Uma História para
Starfinder
Sobrevivência Incerta
Capítulo 4
Kroan ainda estava tentando
entender o que passava na cabeça daquelas duas para acharem uma boa ideia sair
da nave e explorar o ambiente, ainda mais tendo escapado por pouco de virarem ração
de insetos gigantes e mortais.
Era verdade que ele precisava
de algum tempo para avaliar todos os sistemas de voo e calibrar os motores,
principalmente depois de força-los naquele estado por duas horas, enquanto
procurava um local seguro e afastado para pousarem. A Icarus não aguentaria
mais uma ação dessas se fosse necessário e correriam o risco de literalmente
ficarem à pé. Por isso ele achava prudente que todos ficassem quietinhos e de
prontidão. Mas a capitã tinha outras ideias.
Enquanto realizavam a refeição,
momentos atrás, Kroan e Mark IV conversavam sobre a ordem de afazeres e
verificações que os dois teriam de realizar para deixar a nave apta para sair
da atmosfera daquele planetoide. Entre olhadas rápidas em sua holotela portátil
no punho e espiadas na tela ao lado da mesa, os dois listavam todos os itens
indispensáveis. Do outro lado da mesa a capitão Huaa e a imediata, barra chefe
de ciências, Nytaa comentavam entusiasmadas, agora que estavam em segurança,
sobre os perigos que haviam enfrentado e quanto um espécime daqueles poderia
valer no mercado clandestino de Absalom.
O resultado era que agora Kroan
e Mark IV cuidavam da Icarus enquanto Huaa e Nytaa desciam pela encosta do
morro para investigarem. O garoto tinha certeza que elas realmente não podiam
raciocinar com clareza e que ele, mesmo novo, tinha mais juízo que as duas
juntas.
A capitã e sua imediata haviam
decidido descer até a base daquela elevação, mapear os arredores, tentar achar
mais amostras e, se tiverem sorte, capturar algo vivo. Isso poderia ser chamado
de otimismo extremo, mas era assim que a cabeça delas funcionava na maior parte
do tempo. Embora muitos vissem a capitão Huaa como uma combatente experiente e
uma líder rigorosa e metódica, os mais próximos sabiam que, além disso, algumas
vezes ela era levada pelo simples desejo de aventura... e se fosse rentável,
melhor ainda. Ninguém poderia acusá-la de ser uma capitã irresponsável e ela
mesma já salvara o traseiro de toda a sua tripulação incontáveis vezes, mas ela
tinha esses rompantes de imaturidade, quase sempre mortais e beirando a
insensatez. E isso estava acontecendo neste exato momento.
A descida encosta abaixo foi
rápida, graças aos seus dispositivos de voo acoplado aos trajes. Huaa não
queria chamar a atenção daquelas criaturas mais que o necessário, principalmente
suspeitando que elas rastreavam vibrações no solo. Enquanto desciam iam
avaliando o ambiente com cuidado. A descida tinha cerca de trezentos metros de
altitude em um ângulo de inclinação acentuada. Por um lado era ótimo, pois se
era difícil para elas descerem deveria ser também para as criaturas subirem.
O trajeto para baixo terminava
em um vale arenoso que serpenteava entre elevações tão grandes quanto à que
acabaram de descer. Nada orgânico era visto até onde a vista alcançava ou os
sensores rastreavam. Aquela era realmente uma rocha morta.
“- Não me admira o mau humor
daqueles monstros!” – disse Nytaa ao comunicador enquanto avaliava seus
dispositivos.
“- Do que será que vivem
aqueles troços?” – questionou a capitã – “será que eles esgotaram esse
planetoide?”
“- Insetos são como pragas
quando não possuem um predador e pela quantidade daquelas coisas acho que nada
bate de frente com eles por aqui!”
Vagarosamente a capitã tocou o
solo ao desligar seu dispositivo de voo. Alguns metros adiante Nytaa faz o
mesmo. Distância. Estratégia básica em situações como essas com monstros em
quantidade e que ainda por cima rastreiam vibrações. Elas já enfrentaram
situações semelhantes, mas com monstros totalmente diferentes e não tão
perigosos. A distância ameniza a vibração, principalmente quando os passos dos
aventureiros tendem naturalmente a entrar em compasso. Além disso, o espaço
entre elas diminuiria a chance de serem encurraladas. Todo o cuidado era pouco.
Enquanto Huaa avançava
lentamente, rifle à postos, Nytaa usava todos os seus equipamentos para
analisar o ambiente. Entre uma parada e outra ela lançou dois práticos
mapeadores flutuantes autônomos, uma espécie de drone pequeno com funções específicas
de criar modelos tridimensionais do ambiente. Ao jogá-los para o ar cada um
seguiu para uma direção do vale, voando à certa altura. Conforme os drones avançavam
um mapa ia sendo montado nos visores à frente do capacete de ambas, permitindo
que elas analisassem com antecedência o terreno à frente e atrás.
“- O que é isso?” – questionou
a capitã assinalando visualmente manchas após uma curva adiante no vale.
“- Cavernas... deixa eu ver uma
coisa aqui...” – Nytaa apertou alguns botões em seu punho com novas ordens. O
mapeador da dianteira deu meia volta e postou-se à frente da caverna mais
próxima. Informações começaram a surgir nos visores. Diâmetro, composição geológica
e estrutural até certa distância.
Conforme Huaa se aproximou as
informações se confirmam. Era uma entrada muito ampla, pelo menos dez metros de
diâmetro, mas com uma circunferência tão alinhada que dificilmente teria sido
trabalho da ação geológica do tempo. Quando Nytaa alcançou a capitã ela apontou
para o chão. Tal qual veios de um rio, nítidos rastros daqueles pontiagudos pés
insectoides vinham de todos os cantos convergindo para a boca da caverna.
“- Entrada principal da toca
dos bichos?” – sussurrou Huaa.
“- Uma das entradas,
provavelmente. Normalmente tocas de insetos têm muitas entradas... mesmo sendo
superdesenvolvidos não acho que isso mudaria em comparação aos pequenos” – mais
dois botões acionados e o mapeador atingiu uma boa altitude, mostrando uma
imagem panorâmica ampla com o caminho dos insetos até chegar à entrada da
caverna percorrendo pelo menos um quilômetro e meio.
“- Sei que não devíamos, mas
quero muito entrar aí” – disse Huaa com o olhar brilhando, enquanto acionava
seu comunicador – “Kroan, na escuta?”
“- Sim... vão demorar?” –
respondeu uma voz entre atarefada e aborrecida.
“- Marque nossa posição...
vamos entrar numa caverna e podemos perder o sinal por alguns minutos!”
“- VOCÊS O QUÊ?” – gritou Kroan
claramente irritado demais para alguém daquela idade.
“- Apenas termine o motor,
Kroan... voltamos logo... desligo.”
Logo que Huaa desligou o
comunicador ambos mapeadores já estavam flutuando silenciosamente sobre Nytaa.
Ela olhou para a capitã que com um gesto indicou para avançarem. A imediata então
deu um comando e ambos dispositivos tomaram posição silenciosamente deslizando
pelo ar. As duas se entreolharam, encostaram capacetes num beijo simbólico e avançaram
atrás dos mapeadores.
A caverna parecia um tanto
normal, igual à tantas outras que elas já tinham se aventurado antes em
inúmeros planetas, luas e asteroides. Não fosse pela expectativa negativa de
saberem o que poderiam encontrar seria apenas mais uma exploração atrás de algo
que rendesse alguns bons créditos. A escuridão não ajudava muito e as luzes dos
trajes não seriam eficazes, além de que acabariam chamando atenção indesejada.
Os visores convertidos para visão no escuro eram a melhor opção. Embora seu
alcance não fosse dos melhores, eram mais precisos e sutis.
Seus passos eram acompanhados
por ambos mapeadores flutuantes, agora um à frente e outro na retaguarda. Isso
ajudava muito para terem uma antecipação do que encontrariam, fosse de terreno,
fosse de insetos. Cada trecho era antecipado pelo mapeador à frete, numa
distância segura, enquanto o detrás mostrava que não estavam sendo emboscadas.
Elas permaneram em silêncio
embora não precisassem falar para saberem o que a outra estava pensando. Eram
sete anos de convivência contínua, três de paixão declarada. Isso significa
muito em campos de batalha.
Avançaram mais algumas centenas
de metros sem o menor sinal dos enormes insetos. As marcas no chão e paredes
indicavam que os monstros seguiam o mesmo caminho - cada vez mais para o fundo
– indo e vindo. Quanto mais elas andavam mais e mais túneis secundários surgiam
como ramificações intermináveis. Seria fácil se perderem ali não fossem seus
dispositivos.
“- Sabe do que eu estava me
lembrando?” - Nytaa cortou o silêncio dando um susto em Huaa - “daquela estação espacial que serve de entreposto, o
nome era Zed, não é? Lá na beirada da Vastidão. Foi nossa primeira viagem
juntas.”
“- Você ficou impressionada com
a distância e disse que era o mais longe que já tinha ido de casa” - respondeu
a capitã sem tirar os olhos da frente em alerta contínuo.
“- Estávamos juntas a pouco
tempo e sem tripulação ainda… Lembra da aposta?”
“- Aquele comerciante cheio de
tentáculos errou feio em me desafiar para um jogo e perdeu feio também… E não
gostou de perder. Sorte que aquele bando de draeliks não gosta de confusões na
estação e se intrometeu ou teríamos virado picadinho”
“- E eu é que saí ganhando” -
suspirou Nytaa - “foi o primeiro presente que tu me deste… uma verdadeira esmeralda
negra de Urrakar.”
“- Tu sabe que aquela coisa
vale uma fortuna, não é? Ainda mais se mandarmos lapidar. Conheço um minerador da
Arabani Arms que me deve um favor e que faria um trabalho lindo com essa pedra.”
“- Prefiro coisas brutas… vamos
deixá-la assim. A lembrança fica mais vívida” – ela deu uma piscada infantil
para a capitã que não conseguiu segurar o riso.
A conversa foi interrompida por
um alerta visual emitido pelo drone da dianteira. Seu detector de movimento foi
disparado. Mais do que isso, o detector enlouqueceu. Algo à frente. Duzentos
metros à frente.
O mapeador parou de se mover
automaticamente conforme sua programação, aguardando a proximidade das duas. A
caverna na qual estavam seguindo terminava em uma gigantesca câmara. Elas não
tinham noção exata do tamanho até se aproximarem mais. Era algo incomensurável.
Dezenas de entradas de cavernas secundárias como aquela em que elas estavam se ramificando
daquela enorme abóbada em dezenas de andares. Milhares de insetos como os que
elas já tinham encontrado entravam e saíam de muitos dos túneis em um fluxo
torrencial. Muitos estavam simplesmente circulando. Havia vários daqueles
insetos que pareciam tanques. Mas mesmo esses enormes não eram os maiores.
Havia outros, maiores e mais assustadores. Havia muitos voadores, coisa que
elas nem imaginavam. Era uma visão do inferno. A visão só não era ainda mais
assustadora devido à monocromia do visor de visão noturna dos capacetes
Ao centro, sob um amplo platô,
um inseto único em forma e tamanho. Toda a movimentação parecia dar-se ao seu
redor, orbitando sua posição. Alguns insetos o circundavam como que fazendo sua
guarda. Era claro para as duas que aquele deveria ser de alguma forma uma
figura de liderança.
“- Acho que estamos em
desvantagem!” – disse ironicamente Nytaa – “enorme desvantagem!”
“- Realmente você não brincou
quando disse que poderiam ser milhares deles. Foi uma péssima ideia, até mesmo
para nós!” – resmungou a capitã Huaa – “vamos sair daqui o mais rápido possível
e deixar que eles vivam a sua vida! Já temos imagens, alguns dados e tivemos
sorte suficiente para um dia.”
“- Copiado!” – respondeu Nytaa
dando comandos em uma tela virtual à sua frente para o mapeador retornar, lhes
servindo novamente de batedor.
“- Kroan? A nave está pronta?”
– Huaa perguntou em tom baixo, mas escutou apenas estática como resposta –
“Kroan... pode nos ouvir?” – nada de novo – “droga, algo nessas rochas está
bloqueando o sinal. Deve ser por isso que nossos sensores não localizaram nada vivo
aqui quando nos aproximamos desse planetoide.”
Instintivamente elas perceberam
que algo estava errado, que algo estava por acontecer. Podem chamar do que
quiseres. Sexto sentido, arrepio na nuca, um sussurro do além, não importa,
normalmente aqueles que têm alguma experiência em aventuras e que sempre estão
colocando suas vidas em risco desenvolvem, uma capacidade de perceber quando
algo vai acontecer. Uma pisada mais forte no chão, um esbarrão quase
imperceptível na parede ou mesmo um simples deslocamento de ar, mas algo
alertou as criaturas sobre a presença delas.
Em uma fração de segundo Huaa e
Nytaa perceberam todo um mar de criaturas confluindo na direção delas estavam.
Era um verdadeiro maremoto vivo se deslocando para a entrada da caverna na qual
elas estavam e que era veloz, muito veloz.
A resposta foi imediata.
Ninguém precisava dar ordens ou alertar a outra, elas apenas sabiam o que fazer.
Fugir. Desesperadamente correr em direção à entrada da caverna, que realmente
estava longe. O visor do capacete indicava, enquanto corriam, a rota de fuga de
forma automática tal qual um brinquedo de criança. Mas mesmo sem a
possibilidade de se perderem isso não seria o bastante para não serem
alcançadas.
Conforme recuavam para a saída
mais e mais as criaturas se aproximavam espremidas naquele túnel que embora
enorme estava tomado de insetos. Era impossível contabilizá-los pelo detector
de movimento dos mapeadores.
“- Corre!” – gritou Huaa pelo
comunicador – “vou tentar atrasá-los! Nossa única chance é sair daqui e chamar
a nave”. Habilmente a capitã tirou duas granadas de choque de seu cinto e as
lançou por cima do ombro, sem nem ao menos se virar. Se tivesse sorte
arruinaria o túnel e as isolaria das criaturas, se não, pelo menos ganhariam uma
vantagem e se tudo desse certo não derrubaria o teto sobre suas cabeças.
Ao mesmo tempo Nytaa deu ordens
para que o mapeador que estava atrás delas avançasse junto ao que estava na
frente enquanto mandava imagens da retaguarda. No canto inferior esquerdo do
visor de ambas uma pequena tela mostrava ao vivo uma cena desesperadora em tons
de verde. O túnel atrás delas estava completamente tomado por criaturas insectoides
de todos os tipos, tons e tamanhos, avançando em desabalada. Nitidamente a
imagem também mostrou duas pequenas peças prateadas com uma luz piscante – as granadas
de choque -serem jogadas na direção das criaturas, seguido de uma grande
explosão.
Elas sentiram o intenso deslocamento
do ar da explosão as impulsionando para frente e quase as derrubando. O túnel
atrás delas foi tomado por fumaça de detritos à ponto da câmera não conseguir
distinguir nada. Huaa e Nytaa continuavam no mesmo ritmo de corrida –
desesperador. Elas não tinham intenção de parar e ver qual o resultado da
tentativa da capitã em atrasar as criaturas. Ao mesmo tempo ambas não tiravam os
olhos da pequena tela no canto do visor do capacete.
Quando imaginava que a sorte
lhes tinha sorrido, a esperança caiu por terra e um mar de criaturas emergiu em
meio à poeira. Elas arrastavam carcaças e pedaços de criaturas mortas na explosão,
mas não o suficiente para impedir sua passagem. Ao menos as duas tinham ganho
alguma vantagem real e a luminosidade começava a surgir tênue à distância.
Quando emergiram pela boca da
caverna em desabalada o visor dos capacetes rapidamente se alterou para uma
configuração preparada para toda a claridade de um dia de céu aberto. Foram
apenas dois ou três segundo passando do verde próprio da visão noturna para uma
tela límpida e transparente. Mas nesses poucos segundos as duas começaram a
perceber que seus problemas cresciam exponencialmente.
De vários pontos por todo o
vale seres insectoides emergiam das colinas próximas, possivelmente de outras
entradas secundárias daquele ninho. Ambos mapeadores começaram a ganhar
altitude para proporcionar uma visão mais ampla e a conclusão foi desanimadora.
Estavam praticamente cercadas. Embora a distância ainda fosse de várias centenas
de metros elas não teriam para onde correr. A nave estava no topo de uma
elevação e esta se encontrava bem no meio daquele enxame.
O instinto das duas novamente
prevaleceu e a mente de ambas começou a trabalhar freneticamente. Nytaa pegou
três de suas granadas de choque e habilmente, graças a um de seus
brinquedinhos, às prendeu umas às outras e lançou tal qual uma jogadora de
tarkibol sobre o topo da entrada da caverna que acabaram de deixar. O
temporizador funcionou exatamente como ela planejara e a caverna foi bloqueada
após uma forte explosão. Um problema à menos. Haviam apenas outros milhares à
frente.
“- KROAN!!!” – gritou a capitã
– “Emergência! Precisamos de extração agora!”. Ela escutou uma tentativa de
resposta encoberta por mais estática. Não sabia se o garoto havia recebido a
mensagem.
“- Esquerda!” – gritou Nytaa
para alertar sua companheira enquanto fazia os primeiro disparos para o lado
oposto. Seu rifle de mira automático atingiu precisamente a fronte do inseto
mais à frente da onda que vinha por aquele lado o deixando estatelado no chão.
Felizmente a primeira onda de ataque era esparsa, mas mesmo assim eram milhares
deles se aproximando.
As duas focaram em sobreviver o
máximo que desse. Postaram-se uma de costas para a outra e dispararam em tudo o
que se aproximasse. As capsulas dos projéteis disparados se acumulavam aos seus
pés enquanto habilmente giravam sobre o próprio eixo que formavam. Mas as
criaturas se acumulavam mais e mais ao seu redor e cada vez mais se
aproximavam. Estavam lentamente sendo acuadas.
Os insetos estavam à menos de
cem metros por todos os lados quando as primeiras criaturas voadoras
apareceram. No último instante Huaa puxou Nytaa para baixo a tempo de não ter
sua cabeça decepada por um inseto voador que realizara um voo rasante com suas
lâminas à postos.
Elas começavam a se perguntar o
que mais poderia dar errado quando a munição do rifle de Nytaa terminou, oito
carregadores vazios. Ela simplesmente jogou a arma nas costas, se ajoelhou e
pegou sua pistola semiautomática e continuou disparando de dois em dois
projéteis. Huaa também ficou sem munição e trocou seu rifle pela escopeta
pesada que estava acoplada aos jatos, mais danosa, mas também mais imprecisa.
“- Acho que acabou, amor!” –
disse Nytaa, voz cansada e desanimada.
“- Assim que esperou que
terminasse?” – respondeu Huaa – “eu não queria assim...”
“- Para mim está perfeito...
estou com quem amo, fazendo o que gosto e estamos matando muitos desses filhos
da put...”
“- Que falta de educação
menina!!!” – a voz metalizada surgiu pelo comunicador dos capacetes das duas
fazendo-as perder o fôlego pelo susto.
“- Eu estava gostando da parte
do meu amor para cá, meu amor para lá, mas tinha que ter baixaria?!” – ironizou
uma segunda voz.
“- Carona?” – a voz de Kroan, a
terceira voz, surgiu como um alívio.
Acima delas pairavam duas naves
abençoadas aos olhas delas - Icarus e Nymbus. Da Nymbus, o vesk Sakesh disparava
com os potentes lasers contra as fileiras de insetos próximos das duas, mas não
tão próximos que as incinerassem também. Na Icarus, sentado confortavelmente na
rampa de embarque descida, Target disparava com seu rifle de precisão em todo o
inseto que estava entre elas e a linha de ataque de Sakesh.
“- Finalmente tu vai poder
dizer que me salvou uma vez, hein Sakesh?” – brincou a capitã.
“- Só te devo mais uma dúzia de
salvamentos capitã!” – replicou o vesk.
Após os primeiros disparos a
Nymbus começou a avançar realizando círculos amplos derramando todo o poder de
fogo da nave em tudo o que estivesse se movendo abaixo dela. Os insetos
voadores, agora dezenas, o perseguiam, mas a pequena nave era muito mais
rápida. Para o vesk aquilo era um dia no playground.
Kroan desceu a nave o máximo
possível à ponto de ambas conseguirem embarcar graças aos seus dispositivos de
voo. A potência era pouca, mas o suficiente para atingir a altitude da nave.
“- Por favor assumam seus
assentos e recline-se para trás. Bebidas refrescantes serão servidas e
massagens podem ser agendadas para mais tarde... Todos à bordo!” – disse Kroan
em tom entre sério e gozador, claramente disfarçando o nervosismo por elas em
uma piada.
Target continuava derrubando as
criaturas restantes uma à uma, às vezes duas por disparo, enquanto a nave
começava a ganhar elevação. Quando as duas estavam em segurança dentro da nave
o androide apenas deu o sinal para Kroan em sua voz fria – “Pacote extraído” –
e deixou cair meia dúzia de granadas de choque acionadas enquanto fechava a
porta.
Conforme as naves começaram a
ganhar altitude para fora da atmosfera, todos perceberam o tamanho do problema.
Um verdadeiro mar de criaturas vinha de todos os cantos do planetoide na
direção de onde elas estavam lutando. Uma nuvem de insetos voadores se
aproximava e disparos orgânicos rasgavam o céu. Se não fosse a chegada
providencial de Kroan, Sakesh e Target, elas inevitavelmente estariam mortas.
Mas era o mínimo que aqueles três poderiam fazer por elas. Cada um deles tinha
suas dívidas de sangue com elas. A lealdade havia sido conquistada e eles
teriam que estar mortos antes as deixarem na mão.
Sentadas no chão, recostadas de
costas uma para a outra, elas apenas tentavam recuperar o fôlego. Target já
havia trazido alguns sensores médicos e avaliado como elas estavam e agora
apenas recolhia as armas para às avaliar e as recolocar nos armários.
Huaa escorregou das costas de
Nytaa e parou em seu colo onde trocaram um longo beijo.
“- Precisamos repetir isso?” –
disse Nytaa.
“- O beijo?” – questionou Huaa.
“- Não... a aventura!” – as
duas riram.
“- Ordens capitã?” – Kroan
perguntou pelo comunicador.
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