitos casos pode-se fazer jogos criativos onde ao invés de 'mortes' pode´se simplesmente desligar os robôs inimigos ou prender os adversários !!!
Isso, João. Quando faço apresentação de trabalho científico nos eventos acadêmicos, algumas professoras interessadas no RPG na educação (não foi a linha de minha dissertação) perguntam se serve para crianças. Eu conto a história de dinossauros com crianças de seis anos (livro Anais do Iº Simpósio RPG e Educação), e que é melhor para adolescentes o material que entrego está em www.rpgsimples.blogspot.com)
Gilson
Quem quiser uma tradução caseira:
http://aventurasinacabadas.blogspot.com/
vou tentar jogar 3d&t com a minha sobrinha este mês mas vou tentar maneirar nas minhas descrições de ataques pra não serem muito violentas e sangrentas, e não vão ter armas de decapitação (armas vorpais) na aventura.
Postar um comentário