segunda-feira, 25 de maio de 2015

Material de Apoio: Curso de Heráldica I


O Início da Heráldica
Quantas vezes nos deparamos, em filmes e jogos de rpg principalmente, com escudos e brasões e nos perguntamos – será que existe uma lógica, uma regra nisto tudo? Será que possuem algum significado? Será que passam alguma mensagem ou demonstram alguma intenção? Pois tudo isso está correto. Os escudos e brasões representam ideias, ideais, concepções, tipo de pensamento, linhagem subserviência e muito mais. O nome disso é Heráldica.

Heráldica (também conhecida por armaria ou parassematografia) é a verdadeira arte de formar e interpretar brasões. Um conceito um tanto simplista seria de que “a heráldica é a ciência que estuda e interpreta as origens, evolução, significado social e finalidade da representação icônica da nobreza, isto é, dos escudos de armas. Como ciência, a heráldica é atual e autônoma, embora intimamente ligada à história e à arte”. Infelizmente eu considero ele parcial pois quem já estudou, mesmo que de forma superficial sabe que estudar um brasão é como desvendar um mistério, como procurar nuances escondidas num quadro pintado, tentando perceber o que o artista estava tentando transmitir. É a apreciação da arte num de seus mais interessantes elementos.

Durante a Idade Média uma das atividades mais importantes e requisitadas para a realização dos torneios de cavalaria e justas era a do “heraldo” (daí a origem do nome). À ele recaía a responsabilidade de apresentação dos cavaleiros, assim como a sua identificação adequada, atestando sua nobreza. Isso por si só já demonstra a importância do procedimento de dar um símbolo à uma pessoa passando este a ser sua verdadeira identidade.

A história da heráldica, como ciência interpretativa, ainda não tem pontos seguros para seu início. A teoria mais aceita remonta para o início das invasões árabes à Europa, levando o surgimento da heráldica à Península Ibérica em pleno século VIII. Mesmo assim o reconhecimento de uma organização e codificação apenas aconteceu muito tempo depois, no século XII.

Mas por que essa necessidade? Uma razão aceita, e até certo ponto muito simples, era de que a heráldica surgira (ou se desenvolvera) para pura identificação pessoal de cavaleiros durante as batalhas ou suas funções. Inicialmente os brasões eram usados pelos chefes militares em seus escudos (fim do século XI). Numa época em que um cavaleiro usando uma armadura ficava sem a possibilidade de que fosse devidamente identificado, um sistema que sanasse isso era imperativo. Eles começaram a se identificar, assim como nobres em campo de batalha, com brasões (século XII). Fosse num torneio, fosse num combate, a confusão sobre quem era aliado ou inimigo ocorria. Com isso emblemas pessoais eram pintados nos escudos, elmos, nas roupas sobre a armadura e nas coberturas dos cavalos. Pode-se dizer que foi a primeira representação de identidade visual criada.

Posteriormente os brasões foram também representando mulheres (os brasões para as mulheres se chamam lisonjas) e nobres prelados (fim do século XII); juízes, artesãos, burgueses, corporações e comunidades urbanas (início do século XIII); comunidades eclisiásticas e ordens religiosas (século XIV); senhorios, domínios, províncias, universidades e administrações civis (século XV).

Inicialmente, no século XII, a aceitação foi tão grande que rapidamente se difundiu por toda a comunidade cavaleiresca e aristocrática. Nesta fase os emblemas representavam um cavaleiro de forma individual e, em certos casos, seus laços de vassalagem (ligação à um outro nobre) e as terras que possuía. Mas a confusão foi evidente já que por vezes os cavaleiros usavam até mais de um emblema para si. Outra dificuldade era que como esses brasões representavam a pessoa em si, e não uma família, membros da mesma família poderiam possuir brasões dos mais diferentes tipos sem ninguém imaginar que fossem parentes.

Um primeiro passo em direção à estrutura da heráldica foi dado por Henrique I da Inglaterra, quando sagrou cavaleiro seu genro Geoffrey V, o conde de Anjou, em 1127. Ele concedeu-lhe a honraria pendurando em seu pescoço um escudo com um leão dourado (registros históricos). Isso criou a primeira concessão de brasão de forma oficial. Isso propiciou que os brasões começassem a ser passados de pai para filho (hereditário), criando o termo armiger, ou pessoa com direito à usar brasão.

Com os brasões sendo concedidos oficialmente tornou-se necessária uma organização (regulamentação) para que confusões não ocorressem como nos tempos iniciais. Para a criação desses brasões de armas instituiu-se o serviço de “arauto-de-armas”. À eles foi deixada a tarefa de criação de uma norma. Num primeiro momento usaram cores contrastadas e figuras simples – era a heráldica dando seus primeiros passos.

A primeira normatização impressa consta como sendo “De Insigniis ET Armis” de Bartolus de Saxoferrato e data de 1350, da Universidade de Pádua.


Conceitos
Vamos começar com alguns conceitos superficiais (até mesmo por que serão aprofundados no decorrer das postagens) e entendimentos necessários para podermos ter uma compreensão melhor do assunto.

O Brasão seria o trabalho completo, com todos os seus elementos e trazendo a mensagem que deve ser dada e transmitida de forma subjetiva à quem o observa. As regras são uma normatização de como cada elemento do brasão será utilizado e trabalhado. Essas regras conceituam formas, cores, adereços e elementos decorativos dando um norte para quem trabalha com a fabricação de brasões – esta atividade se chama ‘brasonar’.

Muitas vezes o brasão em si é confundido com outro termo que serve quase como sinônimo – Escudo. Na verdade o Escudo é um dos elementos que compõem o brasão, o elemento primeiro por assim dizer. Mas não podemos confundi-los para bem de não criarmos conceitos errados ou entendimentos equivocados no decorrer das postagens.


Outro conceito necessário, neste primeiro momento é com relação às posições – esquerda (Sinistra) e direita (Destra). Sempre que utilizamos essas referências de posição não podemos esquecer de que ela deve ser utilizada pela perspectiva de quem está segurando o ‘escudo’. Isso no início pode causar um pouco de confusão, mas rapidamente será absorvido por vocês.

O brasão de armas pode ter duas formas. O Brasão de Armas Maior seria o brasão composto pelo escudo e por todos os adereços que compõe a figura. A segunda forma seria a apresentação apenas do Escudo, quando o espaço não possibilita a apresentação do desenho completo (por isso que a confusão dos termos, apresentada anteriormente, surgiu).

3 comentários:

Matheus Jack disse...

Heráldica é um assunto interessante para RPGistas que gostam de ambientação medieval.

Contudo há muita confusão e informação equivocada, então acho ótima essa séria de posts e vou acompanhar (e dar pitacos).

Como sugestão, diria para no último post da série fazer como um Dicas Rápidas Sobre Heráldica, colocando apenas aquelas coisas mais básicas para quem não quer desenvolver detalhadamente, mas gostaria de ter uma noção (por exemplo o mestre que quer detalhar brasões de diferentes famílias influentes em seu jogo). Um exemplo disto é a diferenciação de Escudo e Brasão feita já nesse post.

Então algo como:
1 - Escudo é uma das partes dos Brasões, não confunda.

João Brasil disse...

Obrigado pelo elogio. Que bom que estás gostando.... A tua ideia é muito boa e adotarei, com certeza.

Dija disse...

Muito bom seu material! Espero que você continue com esse trabalho. Parabéns!