quinta-feira, 25 de abril de 2019

Uma história para Starfinder: Sobrevivência Incerta - Capítulo 4


Uma História para Starfinder
Sobrevivência Incerta

Capítulo 4
Kroan ainda estava tentando entender o que passava na cabeça daquelas duas para acharem uma boa ideia sair da nave e explorar o ambiente, ainda mais tendo escapado por pouco de virarem ração de insetos gigantes e mortais.

Era verdade que ele precisava de algum tempo para avaliar todos os sistemas de voo e calibrar os motores, principalmente depois de força-los naquele estado por duas horas, enquanto procurava um local seguro e afastado para pousarem. A Icarus não aguentaria mais uma ação dessas se fosse necessário e correriam o risco de literalmente ficarem à pé. Por isso ele achava prudente que todos ficassem quietinhos e de prontidão. Mas a capitã tinha outras ideias.

Enquanto realizavam a refeição, momentos atrás, Kroan e Mark IV conversavam sobre a ordem de afazeres e verificações que os dois teriam de realizar para deixar a nave apta para sair da atmosfera daquele planetoide. Entre olhadas rápidas em sua holotela portátil no punho e espiadas na tela ao lado da mesa, os dois listavam todos os itens indispensáveis. Do outro lado da mesa a capitão Huaa e a imediata, barra chefe de ciências, Nytaa comentavam entusiasmadas, agora que estavam em segurança, sobre os perigos que haviam enfrentado e quanto um espécime daqueles poderia valer no mercado clandestino de Absalom.

O resultado era que agora Kroan e Mark IV cuidavam da Icarus enquanto Huaa e Nytaa desciam pela encosta do morro para investigarem. O garoto tinha certeza que elas realmente não podiam raciocinar com clareza e que ele, mesmo novo, tinha mais juízo que as duas juntas.


A capitã e sua imediata haviam decidido descer até a base daquela elevação, mapear os arredores, tentar achar mais amostras e, se tiverem sorte, capturar algo vivo. Isso poderia ser chamado de otimismo extremo, mas era assim que a cabeça delas funcionava na maior parte do tempo. Embora muitos vissem a capitão Huaa como uma combatente experiente e uma líder rigorosa e metódica, os mais próximos sabiam que, além disso, algumas vezes ela era levada pelo simples desejo de aventura... e se fosse rentável, melhor ainda. Ninguém poderia acusá-la de ser uma capitã irresponsável e ela mesma já salvara o traseiro de toda a sua tripulação incontáveis vezes, mas ela tinha esses rompantes de imaturidade, quase sempre mortais e beirando a insensatez. E isso estava acontecendo neste exato momento.

A descida encosta abaixo foi rápida, graças aos seus dispositivos de voo acoplado aos trajes. Huaa não queria chamar a atenção daquelas criaturas mais que o necessário, principalmente suspeitando que elas rastreavam vibrações no solo. Enquanto desciam iam avaliando o ambiente com cuidado. A descida tinha cerca de trezentos metros de altitude em um ângulo de inclinação acentuada. Por um lado era ótimo, pois se era difícil para elas descerem deveria ser também para as criaturas subirem.

O trajeto para baixo terminava em um vale arenoso que serpenteava entre elevações tão grandes quanto à que acabaram de descer. Nada orgânico era visto até onde a vista alcançava ou os sensores rastreavam. Aquela era realmente uma rocha morta.

“- Não me admira o mau humor daqueles monstros!” – disse Nytaa ao comunicador enquanto avaliava seus dispositivos.

“- Do que será que vivem aqueles troços?” – questionou a capitã – “será que eles esgotaram esse planetoide?”

“- Insetos são como pragas quando não possuem um predador e pela quantidade daquelas coisas acho que nada bate de frente com eles por aqui!”

Vagarosamente a capitã tocou o solo ao desligar seu dispositivo de voo. Alguns metros adiante Nytaa faz o mesmo. Distância. Estratégia básica em situações como essas com monstros em quantidade e que ainda por cima rastreiam vibrações. Elas já enfrentaram situações semelhantes, mas com monstros totalmente diferentes e não tão perigosos. A distância ameniza a vibração, principalmente quando os passos dos aventureiros tendem naturalmente a entrar em compasso. Além disso, o espaço entre elas diminuiria a chance de serem encurraladas. Todo o cuidado era pouco.

Enquanto Huaa avançava lentamente, rifle à postos, Nytaa usava todos os seus equipamentos para analisar o ambiente. Entre uma parada e outra ela lançou dois práticos mapeadores flutuantes autônomos, uma espécie de drone pequeno com funções específicas de criar modelos tridimensionais do ambiente. Ao jogá-los para o ar cada um seguiu para uma direção do vale, voando à certa altura. Conforme os drones avançavam um mapa ia sendo montado nos visores à frente do capacete de ambas, permitindo que elas analisassem com antecedência o terreno à frente e atrás.

“- O que é isso?” – questionou a capitã assinalando visualmente manchas após uma curva adiante no vale.

“- Cavernas... deixa eu ver uma coisa aqui...” – Nytaa apertou alguns botões em seu punho com novas ordens. O mapeador da dianteira deu meia volta e postou-se à frente da caverna mais próxima. Informações começaram a surgir nos visores. Diâmetro, composição geológica e estrutural até certa distância.

Conforme Huaa se aproximou as informações se confirmam. Era uma entrada muito ampla, pelo menos dez metros de diâmetro, mas com uma circunferência tão alinhada que dificilmente teria sido trabalho da ação geológica do tempo. Quando Nytaa alcançou a capitã ela apontou para o chão. Tal qual veios de um rio, nítidos rastros daqueles pontiagudos pés insectoides vinham de todos os cantos convergindo para a boca da caverna.

“- Entrada principal da toca dos bichos?” – sussurrou Huaa.

“- Uma das entradas, provavelmente. Normalmente tocas de insetos têm muitas entradas... mesmo sendo superdesenvolvidos não acho que isso mudaria em comparação aos pequenos” – mais dois botões acionados e o mapeador atingiu uma boa altitude, mostrando uma imagem panorâmica ampla com o caminho dos insetos até chegar à entrada da caverna percorrendo pelo menos um quilômetro e meio.

“- Sei que não devíamos, mas quero muito entrar aí” – disse Huaa com o olhar brilhando, enquanto acionava seu comunicador – “Kroan, na escuta?”

“- Sim... vão demorar?” – respondeu uma voz entre atarefada e aborrecida.

“- Marque nossa posição... vamos entrar numa caverna e podemos perder o sinal por alguns minutos!”

“- VOCÊS O QUÊ?” – gritou Kroan claramente irritado demais para alguém daquela idade.

“- Apenas termine o motor, Kroan... voltamos logo... desligo.”

Logo que Huaa desligou o comunicador ambos mapeadores já estavam flutuando silenciosamente sobre Nytaa. Ela olhou para a capitã que com um gesto indicou para avançarem. A imediata então deu um comando e ambos dispositivos tomaram posição silenciosamente deslizando pelo ar. As duas se entreolharam, encostaram capacetes num beijo simbólico e avançaram atrás dos mapeadores.

A caverna parecia um tanto normal, igual à tantas outras que elas já tinham se aventurado antes em inúmeros planetas, luas e asteroides. Não fosse pela expectativa negativa de saberem o que poderiam encontrar seria apenas mais uma exploração atrás de algo que rendesse alguns bons créditos. A escuridão não ajudava muito e as luzes dos trajes não seriam eficazes, além de que acabariam chamando atenção indesejada. Os visores convertidos para visão no escuro eram a melhor opção. Embora seu alcance não fosse dos melhores, eram mais precisos e sutis.

Seus passos eram acompanhados por ambos mapeadores flutuantes, agora um à frente e outro na retaguarda. Isso ajudava muito para terem uma antecipação do que encontrariam, fosse de terreno, fosse de insetos. Cada trecho era antecipado pelo mapeador à frete, numa distância segura, enquanto o detrás mostrava que não estavam sendo emboscadas.

Elas permaneram em silêncio embora não precisassem falar para saberem o que a outra estava pensando. Eram sete anos de convivência contínua, três de paixão declarada. Isso significa muito em campos de batalha.

Avançaram mais algumas centenas de metros sem o menor sinal dos enormes insetos. As marcas no chão e paredes indicavam que os monstros seguiam o mesmo caminho - cada vez mais para o fundo – indo e vindo. Quanto mais elas andavam mais e mais túneis secundários surgiam como ramificações intermináveis. Seria fácil se perderem ali não fossem seus dispositivos.

“- Sabe do que eu estava me lembrando?” - Nytaa cortou o silêncio dando um susto em Huaa - “daquela estação espacial que serve de entreposto, o nome era Zed, não é? Lá na beirada da Vastidão. Foi nossa primeira viagem juntas.”

“- Você ficou impressionada com a distância e disse que era o mais longe que já tinha ido de casa” - respondeu a capitã sem tirar os olhos da frente em alerta contínuo.

“- Estávamos juntas a pouco tempo e sem tripulação ainda… Lembra da aposta?”

“- Aquele comerciante cheio de tentáculos errou feio em me desafiar para um jogo e perdeu feio também… E não gostou de perder. Sorte que aquele bando de draeliks não gosta de confusões na estação e se intrometeu ou teríamos virado picadinho”

“- E eu é que saí ganhando” - suspirou Nytaa - “foi o primeiro presente que tu me deste… uma verdadeira esmeralda negra de Urrakar.”

“- Tu sabe que aquela coisa vale uma fortuna, não é? Ainda mais se mandarmos lapidar. Conheço um minerador da Arabani Arms que me deve um favor e que faria um trabalho lindo com essa pedra.”

“- Prefiro coisas brutas… vamos deixá-la assim. A lembrança fica mais vívida” – ela deu uma piscada infantil para a capitã que não conseguiu segurar o riso.

A conversa foi interrompida por um alerta visual emitido pelo drone da dianteira. Seu detector de movimento foi disparado. Mais do que isso, o detector enlouqueceu. Algo à frente. Duzentos metros à frente.

O mapeador parou de se mover automaticamente conforme sua programação, aguardando a proximidade das duas. A caverna na qual estavam seguindo terminava em uma gigantesca câmara. Elas não tinham noção exata do tamanho até se aproximarem mais. Era algo incomensurável. Dezenas de entradas de cavernas secundárias como aquela em que elas estavam se ramificando daquela enorme abóbada em dezenas de andares. Milhares de insetos como os que elas já tinham encontrado entravam e saíam de muitos dos túneis em um fluxo torrencial. Muitos estavam simplesmente circulando. Havia vários daqueles insetos que pareciam tanques. Mas mesmo esses enormes não eram os maiores. Havia outros, maiores e mais assustadores. Havia muitos voadores, coisa que elas nem imaginavam. Era uma visão do inferno. A visão só não era ainda mais assustadora devido à monocromia do visor de visão noturna dos capacetes

Ao centro, sob um amplo platô, um inseto único em forma e tamanho. Toda a movimentação parecia dar-se ao seu redor, orbitando sua posição. Alguns insetos o circundavam como que fazendo sua guarda. Era claro para as duas que aquele deveria ser de alguma forma uma figura de liderança.

“- Acho que estamos em desvantagem!” – disse ironicamente Nytaa – “enorme desvantagem!”

“- Realmente você não brincou quando disse que poderiam ser milhares deles. Foi uma péssima ideia, até mesmo para nós!” – resmungou a capitã Huaa – “vamos sair daqui o mais rápido possível e deixar que eles vivam a sua vida! Já temos imagens, alguns dados e tivemos sorte suficiente para um dia.”

“- Copiado!” – respondeu Nytaa dando comandos em uma tela virtual à sua frente para o mapeador retornar, lhes servindo novamente de batedor.

“- Kroan? A nave está pronta?” – Huaa perguntou em tom baixo, mas escutou apenas estática como resposta – “Kroan... pode nos ouvir?” – nada de novo – “droga, algo nessas rochas está bloqueando o sinal. Deve ser por isso que nossos sensores não localizaram nada vivo aqui quando nos aproximamos desse planetoide.”

Instintivamente elas perceberam que algo estava errado, que algo estava por acontecer. Podem chamar do que quiseres. Sexto sentido, arrepio na nuca, um sussurro do além, não importa, normalmente aqueles que têm alguma experiência em aventuras e que sempre estão colocando suas vidas em risco desenvolvem, uma capacidade de perceber quando algo vai acontecer. Uma pisada mais forte no chão, um esbarrão quase imperceptível na parede ou mesmo um simples deslocamento de ar, mas algo alertou as criaturas sobre a presença delas.

Em uma fração de segundo Huaa e Nytaa perceberam todo um mar de criaturas confluindo na direção delas estavam. Era um verdadeiro maremoto vivo se deslocando para a entrada da caverna na qual elas estavam e que era veloz, muito veloz.

A resposta foi imediata. Ninguém precisava dar ordens ou alertar a outra, elas apenas sabiam o que fazer. Fugir. Desesperadamente correr em direção à entrada da caverna, que realmente estava longe. O visor do capacete indicava, enquanto corriam, a rota de fuga de forma automática tal qual um brinquedo de criança. Mas mesmo sem a possibilidade de se perderem isso não seria o bastante para não serem alcançadas.

Conforme recuavam para a saída mais e mais as criaturas se aproximavam espremidas naquele túnel que embora enorme estava tomado de insetos. Era impossível contabilizá-los pelo detector de movimento dos mapeadores.

“- Corre!” – gritou Huaa pelo comunicador – “vou tentar atrasá-los! Nossa única chance é sair daqui e chamar a nave”. Habilmente a capitã tirou duas granadas de choque de seu cinto e as lançou por cima do ombro, sem nem ao menos se virar. Se tivesse sorte arruinaria o túnel e as isolaria das criaturas, se não, pelo menos ganhariam uma vantagem e se tudo desse certo não derrubaria o teto sobre suas cabeças.

Ao mesmo tempo Nytaa deu ordens para que o mapeador que estava atrás delas avançasse junto ao que estava na frente enquanto mandava imagens da retaguarda. No canto inferior esquerdo do visor de ambas uma pequena tela mostrava ao vivo uma cena desesperadora em tons de verde. O túnel atrás delas estava completamente tomado por criaturas insectoides de todos os tipos, tons e tamanhos, avançando em desabalada. Nitidamente a imagem também mostrou duas pequenas peças prateadas com uma luz piscante – as granadas de choque -serem jogadas na direção das criaturas, seguido de uma grande explosão.

Elas sentiram o intenso deslocamento do ar da explosão as impulsionando para frente e quase as derrubando. O túnel atrás delas foi tomado por fumaça de detritos à ponto da câmera não conseguir distinguir nada. Huaa e Nytaa continuavam no mesmo ritmo de corrida – desesperador. Elas não tinham intenção de parar e ver qual o resultado da tentativa da capitã em atrasar as criaturas. Ao mesmo tempo ambas não tiravam os olhos da pequena tela no canto do visor do capacete.

Quando imaginava que a sorte lhes tinha sorrido, a esperança caiu por terra e um mar de criaturas emergiu em meio à poeira. Elas arrastavam carcaças e pedaços de criaturas mortas na explosão, mas não o suficiente para impedir sua passagem. Ao menos as duas tinham ganho alguma vantagem real e a luminosidade começava a surgir tênue à distância.

Quando emergiram pela boca da caverna em desabalada o visor dos capacetes rapidamente se alterou para uma configuração preparada para toda a claridade de um dia de céu aberto. Foram apenas dois ou três segundo passando do verde próprio da visão noturna para uma tela límpida e transparente. Mas nesses poucos segundos as duas começaram a perceber que seus problemas cresciam exponencialmente.

De vários pontos por todo o vale seres insectoides emergiam das colinas próximas, possivelmente de outras entradas secundárias daquele ninho. Ambos mapeadores começaram a ganhar altitude para proporcionar uma visão mais ampla e a conclusão foi desanimadora. Estavam praticamente cercadas. Embora a distância ainda fosse de várias centenas de metros elas não teriam para onde correr. A nave estava no topo de uma elevação e esta se encontrava bem no meio daquele enxame.

O instinto das duas novamente prevaleceu e a mente de ambas começou a trabalhar freneticamente. Nytaa pegou três de suas granadas de choque e habilmente, graças a um de seus brinquedinhos, às prendeu umas às outras e lançou tal qual uma jogadora de tarkibol sobre o topo da entrada da caverna que acabaram de deixar. O temporizador funcionou exatamente como ela planejara e a caverna foi bloqueada após uma forte explosão. Um problema à menos. Haviam apenas outros milhares à frente.

“- KROAN!!!” – gritou a capitã – “Emergência! Precisamos de extração agora!”. Ela escutou uma tentativa de resposta encoberta por mais estática. Não sabia se o garoto havia recebido a mensagem.

“- Esquerda!” – gritou Nytaa para alertar sua companheira enquanto fazia os primeiro disparos para o lado oposto. Seu rifle de mira automático atingiu precisamente a fronte do inseto mais à frente da onda que vinha por aquele lado o deixando estatelado no chão. Felizmente a primeira onda de ataque era esparsa, mas mesmo assim eram milhares deles se aproximando.

As duas focaram em sobreviver o máximo que desse. Postaram-se uma de costas para a outra e dispararam em tudo o que se aproximasse. As capsulas dos projéteis disparados se acumulavam aos seus pés enquanto habilmente giravam sobre o próprio eixo que formavam. Mas as criaturas se acumulavam mais e mais ao seu redor e cada vez mais se aproximavam. Estavam lentamente sendo acuadas.

Os insetos estavam à menos de cem metros por todos os lados quando as primeiras criaturas voadoras apareceram. No último instante Huaa puxou Nytaa para baixo a tempo de não ter sua cabeça decepada por um inseto voador que realizara um voo rasante com suas lâminas à postos.

Elas começavam a se perguntar o que mais poderia dar errado quando a munição do rifle de Nytaa terminou, oito carregadores vazios. Ela simplesmente jogou a arma nas costas, se ajoelhou e pegou sua pistola semiautomática e continuou disparando de dois em dois projéteis. Huaa também ficou sem munição e trocou seu rifle pela escopeta pesada que estava acoplada aos jatos, mais danosa, mas também mais imprecisa.

“- Acho que acabou, amor!” – disse Nytaa, voz cansada e desanimada.

“- Assim que esperou que terminasse?” – respondeu Huaa – “eu não queria assim...”

“- Para mim está perfeito... estou com quem amo, fazendo o que gosto e estamos matando muitos desses filhos da put...”

“- Que falta de educação menina!!!” – a voz metalizada surgiu pelo comunicador dos capacetes das duas fazendo-as perder o fôlego pelo susto.

“- Eu estava gostando da parte do meu amor para cá, meu amor para lá, mas tinha que ter baixaria?!” – ironizou uma segunda voz.

“- Carona?” – a voz de Kroan, a terceira voz, surgiu como um alívio.

Acima delas pairavam duas naves abençoadas aos olhas delas - Icarus e Nymbus. Da Nymbus, o vesk Sakesh disparava com os potentes lasers contra as fileiras de insetos próximos das duas, mas não tão próximos que as incinerassem também. Na Icarus, sentado confortavelmente na rampa de embarque descida, Target disparava com seu rifle de precisão em todo o inseto que estava entre elas e a linha de ataque de Sakesh.

“- Finalmente tu vai poder dizer que me salvou uma vez, hein Sakesh?” – brincou a capitã.

“- Só te devo mais uma dúzia de salvamentos capitã!” – replicou o vesk.

Após os primeiros disparos a Nymbus começou a avançar realizando círculos amplos derramando todo o poder de fogo da nave em tudo o que estivesse se movendo abaixo dela. Os insetos voadores, agora dezenas, o perseguiam, mas a pequena nave era muito mais rápida. Para o vesk aquilo era um dia no playground.

Kroan desceu a nave o máximo possível à ponto de ambas conseguirem embarcar graças aos seus dispositivos de voo. A potência era pouca, mas o suficiente para atingir a altitude da nave.

“- Por favor assumam seus assentos e recline-se para trás. Bebidas refrescantes serão servidas e massagens podem ser agendadas para mais tarde... Todos à bordo!” – disse Kroan em tom entre sério e gozador, claramente disfarçando o nervosismo por elas em uma piada.

Target continuava derrubando as criaturas restantes uma à uma, às vezes duas por disparo, enquanto a nave começava a ganhar elevação. Quando as duas estavam em segurança dentro da nave o androide apenas deu o sinal para Kroan em sua voz fria – “Pacote extraído” – e deixou cair meia dúzia de granadas de choque acionadas enquanto fechava a porta.

Conforme as naves começaram a ganhar altitude para fora da atmosfera, todos perceberam o tamanho do problema. Um verdadeiro mar de criaturas vinha de todos os cantos do planetoide na direção de onde elas estavam lutando. Uma nuvem de insetos voadores se aproximava e disparos orgânicos rasgavam o céu. Se não fosse a chegada providencial de Kroan, Sakesh e Target, elas inevitavelmente estariam mortas. Mas era o mínimo que aqueles três poderiam fazer por elas. Cada um deles tinha suas dívidas de sangue com elas. A lealdade havia sido conquistada e eles teriam que estar mortos antes as deixarem na mão.

Sentadas no chão, recostadas de costas uma para a outra, elas apenas tentavam recuperar o fôlego. Target já havia trazido alguns sensores médicos e avaliado como elas estavam e agora apenas recolhia as armas para às avaliar e as recolocar nos armários.

Huaa escorregou das costas de Nytaa e parou em seu colo onde trocaram um longo beijo.

“- Precisamos repetir isso?” – disse Nytaa.

“- O beijo?” – questionou Huaa.

“- Não... a aventura!” – as duas riram.

“- Ordens capitã?” – Kroan perguntou pelo comunicador.

“- Absalom, Kroan. Ainda temos negócios para resolver lá.”



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